Amorphis - Under The Red Cloud (2015) |
Ouro Abaixo das Nuvens
Vermelhas
Por
Trevas
Vanguarda Nórdica
Bom, lembro-me de ter
tido o primeiro contato com o som do Amorphis
lá nos idos da década de 1990, mais especificamente através do Fúria Metal do Gastão Moreira, na MTV. Não lembro ao certo o clipe, talvez fosse Divinity (ver vídeo). Rédibênzi cabeça fechada que era, achei tudo
muito esquisito, passei de lado. Mas aquela banda ficou de alguma forma em
algum recôndito obscuro da geléia de abacaxi que tenho dentro do crânio.
Hoje em dia talvez seja difícil explicar para algum garoto que conheça a
variada fauna metálica dos novos tempos o grau de estranheza que causava uma
banda misturar Death Metal, Folk e Progressivo. Mas sim,
à época os Finlandeses soavam bastante estranhos...e inovadores. Bolachas como Elegy e Tuonela certamente marcaram uma geração. Com o passar dos discos a
banda acabou por perder a mão em experimentalismos encerrando sua fase “clássica”
com o mediano e sem foco Far From The Sun e com a saída do
vocalista Pasi Koskinen.
Mas o que poderia representar o fim da banda na verdade marcou o início
de um ciclo ainda mais prolífico. Adicionando o versátil Tomi Joutsen aos
microfones, dono de urros Godzillicos e uma voz limpa bem acima da média, o Amorphis deu reboot com o ótimo Eclipse, logo em seguida atingindo o
topo das paradas Finlandesas com Silent
Waters.
Skyforger veio então para
coroar a boa fase, uma obra que até mesmo os mais saudosos fãs tem que admitir
ser de grandeza ainda maior que qualquer trabalho dos primórdios. E quando The Beginning Of Times mostrou-se meloso e cansativo,
foi justamente no som dos primórdios que os caras buscaram inspiração, com o
virulento, mas ainda assim não tão inspirado Circle.
Confesso
que comecei a encarar o Amorphis uma
banda que criara uma fórmula bem própria, mas que tinha explorado esse som até
a exaustão criativa. Apesar de gostar bastante dos caras, não esperava mais
nada além de discos bacanas, mas sem tanto impacto, como os últimos dois. Foi
com esse espírito algo cínico que coloquei a Nuvem vermelha para rodar...só
para comprovar minha tolice....
E o que Temos Debaixo
da Nuvem vermelha?
A
ótima faixa título é bastante melodiosa, um aparente contraponto à rudeza de Circle. A produção de Jens Bogren como sempre está caprichadíssima e dá para perceber de cara
o enfoque em timbres mais progressivos por partes das guitarras de Esa Holopainen e Tomi Koivusaari e uma maior presença dos
teclados de Santeri Kallio.
Não fique assustado, Under está longe da “leveza” de The Beginning Of Times, e assim que The Four Wise Ones entra temos uma porrada na orelha que lembra até mesmo Amon Amarth, só que com nuances folk carregadas e bastante dinâmica, com
Joutsen migrando com maestria entre
os urros e os vocais limpos.
Amorphis 2015 |
Bad Blood e The Skull ainda que boas, parecem aquelas
faixas mais diretas e simples da fase recente, e até poderiam indicar que o
material do restantes do disco seguiria esse caminho. Mas logo depois temos a
primeira faixa de trabalho, a excelente Death
Of A King, que bem poderia
servir de resumo das intenções do disco como um todo: uma fusão para lá de
equilibrada entre Folk Metal, Death e Progressivo/Space Rock.
Confesso que quando foi divulgada a segunda faixa de trabalho, Sacrifice (ver vídeo), fiquei com os
dois pés atrás: é o típico Amorphis
mais acessível e representa exatamente a fórmula que deu sinais de desgaste em The Beginning Of Times. Mas ainda que as linhas de voz
não passem de medíocres, a banda está tão inspirada que o instrumental muito
bem cuidado salva o dia. O mesmo vale para Dark
Path, que soma a isso um tempero
Death.
Daí
para diante, é uma belezura atrás da outra. Enemy At the Gates tem de tudo, clima oriental, estrutura instrumental que
lembra o Space Metal de Am Universum e Far From The Sun, aliados ao toque Death Metal inteligente que os vocais de Tomi Joutsen proporcionam. Tree
Of Ages é a perfeita fusão entre o Folk e extremo e White Night é épica, dinâmica e bela com o peso flutuando entre a
delicadeza da voz da vocalista convidada Aleah
Stanbridge. A edição limitada ainda
conta com a razoável Come The Spring (no mesmo naipe de Sacrifice),
e a boa Winter’s Sleep (mais uma fusão Folk/Death).
Saldo Final
Numa
cena tão variada quanto a de hoje, o Amorphis
já não soa mais tão estranho e inovador. Não há nenhum caminho em Under The Red Cloud que os finlandeses já não tenham
trilhado em discos passados. E hoje em dia temos diversas bandas que trilharam
caminhos semelhantes. Graças ao Amorphis,
diga-se. Mas a passagem de vanguardista para um grupo com estilo consolidado
não é demérito algum, e aqui somos presenteados com um dos trabalhos mais
concisos e inspirados de uma discografia que mesmo em seus pontos baixos flutua
bem acima da média. Excelente!
NOTA: 92
Classifique como: Melodic
Death Metal, Folk Metal, Prog Metal
Para fãs de: Soilwork,
Amon Amarth
Fuja se não for um
headbanger afeito a misturas