Dobradinhas: 5FDP + Queensrÿche
Five Finger Death Punch – The
Wrong Side Of Heaven And The Righteous Side Of Hell
Macho, Macho (pop) Metal em Duas
Viciantes Partes
A
New Wave Of American Metal tem sido
extremamente prolífica em bandas, todas elas contando com pontos em comum a
despeito do subestilo: músicas pesadas, que fazem uma ponte entre modernidade e
o passado do metal e com um tino incrível para melodias radiofônicas.
Um
dos exemplares que melhor ilustram esses pontos, o Five Finger Death Punch (ou simplesmente 5FDP) estourou para o grande público com uma versão pesada para Bad Company (sim, da banda homônima de Paul Rodgers) e desde então vem
angariando tantos fãs quanto detratores, muitos desses últimos geralmente
críticos da postura “testosterona ao máximo” que a banda passa. Apesar da
postura “Macho Man” e belicista, na verdade o 5FDP é das bandas mais palatáveis para o grande público dessa nova
safra, talvez devido à simplicidade de suas músicas.
Só cabra bonito e simpático |
A suposta falta de conteúdo da banda fez com que
muitos estranhassem quando a mesma anunciou o lançamento de um disco duplo,
atitude muito mais comum em se tratando de bandas mais ambiciosas
estilisticamente. A produção das duas bolachinhas ficaria ao encargo de Kevin Churco (produtor da safra atual
de discos do Ozzy Osbourne) e foram anunciados alguns artistas convidados: Max Cavalera, Rob Halford, Jamey Jasta
e Maria Brink.
Volume 1
O primeiro disco, saído em julho desse ano,
começa arrasador, com o single Lift Me
Up (ver vídeo) contando com ótimo refrão e participação marcante de Rob Halford, como que para mostrar que
a valha guarda aprova o trabalho do 5FDP.
Watch You Bleed mantém a toada,
mostrando que a banda vem se especializando em uma mistura de metal moderno com
referências a bandas clássicas e uma veia radiofônica típica do metal
americano, sem que isso represente música estéril e sem peso. Tudo isso em
faixas que raramente ultrapassam 4 minutos. O peso dá as caras com maior
intensidade em números como You, Burn MF, Dot Your Eyes e I.M. Sin,
sendo essas últimas dois dos destaques, em especial nas versões bônus da edição
limitada.
Mas
o 5FDP mostra também ter uma mão
bastante boa para Power ballads, diga-se de passagem, fazia tempos que não
ouvia boas baladas metálicas como a faixa título, M.I.N.E. (lembrando bastante o lado melódico do Stone Sour) e Anywhere But Here, essa última contando com a discreta participação
de Maria Brink (In This Moment) em sua versão original.
As
participações especiais trazem um diferencial para a edição limitada do disco.
Em Anywhere But Here, Maria Brink aparece em maior destaque
na versão bônus. Dot your Eyes melhora
ainda mais com a possante participação de Jamey
Jasta (Hatebreed), assim como o
faz Max Cavalera (inclusive em
português) com I.M Sin. Até mesmo a
participação do rapper Tech N9ne em Mamma Said Knock You Out (versão para a
música do também rapper LL Cool J) ficou
legal, lembrando as interações metal/rap da trilha sonora clássica do filme Judgement Night.
A edição limitada também possui um CD ao vivo de
bônus, contendo uma apresentação completa da banda, com 17 faixas em ótima
qualidade. Portanto, se esbarrar com essa edição, dê preferência, os bônus
engrandecem e muito o material.
Volume 2 |
Volume 2
Lançado
poucos meses depois do primeiro volume, o segundo disco veio ao mundo com a
ingrata tarefa de igualar o alto nível de seu predecessor. Sem contar dessa vez
com nenhuma participação especial, o Volume 2 foi alardeado pela banda em
entrevistas se tratar da nata do material composto para a dobradinha. Parecia
pura bravata, e é mesmo. Essa segunda parte é legal, mas não chega perto da primeira.
Cradle To The Grave mantém o híbrido peso/melodia/radiofonia vivo
com méritos. Daí para a frente o disco fica um pouco irregular. A Matter Of Time é apenas correta, The Agony Of Regret não passa de uma
curta introdução para Cold, a menos
legal das baladas do pacote. Let This Go
e My Heart Lied são bons exemplares
de Pop Metal e A Day In My Life não
traz nada demais.
Como citado anteriormente, o 5FDP estourou de vez com uma versão metalizada para um clássico do
rock. Por isso não deixa de ser curioso que o ponto baixo dos dois discos seja
justamente uma tentativa de reproduzir esse sucesso, dessa vez errando feio com
uma péssima rendição para House Of The
Rising Sun (famosa por sua versão pelo Animals).
Essa versão ficou tão ruim que parece coisa dos Mamonas Assassinas. E se nessa segunda parte não temos faixas
bônus, por outro lado a edição limitada traz o DVD do show encartado como Cd na
edição limitada da primeira parte, o que compensa bastante.
