domingo, 13 de janeiro de 2013

Melhores de 2012 - Parte I


MELHORES DE 2012 - PARTE I

Listas e listas...

Listas são difíceis e raramente escapam da polêmica e da sensação de estarmos cometendo injustiças.

Acredito que as polêmicas façam justamente parte da graça que boa parcela das pessoas, e em especial os colecionadores, vêem em listar músicas/filmes/discos/times/jogadores por critérios que invariavelmente podem ser taxados como sendo completamente subjetivos. E realmente o são.

Graças a Odin, música não é uma ciência exata. E em se tratando de Heavy Metal, Hard Rock e seus congêneres, estamos falando de estilos musicais que raramente escapam de análises apaixonadas. Fãs de bandas de metal muitas vezes se comportam como torcedores de times de futebol. E algumas vezes, inclusive, como os menos civilizados deles. O primeiro desafio em fazer uma lista como essa é evitar o favorecimento de uma banda xodó, mesmo que ela não tenha lançado nada que preste esse ano. Canso de ver isso em eleições de revistas, bandas como Metallica e Iron Maiden são votadas mesmo sem ter lançado nada no ano. Não sofro desse mal, sei reconhecer quando minhas bandas favoritas lançam porcarias e quando bandas que passam longe do meu gosto habitual lançam obras primas.

Desafio mais difícil foi decidir a lista sem privilegiar os discos lançados mais para o final do ano. Para evitar distorções, passei as últimas duas semanas escutando ininterruptamente todos os discos que comprei esse ano, o que foi útil para relembrar coisas muito boas feitas no início de 2012. E 2012 foi um ano repleto de bons lançamentos. Deixei de fora bons discos de gente como Europe, Black Country Communion, Doro, Overkill, Kiss e Down, por exemplo. Mas o fiz com critério, o critério mais subjetivo do mundo, o do gosto pessoal.

Mas nem por isso posso garantir que não vá me arrepender de minhas escolhas, ao menos no que se refere ao posicionamento de cada disco na lista, pois geralmente qualquer lista do tipo tende a expressar nosso humor e gosto naquele espaço de tempo reservado a sua elaboração. Tudo bem, posso viver com isso.
Mais divertido foi elaborar uma listas dos fiascos de 2012, que publicarei em breve, tentarei publicar também um playlist com as 50 melhores músicas do ano. Veremos. Mas por enquanto, segue minha lista, em ordem inversa. Espero que vocês gostem, comentem e em especial, que postem aqui suas listas de 2012. 

Comentarei cada uma delas.

Grande Abraço
Trevas

20.  Eclipse - Bleed & Scream

20. Eclipse - Bleed & Scream

O estilo de EriK Martensson lembra consideravelmente John Sykes, e esse disco, que não tem uma música ruim sequer, parece uma versão atualizada do Blue Murder. Imperdível para os fãs de Hard Europeu e AOR.

19. Graveyard - Lights Out
19. Graveyard - Lights Out

Não, dessa vez os suecos não produziram outra obra prima como foi Hisingen Blues. Mas mesmo assim é impossível passar incólume ao som retro desse discaço de parcos 35 minutos, cada um deles muito bem aproveitado.

18. Joe Bonamassa - Driving Towards The Daylight
18. Joe Bonamassa - Driving Towards Daylight

Depois de adicionar um leque de estilos em seu blues rock em Dust bowl, Joe resolve gravar algo mais tradicional. Não é o melhor trabalho de Joe, mas vamos lá, a música título (de autoria do próprio Bonamassa) e Too Much Aint Enough (de autoria de Jimmy Barnes com os caras do Journey e cantada magistralmente pelo próprio Barnes) são duas das melhores coisas gravadas em 2012.

17. Zodiac - A Bit Of Devil
17. Zodiac - A Bit Of Devil

Fantástica estréia dessa banda de retro-rock/ Stoner alemã. Coming Home é uma viagem e tanto e o disco todo proporciona um orgasmo guitarrístico ao ouvinte. Grata surpresa.


