terça-feira, 29 de maio de 2018

Riot V – Armor Of Light (2 Cds – 2018)

Riot V - Armor Of Light (Cd-2018)

Foco Na Foca!
Por Trevas

Riot V é na verdade o nome que a mítica banda de heavy metal estadunidense Riot assumiu em 2013, após o falecimento do líder e único membro presente em todas as formações dos caras desde 1974, o guitarrista Mark Reale. E Armor of Light, 16º disco da banda, é o segundo tento feito na ausência de seu principal compositor. Unleash The Fire, o disco anterior, inicialmente feito somente para o mercado nipônico, foi uma grata surpresa no ano de 2014. O que esperar então desse Armor Of Light, que mantém a inexplicável tradição de capas bisonhas na discografia dos caras? 

Riot V, perto das focas ridículas, os caras nem parecem feios. Seria isso uma estratégia?
De cara a produção cristalina, cheia de punch, mas bem corretinha de Chris Collier (Prong, Last In Line, Metal Church, Korn) salta aos ouvidos, com a faixa de abertura Victory trazendo riffs e solos estelares do veterano Mike Flyntz e do novato Nick Lee (talentoso aluno de Flyntz), somados ao vocal meio over (mas extremamente competente) de Todd Michael Hall e a bateria rolo compressor de Frank Gilchriest (Virgin Steele), com o atual dono da pelota e mais antigo membro da banda, Don Van Stavern fazendo suas linhas de baixo discretas e meio escondidas nesse tanto de informações.



Sim, o Riot de hoje tem muito mais de Power Metal europeu do que heavy americano, um processo que já havia afetado os caras desde a década de 1990, e End Of The World, com sua cara bem Hammerfall, só confirma que esse caminho foi ainda mais amplificado na nova encarnação da banda. Não que as outras facetas da carreira dos caras tenham sido abandonadas. Messiah é uma pedrada tão Thundersteel quanto o possível, e Burn The Daylight e San Antonio (que aproveitou ideias de Reale) trazem até mesmo algo da fase Guy Speranza. E os exageros vocais de Hall e até letras idiotas como a de Angel’s Thunder, Devil’s Reign (grudenta e irresistível dentro de sua breguice) podem ser perdoadas diante do deleite guitarrístico proporcionado por Flyntz e Lee!




A trauletada continua com Heart Of A Lion e a excelente faixa título, com ótimos refrões e guitarras (mas confesso que a bateria de bumbo duplo incessante de Gilchriest cansa um pouco).  Set The World Alight chega para mostrar que o batera consegue sossegar o facho e Hall tem uma bela voz quando não está cantando lá no alto. Mas o refrão não ajuda muito. San Antonio, a despeito de ser a faixa que mais lembra os primórdios do Riot também fica aquém do material da primeira metade do disco, e essa queda de rendimento se repete nas apenas legaizinhas Caught In The Witche’s Eye e Raining Fire, e a fraca Ready To Shine.



Veredito da Cripta

Confesso que precisei escutar esse disco algumas vezes até aceitar as toneladas de influências de Power Metal europeu no som do novo Riot. Mas uma vez que a ficha caiu, passei a gostar bastante da bolachinha, ainda que sua primeira metade seja muito, mas muito superior que sua metade final. Algumas músicas a menos e teríamos em mãos um forte candidato a figurar nas listas de melhores de 2018. Ainda assim, um baita disco, que não faz feio perante uma discografia para lá de inspirada.


NOTA: 8,30

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Bônus da Edição Brasileira

A bacana edição nacional traz ainda duas faixas bônus no primeiro disco, a bacana Unbelief e a matadora rendição atualizada para Thundersteel. E a cereja do bolo fica por conta de um segundo disco, contendo 13 faixas gravadas ao vivo no festival Keep It True de 2015. Não pensem se tratar de um bootleg mixuruca, a qualidade de áudio é bastante boa. No repertório, uma mistura de sons do então novo trabalho com clássicos das várias fases do Riot, todos executados com esmero e muita energia, ainda que a voz estratosférica de Hall pareça o tempo inteiro estar em seu limite, prestes a falhar a todo instante. Se o disco de estúdio já vale uma conferida, com um bônus desse o pacote se torna imperdível!

