terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Zodiac – A Bit Of Devil (CD – 2012)




Retro Rock com Blues e ...Chucrute?

Com um nome absolutamente nada original (tente buscar por Zodiac Band no google e acharás grupos de todos os estilos, países, raças e crenças), o Zodiac nasceu em 2010, de jams realizadas entre músicos amigos de diversas bandas teutônicas.


Sem muito alarde gravou um EP homônimo em 2011, que chamou a atenção de jornalistas de veículos como a Classic Rock Magazine e Rock Hard. As críticas surpreendentemente positivas encorajaram os músicos a seguir em frente e gravar um disco completo, dando origem a esse A Bit Of Devil.

Zodiac - EP de 2011
Stoner My Ass!

A faixa título (ver vídeo) pode enganar o mais desavisado e apressado e colocar o Zodiac nesse balaio de gato de bandas genéricas que geralmente atende pelo rótulo Stoner. Não seria muito injusto, apesar de boa, soa algo genérica como acontece a muitas bandas da atualidade que tentam emular a sonoridade setentista. A produção longe do fuzz e sujeirada pasteurizados que contaminam boa parte dos discos do stoner atual dá a pista que estamos diante de algo diferente.


Carnival começa com um baixo gorduroso (cortesia do bom Ruben Claro, que também cuida do órgão) ditando o ritmo e guitarras dobradas que lembram os melhores exemplares da música de outrora. O vocal roufenho de Nick Van Delft demora um pouco a chamar a atenção, mas assim que dá o clique, contagia e casa perfeitamente com o som. Mas a mágica da banda reside na outra função de Nick, seu timbre e pegada na guitarra solo seriam suficientes para fazer a audição dessa bolachinha valer a pena, e isso pode ser sentido em doses menores já no bonito solo de Carnival.

Zodiac
E é na terceira faixa que o disco decola para além da estratosfera. Nick e sua trupe simplesmente conseguem algo raro no mundo do rock e executam uma versão para Blue Jean Blues, do ZZ Top, que não só rivaliza com a original, como a deixa a comer poeira. Nick simplesmente destrói a guitarra e canta com tanta poeira na voz que você pagaria uma dose de Bourbon para o cara se pudesse. Fica claro então que a banda está muito mais para o retro rock recheado de Blues de bandas como o Rival Sons, Witchcraft, The Answer e Graveyard que coisas como o superfaturado The Sword, por exemplo.


A maquinaria de riffs contagiantes da dupla de guitarristas Nick Van Delft e Stephan Gall continuada afiada em músicas bacanas como Horrorvision e Diamond Shoes, mas mostra que sabe também visitar o Southern Rock com maestria em belezuras como Assembly Line (que me lembrou o ótimo Pride & Glory) e na magistral, empoeirada e semiacústica Thunder, um dos destaques aqui (ver vídeo).


A cereja do bolo ainda estava por vir: a fantasmagórica e soturna Coming Home (ver vídeo) é uma daquelas faixas que por si só valeriam o investimento no disco. Saída diretamente de algum vinil mofado dos anos 1970, além de muito bem construída (e de contar com um belo trabalho de bateria de Janosch Rathmer), essa faixa mostra um trabalho de guitarra impressionantemente forte, com um feeling que evoca gente como Rory Gallagher e Gary Moore de seus túmulos. Seria um excelente encerramento, mas ainda somos apresentados à boa instrumental Dying Done, que não consta no repertório oficial impresso à contracapa.


Saldo Final

A Bit Of devil é um ótimo cartão de visitas dessa promissora banda, que se sai melhor nos momentos mais bluesy que nos mais diretos e roqueiros. Certamente ficarei atento aos futuros lançamentos do Zodiac e em qualquer coisa que contenha as guitarras de Nick Van Delft.


NOTA: 8,5


Ficha Técnica

Banda (nacionalidade): Zodiac (Ale)

Mídia: CD

Faixas: 9

Duração: 48’

Lançamento: Honest Hound Records (importado)


Rotule Como: Blues Rock, Retro rock, Heavy Rock, Stoner (vá lá...)

