terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Led Zeppelin – Celebration Day (Blu-Ray + 2CD - 2012)




E O Zeppelin Levantou Vôo de Novo

Lemmy Said

Certa vez li uma entrevista com Lemmy Kilmister onde o repórter, maravilhado em descobrir que o velho tio Crocotó havia conhecido o falecido Randy Rhoads, perguntara sobre a genialidade do lendário guitarrista que salvara Ozzy do ostracismo (e de si mesmo). Lemmy então disse que lembrava de Randy como um garoto comum, miúdo, quieto e que gostava de videogames. O entrevistador insistiu sobre a qualidade técnica de Randy, e curiosamente Lemmy se sai com essa pérola (ou ao menos, com algo parecido com o que transcrevo aqui): “Sabe, a morte nos torna pessoas melhores do que éramos”.


E por mais estranha que possa ser a sabedoria provinda de verrugas embebidas em Jack Daniels com Coca-cola, ela funciona também para as bandas. Os Rolling Stones nunca serão maiores que os Beatles, pois os enrugados bad boys viveram o suficiente como banda para experimentar a decadência, já os Beatles viverão para sempre no imaginário popular em seu auge. Da mesma maneira o Led Zeppelin com o tempo se tornou a maior marca dos anos 1970, porque simplesmente a trágica morte de John Bonham abreviou a carreira da banda, que nunca passou por fases de vacas magras como seus “concorrentes” Deep Purple e Black Sabbath, por exemplo. E fiquem certos, a fase ruim estava a espreita, vide a grosseira queda de qualidade dos lançamentos do Zeppelin posteriores a Physical Grafitty (1975), os irregulares Presence (1976) e In Through The Out Door (1979).


Led Zeppelin em seu apogeu

Em suma, o Led Zeppelin se tornou um mito cada vez maior, nutrido pelas memórias embebidas em ácido daqueles que tinham visto a banda ao vivo em seu apogeu, e no imaginário das novas gerações, que nunca teriam a chance de assistir a banda, tendo como referência apenas os registros das memórias dos mais velhos.

E assim seguiu a vida, Page e Plant jamais lançaram novamente, seja em separado ou em conjunto nada que merece uma breve citação de rodapé nos livros da história do rock ( se alguém gritou The Firm, sugiro internação urgente em um hospital psiquiátrico) , mas o nome do Zeppelin jamais sofreu qualquer dano nesse percurso (já que quase ninguém se lembra da desastrosa aparição da banda no Live Aid, em 1985).

Ahmet, o Necromante
E tal qual um rito de ocultismo daqueles que supostamente atraiam a atenção de Jimmy Page no passado, foi a morte de um ancião que trouxe a banda de volta à vida: Ahmet Ertegun, fundador e presidente da Atlantic records, casa do Led Zeppelin, Bad Company dentre outros, falecera em dezembro de 2006. 
Um evento memorial em homenagem a um ano do falecimento do empresário foi planejado para ocorrer em dezembro de 2007, contando com diversos artistas que ao menos em um ponto de suas carreiras haviam tido a Atlantic como porto seguro. Foram confirmados membros do Emerson lake And Palmer, Yes, Foreigner e Bad Company. Mas a cereja do bolo, depois de meses de negociação seria a primeira aparição em público do Led Zeppelin desde 1985.

Ahmet, o carequinha da foto
Negociações da Pesada


Mas não foi fácil. As conversas, ao contrário do que se imaginara a princípio, não foram endurecidas por um magoado John Paul Jones, que fora esquecido por Page e Plant em diversas ocasiões para discutir assuntos relativos ao catálogo da banda e até mesmo na razoavelmente bem sucedida turnê Page & Plant. O problema mesmo foi com Robert Plant, que se mostrou desde o início contrário à ideia, por considerar, segundo o corolário de Lemmy, que o Led vivia melhor na memória das pessoas. Em parte por conta de estar ciente de que sua forma atual não permitiria mostrar os falsetes de outrora e muito menos o famigerado sex appeal, em parte porque os anos finais da banda coincidiram com uma espécie de inferno astral do vocalista, que geralmente é bastante reticente em relembrar o passado. Depois de muita conversa e de uma retórica que apelou bastante para o carinho que Plant nutria por Ahmet, o cantor por fim acabou cedendo, mas mediante algumas exigências (quem quiser saber mais, leia o excelente Quando Os Gigantes Caminhavam Sobre A Terra, de Mick Wall):

- Exigência número um: nada de Heavy Metal, que o resto da banda esquecesse qualquer possibilidade de executar Immigrant Song e, para desespero de Page, Achilles Last Stand. Foi um tiro certeiro no coração de Page, que sempre considerou essa sua obra prima;

- Exigência dois: as músicas deveriam ser executadas o mais próximo de sua versão original, ou seja, nada de grandes improvisos;

- A terceira exigência já era esperada, e causava calafrios a todos os envolvidos, pois se referia a Stairway To Heaven. Curiosamente, ao contrário dos piores pesadelos de todos, Plant disse estar preparado para cantá-la. Mas não ao final do show. E que o fosse discretamente, sem nenhum anúncio ou pantomima, pois Plant queria mandar a mensagem que ele tanto acreditava, existiu Led antes dessa música e continuou existindo após ela.


Magoado, Page assentiu e a negociação seguiu em frente, mas para os mais próximos confessou: Robert Plant finalmente conseguira o que havia tentado em vão nos anos 1970, tomar seu filho dos braços e liderar o Led Zeppelin, ao menos por uma noite que fosse.

