Behemoth - The Satanist (2014) |
Renascido
Nas Trevas
Por Trevas
Prólogo
– Vencendo A Morte
Na ativa desde 1993, o Behemoth galgou terreno para fora de sua Polônia natal e se tornou
um dos expoentes máximos da cena extrema mundial ao gradativamente mesclar seu Black Metal claramente influenciado
pelas bandas Norueguesas com elementos de Death
Metal, criando obras clássicas como Demigod
e Apostasy. Utilizando temáticas
pagãs, episódios bíblicos e vertentes da filosofia satanista como alegoria para
explorar sentimentos obscuros e provocar reflexões profundas sobre a fé, vida e
morte, o refinamento artístico da banda parecia ter atingido seu ápice com Evangellion, o ótimo disco de 2009 (ver
clipe para Ov Fire And The Void).
Esse disco atingiu o primeiro lugar nas paradas Polonesas e fez com que o Behemoth, sem fazer grandes concessões
estilísticas, obtivesse grande sucesso comercial fora do nicho extremo.
Behemoth é só simpatia! |
A alta de popularidade veio em conjunto com uma
notícia inicialmente devastadora: no princípio de 2010, o vocalista,
guitarrista e principal compositor Adam
Darski (aka Nergal) foi
diagnosticado com um tipo agressivo de leucemia. A doença não estava em estágio
inicial e os prognósticos eram desanimadores. O Behemoth entra em recesso, mais que uma carreira, havia uma vida em
jogo.
Submetido a um transplante de medula e a
agressivas sessões de terapia, e munido de grande força interior somada à
confiança no trabalho dos médicos, Adam
conquistou a improvável vitória em meados de 2013. Ainda fisicamente
fragilizado, iniciou então as sessões de composição e gravação daquele que
acreditava ser seu trabalho mais forte e pessoal, um testamento de sua
obstinação, nova visão de mundo e seu amor à vida. Lançado em janeiro de 2014,
envolto em muita curiosidade e dúvidas, The
Satanist é o resultado final dessa imersão na alma de um homem que venceu a
primeira grande batalha contra a morte.
Sim, Nergal sorri! |
Conceito
e Arte Gráfica
Católico por criação e agnóstico por opção, Nergal é um profundo conhecedor da
bíblia e dos textos apócrifos, além de ávido leitor de obras sobre misticismo,
religiões e mitologia em geral. Embora tenha dito nas entrevistas de promoção
do novo álbum que não sente necessidade de explicar os significados por detrás
do título e letras de The Satanist, Nergal sempre se identificou com a
filosofia por detrás do satanismo e sua visão de Satã como uma figura que
representa a crença no indivíduo e sua força interior em detrimento dos dogmas
religiosos. Como já exposto em Evangellion,
o satanismo, Cristão por definição, inspirou a figura do capiroto no velho
Dionísio Grego (ou Baco, para os Romanos). A temática do novo disco é iconoclasta,
um manifesto da sabedoria e libertação que advém da luta (e vitória) contra uma
grande adversidade, no caso, a confrontação com a inevitável mortalidade –
adiada, mas nunca negada. Como diz Nergal
no documentário que acompanha a edição limitada: “é o homem se reinventando e
questionando suas próprias fundações – a arte de se reconstruir sobre as cinzas
de seu antigo mundo.”
Arte Alternativa feita para a versão em LP |
A mistura da mitologia de Satã e Dionísio foi a
inspiração do artista Russo Denis Forkas
para a arte de capa e demais artes que acompanham o cuidadoso e belíssimo
encarte. Como que para ratificar o teor pessoal de sua obra, Nergal cedeu seu sangue para ser
misturado na paleta de cores utilizada por Forkas.
A despeito disso representar simbolicamente algo realmente significativo para o
vocalista, convenhamos, é uma bruta artimanha para ser utilizada em termos de
marketing (a manjada estratégia já foi utilizada anteriormente por Kiss e Manowar, dentre outros). De toda a forma, o cuidado com a arte
gráfica de The Satanist é das
melhores que já vi. Soberba.