Indicado para: Fãs de rock setentista e do retro rock atual

Evitar se: não for lá muito fã de ondas nostálgicas...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Nightwish – Circo Voador/RJ (10.12.12)

Cartaz do Show, ainda com Anette

Pernas (e gogó) para que te quero!

Prólogo – Not My Cup Of Tea

Vamos ser honestos: Nightwish nunca fez exatamente meu tipo de som.


Descobri a banda através de um amigo, que me emprestou entusiasmado o recém lançado Oceanborn, em 1998. Achei tudo muito chato, típico metal melódico, em voga na época, com um agravante: vocais líricos femininos. O que era o diferencial da banda, diga-se de passagem. Tenho uma aversão por vocais líricos. Risquei a banda do meu mapa.


Nightwish em seus primórdios

Curiosamente o acaso me levou de volta à banda. Em 2000, assinei uma revista especializada em metal e meu brinde foi um ingresso para a apresentação do Nightwish na Via Funchal, em São Paulo. À época boa parte da minha família residia na capital paulista e o ingresso serviu de uma bela desculpa para uma visita familiar (e outra à galeria do Rock, meu Valhalla).

Era a turnê de promoção de Wishmaster e o que presenciei foi desanimador: uma banda muito fraca ao vivo, tanto musicalmente quanto em termos de postura. Mas capitaneada por uma vocalista com um poderio sobre o público e sobre a própria voz dignos de nota: Tarja Turunen, depois fiquei sabendo, estava com uma bruta febre naquela noite, mas carregou a banda nas costas, hipnotizando a todos com seus trejeitos e poderosa voz. Não foi o suficiente para me transformar em um fã, mas certamente a caruda finlandesa ganhou meu respeito. A banda, essa definitivamente não impressionou ninguém.


Tarja (leia-se Tária) - a caruda entende do riscado

Bom, tudo evolui, e assim aconteceu com o Nightwish. Veio Once (2004), e com ele a apresentação em estúdio do veteraníssimo Marco Hietala, vocalista e baixista do lendário Tarot, grupo de heavy Tradicional oitentista considerado um dos baluartes do estilo na Finlândia. Marco compensou a falta de talento e carisma do restante da banda, ajudando Tarja a segurar o peso ao vivo. Once se tornou um sucesso comercial, muito por conta da superexposição da bacana Nemo e da pesadinha Wish I Had an Angel, que justamente mostrava o poderio da dupla vocal do Nightwish.


Marco Hietala - trazendo metal e barba maneira ao Nightwish

Eis que no auge da fama uma briga feia entre o patrão, careteiro e suposto aprendiz de ditador Tuomas Holopainen e Tarja Turunen terminou em uma catástrofe comercial, a cantora deixava o grupo. Substituindo a diva por Anette Olzon, possuidora um estilo de canto muito mais próximo ao popular, a banda lançou seu mais pesado e maduro disco, Dark Passion Play (2007). A receptividade foi um tanto dividida, a bolacha foi aclamada pela crítica, mas a banda parece não ter tido a mesma sorte perante os fãs, talvez pela falta de carisma de Anette. Veio então Imaginaerum (2011), outro bom disco, que novamente dividiu opiniões. Datas da turnê de Imaginaerum já estavam marcadas para a América do Sul, quando todos foram pegos de surpresa: Anette Olzon abandonara a banda. Para alegria de muitos, Floor Jansen, a grandona holandesa que tornara-se famosa com o After Forever, era anunciada como a substituta temporária de Anette.

Anette e o então querido patrão
Torcendo fortemente por um set baseado nos últimos dois discos e curioso com a adição de uma vocalista consideravelmente mais metalizada que as anteriores rumei para o Circo Voador em uma infernalmente quente noite de segunda feira para conferir o novo Nightwish.

Floor Jansen
Marco, Floor, samplers e o convidado

Com meia hora de atraso o som mecânico do Circo Voador cuspiu o que pareceu uma interminável introdução enquanto todos aguardavam ansiosos a entrada triunfal da banda em um palco bonito, repleto de painéis com imagens referentes à arte conceitual do novo disco. Normal, portanto, que a primeira música apresentada tenha sido a faixa de trabalho deste, a ótima Storytime, que ficou ainda melhor na voz de uma espetacular Floor Jansen, que então hipnotizara de imediato tanto marmanjos quanto marmanjas com sua presença de palco e suas coxas torneadas pessimamente escondidas em uma micro saia.

