sábado, 31 de outubro de 2020

Grave Digger – Fields Of Blood (CD-2020)



De Volta às Highlands

Por Trevas

Os teutônicos do Grave Digger completam nada mais nada menos que 40 anos de estrada em 2020, e podemos entender o lançamento de Fields Of Blood, o impressionante 20º trabalho de estúdio dos caras, como um marco comemorativo. O disco termina a trilogia escocesa iniciada no hoje clássico Tunes of War e continuada em The Clans Will Rise Again. Na produção da bolachinha, temos novamente a parceria de Chris Boltendahl e Axel Ritt com Jörg Umbreit, que já trabalha com o quarteto desde o excelente The Grave Digger, de 2001. Que, confesso, foi o último lançamento dos alemães a realmente me chamar a atenção. A despeito de achar o material deles, em tempos mais recentes, na melhor das hipóteses medíocre, minha curiosidade foi aguçada pela qualidade inesperada das faixas de trabalho. Vamos ver (ouvir, na verdade), o que os rapazes nos aprontaram dessa vez.

Os "cava-cova" são tão feios que nem precisam de muita caracterização

Bom, há de se imaginar que qualquer disco que se preste a ter como tema a história escocesa tenha que trazer gaitas de foles, né? Pois então, assim começamos, com a intro The Clansman’s Journey, que prepara terreno para All For The Kingdom, e a banda soando arregaçante como nos bons tempos.


Lions Of The Sea é xarope toda vida, com aqueles cânticos de pirata bêbado (que é o quase o mesmo que um escocês) e refrão totalmente chiclete. Ou seja, Grave Digger em sua melhor forma e charme tosco! Duvido que não venha parar nos set lists futuros!


Freedom é outra a conjurar o glorioso passado da Middle Ages Trilogy, tal como The Heart Of Scotland. Noora Louhimo (Battle Beast) ajuda a tornar palatável a balada Thousand Tears, sua bela voz fazendo um contraponto ao pavoroso trinado roufenho de Chris Boltendahl, o próprio “cava-cova”.


Na segunda metade do CD a qualidade cai um pouco, mas ainda assim temos bons momentos, como os solos de Axel em Union Of The Crown, a grosseira Barbarian e a épica faixa título. Pode não haver estilisticamente nada aqui que vá mudar o mundo ou reinventar a carreira do Grave Digger, mas para quem é fã dos caras, Fields Of Blood é pura diversão. Certamente o melhor disco dos teutônicos em muito, mas muito tempo! (NOTA: 8,61)

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Gravadora: Urubuz Records (nacional)

Prós: resgata a era da Middle Ages Trilogy

Contras: uma certa queda de qualidade no meio do disco

Classifique como: Heavy Metal, Power Metal

Para Fãs de: Running Wild, Accept


quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Blues Pills – Holy Moly! (CD-2020)

 


Holy F****** Moly!

Por Trevas

Surgido de uma dissidência da Radio Moscow, em 2011, com nome emprestado de um Fanzine especializado em rock dos anos 1960/70, o quarteto multinacional Blues Pills conseguiu uma ascensão impressionante com apenas dois discos de estúdio lançados. Se no primeiro trabalho tínhamos um Retro Rock com charme algo cru quebrado pelo talento de Elin Larsson, no trampo seguinte a banda apostou em uma pegada com adição de elementos de R&B e Soul, em composições bem mais maduras.  Mas como é tradicional no universo rocker, nem o inesperado sucesso comercial impediu uma mudança de formação: o prodígio francês Dorian Sorriaux deixou amigavelmente o front de batalha. Ao invés de buscar um novo guitarrista, os suecos partiram para o estúdio, para autoproduzir um novo trabalho, com Zack Anderson assumindo as guitarras (deixando o baixo para o novato Kristoffer Schanders). Completam a formação a louraça belzebu Elin e o poderoso batera Andre Kvarnström. Na mixagem, temos o premiado Andrew Scheps (Rival Sons, Adele, Black Sabbath, Iggy Pop).

Blues Pills 2020...now with lasers!!!

Com um discurso em off sobre igualdade de direitos, Proud Woman abre a bolachinha com aquela tonelada de Soul e R&B que marcou Lady In Gold. Também como no trabalho anterior, Elin e sua impressionante negritude vocal são o centro da produção, mas com espaço para o ótimo e dinâmico instrumental brilhar, quando necessário. Um bom começo.


