sábado, 21 de novembro de 2015

Testament + Cannibal Corpse + Uzômi – Circo Voador – Rio de Janeiro, RJ (20.11.15)



Into The Pit!!!!
Texto e vídeo por Trevas
Fotos por David Sipriano

Passei um bom tempo nas últimas semanas pensando minha lista dos 15 melhores shows quejá assisti. Bom, o fiz só para ver minha lista cair por terra em tempo recorde. O que se viu ontem no Circo Voador foi um massacre sonoro perpetrado pelos estadunidenses do Testament, auxiliado por coadjuvantes de peso.

Uzômi

Mas não, inicialmente o evento não dava pistas de que seria tão impressionante. Noite algo chuvosa de um feriado, a casa ainda estava vazia quando Uzômi tomou o palco com um ótimo set de seu crossover para uma recepção apenas respeitosa. Pensei tratar-se de mais uma demonstração de comportamento blasè dos headbangers cariocas. Ledo engano, o pouco público então presente já sabia bem que deveria guardar suas energias para o que ainda estava por vir. Para quem quiser conhecer a banda, veja a página deles no Facebook aqui.

Cannibal Corpse

Confesso que não sou fã do Cannibal Corpse, e que fui para a pista apenas por curiosidade mesmo. Queria entender a energia que faz com que tanta gente abrace o extremo religiosamente. Bom, deu para sacar. O show dos caras é para lá de divertido, de uma maneira diferente à que estou acostumado. Contato quase zero com o público, George Fisher com seu pescoço de tronco de sequoia urra de uma maneira surreal, e parece ter algum tipo de mutação que permite 789 giros de cabeça por minuto. A banda toda toca com muito peso e com uma técnica impressionante. E o repertório parece ter feito a felicidade dos fãs, já que as rodinhas começaram na primeira música e só foram parar ao final do último acorde. Continuo não tendo motivos para escutar os discos dos caras em casa, mas já sei o show vale a pena!


Testament

Ok, pela segunda vez assisto o Testament na mesma condição: em um show de turnê que não promove nenhum disco em específico. E se da primeira vez isso serviu de mote para um repertório baseado em clássicos do passado, dessa vez o mesmo se concentrou um pouco mais no colossal The Gathering em diante. Não, não faltaram clássicos de outras eras: a abertura da porradaria foi com a velhaca Over The Wall, e boa parte dos petardos antigos foram tocados em sequência no meio do show, num teste de ferro para os combalidos pescoços dos headbangers cariocas (ver uma amostra no vídeo abaixo). Aliás, o público foi um show à parte. Do início ao fim da apresentação parecia que haviam ligado um liquidificador gigante na pista. Surpresas não faltaram ao set, com a inclusão da abissal Legions Of The Dead, além da ótima Dog Faced Gods (do subestimado Low) e da bacana Henchmen Ride.

Chuck, o homem-bugio

Musicalmente, o Testament dessa turnê é quase que uma seleção mundial de músicos do estilo: Chuck Billy na voz gritando como que para se vingar do câncer, Eric Peterson e Alex Skolnik (monstro absoluto) nas guitarras, e a cozinha mais assustadora do planeta com Steve DiGiorgio no baixo e Gene Hoglan na batera. E o mais bacana é que além de tocar muito, os caras visivelmente se doam no palco, agitando de uma maneira insana se pensarmos que nenhum deles pode ser chamado de garoto. Um show sensacional, daqueles que sempre serão lembrados em listas como aquela do início do texto. Absolutamente foda!



Fim do massacre

domingo, 15 de novembro de 2015

Os 15 melhores Shows da Vida do Velho Trevas

Um tosco apanhado dos ingressos de alguns dos shows citados
O que faz de um show um evento inesquecível?

Difícil dizer.

Um Set List perfeito? Nah, já vi shows com set lists fantásticos que não funcionaram (Iron Maiden na Apoteose, por exemplo). Técnica conta? Claro que não, só tentar assistir 20 minutos de qualquer apresentação do Dream Theater para descartar essa teoria. Hm, a atitude da banda, então? Bom, carisma e sangue nos olhos costumam fazer bons pontos num show. Mas também não é a resposta exata. Já vi bandas tocarem um show como o último das suas vidas e a plateia não esboçar muita reação (fato comum aliás na geração Youtube).