Mãos ao alto!
Dark Chest of Wonders seguiu quase de imediato, como que para saudar as viúvas de Tarja. O público foi ganho de vez com o hit Wish I Had an Angel, na qual a dupla Marco e Floor mostraram poderio vocal e entrosamento. Scaretale veio evidenciar o que qualquer um com um pouco mais de senso crítico já havia percebido: boa parte do som da banda fica na dependência de bases pré-gravadas. Emppu Vuorinen e até mesmo o suposto gênio Tuomas Holopainen executam partes absolutamente banais em seus instrumentos, enquanto Floor, Marco e o baterista Jukka Nevalainen se digladiam tocando de verdade perante uma avalanche de samplers que simulam orquestras e outros trocentos instrumentos.

O britânico Troy Donockley veio então se juntar aos músicos de verdade da banda na execução de I Want My Tears Back. Depois de outra faixa do novo trabalho, a banda apresenta seu hit maior, Nemo. A platéia está esfuziante, e mesmo com o calor intenso os 2.000 headbangers presentes fizeram bonito e não deixaram de cantar e pular um só instante, o que impressionou claramente a todos na banda. Troy retorna ao palco para dar um show particular na instrumental The Last Of The Wilds, e foi inevitável sentir uma certa vergonha alheia por conta da inaptidão do pequenino e simpático Emppu. Talvez seja ele o guitarrista menos talentoso que já vi em uma banda de renome, o cara beira o tosco, o que ficou mais evidente no embate com o músico convidado.

E Tuomas, bem...ok, o cara é algo como um sex-symbol para as meninas e compõe bem. Mas ao vivo fica resignado a tocar meia dúzia das notas em seu teclado (mesmo boa parte dos teclados são pré-gravados) e a fazer caras e bocas e bebericar uma garrafa de vinho. Sua figura à lá Jack Sparrow definitivamente não faria muita falta caso optassem por incluir suas poucas partes no batalhão se samplers.
Floor e seus súditos
Wishmaster e Ever Dream agitaram o público, mostrando que Floor se sai bem tanto no material da fase Tarja quanto no material da fase Anette. Logo depois começou uma levada de bateria que eu reconheceria até debaixo da terra: Over The Hills And Far Away, do saudoso Gary Moore foi apresentada com o bônus da presença de Troy, o que diminiu a raiva em ver o bisonho Emppu e sua imperícia perante a obra de um dos maiores guitarristas em todos os tempos. Uma boa versão com Marco dando uma bela ajuda a Floor no refrão.
Emppu fracasso, Marco Hietala e Floor Jansen
A banda teve um certo problema com a escolha de repertório ao final do show, já que Ghost Love Score e Song Of Myself derrubaram consideravelmente a empolgação do público. Last Ride Of The Day corrigiu o problema, até que a mesma se encerrou e então o púbico percebeu pelos intensos agradecimentos da banda que esta havia sido a última música da noite.

Nightwish e seu convidado
Saldo Final

O Nightwish evoluiu em estúdio, mas ao vivo ainda depende da força de Marco Hietala e de alguma vocalista com carisma suficiente para obscurecer as limitações do restante da trupe – no caso, a ótima Floor.  Que bom que os dois, em conjunto com o convidado Troy tenham talento de sobra. Mas apesar disso, há de se ressaltar que Tuomas compôs nesses anos (em especial de Once para cá) algumas músicas realmente marcantes e a qualidade delas comandou a noite.

Sobre a troca de vocalistas, a escolha de Floor Jansen foi para lá de brilhante, a holandesa tem luz própria, uma bela e potente voz e se encaixa perfeitamente em qualquer fase do material da banda. Torcemos para que seja efetivada.

No geral, um show intenso e bem produzido, e duvido que muitos tenham saído do Circo Voador decepcionados com o que viram.

