domingo, 6 de abril de 2014

Behemoth – The Satanist (CD+DVD – 2014)

Behemoth - The Satanist (2014)
Renascido Nas Trevas
Por Trevas

Prólogo – Vencendo A Morte

Na ativa desde 1993, o Behemoth galgou terreno para fora de sua Polônia natal e se tornou um dos expoentes máximos da cena extrema mundial ao gradativamente mesclar seu Black Metal claramente influenciado pelas bandas Norueguesas com elementos de Death Metal, criando obras clássicas como Demigod e Apostasy. Utilizando temáticas pagãs, episódios bíblicos e vertentes da filosofia satanista como alegoria para explorar sentimentos obscuros e provocar reflexões profundas sobre a fé, vida e morte, o refinamento artístico da banda parecia ter atingido seu ápice com Evangellion, o ótimo disco de 2009 (ver clipe para Ov Fire And The Void). Esse disco atingiu o primeiro lugar nas paradas Polonesas e fez com que o Behemoth, sem fazer grandes concessões estilísticas, obtivesse grande sucesso comercial fora do nicho extremo.

Behemoth é só simpatia!
A alta de popularidade veio em conjunto com uma notícia inicialmente devastadora: no princípio de 2010, o vocalista, guitarrista e principal compositor Adam Darski (aka Nergal) foi diagnosticado com um tipo agressivo de leucemia. A doença não estava em estágio inicial e os prognósticos eram desanimadores. O Behemoth entra em recesso, mais que uma carreira, havia uma vida em jogo.




Submetido a um transplante de medula e a agressivas sessões de terapia, e munido de grande força interior somada à confiança no trabalho dos médicos, Adam conquistou a improvável vitória em meados de 2013. Ainda fisicamente fragilizado, iniciou então as sessões de composição e gravação daquele que acreditava ser seu trabalho mais forte e pessoal, um testamento de sua obstinação, nova visão de mundo e seu amor à vida. Lançado em janeiro de 2014, envolto em muita curiosidade e dúvidas, The Satanist é o resultado final dessa imersão na alma de um homem que venceu a primeira grande batalha contra a morte.





Sim, Nergal sorri!
Conceito e Arte Gráfica

Católico por criação e agnóstico por opção, Nergal é um profundo conhecedor da bíblia e dos textos apócrifos, além de ávido leitor de obras sobre misticismo, religiões e mitologia em geral. Embora tenha dito nas entrevistas de promoção do novo álbum que não sente necessidade de explicar os significados por detrás do título e letras de The Satanist, Nergal sempre se identificou com a filosofia por detrás do satanismo e sua visão de Satã como uma figura que representa a crença no indivíduo e sua força interior em detrimento dos dogmas religiosos. Como já exposto em Evangellion, o satanismo, Cristão por definição, inspirou a figura do capiroto no velho Dionísio Grego (ou Baco, para os Romanos). A temática do novo disco é iconoclasta, um manifesto da sabedoria e libertação que advém da luta (e vitória) contra uma grande adversidade, no caso, a confrontação com a inevitável mortalidade – adiada, mas nunca negada. Como diz Nergal no documentário que acompanha a edição limitada: “é o homem se reinventando e questionando suas próprias fundações – a arte de se reconstruir sobre as cinzas de seu antigo mundo.”

Arte Alternativa feita para a versão em LP
A mistura da mitologia de Satã e Dionísio foi a inspiração do artista Russo Denis Forkas para a arte de capa e demais artes que acompanham o cuidadoso e belíssimo encarte. Como que para ratificar o teor pessoal de sua obra, Nergal cedeu seu sangue para ser misturado na paleta de cores utilizada por Forkas. A despeito disso representar simbolicamente algo realmente significativo para o vocalista, convenhamos, é uma bruta artimanha para ser utilizada em termos de marketing (a manjada estratégia já foi utilizada anteriormente por Kiss e Manowar, dentre outros). De toda a forma, o cuidado com a arte gráfica de The Satanist é das melhores que já vi. Soberba.