16. Lynyrd Skynyrd - Last Of A Dying Breed

16. Lynyrd Skynyrd - Last Of A Dying Breed

Após o moderno e ótimo God & Guns, os rednecks voltam a um som mais tradicional com um disco para ser escutado de ponta a ponta. Nada inovador, mas muito divertido.


15. The Cult - Choice Of Weapon
15. The Cult - Choice Of Weapon/Capsule

A dupla Duffy/ Astbury raramente erra a mão. E dessa vez nos presenteou com um disco (e um ep) que remete a momentos de todas as fases dos britânicos, de maneira muito inspirada.


14. Deftones - Koi No Yokan
14. Deftones - Koi No Yokan

Todo subestilo tem ao menos um representante que preste. O Nu-metal, que o diabo o tenha, teve o Deftones como estrela solitária. E mesmo após um período ruim a banda voltou a se encontrar com Diamond Eyes. A seqüência, esse ótimo Koi No Yokan traz melodias criativas, riffs pesados e climas que variam do desespero pesado ao sonhador e fantasmagórico. Um grande disco de uma banda única.

13. Accept - Stalingrad
13. Accept - Stalingrad

O Accept surpreendeu a todos com o inesperado retorno sob a forma do magistral Blood Of The Nations. Stalingrad é praticamente uma continuação daquele disco. Não chega a ser tão perfeito, mas ainda assim empolga e faz com que os cotovelos de anão do Udo sofram dores lancinantes.

12. Firewind - Few Against Many
12. Firewind  - Few Against Many

O atual guitarrista do Ozzy, Gus G, nos brinda com o melhor trabalho de sua banda, pondo o metal melódico cada vez mais de lado em prol de um metal puro com roupagem moderna. Ótimas guitarras, grandes músicas e um vocalista (Apollo, que também canta no Spiritual Beggars) muito acima da média.



11. Delain - We Are The Others
11. Delain - We Are The Others
Uma mistura de metal gótico com um hard pop moderno faz desse disco o primeiro grande disco do Delain. Charlotte Wessels incorpora muito bem influências que vão de Within Temptation e The Gathering a Tori Amos, sem com isso comprometer sua identidade. Um dos discos mais grudentos do ano, sem que com isso seja aberta a mão do peso (temos o Burton C Bell do Fear Factory por aqui, o que vocês acham?).

10. Rival Sons - Head Down
10. Rival Sons - Head Down

Os californianos chamaram a atenção de todos com Pressure And Time e dessa vez conseguiram ir ainda mais longe com seu retro-rock malicioso. Some-se um grande vocalista a influências muito bem trabalhadas de Led Zeppelin, Free, The Who e rock dos anos 1950 e temos um baita disco.

09. Ministry - Relapse
09. Ministry - Relapse

O maluquete do Al Jourgensen resolve retirar o Ministry da aposentadoria, mesmo sem nenhum Bush na Casa Branca? Para que? Para detonar um dos discos mais ferozes, sarcásticos e pesados do ano, fazer troça de sua própria condição de viciado e ainda por cima nos presentear com uma versão animal do clássico underground United Forces (do S.O.D.). Obrigado, tio Al! Isso é metal industrial em sua forma mais doentia. Imperdível.

08. Sunstorm - Emotional Fire
08. Sunstorm - Emotional Fire

O xarope do Joe Lynn Turner cantando músicas escritas por Michael Bolton e gravadas por gente como a Cher? Um pesadelo? Nada disso, amigo, temos aqui mais um puta disco de AOR/Melodic Hard Rock desse projeto que envolve também os caras do Pink Cream 69. Grudento, excelentemente bem gravado e executado. Ah, e Joe canta muito, só mantenham ele afastado do Rainbow e do Deep Purple!

07. Rush - Clockwork Angels
07. Rush - Clockwork Angels

Os canadense andavam produzindo uns discos meia boca, mas não é o caso aqui. Adicionando um velho toque de progressivo (a lá Rush, claro) ao seu atual Hard Rock moderno, o Rush produziu seu melhor disco em muito tempo. Bastante agradável.