SETLIST:

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Re-Machined – A Tribute to Deep Purple’s Machine Head (CD - 2012)



They All Came Out To Montreux

Uma Justa Homenagem


O mais virtuoso dos grupos que compõe a Santa Trindade Britânica dos primórdios do Metal (completam a lista o Led Zeppelin e o Black Sabbath), o Deep Purple conta com um punhado de discos clássicos em sua extensa discografia, talhada ao longo de quatro décadas quase ininterruptas de existência. Por isso mesmo, uma eventual discussão sobre o melhor disco do Purple pode render horas de acalorados papos de bar. Na minha opinião a escolha parelha seria entre Burn (1974) e In Rock(1970). Mas se existem dúvidas sobre qual seria o melhor disco da banda, poucos ousariam discordar qual foi o disco de estúdio mais importante para a carreira da banda. Esse disco foi Machine Head, que em 1972 apresentou ao mundo dois dos maiores hinos da história do rock, Highway Star e Smoke On The Water, que contém o provável riff de guitarra mais conhecido do mundo em todos os tempos.


Deep Purple - MK II (1972)

Produzido por Martin Birch, Machine Head representaria o disco mais maduro da banda até então, encontrando um meio termo entre a fúria de In Rock e a musicalidade de Fireball. Smoke On The Water se tornaria a maior marca da banda, ainda que Machine Head só tenha se tornado um sucesso absoluto de vendas por conta da versão ao vivo desta música inclusa no seminal Made In Japan, registro considerado por muitos um marco dos shows de rock.

O Icônico Machine Head
Em comemoração aos 40 anos do disco, a excelente Classic Rock Magazine preparou um baita pacote, uma edição especial contando com matérias sobre a gravação do disco, entrevistas com membros do Purple (inclusive a última entrevista com Jon Lord antes de seu falecimento), além de entrevistas com artistas famosos influenciados pela banda (Lars Ulrich, Satriani, Bruce Dickinson, Joe Elliot...). A cereja do bolo atende pelo nome de Re-Machined, um disco tributo inicialmente encartado com a revista (e que atualmente já pode ser adquirido separadamente) contando com um plantel de respeito reinterpretando as músicas desse clássico do rock, cada qual à sua maneira.

O Apetitoso Pacote da Classic Rock
Re-Machined Passo a passo

Além das músicas de Machine Head executadas em sua ordem original, o tributo traz algumas “faixas-bônus”, sob a forma de versões alternativas para duas músicas (Smoke on The Water e Highway Star) e uma releitura para o B-side When A Blind Man Cries, clássica música gravada nas sessões originais na Suíça, mas deixada de fora da versão final do disco por mais um capricho do genioso maluquete Ricthie Blackmore.

Curiosamente Re-Machined começa justo com uma das “faixas-bônus”, uma releitura bastante inspirada para Smoke On The Water, sob a batuta de Santana (originalmente gravada para o disco de covers Guitar Heaven, do próprio Mexicano). Tremei, puristas, Santana coloca sua marca latina em um dos mais famosos estandartes do Hard/Heavy e o fez com a ajuda de Jacoby Shaddix, do (ugh) Papa Roach, na voz. Nada a reclamar aqui, a dupla nos entregou uma releitura muito boa, que consegue mostrar personalidade e ao mesmo tempo uma boa dose de respeito à original.

A versão de Smoke On The Water de Santana apareceu originalmente nesse disco

O repertório original tem então início com uma versão ao vivo de Highway Star executada com muita garra e classe pelo supergrupo com nome mais idiota do mundo, o Chickenfoot. Todos demonstram ótima performance, valendo destacar dois pontos: Sammy Hagar, aos 65 anos, tem um gogó para lá de privilegiado e é uma pena que Satriani não tenha sido efetivado no Purple em 94, pois fica claro e evidente que ele teria levado a banda a um patamar muito mais interessante que aquele mala do Steve Morse.

O Pé-de Galinha, ê nome horroroso

A Funky e pouco lembrada pérola Maybe I’m A Leo não poderia ter ficado em melhores mãos, com Glenn Hughes cantando e tocando magistralmente, ancorado pelo ótimo Chad Smith (Chickenfoot, Red Hot Chilli Peppers) na bateria e por Luis Maldonado (que já atuou como dublê de um fugido Michael Schenker em discos do UFO) na guitarra.

