sábado, 23 de dezembro de 2017

Iron Maiden - The Book Of Souls: Live Chapter (2Cds – 2017)

The Book Of Souls : Live Chapter
E A Donzela Vive
Por Trevas

Se na época áurea da indústria fonográfica os discos ao vivo já eram considerados uma espécie de patinho feio, o que dizer hoje em dia, num cenário onde nem mais os discos de estúdio vendem e onde a profusão de imagens amadoras e profissionais dos shows pululam quase em tempo real no youtube, minando qualquer magia de “ver e ouvir” sua banda favorita ao vivo? Pois é. E o cenário realmente mudou muito. Nas últimas duas décadas os discos ao vivo foram colocados de lado em detrimento dos home vídeos, aproveitando que os DVDs vendiam bem, mas o Youtube destruiu por completo esse mercado, o que explica a estratégia de lançamento de The Book Of Souls: Live Chapter, o enésimo disco ao vivo da Donzela – streaming ao vivo da contraparte visual do disco, com a parte em áudio lançada em Cd duplo (aqui analisado) e vinil triplo.

Os dois formatos lançados para os Cds

Mas o que um lançamento desse tipo vindo do Iron Maiden ainda pode nos oferecer? Que o Iron é uma força poderosa em cima dos palcos, até os detratores da banda tem que admitir. E a fórmula quase sempre é a mesma: muitas músicas do novo lançamento de estúdio entremeadas pelos clássicos de sempre e uma ou duas mexidas do baú da banda. Talvez o grande trunfo do novo lançamento seja justamente a qualidade do disco em promoção nessa turnê, The Book Of Souls é, de longe, a melhor coisa que a banda colocou no mercado desde os anos 1980. Mas será que seu material, mais denso e sombrio que o habitual, funcionou no ambiente ao vivo? Veremos.

Disco 1:

O formato escolhido segue a ideia que a banda executou outras vezes, de pinçar músicas de apresentações diferentes ao redor do globo. E o primeiro disco é, de longe, o maior atrativo no pacote. O início apoteótico com a matadora If Eternity Should Fail (pensada como música solo por Bruce e adotada pela banda para o novo trabalho) já sana de vez uma dúvida: como estaria a voz do baixinho após o câncer? Perfeita, obrigado. Mr. Dickinson está soando melhor nessa turnê do que nas três anteriores. Speed Of Light é divertida, e as antigas começam a aparecer no repertório. Wrathchild está ok, mas a versão matadora de Children Of The Damned é quem brilha.



Death Or Glory é um petardo e funciona muito melhor ao vivo, com ótima pegada do vovô Nicko, assim como a épica The Red And The Black, com passagem instrumental excelente, de longe a melhor música de Harris desde a hoje clássica Sign Of The Cross.


E nas surradas (mas sempre bem-vindas) The Trooper e Powerslave, pode ser notado que enfim a fórmula com três guitarras vem sendo aproveitada em sua plenitude, os arranjos estão diferentes e Adrian, Janick e Dave, muito mais soltos. E Tony Newton acertou a mão na mixagem, cheia de punch e permitindo ouvir cada um dos guitarristas com perfeição.


Disco 2:

O segundo disco começa com excelentes versões para The Great Unknown e Book Of Souls, comprovando novamente a força do disco mais recente. E comprovando também que definitivamente Kevin Shirley não acerta a mão em estúdio com a banda, as duas músicas, como as outras do mesmo trabalho, soam muito mais poderosas aqui do que nas versões originais.



Daí em diante é aquilo: jogo ganho e mais do mesmo. Ok, eu seria o primeiro a reclamar “porra, vão tocar essa de novo?” quando os primeiros acordes de Fear of The Dark tomassem a arena...mas logo estaria pulando junto à massa cearense de carne saltitante e cantante. A superexposição é um problema sério, mas garanto que 90% das bandas de metal tradicional do planeta matariam para ter uma música como essa em seu repertório. As óbvias e sempre funcionais Iron Maiden (Argentina), The Number of The Beast (Wacken) e o encerramento com Wasted Years (Rio de Janeiro) entremeadas com a chata Blood Brothers. Inexplicável como a banda insiste em uma de suas piores músicas recentes no repertório.