06. Threshold - March Of Progress
06. Threshold - March Of Progress

Prog Metal é sinônimo de arrogância e punhetagem explícita e músicas que vão do nada ao lugar nenhum, certo? Errado, bandas como o Fates Warning e os britânicos do Threshold existem para mostrar ao mundo que a doença do Dream Theater não contaminou a todos os representantes do gênero.  O Threshold bebe da fonte do Neo Prog, com canções tão bem trabalhadas e épicas quanto grudentas, com referências explícitas ao AOR oitentista nos refrões. O retorno de Damian Wilson ao posto de vocalista causa estranhamento nos primeiros minutos, mas o cara termina por fazer um ótimo trabalho, com claras referências a Jon Anderson (Yes) em suas boas linhas de voz. Enfim, um discaço de Prog Metal que pode ser apreciado por fãs de um metal mais simples. 

05. Ihsahn - Eremita
05. Ihsahn - Eremita

O ex-Emperor surpreendeu a cena metálica com o exuberante After (2010), abocanhando inclusive um Grammy. Eis que dois anos depois o Norueguês nos presenteia com um disco de metal que transcende subestilos, com uma atmosfera claustrofóbica, grandes idéias, grandes vocais (Devin Tonwsend faz uma ponta), grandes riffs e solos (Jeff loomis, ex-Nevermore brinca em The Eagle And The Snake) e ainda por cima com o uso brilhante de saxofone em algumas faixas. Deveria soar hermético, não? Em absoluto, o grande trunfo de Ihshan foi criar um disco de vanguarda que ainda assim soa agradável a fãs mais tradicionalistas de metal. 

04. Kreator - Phantom Antichrist
04. Kreator - Phantom Antichrist

Mille adora reformular sua banda com novas influências, mas dessa vez foi buscar inspiração nos recônditos mais épicos e grandiosos do Heavy metal para produzir um dos melhores discos de sua carreira. Pesado como um mamute, épico como nunca e muito bem produzido, Phantom Antichrist é um disco de Thrash quase perfeito.


03. Royal Thunder - CVI
03. Royal Thunder - CVI

Uma pérola do Doom atual, com fortes influências de Stoner e uma vocalista (sim, fêmea) que enterra boa parte dos marmanjos vocalistas atuais em apenas um verso da arrepiante Parsonz Curse. Some-se ao vocal monstruoso grandes músicas, um clima meio esotérico e doses de psicodelia e blues e temos a grande revelação de 2012.


02. Gojira - L'Enfant Sauvage
02. Gojira - L’Enfant Sauvage

O disco do ano na eleição extremamente democrática da Metal Hammer inglesa (que conta com votos de músicos famosos e jornalistas) e figura constante nas listagens de várias mídias especializadas ao redor do globo, o petardo do Gojira é definitivamente um disco para lá de especial. Denso, pesado e estranho, L’Enfant Sauvage poderia ser um trabalho hermético, talhado para poucos. Mas não. Sabe-se lá como, os irmãos Duplantier conseguiram ainda assim nos presentear com uma obra viciante, que soa melhor a cada audição. Seria meu primeiro lugar, mas tinha um índio no caminho...


01. Testament - Dark Roots Of Earth
01. Testament -Dark roots Of Earth

Anos após Chuck Billy ter vencido o câncer e a banda ter retornado com seu núcleo clássico (com Greg Christian e Alex Skolnick somados a Eric Petersen e o já citado Chuck), eis que o Testament nos apresenta uma obra para rivalizar com seus clássicos, e quem sabe, até superá-los. Épico, pesado, muito bem escrito e executado, Dark Roots of Earth é um trabalho completo e que deveria ser escutado com muita atenção pelos malas do Metallica. Vale destacar a arte de capa, que também considero a melhor do ano.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Black Country Communion - Afterglow (CD – 2012)



Um Belo Canto do Cisne


Novembro de 2009, Glenn Hughes (Deep Purple, Trapeze, Black Sabbath) e Joe Bonamassa (quem desconhece, veja esse link: Bonamassa na Cripta) tocam juntos em uma Jam no evento King Of The Blues, sob os olhares atentos do produtor de estimação e amigo do guitarrista, o Sul Africano Kevin Shirley (Journey, Iron Maiden, Dream Theater...). A Jam foi um sucesso e a química entre os músicos, surreal.