Hughes e Chad - Espero que tenham demitido a personal stylist




Zakk Wylde surpreende ao se recusar a executar uma óbvia releitura meramente porrada e suja para Pictures Of Home (minha favorita do Machine Head), música com maior potencial metálico do disco original. Ao invés de sentar a pua, Zakk levou seu Black Label Society a uma execução muito mais próxima do estilo Southern Metal praticado no Pride And Glory. Uma bela bola dentro.

O bando do velho Zakk

Bem, nem tudo são flores. Kings Of Chaos, supergrupo montado especialmente para o tributo e que conta com Joe Elliot (voz, Def Leppard), Steve Stevens (Guitarra - Billy Idol), Duff McKagan (baixo - Guns And Roses) e Matt Sorum (The Cult, Guns And Roses), simplesmente não consegue transformar a já não tão boa Never Before (disparada a menos legal de Machine Head) em algo além de burocrático.

Kings Of Chaos - Supergrupo superchato

Mas “burocrático” seria um mega elogio para o Flaming Lips, que assassinou de maneira covarde e brutal Smoke On The Water. Realmente não consigo acreditar que a banda tenha tido algum intuito aqui além de soar absolutamente irritante. Uma das piores releituras que uma boa música já recebeu na história do rock.

Flaming Shits, ops, Lips

Por sorte logo em seguida temos o artista do momento, Joe Bonamassa, capitaneando com maestria Lazy, contando com a ajuda das privilegiadas cordas vocais de Jimmy Barnes (Cold Chisel). Barnes, a quem só conheci tardiamente, mais exatamente no último disco de Bonamassa, Driving Towards The Daylight, é um monstro e em conjunto com o belo trabalho do guitarrista americano transforma Lazy na provável melhor releitura desse disco.

Bonamassa (primeiro à direita), sua banda e Jimmy Barnes (à frente, de vermelho xadrez)

Bruce Dickinson já declarou algumas vezes seu apreço por Ian Gillan, e aqui tem sua chance de prestar homenagem a seu ídolo. Uma pena que a chance foi desperdiçada, pois o Iron Maiden não consegue emplacar sua Space Truckin’, que soa emperrada e prá lá de burocrática, com uma performance especialmente desinspirada do próprio Bruce. Bruce Dickinson que, diga-se de passagem, não canta realmente bem em estúdio com o Iron desde Brave New World. Como o vocalista vive desancando em entrevistas o produtor Kevin Shirley, adotado pelo resto da banda desde o já citado disco de retorno, começo a achar que Bruce não se esforça mais em estúdio por pura pirraça, mesmo.

A donzela podia ter acertado como na versão para Massacre  do Thin Lizzy, não?

Outro grande fã declarado de Deep Purple, Lars Ulrich chegou a oferecer uma montanha de dinheiro para reunir o MK III do Purple, se oferecendo inclusive para assumir a bateria caso Ian Paice não quisesse se indispor com seus companheiros do Purple atual. Aqui ele tem a chance de homenagear a MK II, surpreendentemente escolhendo o B-Side When A Blind Man Cries. A escolha pode ser considerada surpreendente por se tratar de uma balada na qual o grande destaque fica por conta da interpretação vocal belíssima de Gillan. James Hetfield, reconhecidamente um vocalista prá lá de limitado, poderia passar vergonha aqui. Mas não é o que acontece, o Metallica se sai muito bem, obrigado, mesmo com James se esforçando tanto que de início fica até difícil reconhecer sua voz.

É, James, que sufoco!

A última faixa, uma segunda versão de Highway Star, conta com um line-up de peso: Steve Vai, Glenn Hughes, Chad Smith e Lachlan Doley (que toca com Jimmy Barnes). Entretanto, nem Hughes nem Vai acertam o tom aqui, fazendo uma releitura que se não compromete, também não chega a lugar nenhum.



Saldo Final

Como tradicionalmente acontece em tributos do gênero, Re-Machined é marcado por altos e baixos. Fortuitamente, com a exceção ao bolo fecal expurgado pelo Flaming Lips, temos aqui um disco de audição bastante agradável, que merece uma chance pela qualidade musical e não somente pela curiosidade em torno dos grandes nomes envolvidos.