Veredito da Cripta

The Book Of Souls: Live Chapter certamente não irá rivalizar com Live After Death como melhor registro ao vivo do Iron Maiden. Mas é muito bem feito e divertido, capaz de lembrar ao mais cínico dos cínicos que os britânicos sempre serão uma das melhores bandas ao vivo da história do rock pesado. Muito bom.


NOTA: 8,50


Gravadora: Warner Music (nacional).
Pontos positivos: gravação excelente, ótimas performances, músicas novas funcionam muito bem ao vivo
Pontos negativos: a banda podia dar uma remexida mais criativa no material antigo
Para fãs de: Judas Priest, Saxon
Classifique como: Heavy Metal



sábado, 16 de dezembro de 2017

Deep Purple + Cheap Trick + Tesla - Solid Rock festival (Jeunesse Arena - Rio de Janeiro/RJ - 15/12/17)

Solid Rock Festival


Olá, Guardiões da Cripta!
Mais uma participação especialíssima aqui na Cripta para cobrir um evento para lá de esperado! Sim, meu amigo e colega de Metalmorphose, o Rinoceronte Branco André Delacroix, um dos maiores bateristas do Brasil, foi lá conferir a passagem de seu amado Cheap Trick por terreno tupiniquim, nos brindando com um texto para lá de bacana!
Espero que gostem!
Abraço
Trevas 

Sinta a felicidade de nosso enviado especial 
Uma Trinca De Ases!
Texto por delacroix
Fotos de Tesla e Cheap Trick: página oficial das bandas
Foto do Deep Purple: Daniel Croce

Cheap Trick!
Desculpem, mas eu não poderia começar essa resenha do evento de ontem, de outra forma.
Grande fã, trinta e nove anos de espera por um show dos caras por essas bandas… muita anisedade… muita emoção!

Mas, vamos lá…
O Tesla é uma banda da safra Hard Rocker oitentista que nunca foi assim, do primeiro time, mas que tem um trabalho de qualidade, voltado pra um lado mais Blues/Rock a la Aerosmith do que para algo mais “farofesco” (permitam- me o neologismo) a la Poison, Pretty Boy Floyd e similares.

Vieram como azarões, abrindo, com shows curtos (sete músicas, no Rio, oito) por serem banda de abertura, mas conseguiram, finalmente (tal qual o poderoso Cheap Trick) se apresentar no RJ (dava pra ver na animação dos músicos da banda).

Como não sou conhecedor da obra dos caras e não sei se o set list publicado na internet está correto, vou resumir a apresentação dizendo que os caras realmente são ótimos músicos, as músicas são muito bem feitas, ora empolgantes, ora mais calmas e que todos que chegaram a tempo, com certeza, no mínimo passaram a respeitar o trabalho da banda.

Destaques para o ótimo vocalista Jeff Keith, com muito carisma e uma excelente voz cheia de feeling , que engrandece as composições da banda. De sons mais intensos como a música de abertura “Edison´s Medicine” a baladas, como a mais conhecida “The Way it Is’, os caras mostraram muita qualidade musical O batera Troy Lucketta tem pegada firme e precisa e o guitarrista Frank Hannon faz bonito nos solos.

Um começo de noite muito bom, com ótima qualidade de som (me surpreendi), aquecendo a galera pro que via pela frente.

Tesla passando o som na Jeunesse Arena



Sei que muita gente desdenhou e chegou tarde ou até ignorou as apresentações das duas bandas de abertura, o que é uma grande pena. Perde- se cultura musical e a chance de se evitar ser um fã obtuso de música, limitando seus conhecimentos musicais às mesmas cinco bandas de sempre.
Pronto, falei he he

A banda mais aguardada (por mim), Cheap Trick entrou no palco com a já esperada intro “Hello There”, música que abre praticamente todos os shows, já ditando a pegada do concerto (com exceção de uma ou outra balada). Entraram forte e já mostraram aos descrentes que Cheap Trick é Rock N Roll visceral, sim, e não apenas uma banda de baladas melosas, como passou a ser vista, graças a uma fase realmente mais mansa nos anos 80 (ah, as gravadoras)

