domingo, 23 de fevereiro de 2014

Zodiac – A Hiding Place (CD-2013)

Zodiac - A Hiding Place
Retro-Rock com Chucrute

Um ano após o aclamado debut A Bit Of Devil (ver resenha da Cripta aqui), eis que o combo teutônico Zodiac solta seu segundo petardo, composto inteiramente na estrada, de onde a banda não arreda pé desde 2011.


Produzido pela banda e com Martin Meinschäfer (HobGoblin) capitaneando as gravações, A Hiding Place traz nove faixas (oito próprias e um cover) reproduzindo um retro-rock calcado em nomes como UFO, Thin Lizzy, ZZ Top e Lynyrd Skynyrd (fato já devidamente avisado na capa através de um oportuno adesivo).

O Disco

Downtown abre o trabalho com um riff que emula muito bem os momentos mais rockers do Lynyrd. A produção está mais limpa e com um punch mais contido quando compramos com o debut. Confesso que não fiquei tão empolgado assim com a abertura do disco, embora a música termine com dobras de guitarra bastante bacanas, uma das características mais elogiáveis do Zodiac.


Free melhora consideravelmente o nível, com um refrão contagiante que pega de imediato. Nick Van Delft teve bastante cuidado com sua voz nesse segundo registro, e as linhas melódicas estão mais trabalhadas, mesmo que para isso tenha sido sacrificado um pouco da pegada roufenha que marcava o disco anterior. Mas se a voz de Nick não chaga a impressionar, sua habilidade nas seis cordas é impossível de contestar. Vide o solo Gilmouriano belíssimo no meio dessa faixa, ou o rompante stoner ao final da mesma. Aliás, como no disco de estréia, cada música do Zodiac no mínimo nos proporciona algum momento de orgasmo guitarrístico.

Zodiac - bichos do mato
A cozinha azeitada, cortesia de Janosch Rathmer (bateria) e Ruben Claro (baixo), puxa a levada funky de Underneath My Bed uma música normal com um arrebatador solo no meio. O piano de Ruben Claro (que também cuida do órgão no disco) introduz Leave me Blind, boa balada que tenta emular o sucesso de Coming Home, faixa de maior destaque do disco anterior. Longe de obter o mesmo impacto, ainda assim a música pode ser considerada um dos destaques do disco, em especial pelo crescendo que se desenvolve em sua metade final.

Moonshine (ver vídeo abaixo) traz um quê de Thin Lizzy mesclado com uma pegada Stoner que deve agradar aos fãs do gênero. Contendo mais um bom refrão e dobras inspiradas de guitarra costuradas entre Nick (guitarra solo) e Stephan Gall, Moonshine conquista de imediato. A Pink Floydiana Believer traz uma das melhores linhas melódicas do disco e um baixo marcante que cria um clima etéreo bastante interessante em conjunto com o som de órgão.


I Wanna Know aparece dividida em duas partes por mera bossa, a primeira sob a forma de uma Jam contendo mais um empolgante solo. Emendada com a primeira, a segunda parte trás a canção em si. Boa, mas certamente não um dos destaques do cd. Melhor resultado obtém a ótima versão para Cortez The Killer, a fábula épica retratando a destruição de uma civilização, composta por Neil Young nos idos de 1975.

Saldo Final
A Hiding Place é um belo disco, contendo músicas com refrãos inspirados que emulam em timbre e estilo o som dos anos 1970. Os saudosistas e fãs de retro-rock e stoner podem apreciar a bolachinha sem medo. A audição também é altamente recomendada para os fãs de boas guitarras: tivesse Nick Van Delft feito sua guitarra gritar em décadas passadas,  certamente seu nome seria alçado então ao panteão dos grandes guitar heroes da história, tamanho seu talento. Mas ainda assim esse A Hiding Place, na tentativa de soar mais rebuscado e profundo, deixa para trás o punch e espontaneidade que tornaram A Bit Of Devil irresistível.

NOTA: 7,5

Prós:
Grandes passagens de guitarra, ótimos solos e alguns refrões bem inspirados. Tudo com sabor anos 1970.

Contras:
Falta um pouco de punch e talvez os fãs de stoner sintam a ausência de sujeira no som...

Ficha Técnica
Banda: Zodiac
Origem: Alemanha
Disco (ano): A Hiding Place (2013)
Mídia: CD
Lançamento: Prosthetic Records (importado)

Faixas (duração): 9 (49’)
1. Downtown; 2. Free; 3. Underneath My Bed; 4. Leave Me Blind; 5. Moonshine; 6. Believer; 7. I Wanna Know (part I); 8. I Wanna Know (part II); 9. Cortez The Killer.