NOTA – 7,5


Ficha Técnica

Título (ano de lançamento): Re-Machined – A Tribute to Deep Purple’s Machine Head (2012)

Mídia: CD

Gravadora: Eagle (Importado)

Faixas: 10

Duração: CD – 52’

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Black Label Society – Vivo Rio/RJ (24.11.12)



Pelas Barbas do Profeta!
Texto: Trevas
Fotos do Show por David de Oliveira

Prólogo – Zakk, ontem e hoje

Numa chuvosa tarde de sábado me encaminhei ao Vivo Rio para corrigir uma de minhas mais evidentes falhas curriculares, assistir a um dos maiores guitarristas de Hard/ Heavy em todos os tempos ao vivo.  

Jeffery Phillip Wiedlandt, gerado em 1967, de fato nasceu para o mundo em 1987, quando já com o nome artístico Zakk Wylde, substituiu Jake E. Lee na banda do Madman Ozzy Osbourne. O então magro e alto rapaz loiro cravou ali o início de uma duradoura parceria com o comedor de morcegos, tendo sido responsável pelo seu maior sucesso comercial, o disco No More Tears.


Zakk antes de comer espinafre e jogas as giletes fora, em 88

Compositor prolífico, Zakk ocupou seu tempo livre entre os espaçados discos com Ozzy e respectivas turnês inicialmente com o Pride And Glory, projeto de Southern Metal que daria origem ao mais pesado e sujo Black Label Society. Entretanto, com o crescimento desse projeto e aumento exponencial da fama do guitarrista, sucesso esse ancorado em uma mistura de talento, carisma e imagem forte, muitos começaram a perceber o óbvio: havia muito pouco de Ozzy nas músicas de Ozzy (sempre foi assim, ora bolas). Some-se a isso o fato de muitos moleques que pouco ou nada sabem (ou não se interessam em saber) da importância histórica de Ozzy para o metal irem aos shows mais para ver Zakk em ação e tivemos então a escolha óbvia – Zakk é convidado a se retirar da banda.

Muitas barbas e músculos depois
Quanto à minha falha curricular, já havia assistido ao Ozzy por duas vezes. Mas na primeira, em 1995, Joe Holmes (que tocara com Dave Lee Roth) assumira as cordas no lugar do já prodigioso e ainda nada anabolizado pupilo e na vez mais recente (esse ano) Gus G, outro prodígio, se adonara do mesmo posto. Dessa vez, tão logo soube da apresentação no Rio de Janeiro, me apressei em garantir meu ingresso.

Darwin projetando a evolução de Zakk?
Tamuya Thrash Tribe

Como de costume, o ingresso e material de divulgação do evento não traziam maiores informações sobre os horários das atrações da noite, o que fez com que eu perdesse parte do set da promissora banda de Thrash/Death Tamuya Thrash Tribe. Esbanjando profissionalismo e apresentando um punhado de boas músicas, a banda foi muito bem recebida pelo público, que até então não enchia metade da casa. E a julgar a qualidade e potência do som dos caras, aparentemente foi permitido à banda a utilização quase completa do som da casa (eu acho, não estou certo). Cabe ressaltar que havia um estande vendendo material da banda no saguão do Vivo Rio e ao final da noite não foi incomum esbarrar com pessoas já ornadas com camisas do TTT. Tomara que a banda vingue, qualidade para isso os caras tem.

TTT - Futuro promissor
Berserkers Movidos à Cerveja Sem álcool

O que vimos em seguida foi uma rápida ação militar dos roadies do BLS para restabelecer a organização do palco para a atração principal. Próximo de 22:30h o som mecânico da casa é tomado por uma portentosa introdução (2001 – Uma Odisséia no Espaço), seguida de sons de sirene. Os integrantes da banda tomam seus postos e então seu hirsuto líder inicia os trabalhos com o ótimo riff de Godspeed Hellbound, seguida de Destruction Overdrive (ver essas duas no vídeo abaixo) e Bored To Tears. Há algo de errado. O som está absurdamente embolado, a voz de Zakk totalmente sem definição, sendo quase impossível distinguir as frases. E pior, a guitarra do grandalhão aparece com volume lá em baixo, sendo encoberta em diversos momentos pelo ótimo e fiel escudeiro Nick Catanese.