“Elo Kiddies” do primeirão veio com peso, mas foi em “Big Eyes” que a casa caiu, mesmo. Peso total e lágrimas deste que vos escreve. Música clássica do petardo ao vivo “At Budokan”, primeiro deles que eu ouvi na vida e que me fisgou de imediato.
Daí em diante o porta-voz da banda e mestre de cerimônias Rick Nielsen e seus comparsas detonaram a ótima Jeunesse Arena com vários petardos da carreira da banda (praticamente focando apenas nos anos 70, quando a banda lançou cinco discos). Algumas inesperadas, como The House is Rockin do excelente “Dream Police”, um rockão lado B; “Lookout” um Rock frenético que foi registrado inicialmente no “At Budokan” ;“Voices” balada agradável e água com açúcar , também do “Dream Police” e “The Ballad of TV Violence’, do primeirão (essa eu confesso que não faz muito a minha cabeça).
Fora os clássicos que não podiam faltar como “Dream Police”, “I Want you to Want Me” (grande sucesso da banda, versão do “At Budokan” e “Surrender” (de “Heaven Tonight”.)

 A banda ao vivo é muito forte, uma máquina. A cozinha com o baixo de doze cordas de Tom Petersson e com o ‘novato” Dax Nielsen na batera (substituindo o mítico batera original Bun E. Carlos) é muito precisa e poderosa, deixando espaço para os destaques Rick Nielsen , principal compositor e guitarrista cem por cento Rock N Roller e suas bases inspiradas e solos incendiários (infelizmente, parcialmente prejudicados em termos de volume) e Robin Zander (a meu ver, um dos maiores vocalistas de Rock de todos o tempos) , que me surpreendeu com sua performance irrepreensível, alternando vocais mais intensos e rockeiros a momentos de suavidade e melodia, de forma mais natural, impossível (isso aos sessenta e quatro anos!)

Fora os clássicos dos anos setenta, tivemos “The Flame” (grande sucesso deles nos anos oitenta), “In the Streets” (da trilha sonora da famosa série ‘That Seventies Show” ) e “Long Time Comin” (e como!), do mais recente disco “Were All Allright” que voltou a uma sonoridade mais rockeira (teria a entrada deles no Rock N Roll Hall of Fame, no ano passado, animado o espírito mais rockeiro da banda?)

“California Man “, cover de “The Move” botou fogo na galera, mas poderia ter sido o único da noite. “Magical Mistery Tour” dos Beatles é bem legal, mas eu preferiria “Come on, Come on”, “Clock Strikes Ten’ ou “Stop This Game’, que foram tocadas em SP, por exemplos (sons autorais!). O mesmo para o cover de “Velvet Underground, “I´m Waiting for the Man” , cantado pelo Tom Petersson, desnecessário.

Apesar desse pequeno detalhe (e eu tô sendo bem minucioso, mesmo he he) o show foi arregaçante e os caras deixaram uma ótima impressão mesmo em quem não os conhecia e pagaram essa “dívida histórica” com o Brasil. Mágico.

Cheap Trick fazendo novos amigos

Já o Deep Purple chegou consagrado e , mesmo antes de tocar sequer uma nota e, apesar das críticas aos mais recentes trabalhos, fez um show que empolgou a plateia e fez jus á história da banda.

Ian Gillan já não tem mais aqueles agudões? Não. Steve Morse não é o cara certo pra o lugar do lendário Ritchie Blackmore? Don Airey não tem como substituir o insubstituível Jon Lord?

Bom, o Gillan se saiu muito bem durante todo o show, respeitando seus limites que vieram com a idade (setenta e dois anos e no palco, afinal de contas!), arriscando agudos suaves, para pontuar malabarismos de outrora e cantando com feeling os vários clássicos que a banda executou na noite.

Steve Morse, obviamente é um excelente guitarrista, mas eu não acho que ele tenha um “determinado o quê” que o Blackmore tem. Talvez seja o velho choque “Virtuose x feeling”, não sei bem explicar. E não é que ele não tenha feeling, não me entendam mal. De qualquer maneira, o cara toca muito e inclusive, durante um solo de guitarra, ele inseriu a melodia de “Surrender” do Cheap Trick. Bônus pra o homem das seis cordas.