Gravadora: Shinigami Records (nacional).
Pontos positivos: guitarras matadoras e uma ótima primeira metade
Pontos negativos: Todd Michael Hall e Frank Gilchriest exageram um pouco além da conta e a segunda metade do disco não mantém a qualidade
Para fãs de: Hammerfall
Classifique como: Heavy Metal, Power Metal




domingo, 27 de maio de 2018

Angelus Apatrida – Cabaret De La Guillotine (Cd-2018)

Angelus Apatrida - Cabaret de la Guillotine


Moisés Cipriano - The Metal Club
Guilhotina Afiada ! Os espanhóis voltaram.
Por Moisés Cipriano

Antes de iniciar essa resenha, vale passar um panorama do meu gosto por thrash metal. Gosto de Thrash Metal trabalhado, bem tocado. Não gosto de tosqueira. Gosto de Testament, Megadeth, Slayer e Sepultura. Não odeio Metallica. Aliás, gosto bastante. Ride The Lightning é o melhor para mim. Gosto do últimos do Kreator, alguma coisa de Sodom, alguma coisa do Tankard e tb do Overkill, dentre outros. Isto dito, gostaria de expressar de forma clara que considero Angelus Apatrida, junto com Suicidal Angels, as duas melhores bandas de thrash da atualidade. No caso do Angelus, tive o prazer de vê-los ao vivo ano passado tocando em casa no festival Leyendas del Rock. Simplesmente o melhor show de thrash do festival superando Tankard, em segundo lugar, Megadeth e Overkill.
Para quem ainda não conhece a banda, o Angelus Apatrida foi criado em 2000 e havía lançado até então 5 albuns. Seu terceiro album, Clockwork, já com a Centuria Media, proporcionou uma tour com os suecos do Arch Enemy e a posição #44 no ranking oficial espanhol.  Já o abum subsequente, The Call, chegou chegando na #14 do mesmo ranking. E Hidden Evolution alcançou #2. 

Alguém falou Evolução?

A banda é atualmente formada por Guillermo Izquierdo (lead vocals, guitars), David G. Alvarez (guitars, backing vocals), Jose Izquierdo (bass, backing vocals) e Victor Valera (drums, backing vocals). Após uma longa tour de 3 anos divulgando Hidden Evolution na Europa, America Latina e Asia, no dia 04 de Maio de 2018, o grupo lançou o belíssimo Cabaret De La Guillotine, seu sexto album de estúdio. Le Cabaret de la Guillotine era somente um restaurante perto de onde ocorriam execuções lá na França. A guilotina espanhola nesse caso é para combater as noticias e injustiças do dias de hoje. Violento? Confiram.


Os Thrashers espanhóis em 2018 

Sharpen the Guillotine abre o album de forma veloz, avassaladora. Não dá nem tempo de respirar. Boa música de abertura.



Betrayed traz  aqueles riffs clássicos de thrash que me faz gostar do estilo. Essa música lembra bastante as melhores músicas dos americanos do Megadeth. Ponto para a banda.

Ministry of God traz uma metralhadora de riffs de thrash. A letra fala da criação da Terra por Deus, mas numa versão mais dark, digamos. É possivelmente a melhor faixa do álbum.

The Hum (que significa “zumbido”) segura a pancadaria.

Downfall of the Nation foi o segundo single e também ganhou videoclipe. A música é bem direta, pesada, com refrão bem legal e solos certeiros. Sucesso. Mais um dos destaques. 



One of Us melhora a cada audição e segue despejando riffs californianos no ouvinte. Não aguenta? Bebe leite.

The Die is Cast é a segunda música que traz a pegada megadethiana. Chega a ser radiofonica. Isso é ruim? Não. A faixa é excelente. Mais uma candidata a melhor do álbum. Mas como é possível?