O
Disco
Produzido pela própria banda e mixado por uma
miríade de profissionais gabaritados (os caras conseguiram brigar com quase
todos que se envolveram na feitura do disco, inclusive o renomado Matt Hyde), o disco abre com a
estonteante Blow Your Trumpets Gabriel!,
que ganhou um vídeo clipe tão belo quanto assombroso (ver abaixo). Épica em intenção, não em duração, a faixa de
abertura é um manifesto inconteste da maturidade atingida pelo Behemoth. Serve
também como um bom cartão de visitas para o disco: o som é pesadíssimo, muito
bem produzido, dinâmico, mas bastante cru em seu minimalismo. Nada soa
gratuito, e mesmo os belos arranjos de sopro, pouco usuais dentro do estilo, soam
urgentes e necessários.
Quem acreditava que a doença de Nergal amansaria o som da banda ficará
com o queixo caído perante a violência abissal de Furor Divinus e da agonia sufocante de Messe Noire. Na sessão de gravação desta última, o baterista Inferno declarou a Nergal que podia sentir a leucemia nos riffs da música, como se o
guitarrista houvesse conseguido metamorfosear a doença em som.
A banda e uma amiguinha em 2014 |
Ora Pro Nobis Lucifer (ver vídeo) cheira a clássico. Visceral e ao
mesmo tempo estruturalmente mais acessível que a média das músicas da banda,
provavelmente ganhará vaga cativa nos set lists dos shows daqui para frente. Amen assalta nossos ouvidos como uma
tormenta, lembrando um pouco os momentos mais pesados do Vader atual. A faixa título é cadenciada e possui um arranjo algo
progressivo e atmosférico, fazendo um contraste com a primeira metade do disco,
criando uma dinâmica interessante. Curiosamente é nesse momento de relativa
calmaria em que podemos perceber melhor a qualidade de execução de todos os
instrumentos. Reconhecidamente uma banda técnica, nesse disco o Behemoth subjuga o ego de suas partes
em prol do resultado final.
Ben
Sahar tem uma aura épica e algo Doom beneficiada pelo cuidadoso arranjo. In the Absence Ov Light é a faixa mais
pessoal do disco, trazendo uma parte falada em sua metade, na qual Nergal diz, em Polonês:
“Give me a human.
Let him be just like me, just like me…
Dull, unripe, unfinished, not dark, and not bright.
So that I may with him dance, play with him,
with him fight, in front of him pretend,
give him thanks, and him, rape...
fall in love with him, through him recreate myself,
grow through him, and sprouting this way,
wed myself, in the church ov man.”
Mas talvez o ápice do disco venha mesmo em seu
encerramento, sob a forma da monstruosa O
Satan O Father O Sun, que mescla o som extremo a um andamento que deve em
muito a épicos como Stargazer (Rainbow) e Kashmir (Led Zeppelin).
Saldo
Final
A audição de The Satanist se
assemelha a passagem de uma tempestade de verão. Vemos o céu enegrecer, sentimos
a angústia de estar no meio de uma força incontrolável, e quando parece que o
mundo não sobreviverá à fúria dos céus, repentinamente a escuridão se esvai e,
embora tenhamos os destroços e inundações para nos lembramos de que sua
passagem foi real, o sentimento de ver novamente a claridade e seu conforto é
que permanecem. Sim, um disco avassalador e sombrio, mas que ao mesmo tempo
transparece alguma positividade ao seu final. Sentimentos antagônicos que só
uma obra muito acima da média pode proporcionar. Um dos discos do ano, não
tenho medo de afirmar, e olha que e não estamos nem na metade de 2014.
NOTA: 9
DVD
da Edição Limitada
A edição aqui analisada não possui
faixas bônus de estúdio, mas sim um DVD com dois capítulos distintos: Live Barbarossa e The Satanist: Oblivion.
O primeiro capítulo contém uma
apresentação de 70 minutos da banda na turnê Phoenix Rising, que marcou o retorno da banda aos palcos em 2013,
após o longo hiato ocasionado pela doença de Nergal (ver vídeo). São treze faixas eximiamente bem executadas que
exemplificam bem o já famigerado poderio da banda ao vivo. A
qualidade de som é excelente, já a imagem e edição são apenas boas. Em
determinado momento do show, um visivelmente energizado Nergal exclama para a ensandecida platéia Russa: “It Feels Good To
Be Alive!!! Never Give UP!!!” – Um testemunho curioso e honesto que soaria
menos deslocado saindo da boca de um artista purpurinado de alguma banda de
Hard Rock festiva.