Ian Paice: o que mais dizer sobre esse batera monstro? Muito groove e finesse na batera e Roger Glover “fechou” bonito com ele. Cozinha classe A.

Já Don Airey brilhou na noite. Além de respeitar o timbre e a execução do insubstituível Jon Lord, Airey debulhou nos teclados, tanto nas músicas como em dois solos extensos, que encheram os ouvidos da galera, inclusive incluindo temas de músicas brasileiras (Bossa Nova e Marchinhas), para o delírio da plateia. Show de bola.

Entre uma ou outra mais nova, o Purple se concentrou em clássicos que agitaram a galera (que encheu a pista e a maioria das arquibancadas, mostrando que o RJ surpreendeu em termos de presença de público – parabéns por isso!) , abrindo o show com o “pé na porta”, com a intensa e clássica “Highway Star”. Tocando depois, “Blood Sucker” (do brutal “In Rock”), Lazy, Black Night (com os famosos ô, ô, ôs do público), Strange Kind of Woman, uma dobradinha do “Perfect Strangers”, a música homônima e “Knockin on your door” e, é claro, atingindo o ápice com  a mega clássica que todo mundo conhece “Smoke on the Water”, com participação de Rick Nielsen do Cheap Trick na guitarra.

Enfim, fizeram um show arrasador e surpreenderam quem não acreditava mais no “poder de fogo” dos velhinhos.
O “Solid Rock” foi uma noite para não se esquecer, com ótima participação de público, ótimas apresentações das bandas, excelente organização em um espaço para shows que se mostrou à altura do evento.

Parabéns, Tesla, Cheap Trick, Deep Purple e público rockeiro do RJ!


Steve Morse mostrando todas as rugas, foto por Daniel Croce


quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Mastodon - Emperor Of Sand Tour - O2 Academy Brixton - Londres, Inglaterra (10/12/2017)

Poster da perna britânica da turnê



Olá, Guardiões da Cripta


Assistir o show do sempre excelente Mastodon numa das casas de shows mais lendárias da Grã Bretanha não é para qualquer um, certo? Pois é. Esse escriba aqui ainda há de realizar essa façanha de ver um show desses, mas enquanto isso não acontece, vou apelar para um convidado para lá de especial: meu amigo Icaro Alves, baterista com quem toquei na King Nothing, recém realocado em território Europeu. 
Espero que gostem!
Saudações 
Trevas 

Nosso Enviado Especial: Icaro Alves
Desventuras em Série No Império da Areia

Texto por Icaro Alves. (Título panaca por Trevas)


Mastodon é pra mim o que Opeth nunca conseguiu ser: uma banda que muda, mas mantém a sua essência. Enquanto o grupo sueco entrou num caminho meloso que não me encanta mais, os tiozões de Seattle me surpreendem enormemente a cada album que escrevem. E não apenas pela qualidade das músicas, mas pelo que eles representam no mundo do metal, afinal, tem algum grupo com integrantes tão amáveis quanto Bill, Brent, Brann e Troy?

No dia 10 de dezembro foi o último show da turne européia da banda. Em julho eu já havia comprado o ingresso para o show no O2 Academy em Londres. A turnê acabou encaixando com meus planos de mudança para Portugal, logo, por que não dar um pulinho na ilha das comidas ruins pra assistir os caras? Europa é tudo uma maravilha, certo? O que poderia dar de errado?

Tudo.

Avião sobrevoando Stansted por 1 hora aguardando a pista ser limpa devido à nevasca. Avião redirecionado para Manchester (apenas 4 horinhas de carro de Londres). Passageiros presos 2 horas dentro do avião aguardando o ônibus do aeroporto chegar para nos buscar. Passageiros aguardando uma posição da RyanAir quanto ao transporte de volta para Stansted por 4 horas, sem qualquer estimativa apresentada pela companhia.

Minha previsão de chegar em Londres era às 11h, sendo que o show começava às 19h. Eram 16h e eu ainda estava em Manchester aguardando a RyanAir deixar de ser uma empresa bosta. O que, claro, não aconteceu. Lá fui eu pegar um trem, com a minha grana, pra conseguir chegar a tempo do show. Trem atrasado. Entupido. Japeri inglês.