O Disco

Produzido pela própria banda e mixado por uma miríade de profissionais gabaritados (os caras conseguiram brigar com quase todos que se envolveram na feitura do disco, inclusive o renomado Matt Hyde), o disco abre com a estonteante Blow Your Trumpets Gabriel!, que ganhou um vídeo clipe tão belo quanto assombroso (ver abaixo).  Épica em intenção, não em duração, a faixa de abertura é um manifesto inconteste da maturidade atingida pelo Behemoth. Serve também como um bom cartão de visitas para o disco: o som é pesadíssimo, muito bem produzido, dinâmico, mas bastante cru em seu minimalismo. Nada soa gratuito, e mesmo os belos arranjos de sopro, pouco usuais dentro do estilo, soam urgentes e necessários.



Quem acreditava que a doença de Nergal amansaria o som da banda ficará com o queixo caído perante a violência abissal de Furor Divinus e da agonia sufocante de Messe Noire. Na sessão de gravação desta última, o baterista Inferno declarou a Nergal que podia sentir a leucemia nos riffs da música, como se o guitarrista houvesse conseguido metamorfosear a doença em som.

A banda e uma amiguinha em 2014
Ora Pro Nobis Lucifer (ver vídeo) cheira a clássico. Visceral e ao mesmo tempo estruturalmente mais acessível que a média das músicas da banda, provavelmente ganhará vaga cativa nos set lists dos shows daqui para frente. Amen assalta nossos ouvidos como uma tormenta, lembrando um pouco os momentos mais pesados do Vader atual. A faixa título é cadenciada e possui um arranjo algo progressivo e atmosférico, fazendo um contraste com a primeira metade do disco, criando uma dinâmica interessante. Curiosamente é nesse momento de relativa calmaria em que podemos perceber melhor a qualidade de execução de todos os instrumentos. Reconhecidamente uma banda técnica, nesse disco o Behemoth subjuga o ego de suas partes em prol do resultado final.


Ben Sahar tem uma aura épica e algo Doom beneficiada pelo cuidadoso arranjo. In the Absence Ov Light é a faixa mais pessoal do disco, trazendo uma parte falada em sua metade, na qual Nergal diz, em Polonês:
“Give me a human.
Let him be just like me, just like me…
Dull, unripe, unfinished, not dark, and not bright.
So that I may with him dance, play with him,
with him fight, in front of him pretend,
give him thanks, and him, rape...
fall in love with him, through him recreate myself,
grow through him, and sprouting this way,
wed myself, in the church ov man.”

Mas talvez o ápice do disco venha mesmo em seu encerramento, sob a forma da monstruosa O Satan O Father O Sun, que mescla o som extremo a um andamento que deve em muito a épicos como Stargazer (Rainbow) e Kashmir (Led Zeppelin).


Saldo Final

A audição de The Satanist se assemelha a passagem de uma tempestade de verão. Vemos o céu enegrecer, sentimos a angústia de estar no meio de uma força incontrolável, e quando parece que o mundo não sobreviverá à fúria dos céus, repentinamente a escuridão se esvai e, embora tenhamos os destroços e inundações para nos lembramos de que sua passagem foi real, o sentimento de ver novamente a claridade e seu conforto é que permanecem. Sim, um disco avassalador e sombrio, mas que ao mesmo tempo transparece alguma positividade ao seu final. Sentimentos antagônicos que só uma obra muito acima da média pode proporcionar. Um dos discos do ano, não tenho medo de afirmar, e olha que e não estamos nem na metade de 2014.  


NOTA: 9



DVD da Edição Limitada

A edição aqui analisada não possui faixas bônus de estúdio, mas sim um DVD com dois capítulos distintos: Live Barbarossa e The Satanist: Oblivion.
O primeiro capítulo contém uma apresentação de 70 minutos da banda na turnê Phoenix Rising, que marcou o retorno da banda aos palcos em 2013, após o longo hiato ocasionado pela doença de Nergal (ver vídeo). São treze faixas eximiamente bem executadas que exemplificam bem o já famigerado poderio da banda ao vivo. A qualidade de som é excelente, já a imagem e edição são apenas boas. Em determinado momento do show, um visivelmente energizado Nergal exclama para a ensandecida platéia Russa: “It Feels Good To Be Alive!!! Never Give UP!!!” – Um testemunho curioso e honesto que soaria menos deslocado saindo da boca de um artista purpurinado de alguma banda de Hard Rock festiva.