Hughes e Bonamassa
Ainda em 2009, Kevin consegue convencer os dois artistas, reconhecidos no meio musical como dois dos mais prolíficos da indústria, a montar um projeto. Dada a carta branca, Kevin convida o baterista inglês Jason Bonham (que além de filho do lendário John Bonham, tocou com  Led Zeppelin, UFO, Foreigner, Paul Rodgers, Bonham, dentre outros) com quem já havia trabalhado em álbuns do próprio Bonamassa e o tecladista americano Derek Sherinian (Dream Theater, Billy Idol,  Alice Cooper, Kiss, dentre muitos), com quem também trabalhara quando produziu Falling To Infinity, do Dream Theater. O nome, Black Country Communion foi escolhido em homenagem ao apelido dado à região industrial inglesa onde Glenn e Jason nasceram e foram criados.

BCC - Joe, Jason, Glenn e Derek
Já em 2010 a banda solta o primeiro petardo, homônimo e com lançamento independente, para grande sucesso de público e crítica. A fama da banda como um grande número ao vivo logo se espalhou e a despeito da agenda apertada de Bonamassa, que nesse momento já tinha emplacado uma série de discos no topo da Billboard, logo os cinco resolveram aproveitar a boa maré e se trancaram em estúdio para gerar o segundo rebento, o também muito bom BCC 2 (2011). Ininterruptamente, seguem em turnê, onde vários shows foram capturados para o lançamento do excelente registro Live Over Europe (em CD duplo, DVD e Blu-ray - ver vídeo abaixo).

Infelizmente, começaram então os problemas. Empolgado pelo sucesso do grupo e pelo sentimento de fazer parte de uma banda novamente, Glenn pressiona para que o restante do grupo volte ao estúdio para um terceiro disco. Bonamassa nesse momento terminava seu quinto disco de estúdio em 3 anos (o ótimo Driving Towards The Daylight) e já havia montado a respectiva turnê de promoção do mesmo (que passou pelo Brasil). Seguiu-se então um embate unilateral (Bonamassa a princípio em silêncio), com Glenn Hughes choramingando o fim do BCC e dando inúmeras declarações públicas que soavam claramente como chantagem emocional. Bonamassa se junta ao grupo para gravar a toque de caixa Afterglow, trabalho composto basicamente por Glenn sozinho. Ao final da produção do disco, seguiram-se intermináveis rodadas de ataques de Glenn Hughes a Bonamassa e seu empresário e buldogue, Roy Weisman.

Shut Up And Play! Sábia Classic Rock Magazine
Eventualmente sobraram farpas do bocudo Hughes até para Jason Bonham a quem chamou de emocionalmente instável.  O round mais dramático aconteceu justamente no primeiro e único show até então agendado para promoção de Afterglow, no seu lançamento oficial, a ocorrer no estádio do time de coração de Hughes, o Wolverhamptom. Horas antes do show, Glenn Hughes dá declarações reclamando dos valores dos ingressos do evento, culpando publicamente o empresário de Bonamassa. Em represália, Joe Bonamassa finalmente se manifesta, ainda que elegantemente e cancela o show, alegando falta de qualquer clima de civilidade na banda para que o mesmo fosse realizado. Bonamassa declara que desde o início todos na banda sabiam de sua agenda e que Glenn Hughes estava usando a imprensa para jogar o público contra ele, para pressioná-lo a abandonar sua turnê solo em prol do BCC.

Kevin "Caveman" Shirley, o mentor do BCC


Glenn então muda o tom e uma breve demonstração de conciliação entre os dois foi exposta através do incansável twitter do baixista. Resumindo, ninguém parece saber com exatidão se o BCC verá novamente a luz dos holofotes, mas ao menos o terceiro trabalho finalmente saiu e a ele me prenderei no restante do texto.