Não estamos falando de uma ciência exata. E por isso mesmo não há uma reposta exata. Alguns shows simplesmente possuem uma aura mágica, uma química inexplicável entre músicos e público. Não é minha intenção tentar explicar, não faço nenhuma questão de entender esse fenômeno, diga-se. Apenas me considero bastante sortudo de nesses 25 anos em que pude comparecer a mais de uma centena de shows (nacionais e internacionais), ter presenciado um punhado de apresentações que se enquadram perfeitamente na expressão “momentos mágicos”

Listarei aqui 15 dos shows que mais me marcaram, partindo de um desafio do grande vocalista Gus Monsanto, de quem sou fã, vizinho e amigo. Na verdade ele havia desafiado a listar 10 shows (desafio estendido ao grande Delacroix, de quem também sou amigo e fã), mas desisti e alonguei um pouco minha lista, exposta aqui em ordem cronológica, para não complicar ainda mais minha vida na árdua tarefa de ordenar quem seriam os maiores dentre os maiores.

Divirtam-se, comentem, critiquem...e principalmente, postem suas próprias listas!
Grande Abraço
Trevas  


1. Ramones – Circo Voador – Rio de Janeiro – RJ – Acid Eaters World Tour (05.11.94)
Um jovem Trevas partia para seu segundo show internacional (o primeiro havia sido Oingo Boingo, na Gávea, vejam só). Um set perfeito, acelerado e matador, da banda que era minha favorita à época. Some-se à emoção o fato de no meio do set mais de um ônibus de Carecas do Brasil ter adentrado um já abarrotado Circo Voador, deixando a todos perplexos e temendo pelo pior. Eu, já cabeludo, tive a certeza, mesmo que por alguns poucos instantes, de que ia morrer. Alarme falso, poucos acordes depois os grandalhões se misturaram ao público agitando na paz diante do contagiante som dos lendários estadunidenses.

2. Rainbow – Olympia – São Paulo – SP - Stranger In Us All Tour (05.07.96)
Primeiro dos três shows que Ritchie Blackmore e sua trupe fizeram no Olympia em sequência, numa sexta feira, acabou por ser ainda mais especial por um inusitado motivo: a casa estava razoavelmente vazia. Sim, era possível pegar sua cerveja e ver Ritchie desfilar riffs e solos memoráveis do Purple e Rainbow lá da primeira fila, como se fosse um show da banda de um amigo num barzinho. E que show! Doogie White estava no auge de sua forma vocal e Ritchie Blackmore, inspirado como poucas vezes se viu. Vi muito marmanjo chorando ao ouvir rendições de Mistreated e Temple Of the King. Bom, se eu chorei também? Nunca saberão. Inesquecível!

3. Saxon – Philips Monsters Of Rock – Pista de Atletismo do Ibirapuera – São Paulo – SP (26.09.98)
Num cast repleto de monstros sagrados do rock pesado (Glenn Hughes, Megadeth, Slayer, Manowar, Korzus, Dorsal, Dream Theater, Savatage), o dinossauro da NWOBHM Saxon é que acabou por comer o festival com farinha. Biff é um frontman espetacular e seu talento e carisma, somados a um set repleto de hinos do Metal, uma banda azeitada e mais o truque (hoje datado, mas à época pareceu espontâneo) do “vamos rasgar o set list” conquistaram um público de 40.000 que estavam lá esperando outras bandas. Uma banda que quero ter a oportunidade de ver de novo!

4. Halford – Rock In Rio III – Rio de Janeiro – RJ – Ressurection World Tour (19.01.01)
Sim, como a maioria dos que foram à noite do metal nessa edição do Rock In Rio, estava esperando o show da “turnê de retorno” do Iron Maiden. E como muitos, fui surpreendido pelo fantástico show de Halford, a banda. E que banda. E que repertório. E que show. Misturando clássicos esquecidos do Judas (Stained Class, carái!!) com belezuras do Fight e de seu recém lançado disco de retorno ao Metal, o careca fez uma apresentação memorável. Para a nova geração, que só havia tido contato com a molambenta versão Ripper do Judas Priest, uma demonstração avassaladora do porquê Halford é o Metal God. Se você esteve lá e não se arrepiou com Breaking the Law cantada apenas pelo público (gesto que Rob repetiria outras vezes após esse show), sinto muito informar, você está morto. Ah, o show do Iron depois foi legal.