Produção: Zodiac
Arte de Capa: Martin Grossman

Formação:
Nick Van Delft – voz e guitarra solo;
Stephan Gall – Guitarra Base;
Ruben Peixoto Claro – baixo, piano e órgão;
Janosch Rathmer – bateria.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Clássico da Cripta: Bad Company - Bad Co (1974)

Bad Co

Bad Company - Bad Co (1974)

  
O HARD CLASSUDO DO SUPERGRUPO BRITÂNICO
Por Trevas (adaptado do Texto original publicado no Blog Cripta dos Horrores, enriquecido por informações da Classic Rock Magazine, edição de março 2014)

Prólogo – Em Má Companhia

1971.
O Free, uma banda prodígio com um futuro promissor pela frente sentia o gosto do sucesso comercial ser contaminado pelo azedume de constantes brigas internas. Paul Kossoff, o coração do grupo, caia cada vez mais fundo na dependência química. Os cérebros e compositores da banda, o baixista Andy Frazer e o vocalista Paul Rodgers viviam em pé de guerra. Paul era uma bomba relógio, beberrão, briguento e mulherengo. Andy estava começando a se descobrir homossexual, e sua instabilidade emocional pelo momento vivido e visão de mundo diametralmente oposta a do machista Rodgers ajudaram a minar a outrora rica parceria musical.

Free - Paul Rodgers é o homem das cavernas de branco.
O Free se separa. Paul monta o Peace, um Power-trio no qual assumia a guitarra além dos vocais. O Peace dura muito pouco, mas o suficiente para realizar uma curta jornada de shows abrindo para o Mott The Hoople.
E o Mott também vivia um momento de turbulência. O sucesso comercial de All The Young Dudes e o apadrinhamento por parte do camaleão e rock star David Bowie deixaram marcas nas relações internas da banda. Ian Hunter cada vez mais assumia uma postura de prima dona, deixando Mick Ralphs bastante insatisfeito com seu papel dentro do Mott.

Mott - Ralphs é o primeiro da extrema direita.
Mick então passa parte da atual turnê se divertindo mais com a trupe da banda de abertura do que com os próprios colegas. A banda de abertura por sinal conta com um cara que divide com ele uma intensa paixão pelo Soul e R & B. Sim, Paul Rodgers e Mick Ralphs passam a alimentar uma amizade que traria frutos um pouco mais tarde. Após o término do Peace, retorno do Free para mais dois discos e separação do Mott The Hoople, os dois voltam a se encontrar. Mick mostra uma demo rejeitada por Ian Hunter, de uma música chamada Can’t Get Enough. Paul sabia que aquilo rescendia a sucesso. A companhia começava a se formar.

Paul e Mick passaram meses ensaiando e compondo, sem grande ambição, a princípio. O restante da banda foi sendo montado aos poucos, enquanto Paul aguardava Mick, que ainda tinha compromissos contratuais a serem cumpridos com o Mott. O primeiro a se juntar à dupla foi Simon Kirke. Simon, desiludido com o fim do Free, fugira para o Brasil com a esposa, se isolando do resto da cena por um tempo. Ao voltar ao Reino Unido e saber que Paul estava montando um novo projeto, logo se apresentou. O último peão no tabuleiro demorou um pouco mais a aparecer, sob o nome de Boz Burrell, um baixista bastante conhecido na cena londrina, uma figura bastante popular, mas cuja experiência fonográfica se resumia praticamente à gravação do disco Lizards, com o King Crimson.

A banda estava montada.
O nome escolhido? Fury.

Paul Rodgers relutou, o nome lembrava demais o Free. Por que não escolher o nome de uma das novas composições? Uma em especial que falava sobre a guerra civil americana, baseada num filme de 1972 com Jeff Bridges. A música rescendia a western e homens renegados.
O nome?
Bad Company.

Má Companhia - Burrell, Rodgers, Ralphs e Kirke.
Peter Grant e o Rastro do Zeppelin

Por falar em renegados, Peter Grant era o anti-herói perfeito. O gigantesco e temperamental empresário que conseguira meteoricamente materializar a visão de Jimmy Page de conquista global já era uma lenda viva. Temido e admirado, Grant foi o nome recomendado a Paul Rodgers pelo ex-tour manager do Free para capitanear o barco do Bad Company. Paul dizia abertamente que queira atingir grandes feitos com o novo grupo. Grant era o cara certo para obter grandes feitos.

Peter Grant - da luta livre ao show business com o mesmo estilo
O timing foi perfeito. O Led Zeppelin havia se tornado a maior banda do planeta, mas estava passando por uma pausa por problemas internos. Grant havia dado a ideia de criarem um selo, o Swan Song, e Paul Rodgers, o cantor prodígio, seria o nome certo para primeiro artista contratado. A princípio Peter propôs um contrato como artista solo, o que foi refutado por Paul. O contrato foi selado com um aperto de mão, sendo firmado em papel apenas muito tempo depois. As coisas com Peter Grant eram assim.