Witching Hour traz mais riffs cavalares e, nota-se, pela primeira vez, aquela baixão pulsante, também característico do estilo. A música abre caminho para a balada do álbum.
Farewell é a balada do álbum. Que tal uma carona no Testament e Metallica antigos? Tá valendo. A faixa é o terceiro single do álbum e possui um videoclipe muito bom. 


Martyrs of Chicago é a única faixa que pode fazer os fãs torcerem o nariz. A canção inicia pesada e veloz, passa à levada thrash que já estamos acostumados, porém contém um refrão modernoso. Sería uma pitada de metalcore? Ixxxii preparem-se para a crítica dos oitentistas de plantão.

Veredito da Cripta

CABARET é mais ume excelente album dos espanhóis. O album é bem trabalhado, é bem gravado, traz os riffs clássicos que deveriam estar presente em todos os albuns de thrash e solos entremeados. O vocal do Guillermo é bem variado também. Vale a pena conferir.

NOTA: 9,06
(a nota média no site The Metal Club no momento desta resenha era 9,20)

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Gravadora: Century Media Records
Pontos positivos: Thrash Metal bem tocado, pesado e com belos riffs.
Pontos negativos: ainda não achei. Nem todas as faixas são destaques, claro, mas todas mantém o nivel.
Para fãs de: Thrash Metal que curtem Metallica, Megadeth e Testament.
Classifique como: Thrash Metal




sábado, 26 de maio de 2018

Ozzy Osbourne – No More Tours 2 (20/05/18 – Jeunesse Arena – Rio de Janeiro/RJ)

Flyer original da tour

Goodbye to Romance?
Fotos e texto por Trevas

O clima não era lá dos melhores. O evento foi transferido da péssima Apoteose para a distante Jeunesse Arena devido à baixa procura de ingressos, o que gerou também uma miríade de promoções conforme o show se aproximava. Os vídeos no YouTube evidenciavam que a qualidade do show, ao menos no que se refere à performance do dono da bola, anda variando muito. Some-se a isso a atitude estúpida da produção, que cedeu aos caprichos de uma prima donna da fotografia rocker, impedindo o trabalho dos fotógrafos locais, deixando os veículos de imprensa reféns do material do beócio-cujo-nome-não-citarei, com a alternativa de contar com fotos feitas à distância, como as que aqui apresentarei. É, a despedida (de novo?) de Mr. Madman dos palcos não parecia lá muito atraente.


As sirenes indicam: os Porcos da Guerra chegaram!
Mas caiu em meu colo um par especialíssimo de ingressos (valeu, Sá!!!), e lá fomos eu e Dressa comemorar meu aniversário ao som de um dos caras que eu mais escutei na minha juventude. Arena abarrotada, pontualmente o belo arranjo de telões inicia a reprodução de um filme muito do bem feito ao som de Carmina Burana. Logo Ozzy sobe ao palco, convocando sua banda e anunciando o show. Bark At the Moon toma de assalto nossos ouvidos e toda aquela balela que escrevi ali no primeiro parágrafo pareceu bosta de camelo diante do que se viu e ouviu.

Ozzy e Zakk, uma parceria para a eternidade

Mas como está Ozzy? O sequelado sessentão se movimenta com a graça de um senhor de 90 anos que acabou de soltar um lastro em seu fraldão geriátrico, verdade. Mas, convenhamos, isso pode ser dito sobre ele desde os 40 anos de idade, não é mesmo? A voz? Essa estava surpreendentemente boa e precisa, numa forma bem superior à da segunda perna da Scream World Tour (quando vi um errático show dele no Monsters) e melhor também do que na turnê de despedida do Black Sabbath. E o Madman, além de possuir a maior concentração de carisma por metro quadrado, tem a seu favor três trunfos, o primeiro deles um setlist matador, que permite emendar a sequência Mr. Crowley, I Don’t Know, Fairies Wear Boots e No More Tears, para somente então frear um pouco os ânimos com a baladinha Road To Nowhere.