Saldo Final
A
estratégia de marketing de mostrar que a banda “tem tanto material de qualidade
composto que ficou impossível lançar tudo em um só disco” é manjada e não
funciona tão bem atualmente, quando o conceito de disco já não parece fazer
tanto sentido para as novas gerações. E via de regra os “discos gêmeos”
poderiam funcionar muito melhor caso o material fosse bem escolhido e compilado
em um só trabalho, mais forte. É o caso aqui. Se pegassem a primeira parte
inteira e fundissem com as 4-5 melhores da segunda parte, teríamos um provável
clássico em mãos. Ainda assim, tratam-se de dois bons lançamentos, com ampla
vantagem para o Volume 1.
NOTAS
Volume 1: 9
Queensrÿche: Queensrÿche x
Frequency Unknown
Goleada
na Primeira Partida
Esses 4 juntos novamente? Só nos tribunais... |
De
lá para cá transcorre uma disputa legal pela marca, e até que a mesma seja
findada, teremos duas versões do Queensrÿche,
a do Geoff Tate e a de Michael Wilton, Eddie Jackson e Scott Rockenfield.
Cada parte se defende como pode. Tate,
autor de 90% do material do Queensrÿche,
garante que esse fato por si só lhe garante o direito de seguir com a marca. Já
os três outros tem a seu favor o fato de serem membros fundadores da banda,
quando essa ainda atendia pelo epíteto The
Mob. Além disso, acusam Tate de
ter dilapidado a marca ao colocar seus familiares e agregados para tratar dos
negócios do grupo, dando-lhe vantagens contratuais indevidas. Enquanto a
justiça não dá seu veredicto, os dois Queensrÿches
resolveram nos brindar com suas visões musicais do que representa a banda.
E
essa visões, para um bom observador, ficam claras desde as escolhas dos nomes
para os discos. Tate parece tentar
dar prosseguimento ao Queensrÿche
dos últimos lançamentos, nomeando o disco com um título, Frequency Unknown, que a princípio em nada faz transparecer toda a
polêmica vivida atualmente. Aparentemente, pois na capa do disco, temos as
iniciais F.U. em evidência. Simples abreviação
ou um sonoro “Fuck You” para seus ex-parceiros?
Arte Gráfica
Na ordem: Queensrÿche, Frequency Unknown |
Já
Queensrÿche traz uma imagem simples
e direta do logo da banda. Novamente a ideia de um reboot. A edição limitada desse
segundo disco, além de três faixas ao vivo (novas rendições de velhos
clássicos), traz uma embalagem em formato de caixa, contendo adesivo, patch e
palheta.
Pessoal
Alguns dos culpados por Frequency Unknown |
Já
o Queensrÿche versão 2 não pareceu
se importar muito com nomes. Além dos três membros originais, a banda conta com
Parker Lundgren na segunda guitarra.
Curiosidade mórbida à La João Cléber: Lundgren
fora trazido ao mundo do Queensrÿche
incialmente pelo próprio Tate, pois
fazia parte de sua banda solo. Posteriormente casaria com uma das filhas do
chefe (e se divorciaria pouco depois). Já para o posto de vocalista, foi
escolhido o estadunidense Todd La Torre.
Baterista de formação, La Torre teve
sua primeira experiência como vocalista profissional já tardiamente, aos 35
anos, substituindo o falecido Midnight
no Crimson Glory. Todd já vinha trabalhando com os atuais
colegas no projeto Rising West e
anteriormente em algumas demos de um projeto solo de Wilton.
Queensrÿche, com Todd ao centro. |
1. Frequency Unknown
Tate: os caras me deixaram careca... |
2. Queensrÿche
Saldo Final
Enquanto
Tate não se decide entre modernidade
e revival, a outra versão do Queensrÿche
nos coloca uma máquina do tempo para nos fazer relembrar o quanto a banda havia
sido fantástica. Obviamente de nada essa viagem valeria se as composições não
fizessem justiça ao enfoque vintage escolhido. Mas elas o fazem, com louvor. Se
formos suficientemente cínicos, o Queensrÿche
sem Tate pode ser acusado de
vilipendiar o passado, o que fica difícil de defender quando se escuta Todd La Torre imitar descaradamente Geoff
Tate em boa parte do material. Mas os méritos tem que ser dados, os caras
mergulharam fundo na auto-referência e ainda assim saíram de lá sem parecer uma
mera paródia. Já Tate, esse deveria
repensar sua carreira e se reinventar, pois independentemente do resultado dos
tribunais, trata-se de um dos maiores vocalistas da história do rock e tem
capacidade de apresentar algo melhor do que Frequency Unknown.
Em
suma, se o resultado dos discos for refletido nos tribunais, dará uma goleada
para o Queensrÿche de Wilton, Rockenfield e Jackson.
NOTAS:
Frequency
Unknown: 5,5