O segundo capítulo vem sob a forma
de um documentário de 25 minutos versando sobre a concepção do novo disco.
Magistralmente filmado, o documentário mistura uma série de imagens belíssimas
em P&B, com narrativa bastante elucidativa por parte de Nergal e eventuais intervenções dos
demais envolvidos na feitura da obra. Poético e sombrio, o documentário ajuda a
fazer dessa edição limitada uma aquisição obrigatória àqueles que ainda gostam
do formato em mídia física.
Setlist para Live Barbarossa: 1. Intro; 2. Ov
Fire And The Void; 3. Demigod; 4. Moonspell Rites; 5. Conquer All; 6.
Christians To the Lions; 7. The Seed Ov I; 8. Alas, Lord Is Upon Me; 9. Decade
Ov Therion; 10. At The Left Hand Ov God; 11. Slaves Shall Serve; 12. Chant For
Ezkaton 2000; 13. 23 Youth Manifesto; 14. Lucifer.
Foto da edição limitada (Cd + DVD) |
Prós:
Pesado e sombrio, com ótimos
arranjos e idéias, mas ainda assim acessível.
Contras:
As letras podem ser blasfemas demais
aos headbangers cristãos. Pode te dar medinho de dormir sozinho.
Classifique como: Black Metal, Death Metal, Blackened Death metal
Para Fãs de: Vader, Dimmu Borgir,
Emperor, Watain, Ihsahn.
Ficha Técnica
Banda: Behemoth
Origem: Polônia
Site Oficial: http://behemoth.pl/
Letras: http://www.darklyrics.com/lyrics/behemoth/thesatanist.html
Disco (ano): The Satanist (2014)
Disco (ano): The Satanist (2014)
Mídia: CD (Cd+DVD na edição
limitada)
Lançamento: Metal Blade (Importado)
Faixas (duração): 09 (43’).
1. Blow Your Trumpet Gabriel!; 2. Furor Divinus; 3. Messe Noire;
4. Ora Pro Nobis Lucifer; 5. Amen;
6. The Satanist; 7. Ben Sahar; 8. In the Absence ov Light; 9. O Father O
Satan O Sun!
Produção: Behemoth
Arte de Capa: Denis Forkas
Formação:
Nergal – voz, guitarra;
Seth – Guitarra;
Orion - baixo
Inferno – bateria.
Porra, agora sim, esse disco tá bem sinistro. Mas acho que ainda prefiro o Demigod. Baixou ele onde?
ResponderExcluirBota mais desgracera nesse site aqui que aí fica beleza.
Suadações
Danilo Z.
Fala, Danilo
ExcluirConheço pouco da carreira do Behemoth, mas muita gente fala bem desse Demigod. Vou procurar.
Não baixei, ainda estou no mundo material, tudo o que vc vê resenhado aqui na Cripta eu adquiri. Mas tem um camarada meu que baixou pelo Itunes, nesse caso o download é pago, mas costuma sair muito mais barato que comprar o disco, especialmente no caso de material que só existe lá fora.
As " desgraceiras" não são exatamente minha especialidade, mas volta e meia você vai encontrar algo por aqui.
Abraço
Trevas
Bréqui métal é coisa do Canhoto, do Sete-Peles, do Synteko Gelado, do Mochila de Criança...
ResponderExcluirAinda não consigo ouvir essas podreiras... Parei no Morbid Angel, mesmo...
E nem dá pra falar nada do visual deles... Tento imaginar eles indo à padaria comprar um singelo pão francês, paramentados de corpse paint, spikes pra todo lado e botas de 40 Kg cada pé...
krill
ExcluirPelas barbas do Capiroto, nunca queimaste igrejas quando criança lá na tundra? Sabe de nada inocente!
Também nunca fui muito fã de Bréquimédal, o visual com corpse paint me afastou dessa josta tal qual a purpurina e lantejoulas me afastara da cena hair metal. mas atualmente Trevas é paz e amor e escuta a porra toda. Se conseguir abstrair o visual, vai achar legal.
gwahahaha, sempre imagino a mesma coisa, esses caras de corpse paint indo comprar pão ou levar o totó (que deve ser um poodle ou schnauzer) para passear, hehehehe
Jundis
T
Tem muita banda sem corpse paint.
ExcluirVerdade,
ExcluirTem algumas bandas do estilo que não se utilizam de corpse paint.
Abraço
T