quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Sabaton – The Great War (CD-2019)



YMCA Sueco Fardado Vence Mais Uma Batalha
Por Trevas

“Nós somos o Village People em roupa camuflada”, dispara o sempre gaiato Joakim Brodén para a Metal Hammer, possivelmente a maior e mais importante publicação especializada em Heavy Metal do planeta. A edição traz o Sabaton na capa, uma entrevista divertida realizada minutos antes da banda subir no palco como Headliner do Bloodstock, um dos mais importantes festivais de rock do Reino Unido. Já em turnê para divulgação do novo disco, o show contaria com um coral de 20 pessoas (vestidas com roupas originais da Primeira Guerra Mundial), cercas de arame e sacos de areia, transformando o palco num perfeito front de batalha. Ah, e esqueci de citar o tanque de guerra, em cima do qual a bateria é armada. Começo assim o texto só para mostrar o quanto os suecos ganharam território na cena europeia. Pude assistir esse show grandioso no GRASPOP, e a popularidade dos caras é tamanha que arrisco dizer, a recepção não ficou nem um pouco atrás do igualmente grandioso show final do Slayer no mesmo festival. Sim, o Sabaton está com esse nível e moral no velho mundo.

Macho Macho Man
O que causa ainda mais espanto é saber que a banda atingiu tamanho status com um modelo de auto-gestão. Mais especificamente executada pela dupla fundadora: o grandalhão e falastrão Joakim (vocalista) cuida majoritariamente da parte criativa, enquanto o pequenino e obstinado Pär Sundström (baixista), dos negócios e projetos (Sabaton Cruise, History Channel, etc). E como pode uma banda de Power Metal capitaneada por dois músicos versáteis, mas limitados, ter galgado terreno que bandas mais promissoras não conseguiram? Uma mistura de trabalho árduo, visão e oportunidade. Quem já assistiu os caras sabe o quanto o show deles é divertido e intenso. Fruto de reinvestimento no espetáculo. E os caras tocam o tempo todo e em tudo o que é lugar. O fator oportunidade é explicado pela imagem. Os caras não tinham ideia de explorar a temática de guerras, mas tão logo seguiram por esse caminho e viram a resposta, encontraram um nicho e nele fincaram os pés botinudos. Com isso ganharam muitos fãs a cada ano, mas enfrentaram acusações de representar a extrema direita de seu país (problema similar ao que afetou o Amon Amarth) e até mesmo de adular o nazismo. Joakim ri dessas acusações e se defende dizendo que são meros contadores de história (faz questão de não assumir a pecha de especialista no assunto) e que falar sobre esses eventos é importante para que as pessoas nunca se esqueçam e não repitam os mesmos erros.

Joakim e seu Hot Wheels
Com oito discos nas costas, chega a surpreender que os suecos tenham deixado a temática da Primeira Grande Guerra de lado até agora, ao menos como tema central. Em maio do ano passado o vocalista decidiu que esse seria o tema do novo trabalho, chafurdando então em livros e documentários sobre o tema. E pela primeira vez se sentiu mal com a temática escolhida. Geralmente atentos a feitos heroicos, ao olhar para a WWI, os colegas de banda se depararam com um período sombrio onde a linha tênue que separa heróis e vilões por vezes se fez quase impossível de se enxergar. Para acompanhar os densos eventos, a parte musical tinha que ser mais melancólica que o habitual para o Power Metal. Para garantir o clima solene, corais de verdade seriam usados na gravação. E assim foram compostos os 39 minutos de The Great War.

Pär, o gnomo por trás dos negócios do Sabaton
The Future Of Warfare traz um fundo propositalmente mecanizado para emular o impacto que a primeira aparição de tanques de guerra num campo de batalha causou. A produção de Jonas Kjellgren (Centinex, Amorphis, Immortal) é fabulosa e a música é épica e empolgante. Seven Pillars Of Wisdom, baseada no livro homônimo de Lawrence da Arábia, tem uma sonoridade bem oitentista, em especial em suas guitarras. Aliás, de cara percebemos que as guitarras ditam as regras aqui, findando os teclados exagerados de Last Stand. Talvez devido ao tom mais pesado das letras, talvez por se tratar da estreia do ótimo Tommy Johansson, difícil dizer. Mas foi uma escolha para lá de acertada!