A lendária Brixton Academy



Chego ao show às 21:10, e vejo que o horário do Mastodon tocar era às 21:15 (tiveram 2 bandas de abertura). Pelo menos uma sortezinha no dia, né?

E começa o show.

Que show caras, que show. Enquanto escrevo, e relembro, fico triste por estar tão esgotado fisicamente devido às aventuras na terra do Brexit. Certeza absoluta que teria sido o melhor show da minha vida, não fosse o desgaste.

Logo de cara os caras mandam The Last Baron, e eu já fiquei "Coróleo, que foda". Nunca tinha visto eles abrirem um show com essa música, mas de certa forma eu esperava por muitas músicas de Crack The Skye, visto a participação de Scott Kelly em todos os shows que eles fizeram em Novembro.

Brent sempre teve problemas com o vocal de The Last Baron ao vivo, e aqui não foi diferente: dava pra sentir a voz rouca do barbudo já completamente desgastada, afinal, Londres era o último show. Porém, não só o Brent parecia estar sem voz, Troy também já estava esgoelando. Quando tentava alcançar as notas altas e ao mesmo tempo guturais (atualmente apenas Troy consegue ainda fazer as linhas guturais, Brent parece ter abandonado a ideia de vez - uma decisão certa na minha opinião), sua voz falhava. Brann parecia ser o único que ainda tinha fôlego, e mesmo com suas linhas vocais extremamente agudas e melódicas (e o repertório não facilitou pro cara, com músicas como Oblivion, Steambreather, Ember City e Roots Remain, todas com vocais muito agudos), seu vocal foi alto nível durante toda a apresentação.


Troy na O2 Academy Brixton (Getty Images)


Instrumentalmente falando, Mastodon nunca decepciona. O grupo tem uma harmonia brabíssima, mesmo com riffs a dar com pau em todas as músicas e linhas loucas de batera (Brann é o melhor batera ao vivo dos que já assisti - mas ok, não vi muitos).

Por mais que fosse um tour do álbum novo, Emperor of Sand, o repertório teve músicas de todos os álbuns da banda, com destaque para o já mencionado Crack The Skye, com 3 músicas. Mas aí que morou, pra mim, o grande problema do show, e aqui é uma questão extremamente pessoal: minha música favorita do Mastodon é Crack The Skye (mesmo nome do álbum); Crack the Skye é uma das faixas com participação de Scott Kelly; como dito acima, Crack the Skye foi o álbum com mais faixas tocadas depois de Emperor of Sand, e, já para o fim do show, tudo indicava que eles terminariam o show com Crack the Skye (e não com Blood and Thunder, música que eles sempre utilizam para fechar)...

Pois é, eles não tocaram Crack the Skye.

E tirando algumas opções desnecessárias, como Ember City e a ausência de Crystal Skull (outra música com participação de Scott Kelly), eu diria que o repertório do show foi ótimo. Apresentou bem o trabalho atual da banda e matou saudades das músicas antigas.

No geral, Mastodon é sempre uma experiência prazerosa. E o que prova meu ponto de vista, sem clubismo, é o fato de que eu os conheci em sua apresentação no Rock in Rio, sem nunca ter escutado nenhuma música deles. Lembro perfeitamente bem de achar o som deles pesadíssimo, e ter me impressionado com a ferocidade dos vocais de Troy (e acho que também achei foda o batera cantar, o que pra mim, baterista aposentado, sempre foi impressionante).

Ah! Divinations, ao vivo, é uma das melhores coisas que já me aconteceram.

Nota (precisa de nota? acho que sim né?): 8/10

Set List do Show Por SetList FM

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Fates Warning – Awaken the Guardian Live (Box Set – 2017)

Fates Warning - Awaken the Guardian Live

Guardião Repaginado
Por Trevas

“Nos tratam como os grandes inventores do Prog Metal, mas na verdade o Fates Warning já fazia esse som anos antes de nós. Quando escutei o Awaken the Guardian pela primeira vez, enlouqueci e então eu soube exatamente como eu queria que minha banda soasse.” Numa tradução livre deste escriba, essa é a fala de ninguém menos que Mike Portnoy, o mestre das baquetas da mais bem-sucedida banda de Prog Metal da história, o Dream Theater. A fala dá exatamente a dimensão do impacto que esse disco teve na cena estadunidense na década de 1980. 