Longe de ser um Brilhareco

Big Train vem com alguma ferocidade classuda mostrar as novidades desse terceiro capítulo do BCC: o som está perfeito, longe da sonoridade abafada do BCC 2, ponto para Kevin Shirley. E a outra novidade:  camaradas, Glenn Hughes está cantando muito bem, talvez seja seu melhor desempenho em estúdio em muito tempo. 


Tudo soa mais direto e cru, talvez pelas circunstâncias que envolveram a gravação, pois consta que a banda inteira teve uma janela de pouco mais de duas semanas para gravar tudo. A pouca variação nos timbres de guitarra nos solos de Joe são um exemplo claro do tempo escasso para finalização do disco. Mas isso não é sinal de falta de qualidade, Bonamassa soa tão bem quanto sempre.

Algumas faixas, como This Is Your Time e Dandelion remetem aos momentos mais Funky do Deep Purple MKIII ou da própria carreira do vocalista, respectivamente, referendando o que Mr. Hughes já deixara claro em algumas entrevistas: Afterglow tem muito mais de sua cara que os lançamentos anteriores do BCC. Como admirador do trabalho solo de Glenn Hughes, sempre tive a impressão que havia mais dele do que dos outros no trabalho de composição da banda, mas aqui isso deixa de ser uma dedução para se tornar evidente. 

Quanto aos outros dois membros, Derek tem seus teclados muito mais participativos tanto em idéias quanto em volume na mixagem final, demonstrando seu bom gosto e um raro talento em um tecladista, o de jogar em prol do resultado final, nada de exibicionismo ególatra aqui. Jason Bonham é um rinoceronte, se existe algum beócio que não consegue reconhecer seu talento e que acredita que o cara tocou com gente como Paul Rodgers, Foreigner e UFO só pelo nome, espero que esse bisonho não perca tempo escutando esse disco e vá catar coquinho. O cara toca muito, e o mais importante, com uma pegada pra lá de rocker.

Se você, assim como este escriba, acha interessantíssimo quando uma banda consegue comportar dois grandes vocalistas de estilos distintos dividindo os trabalhos, algo que deu um molho especial nos dois primeiros discos do BCC, irá se decepcionar, pois não se escuta nada de Bonamassa cantando aqui. Para não dizer que a participação vocal do americano foi nula, Kevin Shirley conseguiu de última hora convencer Hughes e Bonamassa que o disco carecia de um dueto, e então Bonamassa regravou as linhas vocais de Hughes para Cry Freedom. Kevin escolheu uma frase de cada um para a versão final e temos o prá lá de burocrático e frio dueto do disco, talvez o grande ponto fraco de Afterglow.


Mas a pressa na gravação não significou o mesmo em relação ao trabalho de composição, Glenn Hughes teve meses para maturar as idéias de Afterglow, idéias essas parcialmente retrabalhadas pelos colegas de banda nos ensaios que antecederam as gravações. Temos aqui algumas grandes músicas, como Midnight Sun, a excelente e vigorosa Confessor (talvez a melhor faixa rocker do disco, ver link abaixo). Em todas elas, além de ter acertado a mão nos vocais como há muito não fazia, Glenn Hughes também gravou linhas de baixo para lá de inspiradas. Aliás, um dos grandes méritos do BCC foi fazer com que Hughes novamente se desafiasse como baixista, saindo um pouco de sua zona de conforto quando trabalha em material próprio sem colaboração de outros grandes músicos de personalidade.


A ótima faixa título tem aqueles toques de folk que também apareceram no trabalho anterior, com uma aura Zeppeliana extremamente bem vinda em seu arranjo, sendo essa um dos destaques do álbum.

A épica e dark The Circle (ver link abaixo) nos remete as excelentes Song Of Yesterday (do primeiro BCC) e Faithless (do BCC 2)e   é outro destaque absoluto do disco. Trata-se de uma canção que evidencia a versatilidade vocal de Glenn Hughes, algo raro de se encontrar em cantores de hard e heavy da atualidade. 