O excelente "Quando Os Gigantes...", de Mick Wall
Negociações terminadas, o show ainda ganharia toques de dramaticidade: Jimmy Page quebraria o dedo de uma das mãos próximo à data inicialmente marcada, o que adiaria o show em duas semanas. Com o disco novo de Robert Plant, com Alison krauss, chamado Raising Sand, ganhando uma sonora atenção da mídia, muito chegou a ser especulado de que o adiamento do show teria como verdadeira razão uma desistência de Plant.

Sobre a promoção do evento, creio que todos se lembram: cerca de um milhão de pessoas se cadastraram para conseguir senhas que dariam direito a concorrer ao sorteio dos 20.000 ingressos disponíveis. A euforia foi imensa. Era hora do show.

Plant, Krauss e o álbum da (quase) discórdia

Aos poucos o gigante acordou

Após os já citados shows de abertura e a exibição de um breve vídeo no telão, Good Times Bad Times toma a Arena O2 de assalto. A banda parece tão confusa quanto a platéia e o que se seguiu foi uma seqüência de tentativas e erros: os cincos primeiros números foram apresentados por uma banda insegura e errática, com diversos erros se alternando com momentos que de longe lembravam os tempos de glória. Curiosamente, resenhas da época do show dão conta que foi exatamente nesse período de cinco músicas que o som da arena esteve próximo do inaudível de tão confuso (algo corrigido nessa versão em Blu-ray, que possui um som fantástico), e talvez tenha sido isso que atrapalhou um Zeppelin já enferrujado pelo tempo.

E quando tudo parecida rumar para um desastre similar ao do Live Aid, eis que uma excelente e gorda rendição para Trampled Underfoot faz o gigante finalmente despertar. Daí para frente temos ótimas versões para Nobody’s Fault But Mine e para a sempre assombrosa No Quarter, com John Paul Jones reassumindo seu posto de operário da banda, em prol dos egos de Page e Plant.


Sim, a voz de Plant está gasta, mas ele sempre teve problemas em reproduzir sues agudíssimos falsetes ao vivo e ao menos no meu entendimento, fez o trabalho nesse show com a dignidade que seus anos bem vividos permitiram. Ainda que em momentos como Since I’ve been Loving You e Dazed And Confused a coisa beire o limite do aceitável. Nessa última temos o único momento em que Plant cedeu aos improvisos, e um prá lá de gasto Jimmy Page tem seu momento clássico de exibicionismo com o arco de violino, com o excelente Jason Bonham segurando como sempre as pontas, tal qual seu velho pai fizera antes.

Sem nenhum alarde, como pedido por Robert, tem início Stairway To Heaven. Nessa música todos tem seus momentos de brilho, exceto Page, que reitera o que ele mesmo já cansou de admitir, sua verdadeira mágica reside em estúdio. Seu solo nessa música beira o desastre absoluto.


A platéia, respeitosa e em um silêncio estranho a um show de rock, segue o restante do show em uma reverência moderna, mais preocupada em registrar em seus celulares os momentos do que realmente vivê-los. Me pergunto se os tais 20.000 ingressos não caíram nas mãos de uma multidão de frígidas e homens de gelo. E se a platéia não demonstra grande animação, a banda parece se divertir mais a cada minuto que passa, o que fica claro em The Song Remains The Same e Misty Mountain Hop.

Kashmir recebe uma releitura excelente e é chegado então o bis, com as previsíveis e bem vindas Whole Lotta Love e Rock And Roll.


E após duas horas, o Zeppelin de chumbo pousava novamente, para nunca mais levantar vôo...



Saldo Final

Com excelente som, edição correta e uma qualidade de imagens magistral, Celebration Day é o registro perfeito de uma noite tão única quanto imperfeita. Uma pena que não há nenhum extra incluso, pois os bastidores da preparação desse show devem ter sido ainda mais interessantes que o mesmo.

E apesar do receio da banda em lançar esse material, vale ressaltar que trata-se de algo consideravelmente melhor que o fraco The Song Remains The Same, infeliz registro ao vivo em vídeo da banda em uma noite ruim de sua fase áurea, registro esse que conta com a antipatia de todos os membros sobreviventes do Led.

p.s.: os dois CDs encartados na versão em Blu-Ray trazem todas as músicas do show com qualidade de mixagem bastante boa.


NOTA – 7,5

Ficha Técnica

Banda (Nacionalidade): Led Zeppelin (ING)

Título (ano de lançamento): Celebration Day (2012)

Mídia: Blu-Ray (+2CD)

Gravadora: Warner (Nacional)

Faixas: 16

Duração: 124’


Rotule como: Hard Rock, Classic Rock, Heavy Rock

Indicado para: precisa mesmo dizer?


Passe longe se: precisa mesmo dizer?

4 comentários:

  1. Pô, tem qui ve qui os cara tão tudo velho já.
    É tudo classico, é o qui vale.
    Sabe onde encontro o show pra baixa?

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    1. Opa, bem vindo
      É verdade, a idade pesa.
      Não sei onde nem como baixar arquivos hoje em dia. Mas tem link para assistir ao show inteiro no youtube, é só procurar.
      Valeu
      Trevas

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  2. Nada feito pelo Zeppelin me desagrada. O status de banda cult (de quem?) também server como um aditivo para a mística!

    E não ter rolado Achilles foi golpe baixo do seu Planta!

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    1. Fala, Krill
      Não acho Led ruim, em absoluto, mas não entra no meu top 5 das bandas setentistas não. E infelizmente para mim, Achilles é uma de minhas favoritas da banda.
      Abracetas
      Trevas

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