Fates Warning em 1986


A despeito da banda ter flertado com o mainstream na virada da década de 1990 e ter amadurecido e lançado obras aclamadas pela crítica, o Fates Warning jamais alcançou o sucesso comercial de seus discípulos. E embora eu prefira a fase com Ray Alder nos vocais, é inegável que foi com John Arch na voz que a banda lançou seus trabalhos mais influentes. E em comemoração dos 30 anos de sua obra máxima, a banda juntou a formação que gravou o disco para uma série restrita de shows, dois deles registrados em áudio e vídeo, formando esse belo box que analisarei com cuidado.

A belezura personificada
Apresentação

A caixa vem em formato digibook para lá de luxuoso. O DVD e Blu Ray vem encartados na parte interna da capa, enquanto os quatro discos de áudio, na parte interna da contracapa, em invólucros de acrílico. Ou seja, proteção garantida para as bolachinhas. O livreto é belíssimo, com papel de alta qualidade trazendo imagens criadas pelo artista gráfico original, o grego Ioannis, além de fotos dos shows, fichas técnicas e as letras de todas as músicas tocadas neles. Na parte interna da contracapa, temos um envelope contendo uma série de “postais”. Cada postal com a foto de um dos membros da banda na frente e o perfil de cada músico escrito atrás. Além disso, o envelope contém um pôster frente e verso com as artes de capa de Ioannis feitas para os shows e um certificado de autenticidade numerado. Apenas 2000 cópias do box em sua edição Deluxe foram comercializados. Um dos mais belos boxes que já tive em mãos. Para maiores detalhes de como está estruturado o pacote, vejo o vídeo abaixo! 



Blu-Ray – DVD: ProgPower USA XVII 2016 x Keep It True XIX 2016

Menu
O menu é bem bonito, mas extremamente simples, só possuindo a opção de seleção entre os dois shows e nenhum menu para acesso às especificações técnicas. Como aqui só possuo aparelho estéreo e não tenho um home theater, não sei dizer se há opção de áudios diferentes.

Performances.

Quem já teve o prazer de assistir ao FW ao vivo, sabe bem que a banda prima por fazer uma apresentação que se assemelha muito mais a um show de uma banda de Heavy Metal tradicional do que de seus parceiros de Prog Metal. Ou seja, nada de atmosfera asséptica. E é o que temos aqui. A despeito da idade e do visual dos agora senhores, temos uma banda tocando um disco para lá de complexo com uma pegada excelente. Os timbres respeitam em bastante o material original, Aresti toca muito bem e Jim Matheos, o patrão e dono da bola, se assemelha a um irmão mais novo do Steve Harris e é o mais metálico dos guitarristas de Prog Metal. A cozinha de Joe DiBiase (Rick Wakeman cover?) e Steve Zimmerman (com cara de Roadie do Manilla Road) pode não ter a técnica das cozinhas que a banda teve posteriormente, mas estão muito longe de fazer feio. Aliás, mandam muito bem, obrigado.



Ah, mas e o John Arch? Arch, que parece o filho improvável de um caminhoneiro do Arizona com o Quico do Chaves, consegue uma performance respeitável, levando em consideração que as músicas são quase todas interpretadas numa zona de tons estratosfericamente altos. Ah, e Frank Aresti se vira razoavelmente bem para cobrir as camadas de vozes que se entremeiam às linhas principais. Em termos de presença de palco, John apanha feio de seu substituto, parecendo um pouco sem graça quando não está cantando. Mas seu semblante demonstra a felicidade de estar ali, e a simpatia honesta que ele transparece acaba por compensar a falta de movimentação. Sou muito mais fã do Ray Alder, mas tenho que admitir que, para o material dessa era, não há comparação, Arch deixou sua marca.


Tal avaliação da performance da banda vale para os dois shows inclusos, mas dá para notar uma maior confiança na banda no show do Prog Power, realizado alguns meses após o do Keep It True. A performance vocal de Arch também se mostra um pouco superior. Mas os dois shows são muito bons.