A boa Commom Man traz o momento improviso do disco, com um rápido e interessante duelo teclado x guitarra x baixo x bateria no meio da música e um arranjo típico de Jam das boas em seu final. Será certamente um momento de destaque nos shows se um dia vier a ser tocada ao vivo. A faixa seguinte, The Giver passa sem chamar muita atenção, e Afterglow tem em seu encerramento sua faixa mais moderna e pesada, a boa e dark Crawl, com ótimo duelo entre Derek e Joe.

Saldo Final

Mais um grande disco do BCC, ainda que, tal como os dois anteriores, não seja perfeito. Se este é o fim da linha para o supergrupo, podemos ficar com dois tipos de sentimentos distintos: o primeiro de felicidade -  a banda passou por esse planeta deixando um legado de qualidade; o segundo de tristeza – fica a impressão de que o Black Country Communion encerra suas atividades sem nunca ter atingido seu ápice. Com uma mistura desses dois sentimentos, fico na forte torcida para que Glenn e Joe se entendam, para que possamos ver essas feras ao vivo por aqui e para que eles finalmente produzam juntos sua obra definitiva.

NOTA: 8,5


Ficha Técnica

Banda (Nacionalidade): Black Country Communion (ING/EUA)

Título (ano de lançamento): Afterglow (2012)

Mídia: CD

Gravadora: J & R Adventures (Importado)

Faixas: 11
Duração: 58’

Rotule como: Hard Rock, Classic Rock, Heavy Rock
Indicado para: fãs de um hard classudo e algo vintage, mas sem soar datado  
Passe longe se: seu lance for única e exclusivamente metal extremo

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Led Zeppelin – Celebration Day (Blu-Ray + 2CD - 2012)




E O Zeppelin Levantou Vôo de Novo

Lemmy Said

Certa vez li uma entrevista com Lemmy Kilmister onde o repórter, maravilhado em descobrir que o velho tio Crocotó havia conhecido o falecido Randy Rhoads, perguntara sobre a genialidade do lendário guitarrista que salvara Ozzy do ostracismo (e de si mesmo). Lemmy então disse que lembrava de Randy como um garoto comum, miúdo, quieto e que gostava de videogames. O entrevistador insistiu sobre a qualidade técnica de Randy, e curiosamente Lemmy se sai com essa pérola (ou ao menos, com algo parecido com o que transcrevo aqui): “Sabe, a morte nos torna pessoas melhores do que éramos”.


E por mais estranha que possa ser a sabedoria provinda de verrugas embebidas em Jack Daniels com Coca-cola, ela funciona também para as bandas. Os Rolling Stones nunca serão maiores que os Beatles, pois os enrugados bad boys viveram o suficiente como banda para experimentar a decadência, já os Beatles viverão para sempre no imaginário popular em seu auge. Da mesma maneira o Led Zeppelin com o tempo se tornou a maior marca dos anos 1970, porque simplesmente a trágica morte de John Bonham abreviou a carreira da banda, que nunca passou por fases de vacas magras como seus “concorrentes” Deep Purple e Black Sabbath, por exemplo. E fiquem certos, a fase ruim estava a espreita, vide a grosseira queda de qualidade dos lançamentos do Zeppelin posteriores a Physical Grafitty (1975), os irregulares Presence (1976) e In Through The Out Door (1979).


Led Zeppelin em seu apogeu

Em suma, o Led Zeppelin se tornou um mito cada vez maior, nutrido pelas memórias embebidas em ácido daqueles que tinham visto a banda ao vivo em seu apogeu, e no imaginário das novas gerações, que nunca teriam a chance de assistir a banda, tendo como referência apenas os registros das memórias dos mais velhos.

E assim seguiu a vida, Page e Plant jamais lançaram novamente, seja em separado ou em conjunto nada que merece uma breve citação de rodapé nos livros da história do rock ( se alguém gritou The Firm, sugiro internação urgente em um hospital psiquiátrico) , mas o nome do Zeppelin jamais sofreu qualquer dano nesse percurso (já que quase ninguém se lembra da desastrosa aparição da banda no Live Aid, em 1985).