E apesar de toda a pancadaria sonora, havia algo a mais no ar (ou a menos), um Zakk inicialmente menos comunicativo que o normal parecia refletir o estado de espírito da equipe da banda, que segundo relatos não confirmados, estaria com os nervos à flor da pele por conta dos problemas que levaram ao cancelamento do show de Fortaleza e adiamento de outra data em Porto Alegre.

Menos mau que o bom John DeServio (baixo) e o sempre eficaz Nick tenham simpatia e carisma suficientes para driblar a postura algo apática do patrão, interagindo com o público com gestos, olhares e sorrisos, enquanto Zakk repetia o rito termina a música, vira as costas e começa a próxima.

BLS detonando
Muita gente reclamou do set escolhido para a turnê atual, mas achei a seleção válida, exceção feita à próxima da noite, Berserkers, que considero uma das mais fracas da banda. Zakk começou a se soltar um pouco somente no hit Bleed For Me, incitando à platéia a soltar o gogó com socos desferidos no ar. A partir desse gesto o show começou a engrenar de vez. The Rose Petalled Garden poderia ser considerada uma grata surpresa, se hoje em dia não fosse tão fácil apagar surpresas consultando a internet antes de um show. Zakk senta frente a um teclado para executar uma pequena peça que logo se torna a bela In This River, em uma rendição não muito feliz devido à combalida voz do gigante. Mas há de ressaltar o espaço dado a Nick, que assume as guitarras por completo durante esse número, e a homenagem à Dimebag Darrel, através de duas imagens do falecido guitarrista do Pantera estendidas sobre as paredes de amps.

Enquanto Madonna e Lady gaga trocam de figurinos durante o show...
...Zakk troca de guitarras, cada uma mais animal que a outra...
Forever Down faz a banda retomar o peso, seguida de um acapachante momento solo de Zakk, onde ele mostra com imensa facilidade que pode colocar quase todos os guitarristas que um dia ousaram tocar heavy metal no bolso de uma de suas jaquetas de motociclista. Não bastasse parecer o rebento da improvável união carnal de um Viking com um urso Grizzly, Zakk tem uma sonoridade e pegada únicos, unindo uma brutalidade impressionante com uma técnica para lá de surreal. Sei que muita gente torce o nariz para a música do BLS, mas é inegável o talento de seu mentor.

E por falar em imagem, não dá para deixar de notar a qualidade da iluminação do show e do cuidado com o visual, com o casamento do backdrop interessante, a parede de amps e até mesmo o indefectível pedestal de microfone utilizado pelo líder da banda. Até mesmo o gesto de Zakk brindando aos céus e bebendo sua cerveja está lá, ainda que saibamos que ele não pode mais beber e que a cerveja cenográfica em questão não passa de uma hedionda Schin sem álcool (reza a lenda que o camarim estava forrado desse treco). Quisera que o esmero com o som tivesse sido semelhante, pois apesar de uma considerável melhora, a guitarra de Zakk chegou até o final da apresentação em volume abaixo do ideal.

Mais uma do harém do homem urso
Compensando o ritmo algo titubeante da primeira metade da apresentação, a partir da boa Parade Of The Dead o que vimos foi um arregaço sonoro atrás do outro: Overlord, Blessed Hellride, Suicide Messiah e as já clássicas Concret jungle (única coisa que presta no pavoroso Shot To Hell) e Stillborn, tocadas sem parar e com Zakk novamente empolgado, quase fizeram o público esquecer a ausência de Fire It Up e do já costumeiro não retorno da banda para a apresentação de um bis.

Saldo Final

Zakk Wylde é uma lenda, está cercado de bons músicos e possui em seu catálogo um punhado de grandes hinos metálicos (isso ainda abrindo mão de material valioso gravado com Ozzy, Pride And Glory e carreira solo). Uma pena que o show demorou um pouco a engrenar e que o som nunca ficou realmente bom durante todo o set.

De qualquer maneira, é um espetáculo bastante indicado aos amantes de grandes riffs e solos e assistir a um dos grandes guitarristas em todos os tempos deveria ser matéria obrigatória em qualquer escola do rock que se preze.