Mas engana-se quem pensou de cara que a banda enveredaria por um caminho menos intenso, Low Road é um arregaço Retro Rocker de tirar sorriso dos caras do Graveyard. Destaque absoluto para a cozinha monstro de Kvarnström e Schanders. Ah, e Zack consegue substituir muito bem Dorian na guitarra, ao menos em estúdio. Dreaming My Life Away é outra pedrada, com sérios toques de Hendrix e Captain Beyond. A banda acertou a mão na produção, vigorosa e na cara, com um ar retrô sem soar requentada.


Elin põe seu feeling e gogó nos holofotes na bela balada R&B California. E se sai muito bem, como esperado. Rhythm In The Blood é visceral e viciante, fazendo uma clara referência ao Thin Lizzy no refrão. Uma das mais legais do disco. O nível continua altíssimo na repleta de malícia e empoeirada (oops) Dust.


Kiss My Past Goodbye, primeira faixa de trabalho, é deliciosa, e um ótimo exemplo da sonoridade atual do quarteto. A fórmula de alternância entre baladas soul com rockões segue com Wish I’d Known e Longest Longing Friend (na primeira categoria) contrastando com Bye Bye Birdy e a matadora Song From A Mourning Dove (na ala rocker).


Com pouco mais que 40 minutos, Holy Moly! Chega ao fim com a certeza de que temos em mãos o melhor disco do Blues Pills, o que é um feito e tanto, considerando a qualidade dos anteriores. Na lista de melhores de 2020? Com certeza! (NOTA: 9,26)

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Gravadora: Shinigami Records (nacional)

Prós: ótima alternância entre Rockões e R&B

Contras: talvez alguém possa reclamar de Elin encarnando janis Joplin em um ou outro momento

Classifique como: Retro Rock, Blues Rock

Para Fãs de: Rival Sons, Graveyard


terça-feira, 27 de outubro de 2020

Blue Öyster Cult – The Symbol Remains (CD-2020)


 

The Old Gods Return

Por Trevas

Dezenove longos anos se passaram desde que Curse Of The Hidden Mirror sepultara as ambições do Blue Öyster Cult em recuperar o tempo perdido e resgatar o prestígio do que outrora fora uma instigante carreira fonográfica. Ninguém deu muita bola para o disco, que realmente não era lá essas coisas, e os membros remanescentes da banda resolveram vestir a carapuça do hipotético dinossauro que ilustrou uma de suas capas clássicas. Excursionando e regurgitando (de novo e de novo) o material antigo, como um fóssil vivo de eletricidade e decibéis. Irônico, não?

Blue Öldest Cult?

Após uma penca de entrevistas ao longo dos anos que mostrava o desinteresse em “gravar um disco que ninguém vai ouvir”, Buck Dharma deixou escapar, em 2017, que a formação atual era boa demais para não registrar algo e em estúdio. Boatos vieram e foram, tão enigmáticos quanto a imagem que a banda talhou ao longo dos anos...até que a Frontiers anunciou que havia assinado com o BÖC, e já soltando, em meados de 2020, That Was Me, como primeira faixa de trabalho. The Symbol Remains (nome tirado de uma letra antiga da banda) foi produzido pelos remanescentes da formação original: Eric Bloom e Buck Dharma, com auxílio da arma secreta da formação atual, o multi-instrumentista Richie Castellano, e conta com lançamento quase simultâneo no Brasil.

That Was Me, vigorosa e pesadona, abre o trampo com uma levada e letra que lembram See You In Black, de Heaven Forbid...talvez justamente por trazer uma parceria com John Shirley, presente nos dois últimos lançamentos de estúdio da banda. A voz gasta de Eric ainda é idiossincrática, a própria marca registrada do lado mais cru da banda. E, de quebra, Albert Bouchard aparece nos backing vocals, Cow Bell e percussão. Ótimo início.


Logo em seguida, e de maneira provavelmente proposital, Buck Dharma encabeça a bacanuda Box In My Head, mostrando aquela outra faceta do BÖC, aquele pop psicodélico com elementos de AOR, mas que foge completamente da pieguice por um toque de estranhamento que se reflete na letra. Como um verão do amor onde os psicotrópicos te levam a uma viagem bem esquisita.


Tainted Blood é o primeiro número a causar estranhamento. A letra, uma epopeia de amor eterno vampiresco, orna uma música que tem muito de um AOR mais padrãozão, dessa vez sem o diferencial das vozes estranhas, já que Castellano assume (como faria outra penca de vezes) os microfones. Apesar do estranhamento inicial, a nova proposta casa bem com os momentos mais clássicos, que retornam com Nightmare Epiphany (totalmente BÖC anos 1980), que assim como Secret Road e Fight, já haviam aparecido em formato demo em um lançamento de Dharma no início dos anos 2000.