Ahmet, o Necromante
E tal qual um rito de ocultismo daqueles que supostamente atraiam a atenção de Jimmy Page no passado, foi a morte de um ancião que trouxe a banda de volta à vida: Ahmet Ertegun, fundador e presidente da Atlantic records, casa do Led Zeppelin, Bad Company dentre outros, falecera em dezembro de 2006. 
Um evento memorial em homenagem a um ano do falecimento do empresário foi planejado para ocorrer em dezembro de 2007, contando com diversos artistas que ao menos em um ponto de suas carreiras haviam tido a Atlantic como porto seguro. Foram confirmados membros do Emerson lake And Palmer, Yes, Foreigner e Bad Company. Mas a cereja do bolo, depois de meses de negociação seria a primeira aparição em público do Led Zeppelin desde 1985.

Ahmet, o carequinha da foto
Negociações da Pesada


Mas não foi fácil. As conversas, ao contrário do que se imaginara a princípio, não foram endurecidas por um magoado John Paul Jones, que fora esquecido por Page e Plant em diversas ocasiões para discutir assuntos relativos ao catálogo da banda e até mesmo na razoavelmente bem sucedida turnê Page & Plant. O problema mesmo foi com Robert Plant, que se mostrou desde o início contrário à ideia, por considerar, segundo o corolário de Lemmy, que o Led vivia melhor na memória das pessoas. Em parte por conta de estar ciente de que sua forma atual não permitiria mostrar os falsetes de outrora e muito menos o famigerado sex appeal, em parte porque os anos finais da banda coincidiram com uma espécie de inferno astral do vocalista, que geralmente é bastante reticente em relembrar o passado. Depois de muita conversa e de uma retórica que apelou bastante para o carinho que Plant nutria por Ahmet, o cantor por fim acabou cedendo, mas mediante algumas exigências (quem quiser saber mais, leia o excelente Quando Os Gigantes Caminhavam Sobre A Terra, de Mick Wall):

- Exigência número um: nada de Heavy Metal, que o resto da banda esquecesse qualquer possibilidade de executar Immigrant Song e, para desespero de Page, Achilles Last Stand. Foi um tiro certeiro no coração de Page, que sempre considerou essa sua obra prima;

- Exigência dois: as músicas deveriam ser executadas o mais próximo de sua versão original, ou seja, nada de grandes improvisos;

- A terceira exigência já era esperada, e causava calafrios a todos os envolvidos, pois se referia a Stairway To Heaven. Curiosamente, ao contrário dos piores pesadelos de todos, Plant disse estar preparado para cantá-la. Mas não ao final do show. E que o fosse discretamente, sem nenhum anúncio ou pantomima, pois Plant queria mandar a mensagem que ele tanto acreditava, existiu Led antes dessa música e continuou existindo após ela.


Magoado, Page assentiu e a negociação seguiu em frente, mas para os mais próximos confessou: Robert Plant finalmente conseguira o que havia tentado em vão nos anos 1970, tomar seu filho dos braços e liderar o Led Zeppelin, ao menos por uma noite que fosse.

O excelente "Quando Os Gigantes...", de Mick Wall
Negociações terminadas, o show ainda ganharia toques de dramaticidade: Jimmy Page quebraria o dedo de uma das mãos próximo à data inicialmente marcada, o que adiaria o show em duas semanas. Com o disco novo de Robert Plant, com Alison krauss, chamado Raising Sand, ganhando uma sonora atenção da mídia, muito chegou a ser especulado de que o adiamento do show teria como verdadeira razão uma desistência de Plant.

Sobre a promoção do evento, creio que todos se lembram: cerca de um milhão de pessoas se cadastraram para conseguir senhas que dariam direito a concorrer ao sorteio dos 20.000 ingressos disponíveis. A euforia foi imensa. Era hora do show.

