segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Warrel Dane – Shadow Work (Cd-2018)



Um Grandioso Adeus
Por Trevas

Prólogo – Dane, o Vocal-Hero

Mais uma resenha difícil de ser escrita. Warrel Dane foi um dos meus Vocal-heroes, uma inspiração tremenda e que contribuiu com um tempero especial dentro das influências que ajudaram a construir minha identidade musical como vocalista e letrista. Mas minha relação com aquela figura algo excêntrica de longos e indefectíveis cabelos louros (o que provavelmente rendeu ao rapaz o apelido “Dane”- vernáculo levemente pejorativo para quem se encaixa no estereótipo Nórdico) não foi exatamente um amor à primeira vista. Um amigo me apresentou Refuge Denied, do Sanctuary, lá nos idos de 1999. Até achei o disco interessante, mas esbarrei justamente nos agudos estratosféricos de Warrel. Sempre tive dificuldades com vocalistas com registros muito altos. Mas quase que de imediato uma banda despontava na cena com uma sonoridade única, uma tal Nevermore. Escutar Dreaming Neon Black foi um soco no estômago e quando descobri que o versátil cantor, que alternava graves góticos, melodias complexas e, eventualmente, agudos lancinantes, era o mesmo Warrel Dane do Sanctuary, ganhei um novo herói.

Warrel em sua cativante excentricidade
Warrel vinha excursionando desde 2014 na companhia de um excelente time de músicos brasileiros, e em 2017 resolveu selar essa parceria com a gravação de um disco. Infelizmente a jornada foi interrompida ao final do mesmo ano, quando justamente o coração que ele punha em cada nota que cantava o traiu, e Warrel se foi antes de poder gravar os vocais definitivos. O quarteto de músicos e a gravadora fizeram então um esforço hercúleo de juntar os cacos das demos e pré-produção e conseguiram montar um quebra-cabeças de oito músicas, intitulado Shadow Work. O disco ganhou uma belíssima edição nacional em Mediabook, contando com várias ilustrações do mestre Travis Smith. Confesso que custei a colocar a bolachinha, supostamente um trabalho inacabado, para rodar. Mas tão logo o fiz, o coração apertou. Lá vão minhas impressões.

Dane And The Zucas!
Ethereal Blessing abre o trabalho, uma melodia fantasmagórica nos moldes que só Warrel seria capaz de criar, emoldurada sorumbaticamente por sons tribais. Pouco ela nos diz sobre o direcionamento do mesmo trabalho, mas logo somos arremessados a Madame Satan, e aí a sombra do Nevermore aparece. A faixa parece a evolução do que a banda vinha tentando fazer antes de seu precoce encerramento, e chega até a convencer, graças à qualidade dos aliados do estadunidense. Quanto talento os rapazes brasileiros têm!



O mesmo não pode ser dito dos outros momentos Nevermorianos: Disconnection Sistem é menos empolgante e remonta ao Politics Of Ecstasy, disco complexo e algo mecanizado que marcou o corte do cordão umbilical do Nevermore com o legado musical do Sanctuary. Shadow Work, a faixa, é de longe a menos interessante e parece um puxadinho construído por cima do alicerce de Narcosynthesis. Já o encerramento com Mother Is The Word For God quase desperdiça um dos mais belos temas que Warrel já cantou em nove longos e titubeantes minutos de quebradeira.


Mas é justamente quando a banda leva o saudoso vocalista para terrenos anteriormente pouco explorados por ele que o disco vive seus melhores momentos: As Fast As The Others gruda feito piche no cérebro, a reinvenção de The Hanging Garden (do The Cure) é ouro puro, e Rain é aquele cruzamento Metal/Gótico que sempre funcionou tão bem com mr. Dane.



Sobre a performance do vocalista, ainda que ela seja feita de uma compilação de gravações demo ou da pré-produção, tudo funciona bem. Não, você não vai encontrar a performance vocal da vida dele aqui, mas cada palavra é cantada com o coração na ponta da língua, e as melodias são muito boas. As letras? Fortes e únicas, como sempre! Já os músicos, dão um show à parte: Marcus Dotta definitivamente não é humano - é o batera Cthulhu, um destruidor mestre dos polvos; Thiago Oliveira (que compôs todas as músicas autorais aqui) e Johnny Moraes não só sobrevivem ao peso da comparação com Jeff Loomis como trazem inúmeros solos melodiosos que engrandeceram em muito o disco; e até mesmo o baixo de Fabio Carito, por vezes enterrado em meio à multitude de informações da produção, tem seus bons momentos aqui e acolá. Enfim, Warrel se foi em ótima companhia.

O belo mediabook de Shadow Work

Veredito da Cripta

Shadow Work não é o trabalho definitivo de Warrel Dane. Por vezes o disco pecou ao sucumbir à tentação de emular o passado no Nevermore, se saindo melhor quando deixou estilisticamente essa sombra ficar para trás. Mas também está longe de nos dar qualquer pista de se tratar de um corte e colagem qualquer. É sim um disco para lá de digno e instigante, pesado e denso. Um grande e empolgante Cd, que só entristece ao nos fazer sonhar o que seria de uma hipotética continuação se esse vitorioso e virtuoso time fosse mantido. RIP, mr. Dane. Parabéns, Thiago, Johnny, Fabio e Dotta!   


NOTA: 8,57


Visite o The Metal Club
Gravadora: Valhall Music (nacional)
Prós: um disco forte e denso
Contras: nos deixa com imensa saudade  
Classifique como: Modern Metal, Prog Metal
Para Fãs de: Nevermore, é claro...


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