Ozzy e seu atentado aos epiléticos

O segundo trunfo é a cozinha destruidora formada por Tommy Clufetos e Blasko (com Adam “filhodocara” Wakeman quebrando um galho por vezes no teclado, por vezes numa segunda guitarra). O terceiro trunfo atende pelo nome artístico Zakk Wylde. O cruzamento de viking com urso grizzly é um show à parte. Longe da birita, sua performance está enfim à altura de sua fama, e o cara consegue até mesmo carregar o show nas costas quando o velho comedor de morcegos se ausenta por mais de dez minutos. Segurar as pontas com um medley instrumental calcado nas partes dos solos das músicas, caminhando ogrescamente entre uma ponta a outra do chiqueirinho debulhando com a guitarra às costas como quem passeia com o totó no parque? Não, não é para qualquer um. Zakk é uma lenda viva e sua presença faz enorme diferença se comparado aos shows com o excelente Gus G e o competente Joe Holmes. Mas nem tudo são flores. Se visualmente os canhões laser e telões formavam um espetáculo imponente, o som da Jeunesse Arena se mostrou confuso para tudo que não fosse bateria ou voz. E ainda que os pouco mais de 80 minutos de show tenham sido extremamente divertidos, é difícil aceitar um setlist tão reduzido (se contarmos os solos de guitarra e bateria) na despedida mundial de um dos maiores ícones da história do Heavy Metal. Deixou a sensação de que faltou muita coisa a ser tocada. Ainda assim, ao término do show, a saída da Arena era só sorrisos, uma multidão feliz por ver um de seus ídolos saindo de cena de maneira para lá de honrosa. Longe de ter sido um show perfeito, mas Ozzy e sua trupe certamente nos brindaram com uma noite muito divertida! (NOTA:8,50)


























sábado, 19 de maio de 2018

Monster Magnet – Mindfucker (CD-2018)

Monster Magnet - Mindfucker
Fornicando Com Nossas Mentes e Ouvidos
Por Trevas

O décimo full-length de uma das bandas seminais da cena Stoner foi elaborado deliberadamente para se opor ao antecessor, Last Patrol. Se LP fora uma ode ao Space Rock e pintava um cenário inspirado em psicotrópicos, num clima enevoado e colorido que remetia ao final dos anos 1960, Mindfucker apostaria em outra vertente estética do mesmo período, o Proto Punk de Blue Cheer e MC5. Dave Wyndorf, o cérebro carcomido por pílulas por detrás do Monster Magnet, afirmou que ele precisou escrever dez canções diretas e que te deixam com vontade de dirigir a cem quilômetros por hora, que é a única coisa que ele quer fazer para escapar das insanidades de um mundo “completamente fodido”. Ah, ok. Com a produção dividida entre Wyndorf e o guitarrista de longa data Phil Caivano, vamos encarar a nova viagem dos monstrinhos de Nova Jérsei.

Capitão Wyndorf e seus temíveis proxenetas intergaláticos
Rocket Freak já senta o pezão no acelerador, uma pedrada que resgata um Monster Magnet que eu não ouvia com tamanha ferocidade desde Powertrip. Voz enterrada em meio ao instrumental virulento e com cara de música ao vivo, Dave evoca o fim do mundo e mulheres gostosas, como usual. Um início e tanto. A cozinha para lá de entrosada de Chris Kosnik e Bob Pantella (ambos parceiros no Atomic Bitchwax) faz uma cama kingsize para Dave e Caivano deitarem a forte Soul em nossos ouvidos. A faixa título chega e já pede para sentar na janela do repertório Monstermagnetiano, o que, convenhamos, só quem tem colhões de aço ousaria fazer.