SETLIST:

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Gary Moore- Blues For Jimi (Blu-Ray - 2012)



Cara de Morcego Fazendo Justiça

E no Relançamento do Live At Monterey...



Foi com imensa surpresa e curiosidade que recebi a notícia do lançamento de um show do finado e monstruoso guitarrista irlandês Gary Moore com um set voltado única e exclusivamente ao repertório de outro finado monstro da guitarra, para muitos o maior de todos – Jimi Hendrix.


Gary Moore sabia tratar muito bem suas guitarras

O tal show aconteceu em 2007, na cerimônia de lançamento da reedição em vídeo do show Live At Monterey, um clássico da videografia Hendrixiana, que então completava quarenta anos de seu lançamento original.

Uma Celebração Ao Legado de Hendrix

Surpresos também ficaram os presentes na cerimônia, que nada sabiam do show, até que um dos espectadores do festival de Monterey (e o último jornalista a entrevistar Hendrix), Keith Altham, anunciou Gary Moore como sendo um artista que Jimi aprovaria para a empreitada.

E precisou apenas a seqüência quase ininterrupta de Purple Haze, Manic Depression e Foxey Lady para a platéia coroar com aplausos acalorados essa afirmação de Keith. Poucos guitarristas fizeram tanta justiça ao material de Hendrix quanto Gary-cara-de-morcego-Moore. Sua banda, um azeitado Power trio contando com Darrin Mooney na bateria (Primal Scream, que já acompanhara Gary em Scars e outros álbuns) e Dave Bronze no baixo (Eric Clapton, entre outros) também faz um trabalho brilhante, com uma pegada fortíssima. O ataque continua com The Wind Cries Mary, I Don’t Live Today, My Angel, Angel e Fire, todas instrumentalmente irretocáveis, cabendo apenas ressaltar que vocalmente falando Gary já havia vivido seus melhores dias, sem que isso tenha comprometido nem um pouco a performance. E é interessante notar Gary totalmente à vontade fazendo um show empunhando exclusivamente guitarras Fender, não me lembro de ter visto isso em nenhum outro show dele.



E se estava tudo muito bom, então somos apresentados à cereja do bolo - são anunciadas duas participações especiais: Billy Cox, que tocara na Band Of Gipsys com Hendrix, na voz e baixo; e, mais surpreendente ainda, o estupendo Mitch Mitchell, baterista original do The Jimi Hendrix Experience!

Cox mostra que está com a voz em dia na rendição matadora para Red House, e Mitchell segura muito bem a bateria em Stone Free. Com essa formação ainda seria apresentada a versão de Hey Joe imortalizada por Hendrix.


Os velhinhos se despedem, com Mitchell enchendo merecidamente a bola de Gary Moore, e então a banda do irlandês ainda destrói (no bom sentido) Voodoo Child (Slight Return), totalizando pouco mais de uma hora e dez de uma apresentação que deve ter arrepiado os cabelos dos braços dos poucos sortudos presentes.


Saldo Final

Uma excelente apresentação, ainda que algo curta. Mas não posso deixar passar alguns “senões”. Embora o som seja perfeito, o vídeo é apenas correto, com poucas câmeras e iluminação burocrática, sem contar com nenhum artifício na produção do show.

E se esse detalhe não traz grande prejuízo ao resultado final, talvez o mais grave fique por conta da ausência de qualquer extra no pacote, algo imperdoável quando consideramos a capacidade de estocagem que o Blu-ray apresenta.

No mais, uma grande oportunidade para conferir músicas imortais de Hendrix em versões que fazem plena justiça às originais, nas mãos de outro dos grandes mestres que nos deixou antes da hora.



NOTA – 8,5


p.s.: Blues For Jimi também foi lançado em DVD e CD, com mesmo conteúdo.

Ficha Técnica
Banda (Nacionalidade): Gary Moore (IRL)

Título (ano de lançamento): Blues For Jimi (2012)

Mídia: Blu-Ray

Gravadora: Eagle Vision (Importado)

Faixas: 12

Duração: CD – 74’


Rotule como: Blues Rock, Heavy Rock

Indicado para: fãs de Hendrix e Gary Moore

Passe longe se: for maluco