A Vingança do Deus Selvagem da
Floresta
Formada em 1983 pelo guitarrista
Eric Peterson, ainda sobre o nome Legacy, o Testament passou por diversas
mudanças de formação até a gravação de seu debut, The Legacy, em 1987.
Talvez por ter saído atrás dos outros ícones da
Bay Area, a banda é comumente taxada como uma banda de segundo escalão do
Thrash Americano. Um tremenda injustiça. Dona de uma discografia das mais
regulares na história do metal, possuidora de uma musicalidade absolutamente
acima da média e reconhecida por fazer um dos melhores e mais vigorosos shows
que o dinheiro pode pagar a banda vendeu nada menos que 12 milhões de discos em
sua carreira e angariou um lugar especial no oração de muitos headbangers ao
redor do globo.
Anos 1980 - o Velho Testamento |
Após a gravação de cinco discos
contando com o prodígio Alex Skolnick na guitarra solo, a banda passou por uma
década de 1990 de mudanças constantes no line up e na sonoridade, que passou a
incorporar cada vez mais elementos de death metal e thrash moderno.
Totalmente na surdina, em 1999, sob a batuta do
mago Andy Sneap na produção, a banda montou um verdadeiro time dos sonhos do
Thrash e gravou seu melhor disco – o estupendo The Gathering. O soerguimento do
Testament quase foi interrompido por uma desgraça pessoal. O vocalista Chuck
Billy, um ameríndio grandalhão com aço no lugar das cordas vocais lutou bravamente
contra um câncer. Durante o período que durou a batalha, a banda acabou por
fazer as pazes com o passado, reunindo a formação clássica para deleite dos
fãs.
Chuck "Bugio Raivoso" Billy - nem o Câncer pode com ele. |
Após um disco de regravações, o
mundo viu o primeiro rebento desse retorno. O furioso The Formation Of
Damnation. Um disco poderoso, mas que falhou ao fazer a ponte entre o velho
Testament e as novas sonoridades incorporadas pela bandas na última década. Fato
assumido como culpa por Eric Peterson, que disse ter composto 99% do material
da bolachinha.
Após alguns anos excursionando junta, a nova
formação finalmente teve tempo de compor material como uma banda novamente, e
esse material vem ao mundo sobre o nome Dark Roots Of Earth.
Wild God Of The Forest
E antes de colocar o tão antecipado CD para
rolar, já fiquei impressionado pela arte de capa, desenhada por Eliran Kantor (ver o trabalho do artista no link abaixo) seguindo
uma ideia de Eric Peterson. O desenho foi intitulado The Wild God Of The Forest
e representa claramente a intenção do material sonoro: pesado, épico e obscuro.
A
violenta Rise Up (ver faixa ao vivo
no Wacken) é a típica faixa soco na
cara. Violenta e rápida, ainda que grudenta. Nela já observamos a perfeição da
produção de Andy Sneap e um pequeno
e importante ponto que se insinua aqui e seria confirmado ao longo do restante
do disco: uma preocupação maior nos solos de guitarra.
Native Blood, faixa de trabalho do disco (ver clipe), vem cercada
de uma história interessante. Chuck
Billy nunca ligara para sua ascendência indígena. Mas sua batalha contra o câncer
o colocou em contato com suas origens, inclusive na vertente espiritual (ver
matéria abaixo). Em gratidão a seus antepassados e em homenagem a todos os
povos indígenas das Américas, o Grandalhão compôs essa música. Justamente para
tentar atingir os povos indígenas da América latina, a banda chegou a tentar
gravar uma versão em espanhol, chamada Sangre
Indigena (ver detalhes no trecho que fala sobre os bônus da edição
limitada).
Independente da história por detrás da música, Native Blood é excelente. Seja pelo
trabalho de guitarras, seja pela destruidora voz de Mr Billy, o melhor vocalista do Thrash americano. Se não bastasse isso, ainda somos presenteados
pelo trabalho irrepreensível da máquina de tritura baterias chamada Gene Hoglan, que reassume com maestria
seu posto na banda.
A
faixa título resgata as Power baladas que o Testament faz com maestria desde The Legacy e lembra algo da fase Souls Of Black/The Ritual, só que com maior inspiração. A temática,
centrada na vingança da natureza contra a humanidade e seus abusos contra o
meio ambiente, preocupação antiga da banda que inspirou no passado a faixa Greenhouse Effect, de Practice What You Preach. Épica, pesada
e melódica – candidata a novo clássico da banda.
2012 - o Novo Testamento! |
True American Hate (ver clipe), nasceu do temor de Chuck Billy pelo
futuro de seus filhos e netos, vivendo num mundo onde o ódio aos Estados Unidos
da América foi alimentado por décadas, fruto dos abusos da política externa
americana em relação à soberania de vários países ao longo da história. Talvez seja
essa a faixa que mais se aproxima do que o Testament fez em The Gathering e
The Formation Of Damnation. Pesadíssima e inspirada, deve fazer um baita
estrago ao vivo.
O
nível do solos e riffs de A Day In The
Death evidenciam o cuidado da banda com as guitarras nesse disco. No documentário
que acompanha a edição limitada, Eric
Peterson comenta que Alex Skolnick
pediu que eles tentassem fazer como nos velhos tempos: pegar uma cervejas e,
juntos, brincar com riffs e solos numa sala longe da banda e da pressão das sessões de gravação. Dessa maneira muitas das
músicas do novo trabalho nasceram, assim como foram trabalhados mais
detalhadamente os solos, ao contrário do que ocorreu no disco anterior. A idéia
funcionou perfeitamente e o que temos aqui é um resgate do senso melódico que
sempre foi um diferencial para o Testament
na cena.