A produção do novo disco pode ter aquela cara de “ao vivo e sem cortes”, mas experimente colocar a bolachinha para rodar com seus melhores fones de ouvido e repare o quanto de detalhes o material esconde. Eu só fui reparar nisso muitas ouvidas depois, justamente da primeira vez em que resolvi fazer a viagem intergaláctica com headphones. As boas I’m God e Drowning, mais cadenciadas e psicodélicas são bons números para se explorar esses detalhes da produção.



O Proto Punk diretaço retorna com Ejection, clássico de Robert Calvert (parceiro dos loucos do Hawkwind) de 1974, do disco Captain Lockheed and the Starfighters, de onde o próprio MM havia tirado The Right Stuff, gravada em Monolithic Baby. O clima “para o alto e avante” prossegue com as boas Want Some e All Day Midnight, enquanto Brainwashed traz um toque diferente à bolachinha, que se encerra de maneira brilhante com When the Hammer Comes Down, forte candidata a futuro clássico.


Veredito da Cripta

Direto e viciante, Mindfucker dá a falsa impressão de ser um álbum unidimensional em suas primeiras audições. Mas há mais aqui para nossos ouvidos do que pode imaginar vossa vã filosofia. Um disco honesto e muito, muito bom de se ouvir.


NOTA: 8,57

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Gravadora: Napalm Records (importado).
Pontos positivos: o disco mais direto da banda em eras
Pontos negativos: pode não agradar os fãs de sons mais viajantes
Para fãs de: MC5, Blue Cheer, Orange Goblin
Classifique como: Stoner



quinta-feira, 10 de maio de 2018

Magnum – Lost On The Road To Eternity (2Cds – 2018)

Magnum - Lost On The Road To Eternity

Tudo Como Dantes No Quartel D’Abrantes
Por Trevas

O vigésimo disco de estúdio dos britânicos do Magnum é também aquele que marca a estreia de dois novos membros, o baterista Lee Morris, que ganhou destaque junto ao combo Doom Paradise Lost, no lugar do colaborador de longa data Harry James e, num caso muito mais surpreendente, o tecladista Rick Benton (um requisitado músico de estúdio) para o lugar de Mark Stainway, tecladista que acompanhava a banda desde 1980. Promessa então de que a banda traria novidades em seu som? Veremos.

Os bons velhinhos, Magnum 2018 
A primeira pista de que nada haveria de diferente na bolachinha vem com a arte cheia de auto referências de Rodney Matthews, pule de dez em se tratando de capas do Magnum. Outra pista residiria no fato do guitarrista e dono da pelota Tony Clarkin assinar pela enésima vez a produção e todas as composições. E, realmente, basta uma primeira rodada em músicas como a boa abertura Peaches And Cream e as subsequentes Show Me Your Hands e Storm Baby para ficar claro que a banda optou pelo mais do mesmo. Não que isso signifique exatamente algo ruim, tendo em vista se tratar de uma banda com sonoridade única.



O problema é que se não há nada que desabone a já vasta discografia dos caras, também há muito pouco que se destaque o suficiente para fazer desse novo trabalho algo de especial. A produção é excelente e todos os músicos jogam para o time e fazem bonito, mas Welcome To the Cosmic Cabaret, por exemplo, não tem nada que justifique seus oito minutos de duração. Without Love (ver vídeo), esbarra na breguice oitentista em seus versos irritantes, um mal do qual a banda eventualmente sofre, o que acaba minando um refrão bacana. You Wanna Be Someone é outra que fica aquém da capacidade de Clarkin como compositor, com a cara de outras quinhentas coisas que ele já escreveu.



Mas há também momentos acima da média, a orquestração e presença de Tobias Sammet na faixa título são uma tremenda bola dentro. Aliás, a participação do mentor e voz do Avantasia tem uma significativa importância. Fã incondicional da banda e da voz do tremendão Bob Catley (que canta bem como sempre aqui), Tobi é responsável por ter ressuscitado o interesse no Magnum para uma geração bem mais nova. No mais, Tell Me What You’ve Got To Say e Glory To Ashes se salvam da mediocridade da segunda metade do longo disco.