A gravação do primeiro disco foi feita através de um encaixe nas datas reservadas pelo Led na mansão assombrada que Page tanto adorava. Capitaneadas por Ron Nevison (que acabara de terminar o trabalho em Quadrophenia, do the Who), as gravações seguiram uma regra básica, tudo deveria soar o mais “ao vivo” possível.

Ron Nevison - engenheiro de som e co-produtor
A ligação com o Zeppelin não se limitaria às sessões de gravação e a Peter Grant. O sucesso arrebatador da banda no mercado americano fez com que tudo o que levasse a chancela Zeppeliniana fosse comercialmente rentável. Aconteceu o mesmo com o Bad Company. O disco foi um sucesso antes mesmo do lançamento. A banda conseguiu agendar shows em arenas antes mesmo de ter subido nos palcos pela primeira vez, graças aos contatos feitos por Grant na turnê americana do zepelim de chumbo. Devido a compromissos contratuais de Rodgers e Ralphs com a Atlantic, o disco saiu numa parceria desta com a Swan Song. Um detalhe que traria ainda mais sorte ao lançamento, como veremos adiante.

Swan Song Inc - Logotipo
Eis que, em março de 1974, contendo a simples e marcante capa feita pelos estúdios da Hipgnosis, é lançado Bad Co. E a banda então é catapultada ao sucesso imediato.

O Disco

Obviamente, a sombra do Led Zeppelin de nada serviria caso o material do disco a ser lançado não estivesse à altura da expectativa criada. Claro que não foi o caso, o disco beirava a perfeição!
O álbum de estréia, homônimo, continha oito músicas, que passeavam pelo hard (Can’t Get Enough, Rock Steady e Movin On”) e por um rock recheado de blues (Ready For Love, Dont Let Me Down), receita provinda do próprio Free.


Parte da fervorosa acolhida do disco pelo grande público se deve a uma feliz coincidência. Ready For Love e Don’t Let Me Down tinham um pé no Soul e R&B, carros chefe da Atlantic Records. O público cativo desses estilos sempre agraciou os lançamentos da Atlantic, se identificando logo com um produto inicialmente pensado somente para os fãs de rock.
Destacam-se também a Faixa título, uma das primeiras colaborações Rodgers/Ralphs e a bela balada Seagull, contribuição solo de Rodgers.


Outro ponto positivo fica para a produção, cristalina, mas espontânea, deixando Mr. Rodgers brilhar em uma de suas melhores performances vocais em estúdio.
Não por acaso, a qualidade das composições fez com que o trabalho atingisse o primeiro lugar na Billboard, com duas faixas (Cant Get Enough e Movin On) atingindo o top 20. No Reino Unido, o disco atingiria o Top 5, vendendo muito mais que o material das bandas originais dos integrantes do então propalado supergrupo. Alcunha aliás que fora bastante refutada. Por maior que fosse a fama dos quatro rapazes no Reino Unido, nem Mott, nem Free e muito menos o King Crimson haviam tido mais que um brilhareco na terra do Tio Sam.


Shooting Star
Com a morte de Kossoff eliminando a chance de um retorno do Free, o Bad Company deixou de ser encarado como um projeto, e seguiu em frente lançando o também clássico Straight Shooter. O interesse pela banda, assim como a qualidade dos álbuns começou a cair com o terceiro disco, Run With The Pack, e a relativamente baixa vendagem dos trabalhos subseqüentes (Burning Sky e Rough Diamonds), somadas ao trauma pela perda de Kossoff, vitima do estilo de vida tão glorificado pela mundo artístico, fez com que Mr. Rodgers abandonasse a cena musical, para se dedicar a família e sua fazenda.
O retiro de Rodgers duraria pouco tempo, pois seu vizinho de fazenda, fã confesso do vocalista, passaria a fazer-lhe visitas diárias para mostrar umas idéias na guitarra, visando montar um novo projeto. O vizinho era um tal Jimmy Page, e o projeto viria a ser o The Firm. Mas essa já é outra história!!!

NOTA: CLÁSSICO DA CRIPTA!!

Ficha Técnica:
Banda - Bad Company
Origem - Inglaterra
Disco - Bad Co
Produção - Bad Company e Ron Nevison
Ano - 1974
Gravadora - Atlantic/Swan Song

CD Faixas 8 Duração 35'’
  
01. Cant Get Enough
02. Rock Steady
03. Ready For Love
04. Dont Let Me Down
05. Bad Company
06. The Way I Chose
07. Movin On
08. Seagull