5. Camel – Garden Hall – Rio de Janeiro – RJ – Rajaz World Tour (24.03.01)
O que dizer quando você vai a um show duma banda da qual você conhece apenas parte da discografia, gosta mas não acha nada de especial, mas sai desse show de boca aberta e envergonhado por ter quase desdenhado dos caras? Pois é, esse foi o show do Camel. Já vi diversos monstros sagrados da guitarra (Satriani, Vai, Malmsteen, Bonamassa, Blackmore, Wylde...) ao vivo, mas poucas vezes me senti tão assombrado pela pegada de um guitarrista como nessa noite. Andy Latimer infelizmente é pouco lembrado no hall dos monstros sagrados da guitarra e isso é uma vergonha. O cara toca parecendo que a coitada vai desmontar em suas mãos. Um excelente show que me fez sair de lá com o disco dos caras.

6. Anthrax – Claro Hall – Rio de Janeiro – RJ – The Greater Of Two Evils Tour (26.02.05)
Vez ou outra a cidade do Rio de Janeiro me surpreende negativamente em relação ao público nos shows. Def Leppard e Slash já dividiram o recorde negativo de público do eterno Metropolitan (200 e 400 espectadores, respectivamente). E o show do Anthrax na turnê do Greater Of Two Evils também não ficou muito atrás, com cerca de 800 pessoas testemunhando um massacre sonoro. A banda havia ressurgido de uma maré ruim com o ótimo We’ve Come For You All e estava com sangue nos olhos. Ah, e John Bush chutabundas violentamente, me perdoem os fãs do simpático “tia velha” Belladonna. Uma lição dos veteranos ao tocar com tanta garra e felicidade para um público bastante reduzido. E rolou até homenagem ao Dimebag com uma versão para A New Level! Aí você entende o porquê eles merecem estar no Big 4.

7. Testament – Canecão – Rio de Janeiro – RJ (27.04.07)
Com abertura de Taurus e WarFx, um falecido Canecão agitou tresloucadamente a uma pancadaria sonora de qualidade irrepreensível (mesmo com as furadas do batera Nick Barker, bêbado feito um gambá). O fato da banda não estar promovendo nenhum disco à época deu liberdade na montagem do repertório, muito bem escolhido e cobrindo praticamente todos os discos da carreira. Chuck Billy urrava como se ele quisesse mostrar ao câncer que vencera poucos anos antes que sua força havia sido renovada. Ah, e Alex Skolnick é um dos maiores guitarristas que o metal já viu. Big 4? Nah, não troco os caras por um show do Testament, não! E já garanti meu ingresso para o próximo show dos caras. Será que vou ter que alterar essa lista???

8. Whitesnake – Citibank Hall – Rio de Janeiro – RJ – Good To Be Bad World Tour (07.05.08)
Ah, o Tio Cobrabranca. Já vi o Whitesnake uma penca de vezes, e apesar de sempre ser um show vigoroso e repleto de hits, o termômetro da apresentação acaba por ser a performance vocal de Coverdale. E nessa noite ele estava com o gogó em dia, e quando é assim, pode apostar que o jogo estará ganho. Com monstros como Tommy Aldridge, Reb Beach, Doug Aldrich acompanhando o chefe, e com uma apresentação repleta de clássicos e promovendo um bom disco, não só os três pontos foram conquistados como o troféu foi entregue. Em ótimas mãos, diga-se.

9. Queensrÿche – Citibank Hall –Rio de janeiro – RJ – Take Cover World Tour (08.05.08)
O ‘Rÿche é uma banda de altos e baixos tanto em estúdio quanto ao vivo. Vi os caras três vezes e cada uma teve um grau de qualidade. Curiosamente, foi justamente num show vazio (dia seguinte do show lotado do Whitesnake citado acima) e de uma turnê low profile, promovendo um disco de covers, que presenciei uma performance assombrosa. Com um repertório repleto de “lados B”, tocados com esmero e com Geoff Tate inspiradíssimo, dando aula de técnica e interpretação à cada linha cantada, o Queensÿche fez o show dos sonhos para aqueles que conhecem o material da banda de ponta a ponta.