Veredito da Cripta

Lost On The Road To Eternity é o disco menos interessante dos nove que o Magnum lançou desde seu incansável retorno às atividades em 2002. Sem nada de novo a apresentar, com um andamento que resvala na monotonia e poucas composições capazes de se destacar num eventual repertório de shows futuros, este é um daqueles discos recomendados somente aos aficionados pela banda. Longe de ser ruim, é daqueles trabalhos medianos e facilmente esquecíveis, fadado a catar poeira até na coleção do fã mais ardoroso. Hora de mudar um pouco a fórmula.


NOTA: 6,69



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Disco Bônus da Edição Nacional

A edição nacional, da Shinigami Records, traz ainda um segundo disco, contendo quatro músicas ao vivo gravadas em 2017. As músicas escolhidas vieram todas do disco de inéditas anterior, o excelente Sacred Blood Divine Lies, e suas versões ao vivo são bem representativas do que o Magnum pode apresentar ao vivo hoje em dia. Muito bacana, só fica aquela pergunta no ar: por que diachos só quatro músicas e pouco mais de vinte minutos num disco bônus? Não dá para entender.


Gravadora: Shinigami Records (nacional).
Pontos positivos: produção cristalina, a grande voz de Bob Catley e a faixa título
Pontos negativos: repertório pouco inspirado e andamento monótono
Para fãs de: Hard Rain, Pretty Maids
Classifique como: Classic Rock, Melodic Rock





quinta-feira, 3 de maio de 2018

Glenn Hughes – Classic Deep Purple Live (29/04/2018 – Circo Voador – Rio de Janeiro/RJ)

             Glenn Hughes – Classic Deep Purple Live (29/04/2018 – Circo Voador – Rio de Janeiro/RJ)

Definitivamente: A VOZ!
Fotos e texto por Trevas


Noite de domingo, parto para assistir, pela quarta vez, uma das lendas vivas da história do rock: Mr. Glenn Hughes. O vocalista/baixista britânico, agora um senhor de 65 anos muito bem vividos, a grande maioria deles de grandes serviços prestados à música, é figura fácil na cidade. Embora a qualidade de Hughes como músico seja incontestável, nem sempre a dinâmica de seus shows corresponde, muito por conta de repertórios confusos diante de tanta coisa produzida junto a diferentes artistas com quem ele colaborou (Deep Purple, Trapeze, Pat Thrall, Black Sabbath, Phenomena...). Mas dessa vez o show seria calcado exclusivamente em material do Deep Purple, uma das bandas mais importantes da história. Promissor.

Cartaz da turnê
A abertura do show ficou por conta da banda carioca Seu Roque. Com o som totalmente calcado no rock setentista, a banda alternou covers de clássicos (Led Zeppelin e The Doors) com músicas próprias em português. Instrumentalmente a banda funciona muito bem, mas confesso que senti que falta de algo nas composições próprias, em especial nas linhas vocais. Ainda assim, um show divertido e que ganhou no mínimo o respeito da plateia, que já lotava o Circo Voador como há muito eu não via.


Titia Hughes, carcaça carcomida, voz do além


Após uma introdução imitando transmissão de rádio, tocada no som mecânico, Stormbringer é jogada impiedosamente em nossas fuças. Um início avassalador, mas quem já acompanha os shows de Hughes não viu novidade ali...ela viria sob a forma de Might Just take Your Life, seguida pela bela Sail Away e pelo clássico absoluto Mistreated.


