segunda-feira, 13 de abril de 2020

Burning Witches – Dance With The Devil (CD-2020)


A Dança da Bruxas Suíças Flamejantes
Por Trevas

Dance With the Devil é o terceiro disco do combo suíço de metal tradicional formado somente por mulheres. O quinteto já havia vencido a desconfiança daqueles que implicam com bandas 100% femininas no gênero, seja com a qualidade bacana dos trabalhos anteriores, seja cimentando sua reputação com apresentações repletas de energia. Mas o boom de popularidade bem poderia ser prejudicado com o péssimo Timing da saída da ótima Seraina Telli dos vocais. Quase que prontamente foi feito o anúncio de Laura Guldemond para o posto e logo em seguida fomos informados que Dance With The Devil já estava a caminho. A bolachinha conta com produção do gente boa Schmier, arte gráfica bacanuda do Gyula Havancsák (Destruction, Accept, Annihilator) e lançamento nacional nas mãos da Shinigami. Vamos ao que interessa...

Gaiola das bruxas
The Incantation é apenas uma introdução climática que prepara o terreno para a paulada Lucid Nightmare. Pesadona e repleta de bons riffs e harmonias de guitarra, a voz de Laura só dando as caras lá pelos 40 segundos. E a moça chuta bundas, com uma pegada mais rasgada mas belo timbre limpo quando necessário, Laurinha põe por terra qualquer dúvida quanto ao acerto na escolha da substituta de Seraina. A faixa título começa com uma profusão de solos de guitarra, cortesia de Romana e Sonia, uma dupla que anda merecendo mais carinho dos fãs da cena. A música é um daqueles hinos metálicos grudentos, que deve fazer sucesso ao vivo, ainda que o refrão se repita um pouco mais do que deveria.


Wings Of Steel vem atropelando tudo logo em seguida, feroz e grudenta, possivelmente a melhor do disco. Aqui já dá para se ter uma noção da produção de Schmier: som bacana, com muito punch, num bom casamento entre o tradicional e moderno. Mas os barulhinhos e backing demoníacos em profusão por vezes beiram a elefantíase na bolsa escrotal.


Six Feet Underground é outra faixa matadora, que salienta ainda mais a capacidade da estreante Laura, numa performance para lá de absurda. E se não falei ainda da cozinha, não é por que não tem seu destaque não. Jay pode até jogar para o time e não aparecer tanto a maior parte do tempo, mas sua companheira, Lala, destrói impiedosamente na bateria. O ritmo aqui estava violento e incessante, aí vem a baladinha Black Magic e parece que fomos jogados no meio de um novo volume daquelas coletâneas melecosas tipo Lovy Metal. Mas Laura e sua interpretação sensuélen seguram o interesse, a balada é xarope, mas é bonitinha sim, vamos lá!


Chegamos a Sea Of Lies e, confesso, comecei a ficar “preocupado”. Outra faixa de Metal-Metal para nenhum fã botar defeito. A “preocupação” aumenta com as ótimas Sisters Of Fate (mais roqueira), Necronomicon (mais dark e pesada) e The Final Fight (tradicional e grudenta).


O nível só rateia, ainda que sensivelmente, com a razoável Threefold Return e a desnecessária cover para a manjada Battle Hymn (com Ross The Boss e Michael Lepond como convidados). Mas a “preocupação” citada é das boas. É que eu já havia gostado dos trabalhos anteriores da banda, e tal. Mas cara, não estava preparado para o nível desse disco, definitivamente incorri no erro de subestimar as meninas. Esse Dance With The Devil é um dos discos mais legais de Metal tradicional que escuto em tempos. Recomendo! (NOTA: 9,10)

Visite o The Metal Club

Gravadora: Shinigami Records (nacional)
Prós: uma penca de petardos de metal tradicional em sequencia
Contras: Para que Battle Hymn?
Classifique como: Heavy Metal
Para Fãs de: Judas Priest, Iron Maiden, Accept 


sábado, 4 de abril de 2020

The Night Flight Orchestra – Aeromantic (CD-2020)



De Volta à Ponte Aérea
Por Trevas

Criado em 2007 como mera brincadeira entre os Soilworkianos Björn Strid e David Andersson durante os momentos de tédio de uma turnê pelos EUA, a The Night Flight Orchestra (a partir daqui, TNFO) virou um canal para os dois exercitarem composições voltadas para o Classic Rock/AOR, brincando nas letras com situações diversas que aconteciam durante as turnês, em especial envolvendo os baratos e infalíveis “voos noturnos” e os casos de uma noite só com mulheres de todos os países. Em determinada turnê conjunta com o Arch Enemy, o duo ganhou o reforço de Sharlee D’Angelo, e em 2012, uma pequena gravadora italiana topou lançar Internal Affairs, o descompromissado (e bom!) rebento dessa junção. Em 2015 a brincadeira ganhou um ótimo segundo capítulo (Skyline Whispers), mas tudo ainda era feito de maneira nada ambiciosa. Vide que, em 2016, ganhei um Meet & Greet com o Soilwork no show do Rio e levei, em meio aos encartes dos discos da banda, dois dos discos do TNFO. A cara de surpresa de Strid e David foi impagável! Foi só em 2017, quando Gemini (com ajuda da Nuclear Blast) catapultou Amber Galatic ao grande público, que a coisa engrenou. O sucesso foi tão avassalador que eclipsou até mesmo o trabalho com o próprio Soilwork. O pessoal não perdeu tempo e já em 2018 soltou Sometimes The World Ain’t Enough, esse já numa versão algo diluída da fórmula que tinha ganho atenção. Quando foi anunciado esse novo Aeromantic, não me empolguei. Achei que a brincadeira já estava perdendo um bocado da graça e charme, mas vim conferir assim mesmo.

Kitsch? Nah, que isso? Impressão sua
Estática. Falas femininas em outras línguas. Introdução que fica entre o Prog e o AOR. A bela produção de Thomas Plec Johansson saltando aos ouvidos e temos então Servants Of The Air trazendo de volta o charme dos dois primeiros trabalhos! Dessa vez quase todas as canções ficaram nas mãos de David Andersson, mas é justamente numa das duas músicas de Strid (um dos meus “vocal heroes”, que novamente se sente em casa nos vocais limpos) que temos a brilhante Divinyls, uma das melhores canções que o agora sexteto já fez.



A pegada impressionantemente inspirada continua com as grudentas e para lá de vivas If Tonight Is The Only Chance e This Boy’s Last Summer. Curves infelizmente nos faz lembras das pisadas na bola que afetaram os dois discos anteriores, com seu refrão irritante derivado de alguma banda Z do AOR oitentista, mas é seguida com precisão pela belíssima Transmissions (com direito a solo de violino).


A faixa título se parece demais com materiais anteriores, tal como Sister Mercurial, mas Taurus (contribuição do guitarrista Sebastian Forslund), Carmencita Seven, Golden Swansdown e o encerramento com a magistral Dead of Winter colocam o novo trabalho como forte postulante ao mais equilibrado do projeto, que recuperou a vitalidade de seus primeiros discos e é tão agradável que mal se percebe seus quase 57 minutos de duração. Se você curte aquele Rock que cheira a algum lugar no tempo entre 1978 e 1983, não precisa procurar mais, só colocar Aeromantic para rodar. (NOTA: 9,18)


Visite o The Metal Club
Gravadora: Shinigami Records (Nacional)
Prós: ótima produção, músicas inspiradas e grudentas
Contras: sim, é bem kitsch
Classifique como: Melodic Hard Rock, AOR
Para Fãs de: Meat Loaf, Kansas, Journey