10. Kiss – Praça da Apoteose – Rio de Janeiro – RJ – Alive 35 Tour (08.04.09)
You Wanted the Best....ah, nem preciso falar, né? Ao assistir pela primeira vez a um show do Kiss, percebi o quanto o conceito de show de rock que hoje tanto amamos deve a esses caras. Tudo é exagerado e superlativo, mas não renderia resultados tão duradouros se a banda por trás do espetáculo não fosse tão repleta de carisma e, principalmente, grandes músicas. O show foi tão absurdamente contagiante que nem mesmo um tenebroso temporal (que prejudicou a apresentação, impedindo a execução do vôo de Paul Stanley em Love Gun) ao decorrer do mesmo conseguiu esfriar a plateia.

11. Heaven & Hell – Citibank Hall – Rio de Janeiro – RJ – The Devil You Know World Tour (17.05.09)
Por várias e várias vezes tive a oportunidade de assistir ao magistral Ronnie James Dio ao vivo. Mas nem em meus sonhos mais loucos imaginaria que o gnomo voltaria a capitanear o Black Sabbath. Iommi tem um som de guitarra monolítico e assombroso, difícil entender como algo tão imitado pode ainda assim soar tão novo. Ronnie estava cantando como sempre, poderoso e altivo, não dando nem um pouco a pinta de que já estava doente e que exatamente um ano depois abandonaria esse mundo. Sortudos aqueles que não deixaram passar a oportunidade de ver esse monstruoso show.

12. Judas Priest – Citibank Hall – Rio de Janeiro – RJ – Epitaph World Tour (11.09.11)
Judas é minha banda favorita de metal Tradicional e já tive a oportunidade de ver os caras ao vivo umas 8 vezes, cada uma delas soando especial por algum motivo (até mesmo com o mala do Ripper). Foi difícil escolher o meu show favorito dos caras, já que ao contrário de outros dinossauros do rock, eles sabem pescar preciosidades de sua discografia para diferenciar o repertório de uma turnê para outra. Fico com o show da suposta turnê de despedida justamente pela presença de uma música de cada disco dos caras (menos da fase Ripper, o que agradeço). Ouvir Blood Red Skies ao vivo fez desse cabra aqui um homem ainda mais feliz. Uma pena que o Whitesnake não teve lá uma noite tão inspirada na abertura.

13. Lynyrd Skynyrd – SWU – Paulínia-SP – God And Guns Tour (13.11.11)
O festival SWU teve alguns problemas de organização, e um dia inteiro de biritagem de pé tentando curtir as bandas do festival cobraram um preço alto aos pés e pernas combalidos quando o Lynyrd estava prestes a entrar em cena (ao final de um incrivelmente chato show do Peter Gabriel com orquestra). Bom, aos primeiros acordes qualquer cansaço milagrosamente foi dissipado. Podem criticar à vontade a existência do Lynyrd atual, mas os caras sabem como poucos entregar um show emocionante. Não bastasse o repertório repleto de clássicos, o imenso carisma e simpatia, além da proficiência nos instrumentos, vale qualquer preço. Absolutamente fantástico.

14. Joe Bonamassa – Teatro Coliseo – Buenos Aires – Argentina – Driving Towards The Daylight Tour (29.05.12)
A resenha para esse show foi minha primeira postagem na Cripta (ver aqui). Cheguei à Argentina levando comigo uma virose forte. Me sentia tão mal no momento que adentrei com minha esposa o bonito Teatro Coliseo que achei que fosse desmaiar. Foram necessários poucos minutos de show para minha condição de saúde ser esquecida pelas próximas duas horas. Quem imagina um show de blues morno (com o público sentado), está enganado, Bonamassa toca com a mão pesada, e sua banda tem um vigor impressionante (com destaque para o batera Tall Bergman, a quem um incauto fã apelidou “Animal” a plenos pulmões, no meio de seu solo, para risos gerais). E nem vou comentar aqui que tive calafrios (não da doença) ao ver o cara homenagear Rory Gallagher e o então recém falecido Gary Moore (nesse ponto, os calafrios foram acompanhados de olhos mareados). Foda!

15. Amon Amarth – Circo Voador – Rio de Janeiro – RJ – Deceiver Of the Gods Tour (16.5.14)
Uma das minha bandas favoritas da atualidade, o Amon Amarth é conhecido por fazer boas apresentações. Mas me surpreendeu o quanto os caras detonam ao vivo, e principalmente o quanto são amados pelo público daqui. Com uma performance tecnicamente perfeita, e o contraste entre a ogridão visual e musical com a simpatia e senso de humor dos caras, o que se viu foi uma comunhão entre público e banda que poucas vezes presenciei. Uma grata surpresa! (ver resenha aqui)