O segundo capítulo vem sob a forma de um documentário de 25 minutos versando sobre a concepção do novo disco. Magistralmente filmado, o documentário mistura uma série de imagens belíssimas em P&B, com narrativa bastante elucidativa por parte de Nergal e eventuais intervenções dos demais envolvidos na feitura da obra. Poético e sombrio, o documentário ajuda a fazer dessa edição limitada uma aquisição obrigatória àqueles que ainda gostam do formato em mídia física.

Setlist para Live Barbarossa: 1. Intro; 2. Ov Fire And The Void; 3. Demigod; 4. Moonspell Rites; 5. Conquer All; 6. Christians To the Lions; 7. The Seed Ov I; 8. Alas, Lord Is Upon Me; 9. Decade Ov Therion; 10. At The Left Hand Ov God; 11. Slaves Shall Serve; 12. Chant For Ezkaton 2000; 13. 23 Youth Manifesto; 14. Lucifer.


Foto da edição limitada (Cd + DVD)
Prós:
Pesado e sombrio, com ótimos arranjos e idéias, mas ainda assim acessível.

Contras:
As letras podem ser blasfemas demais aos headbangers cristãos. Pode te dar medinho de dormir sozinho.

Classifique como: Black Metal, Death Metal, Blackened Death metal

Para Fãs de: Vader, Dimmu Borgir, Emperor, Watain, Ihsahn.

Ficha Técnica
Banda: Behemoth
Origem: Polônia
Site Oficial: http://behemoth.pl/
Letras: http://www.darklyrics.com/lyrics/behemoth/thesatanist.html
Disco (ano): The Satanist (2014)
Mídia: CD (Cd+DVD na edição limitada)
Lançamento: Metal Blade (Importado)

Faixas (duração): 09 (43’).
1. Blow Your Trumpet Gabriel!; 2. Furor Divinus; 3. Messe Noire; 4. Ora Pro Nobis Lucifer; 5. Amen; 6. The Satanist; 7. Ben Sahar; 8. In the Absence ov Light; 9. O Father O Satan O Sun!

Produção: Behemoth
Arte de Capa: Denis Forkas

Formação:
Nergal – voz, guitarra;
Seth – Guitarra;
Orion  - baixo
Inferno – bateria.

6 comentários:

  1. Porra, agora sim, esse disco tá bem sinistro. Mas acho que ainda prefiro o Demigod. Baixou ele onde?
    Bota mais desgracera nesse site aqui que aí fica beleza.
    Suadações
    Danilo Z.

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    1. Fala, Danilo
      Conheço pouco da carreira do Behemoth, mas muita gente fala bem desse Demigod. Vou procurar.
      Não baixei, ainda estou no mundo material, tudo o que vc vê resenhado aqui na Cripta eu adquiri. Mas tem um camarada meu que baixou pelo Itunes, nesse caso o download é pago, mas costuma sair muito mais barato que comprar o disco, especialmente no caso de material que só existe lá fora.
      As " desgraceiras" não são exatamente minha especialidade, mas volta e meia você vai encontrar algo por aqui.
      Abraço
      Trevas

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  2. Bréqui métal é coisa do Canhoto, do Sete-Peles, do Synteko Gelado, do Mochila de Criança...

    Ainda não consigo ouvir essas podreiras... Parei no Morbid Angel, mesmo...

    E nem dá pra falar nada do visual deles... Tento imaginar eles indo à padaria comprar um singelo pão francês, paramentados de corpse paint, spikes pra todo lado e botas de 40 Kg cada pé...

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    1. krill
      Pelas barbas do Capiroto, nunca queimaste igrejas quando criança lá na tundra? Sabe de nada inocente!
      Também nunca fui muito fã de Bréquimédal, o visual com corpse paint me afastou dessa josta tal qual a purpurina e lantejoulas me afastara da cena hair metal. mas atualmente Trevas é paz e amor e escuta a porra toda. Se conseguir abstrair o visual, vai achar legal.
      gwahahaha, sempre imagino a mesma coisa, esses caras de corpse paint indo comprar pão ou levar o totó (que deve ser um poodle ou schnauzer) para passear, hehehehe
      Jundis
      T

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    2. Tem muita banda sem corpse paint.

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    3. Verdade,
      Tem algumas bandas do estilo que não se utilizam de corpse paint.
      Abraço
      T

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