Convenhamos, a despeito do acerto na produção e das guitarras retornando ao destaque no front de batalha, o que ouvimos aqui é o típico Sabaton. Mas nem o mais cínico dos bangers pode discordar de que os caras estavam inspirados: 82nd All The Way e The Attack Of The Dead Men são deliciosas. Devil Dogs e sua adulação dos mariners baixa um pouco o nível, só para nos esfregar na cara a belezura que é The Red Baron. Com um bem-vindo hammond e andamento algo Uriah-Heepiano, cheira a clássico e é presença certeira no repertório dos suecos em turnês futuras.



A faixa título explora o ápice da grandiosidade (quase kitsch, como os próprios músicos assumem) Sabatoniana com seus climas, corais e belos solos. A Ghost In The Trenches, primeira a ser composta para o disco, é legal e explora a história de um misterioso sniper canadense num clima daqueles Hard/Heavy oitentistas.


Fields Of Verdun resume a mais longa das batalhas da WWI em parcos três minutos de um para lá de divertido Power Metal. Como todas as outras faixas aqui presentes, tem um refrão tão grudento que é mais fácil você esquecer o próprio RG do que a letra da música. A dobradinha de encerramento com a cínica The End Of The War To End All Wars e a versão musicada para o poema In Fladers Fields mostram a banda com as botinas enfiadas na lama do metal Sinfônico, a seu jeito, claro.



The Great War alcançou o Top 10 em nada menos que 13 países (e Top 50 em 21), chegando ao número 1 na Alemanha. E é merecido. Dentro do estilo que se propõe, é facilmente um dos melhores discos desse 2019, e tem aquele raro mérito de pedir por um repeteco tão logo os 39 minutos se encerram. Excelente (NOTA: 9,56)

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Gravadora: Shinigami Records (nacional)
Prós: mais grudento que piche e dessa vez com as guitarras à frente
Contras: sim, pode soar cafona bagarai
Classifique como: Power Metal
Para Fãs de: Powerwolf, Grave Digger


terça-feira, 20 de agosto de 2019

Soilwork – Verkligheten (CD-2019)



Realidade Aumentada
Por Trevas

Os inéditos quatro anos que separam Verkligheten do lançamento anterior dos suecos do Soilwork estão longe de representar uma preguiça dos músicos. E o motivo é simples: com o inesperado e arrebatador sucesso do projeto (outrora mera brincadeira) The Night Flight Orchestra, o núcleo criativo do Soilwork se envolveu nesse período na produção, lançamento e divulgação de nada mais nada menos que dois trabalhos do combo Brega’n’Roll. Na verdade, até fiquei preocupado que o estrondo causado pelo TNFO pudesse chutar o longevo baluarte do Melodeath sueco para escanteio. Afinal, Moneytalks. Por sorte, esse investimento de tempo e criatividade em outras paragens musicais serviu de uma espécie de arrefecimento na mufa de Strid e sua trupe, que voltaram então as ações para o sucessor de The Ride Majestic em meados de 2018. Sob a batuta de Thomas "PLEC" Johansson (que masterizara os três últimos trabalhos do TNFO e a compilação Death Resonance, do próprio Soilwork), partiram para estúdios em sua terra natal, dessa vez carregando o “novato” baterista Bastian Thusgaard para participar do processo criativo (com David Andersson assumindo o baixo, vago desde a saída de Markus Wibom). Sabedor que a obra prima The Living Infinite praticamente esgotara um caminho para a banda, e que Ride Majestic, ainda que um bom disco, apenas revolvera a mesma caixa, Strid viu que era hora de reinventar seu filhote musical favorito.