Glenn canalizando agudos de outra dimensão
Esse tipo de repertório é uma faca de dois gumes, excelente no papel, poderia muito bem ser um tiro no pé se a banda que acompanha Glenn não tivesse a pegada certa. Mas, acreditem, os caras tocam muito e estavam muito bem ensaiados, e com os timbres brilhantemente escolhidos. E o som da casa, perfeito como poucas vezes ouvi. A comprovação veio logo após a pergunta do vocalista: vamos voltar comigo ao California Jam? Foi a deixa para executarem You Fool No One, com direito a emulação dos improvisos originais do lendário show. Soren Andersen já é velho conhecido, e se não é um virtuose da guitarra, casa muito bem com a proposta e tem muita pegada e carisma. Jay Boe manda bem demais nos teclados, e contou com o reforço de mini moog e hammond reais! Mas o destaque mesmo ficou para o jovem chileno Fer Escobedo, que brilhou em um longo solo de bateria que bem poderia ter minado o andamento da apresentação. Aliás, ele brilhou o show inteiro, a despeito do visual meio sleaze e das caras e bocas, o garoto é de uma técnica e pegada invejáveis!


O fiel escudeiro, Soren Andersen


Glenn & Soren

Ah, e a voz do Rock? Essa não envelhece nunca, a despeito da carcaça cada vez mais gasta de seu dono. Para falar a verdade, facilmente posso colocar o que ouvi nessa noite como uma das performances vocais mais belas e impressionantes que já pude testemunhar. O que Glenn fez essa noite em canções como This Time Around, Georgia On My Mind (encerrando Smoke On The Water, como nos shows de sua era no Purple) e You Keep On Moving (essa de arrepiar cada pelo do corpo) é de uma perfeição que parece vir de outro plano astral. A banda se despede sob intensos aplausos de uma plateia maravilhada.

Sim, você o é, meu chapa

Mas havia mais. O quarteto retorna alguns minutos depois. Glenn deixa o baixo para alguém de sua equipe técnica (sorry, não descobri quem é) e emenda uma versão de Highway Star anos luz à frente do que o Purple consegue fazer hoje em dia. Aliás, ela podia ser intitulada “Chupa Gillan”, mas isso é outra história. O encerramento vem com a obrigatória Burn, um pouco desencontrada, mas que surte o efeito de um tornado no Circo Voador. Todos os membros da banda abraçam o chefe de maneira carinhosa e verdadeira. Hughes, visivelmente emocionado, agradece com aquela paz de guru esotérico e promete um retorno para o ano que vem. Ninguém arreda o pé, os aplausos seguem efusivos enquanto a banda e seu líder permanecem no palco. E posso dizer então, que, mesmo já tendo visto o Purple “oficial” uma penca de vezes, pela primeira vez vi uma banda fazer justiça a seu legado musical. E assim termina um dos maiores espetáculos que já tive a sorte de presenciar. Uma noite perfeita (NOTA: 10)




Nós é que temos que agradecer, obrigado, tia Glenn

terça-feira, 1 de maio de 2018

Pain Of Salvation + Reckoning Hour (26/04/2018 - Teatro Rival – Rio de Janeiro/RJ)

POS - Cartaz do Show

In The Passing Light Of...Night...
Fotos e Texto Por Trevas

É sempre interessante notar a diferença entre os públicos dos vários subgêneros dentro do rock. No curto espaço de tempo passado na fila do teatro Rival, fiquei todo ouvidos só captando os diálogos alheios. Se no show do Slash, com seu público “roqueiro de rádio cidade” que vai ao show por duas ou três músicas batidas sem se importar com a qualidade do espetáculo em si, isso me rendeu uma imensa sensação de que o rock realmente estava fadado à morte lenta e dolorosa, no caso do público do POS, foi o contrário. A garotada, que em sua maioria tem aquela pinta de quem fazia a festa nas lanhouses da vida, conversava avidamente sobre a carreira de sua banda favorita, parecendo conhecer cada nuance dos discos e até mesmo de assuntos não tão obrigatórios. Isso sem perder o humor. Em determinado momento ouço a seguinte tirada: “O único Ragnar bom era viking e já está morto”. Gargalhadas se seguiram e só então eu, longe de ser fanboy dos suecos, me toquei que corria no ar a apreensão de como seria o show (adiado de fevereiro por problemas de saúde com o dono da bola, Daniel Gildenlöw) com a “nova” formação, ainda não testada, com Johan Hallgren retomando seu lugar na guitarra (e voz), justamente em substituição ao tão mal falado multi-instrumentista Islandês Ragnar Zolberg. Dentro da casa, tomei meu lugar para o show da sempre competente banda carioca Reckoning Hour.