Plant, Krauss e o álbum da (quase) discórdia

Aos poucos o gigante acordou

Após os já citados shows de abertura e a exibição de um breve vídeo no telão, Good Times Bad Times toma a Arena O2 de assalto. A banda parece tão confusa quanto a platéia e o que se seguiu foi uma seqüência de tentativas e erros: os cincos primeiros números foram apresentados por uma banda insegura e errática, com diversos erros se alternando com momentos que de longe lembravam os tempos de glória. Curiosamente, resenhas da época do show dão conta que foi exatamente nesse período de cinco músicas que o som da arena esteve próximo do inaudível de tão confuso (algo corrigido nessa versão em Blu-ray, que possui um som fantástico), e talvez tenha sido isso que atrapalhou um Zeppelin já enferrujado pelo tempo.

E quando tudo parecida rumar para um desastre similar ao do Live Aid, eis que uma excelente e gorda rendição para Trampled Underfoot faz o gigante finalmente despertar. Daí para frente temos ótimas versões para Nobody’s Fault But Mine e para a sempre assombrosa No Quarter, com John Paul Jones reassumindo seu posto de operário da banda, em prol dos egos de Page e Plant.


Sim, a voz de Plant está gasta, mas ele sempre teve problemas em reproduzir sues agudíssimos falsetes ao vivo e ao menos no meu entendimento, fez o trabalho nesse show com a dignidade que seus anos bem vividos permitiram. Ainda que em momentos como Since I’ve been Loving You e Dazed And Confused a coisa beire o limite do aceitável. Nessa última temos o único momento em que Plant cedeu aos improvisos, e um prá lá de gasto Jimmy Page tem seu momento clássico de exibicionismo com o arco de violino, com o excelente Jason Bonham segurando como sempre as pontas, tal qual seu velho pai fizera antes.

Sem nenhum alarde, como pedido por Robert, tem início Stairway To Heaven. Nessa música todos tem seus momentos de brilho, exceto Page, que reitera o que ele mesmo já cansou de admitir, sua verdadeira mágica reside em estúdio. Seu solo nessa música beira o desastre absoluto.


A platéia, respeitosa e em um silêncio estranho a um show de rock, segue o restante do show em uma reverência moderna, mais preocupada em registrar em seus celulares os momentos do que realmente vivê-los. Me pergunto se os tais 20.000 ingressos não caíram nas mãos de uma multidão de frígidas e homens de gelo. E se a platéia não demonstra grande animação, a banda parece se divertir mais a cada minuto que passa, o que fica claro em The Song Remains The Same e Misty Mountain Hop.

Kashmir recebe uma releitura excelente e é chegado então o bis, com as previsíveis e bem vindas Whole Lotta Love e Rock And Roll.


E após duas horas, o Zeppelin de chumbo pousava novamente, para nunca mais levantar vôo...



Saldo Final

Com excelente som, edição correta e uma qualidade de imagens magistral, Celebration Day é o registro perfeito de uma noite tão única quanto imperfeita. Uma pena que não há nenhum extra incluso, pois os bastidores da preparação desse show devem ter sido ainda mais interessantes que o mesmo.

E apesar do receio da banda em lançar esse material, vale ressaltar que trata-se de algo consideravelmente melhor que o fraco The Song Remains The Same, infeliz registro ao vivo em vídeo da banda em uma noite ruim de sua fase áurea, registro esse que conta com a antipatia de todos os membros sobreviventes do Led.

p.s.: os dois CDs encartados na versão em Blu-Ray trazem todas as músicas do show com qualidade de mixagem bastante boa.


NOTA – 7,5

Ficha Técnica

Banda (Nacionalidade): Led Zeppelin (ING)

Título (ano de lançamento): Celebration Day (2012)

Mídia: Blu-Ray (+2CD)

Gravadora: Warner (Nacional)

Faixas: 16

Duração: 124’


Rotule como: Hard Rock, Classic Rock, Heavy Rock

Indicado para: precisa mesmo dizer?


Passe longe se: precisa mesmo dizer?