The Night Flight, ooops, Soilwork 2019
A proposta dessa vez foi de envolver todos os músicos no processo de composição, experimentando o quanto achassem que as músicas pediam. Um método de trabalho até então inédito e que, segundo Strid, mudou também o resultado final: “a sonoridade saiu mais Metal básico e direto, mas com uma carga de melancolia típica do Soilwork...os fãs irão identificar elementos de nossos últimos trabalhos aqui e ali, mas há um clima diferente no ar, uma diversidade maior”. A faixa título (“realidade” em sueco), que abre o disco, já mostra de cara o nível de experimentalismo: uma curta e atmosférica instrumental que não ficaria perdida num disco do Pink Floyd dos tempos áureos. Mas Arrival, com Blast Beats fundidos a aura espacial, trazem os ouvidos a uma realidade diferente. As melodias em profusão contrastam com o peso muma faixa que é tudo o que se esperaria do Soilwork, mas de uma maneira diferente. A matadora Bleeder Dispoiler tem uma guia em slide guitar e clima bem rocker. Já Full Moon Shoals me faz pensar em como o público da cena é tapado. Precisou do inesperado Boom do Night Flight Orchestra para então Bjorn Strid ser reconhecido como o grande vocalista que é. Versátil até a medula, soa bem desde os guturais até os falsetes, passando pelos graves góticos e uma pegada mais industrial num piscar de olhos. A aura bluesy da introdução da música seguinte parece referendar ainda mais a versatilidade apregoada, mas logo The Nurturing Glance se transmuta no indefectível Gothemburg Sound dos caras, só que com uma aura mais rocker que deixa o som ainda mais irresistível. Um início para lá de promissor!


O time atual do Soilwork pode não ser o mais virtuoso que a banda já teve, mas funciona brilhantemente. David Andersson e Sylvain Coudret trazem muito de classic rock aos riffs e solos do Melodeath típico dos suecos. Bastian Thusgaard pode não ter impressionado de cara nos shows ao substituir o monstro Dirk Verbeuren (uma missão sabidamente ingrata), mas pelo que se escuta aqui, está finalmente adaptado. Um baita trabalho! Sven Karlsson continua colaborando com aquele clima espacial/progressivo nas linhas de teclado, um pouco menos evidentes do que em The Living Infinite, mas muito bem pensadas. E no baixo, assumido por Andersson na gravação, linhas competentes, mas não tão evidentes no meio de tanta melodia e de uma bateria cheia de notas. A quantidade de informação musical por faixa é tremenda, e aí entra em cena o brilhante trabalho do produtor Thomas "PLEC" Johansson, que deixou tudo límpido e agradável aos ouvidos, cheio de dinâmica, mas com peso colossal. Ouça as brilhantes When The Universe Spoke (novamente com Blast Beats em meio aos climas espaciais), Stålfågel (grudenta até a medula, uma das melhores do pacote), Needles and Kin (com Tomi Joutsen) e The Wolves Are Back In Town e tire a prova.



O disco segue extremamente variado, e imensamente inspirado até o fim. Até fica difícil escrever aqui sem cair na armadilha da adulação gratuita de fanboy. Mas o fato é que no novo trabalho os suecos conseguiram encontrar um raro equilíbrio entre peso, melodia e inserção de elementos estranhos ao seu som tradicional. As composições são tão caprichadas, e o clima tão único, que nos resta aplaudir quando You Aquiver nos presenteia com os últimos acordes de um disco fadado a se tornar um clássico do estilo (NOTA: 10).



Nota sobre a Edição Nacional: O lançamento nacional vem encartado em slipcase trazendo a capa do EP Underworld, contendo três faixas inéditas de qualidade equivalente ao repertório já caprichado do novo disco. Ainda temos uma versão diferente para Needles and Kin no pacote. Ou seja, vale cada centavo.

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Gravadora: Shinigami Records (nacional)
Prós: O provável ápice da carreira do Soilwork, com um baita Ep de bônus
Contras: o disco acaba
Classifique como: Death Metal Melódico
Para Fãs de: In Flames, Dark Tranquility, Amorphis