Reckoning Hour

O quinteto, cujo som fica muito distante do praticado pela banda principal da noite, bem poderia correr o risco de uma recepção desfavorável. Mas a Reckoning Hour tem toneladas de peso e talento, e vem se mostrando uma máquina para lá de azeitada em cima dos palcos cariocas.

JP, o gogó feroz dos excelentes cariocas


Destilando um Metal Moderno que não fica a dever em nada à muitos expoentes gringos do gênero, logo os rapazes conquistam o público, com as boas músicas de seus dois trabalhos amplificadas por um primor técnico e muito carisma. Quando me perguntam sobre renovação na cena brasuca, nem penso muito, um dos primeiros nomes que me vem à mente é o da Reckoning Hour: uma bandaça que merece alçar voos cada vez maiores. (NOTA:8)

Lucas Brum, um dos guitarristas da Reckoning Hour



Pain Of Salvation

Quando se fala em Prog Metal, muita gente (esse escriba inclusive) logo relaciona o rótulo à músicas frias e sem alma executadas por robozinhos assexuados travestidos de músicos. Tudo o que o Rock não precisa. Mas esse estereótipo passa longe da obra e dos shows do POS. Aqui emoção e feeling ficam em primeiro plano, a despeito do cuidado com detalhes técnicos. Full Throttle Tribe abre magistralmente o set, e chega a impressionar a desenvoltura da banda em eu primeiro show desde janeiro desse ano.

Daniel e Flea

Daniel, o dono da bola, descalço e vestindo uma roupa que você não usaria nem para ajudar seu avô a pintar a sala, arranca suspiros da mulherada a cada intervalo de música, e sua felicidade por estar de volta à ativa é contagiante. E a confiança no novo disco é tamanha que o set seguiu com Reasons (que acho péssima, mas o público cantou palavra por palavra) e a belíssima Meaningless. A recepção? Cada vírgula das novas músicas era bebida pela plateia, que se não lotou o Teatro Rival, fez compensar os lugares vazios com invejável devoção. E essa energia circulava, com a banda, em chamas, catapultando em nossas faces o momento mais rocker da noite, com a setentista (e excelente) Linoleum.

Daniel Mendigato Gildenlöw


Daniel, o mendigato, pode não ser o fenômeno vocal que alguns dos discos da banda apregoam, mas está tão bem assessorado vocalmente por todos os membros do POS que pouco isso afeta o resultado final - quase tudo o que se ouve das complexas linhas melódicas em estúdio é reproduzido ao vivo. Hallgren, recentemente reintegrado ao bando, é quase tão ovacionado quanto o patrão. Pudera, o irmão gêmeo do Flea toca e agita muito, além de ser um dos destaques vocais. Aliás, todos os membros dessa formação tocam eximiamente bem, mas com muita pegada e clara vontade expressa nos rostos. E até os erros eram recebidos com sorrisos por todos, seja no palco, seja na plateia. Fica fácil se divertir quando a banda mostra tamanho carinho pelo que faz.

Johan compenetrado

O repertório buscou representar quase toda a carreira dos suecos, mesmo com a preferência pelo novo disco. Ashes e Rope Ends arrancaram lágrimas de muitos e o set inicial terminou com a Excelente On A Tuesday, com impressionante contribuição vocal do exímio baterista Leo Margarit. Se eu não tivesse visto com meus próprios olhos, juraria que a voz do cara sai de dentro de uma estonteante loura escandinava. Um falsete e tanto! O bis se deu com a faixa título do novo trabalho, aparentemente já elevada a clássico pelos fãs. Doze músicas e 100 minutos depois, com muitos sorrisos e uma energia palpável no ar, a banda se despede. E pela reação do público, podem retornar ano após ano sem medo. Um grande show. (NOTA:9)