Eric e Alex, arregaçando tudo no novo disco |
E senso melódico é o que não
falta na Power balada épica Cold Embrace,
outra que remete a The Legacy e ao
material mais trabalhado de The Ritual.
Uma faixa belíssima e mais uma demonstração de como uma banda pode ser versátil
sem perder a identidade.
A pancadaria recomeça com força
total em Man Kills Mankind, que
parece algo inicialmente pensado para o clássico The New Order e que só viu a luz do dia agora, de forma
anabolizada.
O tom épico é retomado com Throne Of Thorns, inclusive no que
tange à letra, com temática fantástica à lá RPG. Uma faixa excelente que
aparece em uma versão estendida magistral na edição limitada do disco.
O disco termina como começou, com
uma música veloz e direta, Last Stand
For Independence, como que para fechar um ciclo. E apesar de não ser
exatamente um disco curto (51 minutos), deixa aquela saudável sensação de que poderíamos
agüentar mais uma hora de material da banda.
Para quem comprou/baixou a edição limitada,
ainda temos quatro faixas a mais, que serão analisadas ao fim da resenha.
Saldo Final
Dark Roots Of Earth é bem sucedido em tudo o que se pode exigir
de um grande disco de metal.
A produção é pesada e cristalina,
as musica são marcantes, existe uma variação saudável de temas e ritmos, as
performances individuais estão muito acima da média e o material ainda por cima
faz sentido como um todo, não parecendo um amontoado aleatório de músicas. Tudo
isso embalado em uma das capas mais bacanas dos últimos tempos.
A recepção ao disco foi
arrebatadora: 12º lugar na Billboard e primeiro lugar nas paradas em vários
países europeus, já sendo o disco mais bem colocado nas paradas ao redor do
globo da história da banda.
Se o novo rebento do Testament irá ou não se tornar um
clássico, só o tempo irá dizer. Eu já o coloco ao lado do The Gathering como meu favorito da banda.
Testament - no topo das paradas ao redor do mundo:
Testament - no topo das paradas ao redor do mundo:
E faltando 3 meses para o fim de
2012, não tenho medo de errar: Dark
Roots Of Earth é o disco de Metal do ano!
NOTA: 10
Edição Limitada
As faixas bônus da edição
limitada são um presentão: versões avassaladoras para Dragon Attack (Queen); Animal Magnetism (do Scorpions, já coverizada pelo Memento Mori) e Powerslave (Iron Maiden,
a menos legal do pacote). Além das três covers, temos também uma versão
estendida para Throne Of Thorns,
contando com uma seqüência de solos ao final que me fizeram perguntar por que
diabos não colocaram essa no repertório normal do disco. A música conseguiu
ficar ainda melhor!
O DVD bônus está dividido em três
partes.
A primeira é um documentário: “making of Dark Roots Of The Earth”, dcom
duração aproximada de 30 minutos, focando basicamente na torrente criativa que
apossou Eric Peterson ao chegar ao
estúdio de Andy Sneap, situado num
belo sítio no interior da Inglaterra (em Derbyshire).
Interessante ver Eric falar sobre as experiências sobrenaturais no lugar. O que
seria da Inglaterra sem suas histórias de fantasma? Se bem que é só olhar para
a cara do baixista Greg Christian
para imaginar de onde se tirou a inspiração para o Guardião da Cripta...brrrr.
O material é muito bem filmado e
editado e apesar de não contar com legendas, a dicção dos caras é tranqüila
(exceção feita a Alex Skolnick) e
não acredito que alguém terá problemas para comprender o material. O ponto alto
do documentário é o trecho em que mostra Chuck
Billy tentando gravar uma versão em espanhol para Native Blood – hilário!
Um material bastante completo e
interessante que, apesar de centrado na feitura do novo disco, pesca um assunto
aqui e outro acolá sobre a história da banda.
A segunda parte do DVD é um
trecho da apresentação da banda no The
Avalon. Temos então Practice What
You Preach, Disciples Of The Watch,
Over The Wall e Souls Of Black representadas em um material (com duração de 20
minutos) que deve ser considerado apenas como um bootleg, já que a qualidade de som e imagem não são lá essas
coisas.
A terceira parte é um “Gear Tour” (aproximadamente 10 minutos)
com os guitarristas da banda. Certamente
uma parte dos extras que irá interessar muito mais os músicos em geral do que
os fãs leigos.
No final das contas, os bônus que realmente
valem são as excelentes faixas extras no CD.
O DVD é legal, mas não acredito ser
um material a ser assistido mais do que um par de vezes na vida.
Ficha Técnica
Banda (Nacionalidade): Testament
(EUA)
Título (ano de lançamento): Dark
Roots Of The Earth (2012)
Mídia: CD (CD + DVD na edição
limitada)
Gravadora: Nuclear Blast (Importado)
Faixas: 9 (13 na edição limitada)
Duração: CD – 51’ (76’ na edição
limitada) DVD – 60’
Rotule como: Thrash Metal
Indicado para: Qualquer fã de
metal.
Passe longe se: sua diversão favorita for
assistir Carrossel.