Repertório

Os dois shows batem exatos 83 minutos de música e trazem Awaken the Guardian tocado na íntegra, mais quatro faixas no bis. Três delas se repetem: Damnation, Epitaph e The Apparition. O Show do Keep It True tem seu diferencial em Night On Brocken. Já o show do Prog Power aposta em uma excelente rendição para Kyrie Eleison. Enfim, em ambos os casos todos os discos da fase inicial da banda se fazem representados.




Imagem e Som

O show do Prog Power possui uma qualidade de som impecável, com mais punch. Mas o show do Keep It True não faz feio, não. Nos dois casos sinto um pouco da falta da plateia na mixagem. Novamente lembrando que não existem informações sobre o número de canais e nem menu de seleção para tal. No Prog Power as imagens são cristalinas, mas o palco é simples, com iluminação apenas correta e o belo backdrop da capa do disco ao fundo. Já no Keep It True há uma qualidade ligeiramente inferior nas imagens em algumas tomadas (o ambiente é mais escuro), mas em compensação, o palco (que é menor) é ornado com um jogo de portais com brasões, dando um visual um pouco mais legal.



Em ambos os casos as tomadas se alternam entre imagens mais panorâmicas e closes bem posicionados nos músicos, mostrando a execução das músicas, o que é válido em se pensando no público de Prog Metal, que costuma dar muito valor à parte técnica. Infelizmente nãos e vê muito do público aqui. A edição é correta e bem menos frenética que o usual, só incomoda um bocado o corte com alguns pentelhésimos de segundo de tela preta e fade in fade out entre uma música e outra. Nos casos em que existe introdução no som mecânico, a tela mostra as belas imagens criadas pelo artista original que criou o conceito da capa de Awaken.



Os CDs

A mixagem dos Cds é excelente, com muito punch. Podemos ouvir todos os instrumentos de maneira clara e ainda há sobra para a plateia no fundo. A leve vantagem para o show do Prog Power permanece, em especial no que se refere a maior precisão nas execuções.


Veredito Final

Awaken the Guardian Live é um box excelente em termos de apresentação e que traz um conteúdo audiovisual que se faz o sonho de qualquer fã do Fates Warning. Seu único senão é a não inclusão de extras em vídeo documentando a epopeia por detrás desses shows comemorativos.

NOTA: 9,50

Gravadora: Metal Blade Records (importado).
Pontos positivos: belo box, ótimo material audiovisual
Pontos negativos: a ausência de extras
Para fãs de: Threshold, Queensrÿche, Dream Theater
Classifique como: Prog Metal



sábado, 2 de dezembro de 2017

Skyclad – Forward Into The Past (Cd-2017)

Skyclad - Forward Into The Past

De Boas Com O Passado
Por Trevas

Título espirituoso, arte de capa com temática pagã de Duncan Storr. Parece que os britânicos do Skyclad enfim querem prestar homenagem a seu glorioso passado de pioneirismo no Folk Metal com o novo disco. Com produção impecável ao encargo do próprio sexteto e mixagem precisa e cuidadosa pelas mãos do italiano Dario Mollo, Forward ganha as prateleiras correndo o risco de ser julgado muito mais pelo que não é do que pelas suas qualidades. Sim, pois Martin Walkyier, o poeta ácido e belicoso, cuja voz áspera e raivosa e visual de figurante de filme de pirata representaram a banda perante os fãs, não está mais aqui, e muita gente sequer dará chance à bolachinha por conta de sua ausência.

Skyclad em uma de suas encarnações com Martin no comando
Uma pena, pois Forward Into The Past mostra de cara se tratar de um disco bem acima da média. A Storyteller’s Moon serve de introdução perfeita, além de evocar a fase The Answer Machine? da banda. A fúria algo punk vem em seguida, com a dobradinha State Of the Union Now e a excelente Change Is Coming. A voz de Kevin Ridley certamente passa longe de criar aquele charme tosco de seu antecessor na função, e sua pegada menos agressiva falha em dar o contraste necessário aos números mais festivos, como em A Heavy Price To Pay, mas o restante da banda permanece intacto e instrumentalmente tudo funciona à perfeição.


