Um
Incidente Incomum Em Um Planeta Distante...
Por Trevas
Às vezes a vida nos prega umas
peças. Estava eu a fazer um show com minha banda tributo ao Black Sabbath e Ozzy, a Blizzard Of Ozz, num domingo. Um amigo
e ex-colega de paleontologia (sim, vejam só, já trilhei esse caminho bacana),
hoje um renomado pesquisador/professor, cantava cada música a plenos pulmões lá da plateia.
Começamos a tocar Crazy Train, chamo ele ao palco, enquanto
faço um stage dive. O cara detona. O show estava sendo filmado, a filmagem vai
parar no Youtube. Uma banda de
progressivo procurava um vocalista, viu o vídeo e bum, deu o clique. Leo Avilla é o nome do dono da bela voz. Aglarion o nome da banda. E eu me tornei um orgulhoso padrinho
incidental.
A Aglarion surgiu em 2012, quando um grupo de amigos repleto de
influências em comum decidiu montar uma banda de Metal Progressivo. O nome
escolhido, o de um planeta fictício que flutua num oceano de luz numa galáxia
distante. A intenção de suas composições? Mesclar arte e ciência nas temáticas
e letras. Diversas formações se passaram até que eles enfim resolvessem gravar
seu primeiro Cd, Beyond The Void. Por enquanto eu sou um dos poucos com acesso ao material, que
sairá até o final de 2018. E vou então contar de primeira mão um pouco do que
espera vocês.
Beyond
The Void, o disco
Dharma, a
instrumental que abre o disco, é uma verdadeira salada de referências
progressivas. De Marillion a Genesis, passando por Kansas e Eloy, há de tudo um pouco para os fãs do estilo nos temas inclusos em
seus belos 5 minutos. Innonimata, um
reflexo sobre a natureza belicosa dos homens, inicia com uma parte falada e
clima espacial e ritmo marcial, quebrados pela primeira aparição da voz de Leo Avilla. Um belo timbre que em muito lembra o saudoso Mac, do Threshold, com linhas melódicas dramáticas que agradarão aos fãs
dos melhores momentos do Arena.
Ótima música, repleta de dinâmica, um tema de teclado que gruda na mente (e que
poderia estar tanto numa música progressiva quanto numa canção do My Dying
Bride) e belos solos.
Sinos e efeitos sonoros, um
belo timbre de guitarra e começa a instrumental Streets Of Salem, repleta de reviravoltas. Ao que
tudo indica, a curta e épica We Are The
Ones, cujo subtítulo é Koyaanisqatsi,
tem sua letra baseada no filme cult homônimo, que expunha uma visão muda sobre
as relações entre a humanidade, a natureza e a tecnologia.
On
Clocks And Clouds tem um baixo pulsante (cortesia de Diogo Sarcinelli, que também co-assina as guitarras), bateria inspirada (por
Filipe Barbosa) e clima Marillionesco em meio às mudanças de
andamento e guitarras (Luiz Menezes) que flertam ligeiramente com o
Heavy Metal aqui e acolá. O tecladista Demison Motta mostra seu repertório de timbres no belo interlúdio Twilight Of A Life, preparando o
terreno para a longa, sombria e por vezes bem pesada, Nostradamus. Talvez a primeira do material que indubitavelmente pode
entrar no nicho do Prog Metal, é também a música que traz a performance mais
versátil de Leo, numa linha melódica
incomum e bem bonita. A fusão do peso metálico com a complexidade progressiva segue
na ótima instrumental Nordgalen e em
Icarus (The Myth), essa última com
os teclados talvez um pouco acima do aconselhável na mixagem, mas com uma
interessante resolução que remete aos melhores momentos do Neo Prog do início dos
anos 1980. O disco tem fim com outra faixa épica, sintomaticamente chamada Valhalla, bem dramática (e com um
gutural bem colocado, juro que ouvi) e que condensa o clima de todo o trabalho
em seus sete minutos de duração.
Veredito
da Cripta
Beyond The Void é um disco repleto de ótimas ideias e performances espalhadas
num material de qualidade, mas que demanda atenção do ouvinte, crescendo com as
repetidas audições. Como um bom disco de Progressivo deve ser, diga-se. Uma estreia
promissora de uma banda que aposta num estilo pouco explorado em nosso país!
NOTA:
8,26
Gravadora:
Ainda a definir.
Pontos
positivos: muita dinâmica e ótimas performances
Pontos
negativos: complexo, demanda a atenção do ouvinte em tempos de informações
simples e mastigadas
Para
fãs de: Marillion, Arena, Pendragon
Classifique como: Rock Progressivo, Metal
Progressivo