YMCA
Sueco Fardado Vence Mais Uma Batalha
Por Trevas
“Nós somos o Village People em roupa camuflada”, dispara o sempre gaiato Joakim Brodén para a Metal Hammer, possivelmente a maior e mais
importante publicação especializada em Heavy
Metal do planeta. A edição traz o Sabaton na capa, uma entrevista divertida
realizada minutos antes da banda subir no palco como Headliner do Bloodstock,
um dos mais importantes festivais de rock do Reino Unido. Já em turnê para
divulgação do novo disco, o show contaria com um coral de 20 pessoas (vestidas
com roupas originais da Primeira Guerra Mundial), cercas de arame e sacos de
areia, transformando o palco num perfeito front de batalha. Ah, e esqueci de
citar o tanque de guerra, em cima do qual a bateria é armada. Começo assim o
texto só para mostrar o quanto os suecos ganharam território na cena europeia.
Pude assistir esse show grandioso no GRASPOP,
e a popularidade dos caras é tamanha que arrisco dizer, a recepção não ficou
nem um pouco atrás do igualmente grandioso show final do Slayer no mesmo festival. Sim, o Sabaton está com esse nível e moral no velho mundo.
Macho Macho Man |
O que causa ainda mais espanto é saber que a banda atingiu tamanho status
com um modelo de auto-gestão. Mais especificamente executada pela dupla fundadora:
o grandalhão e falastrão Joakim (vocalista)
cuida majoritariamente da parte criativa, enquanto o pequenino e obstinado Pär Sundström (baixista), dos negócios e projetos (Sabaton Cruise, History Channel, etc). E como pode uma banda de Power Metal capitaneada
por dois músicos versáteis, mas limitados, ter galgado terreno que bandas mais
promissoras não conseguiram? Uma mistura de trabalho árduo, visão e
oportunidade. Quem já assistiu os caras sabe o quanto o show deles é divertido
e intenso. Fruto de reinvestimento no espetáculo. E os caras tocam o tempo todo
e em tudo o que é lugar. O fator oportunidade é explicado pela imagem. Os caras
não tinham ideia de explorar a temática de guerras, mas tão logo seguiram por
esse caminho e viram a resposta, encontraram um nicho e nele fincaram os pés
botinudos. Com isso ganharam muitos fãs a cada ano, mas enfrentaram acusações
de representar a extrema direita de seu país (problema similar ao que afetou o Amon Amarth) e até mesmo de adular o nazismo. Joakim ri dessas acusações e se defende dizendo que são meros contadores
de história (faz questão de não assumir a pecha de especialista no assunto) e
que falar sobre esses eventos é importante para que as pessoas nunca se
esqueçam e não repitam os mesmos erros.
Joakim e seu Hot Wheels |
Com oito discos nas costas, chega a surpreender que os suecos tenham
deixado a temática da Primeira Grande Guerra de lado até agora, ao menos como
tema central. Em maio do ano passado o vocalista decidiu que esse seria o tema
do novo trabalho, chafurdando então em livros e documentários sobre o tema. E pela
primeira vez se sentiu mal com a temática escolhida. Geralmente atentos a
feitos heroicos, ao olhar para a WWI,
os colegas de banda se depararam com um período sombrio onde a linha tênue que
separa heróis e vilões por vezes se fez quase impossível de se enxergar. Para acompanhar
os densos eventos, a parte musical tinha que ser mais melancólica que o
habitual para o Power Metal. Para garantir o clima solene,
corais de verdade seriam usados na gravação. E assim foram compostos os 39
minutos de The Great War.
Pär, o gnomo por trás dos negócios do Sabaton |
The Future Of Warfare traz um fundo propositalmente
mecanizado para emular o impacto que a primeira aparição de tanques de guerra
num campo de batalha causou. A produção de Jonas
Kjellgren (Centinex, Amorphis, Immortal) é fabulosa e a música é épica
e empolgante. Seven Pillars Of Wisdom, baseada no
livro homônimo de Lawrence da Arábia,
tem uma sonoridade bem oitentista, em especial em suas guitarras. Aliás, de
cara percebemos que as guitarras ditam as regras aqui, findando os teclados exagerados
de Last Stand. Talvez devido ao tom mais pesado das letras, talvez por se
tratar da estreia do ótimo Tommy Johansson, difícil dizer. Mas foi uma
escolha para lá de acertada!
Convenhamos, a despeito do acerto na produção e das guitarras retornando
ao destaque no front de batalha, o que ouvimos aqui é o típico Sabaton. Mas nem o mais cínico dos
bangers pode discordar de que os caras estavam inspirados: 82nd All The Way e The
Attack Of The Dead Men são deliciosas. Devil
Dogs e sua adulação dos mariners baixa um pouco o nível, só
para nos esfregar na cara a belezura que é The
Red Baron. Com um bem-vindo hammond
e andamento algo Uriah-Heepiano, cheira
a clássico e é presença certeira no repertório dos suecos em turnês futuras.
A faixa título explora o ápice da grandiosidade (quase kitsch, como os próprios músicos
assumem) Sabatoniana com seus
climas, corais e belos solos. A Ghost In
The Trenches, primeira a ser composta para o disco, é legal e explora a
história de um misterioso sniper
canadense num clima daqueles Hard/Heavy oitentistas.
Fields Of Verdun resume a mais longa
das batalhas da WWI em parcos três
minutos de um para lá de divertido Power
Metal. Como todas as outras faixas
aqui presentes, tem um refrão tão grudento que é mais fácil você esquecer o
próprio RG do que a letra da música.
A dobradinha de encerramento com a cínica The
End Of The War To End All Wars e a versão musicada para o poema In Fladers Fields mostram a banda com as
botinas enfiadas na lama do metal Sinfônico, a seu jeito, claro.
The Great War alcançou o Top 10 em
nada menos que 13 países (e Top 50 em 21), chegando ao número 1 na Alemanha. E
é merecido. Dentro do estilo que se propõe, é facilmente um dos melhores discos
desse 2019, e tem aquele raro mérito de pedir por um repeteco tão logo os 39
minutos se encerram. Excelente (NOTA:
9,56)
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Gravadora: Shinigami Records (nacional)
Prós: mais grudento que piche e dessa vez
com as guitarras à frente
Contras: sim, pode soar cafona bagarai
Classifique como: Power Metal
Para Fãs de: Powerwolf, Grave Digger