Quando olhei o repertório, a primeira coisa que pensei foi “14 músicas? É coisa demais!”. Mas dentro de uma lógica que mais parece a de um Best Of, a bolachinha funciona muito bem, alternando momentos que lembram os primórdios da banda, como na épica The Alchemist (baseada em Lovecraft e escrita por Castellano, apesar da cara de BÖC clássico), com outros quase anos 1980, como The Return Of St Cecilia, Florida Man e as já citadas Fight e Secret Road


E até a faceta mais nova, como nas três faixas cantadas por Castellano (The Machine lembra demais algo do Ten) e coisas como Edge Of The World e Stand And Fight (um quase Manowar, com Eric Bloom metal bagarai) funcionam. Um discaço surpreendente, no qual só mudaria uma coisa: deixaria Bloom e Dharma assumirem as vozes das faixas de Castellano. Se você é fã dos caras, não deixe de conferir! (NOTA: 9,02)


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Gravadora: Hellion Records (nacional)

Prós: resgata todas as facetas da banda

Contras: Castellano tem a voz muito bonitinha

Classifique como: Classic Rock

Para Fãs de: Ghost



Confess: The Autobiography - Rob Halford (Livro - 2020)


 

Confissões do Metal God

Por Trevas

 

Confess é o livro que conta a saga de um certo Robert John Arthur Halford, nascido e criado em uma Birmingham do pós-guerra, no coração poluído do Black Country, para se tornar uma das mais emblemáticas figuras da história do rock.

Eventualmente, Rob Halford ganharia o mundo à frente do Judas Priest, uma das maiores bandas de Heavy Metal em todos os tempos, uma verdadeira instituição britânica. A própria redefinição do British Steel.

Mas Confess definitivamente não é um livro sobre o Judas Priest.

Confess é sobre a jornada de descobertas e auto aceitação de um jovem criado em um lugar empedernido, em uma época cinzenta, escapando do destino do chão das fábricas, e vivendo sonhos, por culpa do amor à música.

O livro justamente funciona melhor em sua primeira metade, quando Rob relembra sua infância e juventude, e as desventuras da descoberta de sua homossexualidade (a aceitação viria muito, mas muito mais tarde), de maneira bem-humorada e leve.

Na segunda metade o livro ameaça entrar na cansativa seara da “saga do junkie”, lugar comum em 10 a cada 10 biografias do mundo do rock.

Ainda assim, escapa do marasmo devido ao “brilho no olhar “ com que o quase septuagenário senhor conta até os momentos mais trágicos, espelhando a conhecida personalidade “boa praça” do careca mais famoso da cena. Por exemplo, dá pra sentir a empolgação do já milionário senhor narrando sua fanboyzice em encontros com Andy Warhol, Cher, Jack Nicholson, Jimmy Page, Freddie Mercury, Dio, Lemmy, Madonna, a própria Rainha e...Lady Gaga?!?

Sua faceta pacífica só se mostra esgotada no episódio em que o babaquara Axl Rose tenta impedir que o Judas use a Harley Davidson no show do Rock In Rio II. Por pouco um show histórico quase não acontece...

Aos pudicos, um alerta, Rob é bastante “gráfico” ao narrar suas descobertas sexuais, preparem-se para ouvir bastante sobre punhetas e boquetes em desconhecidos em banheiros públicos, e descubram que também nos EUA há uma estranha relação entre Forças Armadas e o armário...enfim...

Os fãs de Judas Priest terão sua cota de anedotas, possivelmente algumas poucas delas inéditas, mas certamente ficarão frustrados se encararem a leitura como uma dissecação da história da banda e suas relações internas. Nesse ponto Rob é bem político e algo evasivo.

Há, por exemplo, uma clara licença poética sobre sua saída da banda e sobre a entrevista que o levou à se assumir para o mundo. Assim como um certo eufemismo nos eventos que levaram à decisão de KK de se desligar da mesma.

Mas prefiro analisar o livro pelo que ele é, uma história incomum de um personagem igualmente incomum, e contada de forma muito divertida.

Leitura das boas.

Mas o livro definitivo sobre a história do Judas Priest, esse ainda está por ser escrito.

Mick Wall?? (NOTA: 8,00)


Formato: E-book Kindle (em inglês)

Editora: Hachette Books

363 páginas






sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Blue Öyster Cult – 45th Anniversary Live In London (Blu-ray – 2020)



Bodas de Platina

Por Trevas

45 anos de estrada...uma marca assustadora, mesmo no longevo universo do Rock & Roll. E mais assustador ainda quando se fala de uma das bandas mais idiossincráticas e inclassificáveis da história. E cá estamos, diante do lançamento em alta resolução de um dos shows da turnê que comemorou essa marca, realizado no Indigo At The O2, Londres, em julho de 2017.