Georgina Biddle continua com seu violino virulento, Kevin e Steve Ramsey destilam seus riffs que ficam entre a NWOBHM e o Punk Rock e a cozinha de Graeme English e Aaron Walton têm uma performance estelar no disco todo, enquanto Dave Pugh contribui com violões e bandolim. Enfim, há muito mais no Skyclad para se comemorar do que reclamar. Mas não vou mentir, me peguei pensando em como as já boas Words Fail Me e Queen Of the Moors soariam ainda melhores com a máquina de lançar perdigotos Martin Walkyier as cantando.



O disco ainda tem como destaque em seus curtos e certeiros 44 minutos de duração a faixa título, uma versão Skycladiana para a mensagem de Analog Man do Accept, a viciante Starstruck, que é Walkyier puro, e a excelente e algo progressiva Last Summer’s Rain.


Skyclad, 2017
Veredito da Cripta

Passado o impacto inicial de escutar o Skyclad replicar a sonoridade de sua melhor fase sem Martin nos vocais, a audição do novo disco foi uma surpresa para lá de agradável. Forward Into The Past veio para mostrar que uma das bandas mais influentes de sua geração está viva e muito bem, obrigado.


NOTA: 8,67


Gravadora: Dynamo Records (importado).
Pontos positivos: Skyclad em sua melhor forma
Pontos negativos: Sim, a voz de Martin Walkyier faz falta
Para fãs de: Eluveitie, Ensiferum, Cruachan
Classifique como: Folk Metal



quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Blaze Bayley - Endure And Survive (Cd-2017)

Blaze Bayley - Endure And Survive

Resistindo e Sobrevivendo
Por Trevas

Continuação da saga conceitual iniciada ano passado com o bom Infinite Entanglement, Endure And Survive é um título bastante apto para uma eventual biografia do desafortunado artista britânico conhecido como Blaze Bayley.

Após um breve interlúdio de vozes e sons espaciais, a faixa título nos entrega o que se espera do rotundo vocalista, um Heavy Metal direto ornado com um ótimo refrão amplificado pela poderosa voz do patrão. Os exageros da primeira parte da saga estão presentes, sobre as vezes de corais e orquestrações, mas menos evidentes na mixagem.



O senso de urgência se segue nas ótimas Escape Velocity e Blood, que põe o ouvinte a se perguntar: se Blaze tivesse escrito coisas assim no Iron, teria ele sido expurgado da banda? Difícil.


Por falar na Donzela, a boa Eating Lies é a cara da banda, e Blaze a canta com o coração na garganta. Destaque também para os riffs e harmonias da guitarra de Chris Appleton, que assina junto ao patrão quase todo o material da bolachinha, parceria responsável também pela cristalina produção.




As boas e poderosas Destroyer e Dawn The Dead Son mantém a pegada mais forte e direta dessa continuação...mas aí aparece Remember para me fazer lembrar (oops) o resultado patético que os números acústicos trouxeram ao disco anterior. Para nossa sorte, até que não ficou tão ruim dessa vez, graças a um arranjo mais cheio e trabalhado. Ainda assim, não apostaria nesse caminho numa nova oportunidade, ok, Mr. Bayley?


Blaze provavelmente escolhe seus colegas pelos atributos físicos...


Ufa, a ótima Fight Back traz o disco de volta aos trilhos metálicos de onde jamais deveria ter saído. The World Is Turning The Wrong Way é até legal, mas vai embora sem chamar tanto a atenção. A saga se encerra momentaneamente com os oito minutos da épica e bonitinha Together We Can Move The Sun.


Veredito da Cripta

Mais direto e melhor acabado que seu antecessor, Endure And Survive é daqueles discos de Heavy Metal que mostram o quanto Blaze poderia ter rendido mais nos microfones da Donzela se a ele fosse dado espaço e tempo. Eu disse espaço e tempo? Pois então, falta o capítulo final dessa trilogia de ficção científica, e se ela seguir o salto de qualidade que vimos da primeira parte para a segunda, poderemos estar de frente a um dos melhores discos da carreira do gorducho. Pois esse Endure And Survive já é muito bom!


NOTA: 8,31


Gravadora: Dynamo Records (importado).
Pontos positivos: direto e cheio de enrgia
Pontos negativos: alguém avisa ao Blaze que esse formato com cordas não funciona, por favor...
Para fãs de: Iron Maiden
Classifique como: Heavy Metal