A imagem e som são para lá de cristalinos. O palco é simples, sem nenhuma grande produção nem arroubos na iluminação. A edição é comportada e nada frenética, o que agrada em cheio à faixa etária consumidora, uma galera que geralmente gosta de veros takes privilegiando a destreza dos músicos em seus instrumentos, ao invés da alucinante linguagem de videoclipe que alguns Home Vídeos nos trazem. 


No repertório, 15 faixas em 75 minutos de show. Marcadamente, para a data comemorativa, temos o disco homônimo por completo, somado a 5 números da fase inicial da banda. Sobre a banda, cabe ressaltar que aqui a formação é bem modificada, somente Eric Bloom e Buck Dharma restando dos tempos clássicos. Mas nem de longe isso deve gerar problemas: a já conhecida cozinha composta por Danny Miranda (também baixista do Queen, e que toca com os caras desde os idos de Curse Of The Hidden Mirror) e Jules Radino (bateria, também desde 2004 com o BÖC) é fenomenal. E ainda temos na formação um super trunfo: o multi-instrumentista Richie Castellano (voz, guitarra e teclado), que acrescenta um bocado tecnicamente ao time.



Dos nossos queridos velhinhos, já setentões, Eric Bloom demonstra alguma limitação, tanto na voz quanto na desenvoltura no palco. Inclusive, é notada a pegada mais lenta para alguns números, provavelmente por conta dessas limitações. Já Buck Dharma, esse está tocando como nunca, vide a memorável versão estendida para Then Came The Last Days Of May, na qual faz um duelo fenomenal com Castellano nos solos. Ah, e sim, ele ainda usa a "cheesetar". O que merece pontos extras!

Mas ao final das contas, se temos um BÖC menos feroz que no passado, por outro lado temos uma versão para lá de técnica da banda, em um show que provavelmente irá tirar um sorriso de qualquer fã dos veteranos. (NOTA: 8,00)


Extras

Nos tímidos extras, cerca de cinco minutos de imagens (em resolução razoável) da banda aquecendo, ensaiando alguns detalhes e conversando nos camarins.

 

Gravadora: Frontiers Records (importado)

Prós: repertório fantástico para os fãs da fase inicial

Contras: a voz de Eric Bloom está miudinha

Classifique como: Classic Rock

Para Fãs de: Ghost


Wolftooth – Valhalla (CD-2020)

 


Uma Certeira Dentada Lupina

Por Trevas

O quarteto estadunidense, composto por músicos veteranos (mas sem muito destaque) do underground local, causou um considerável estardalhaço com seu disco homônimo em 2018. Um disco vigoroso, que ficava preso entre as décadas de 1970 e 1980, mas dava curiosos vislumbres de outras eras, o que o destacava de boa parte da produção da NWOTHM. Eis que, nesse confuso ano, nos chega Valhalla. Hora de tentar entender melhor qual a magia do Wolftooth.

Daqui a pouco o lobo vai precisar é de dentadura

A introdução dedilhada, The Lamentations Of Frigg, prepara um interessante clima épico, e não ficaria estranha em um disco de progressivo. Mas progressivo definitivamente não se encontra mais a partir da excelente The Possession, que conjura uma mistura de Black Sabbath (impossível não notar a semelhança de estilo da voz de Chris Sullivan com o amado Madman) com elementos de NWOBHM. A produção é excelente, novamente nas mãos de Jeremy Lovins, que consegue deixar a sonoridade propositalmente num mundo fictício onde o Old School flerta com a modernidade.


Firebreather aliás é a própria conjuração de Old School. Quando segue esse caminho, repleto de duelos de guitarras, o Wolftooth remete aos bons tempos do Grand Magus (com um pouco do Orange Goblin). Mas há mais aqui do que simplesmente uma boa jornada na estrada do saudosismo. A própria faixa título estica as perninhas do Wolftooth para tocar um terreno que remete aos momentos menos loucos do Mastodon ou ao passado do Baroness. Quando flerta com esse lado, o groove da bateria e as linhas de baixo tomam à frente com maestria. E é exatamente esse equilíbrio entre dois mundos distintos que confere um charme especial ao Wolftooth. Valhalla pode não ser um clássico instantâneo, mas garante quarenta para lá de agradáveis minutos de uma banda que nasce com personalidade e cheia de promessas. Escute no talo! (NOTA: 8,71)

Visite o The Metal Club

Gravadora: Hellion Records (nacional)

Prós: instrumental excelente numa mescla de Metal tradicional e Sludge/Stoner

Contras: a voz de Sullivan pode enjoar

Classifique como: Heavy Metal

Para Fãs de: Grand Magus, Orange Goblin, Mastodon