segunda-feira, 12 de abril de 2021

Accept – Too Mean To Die (CD-2021)


Difícil de Matar

Por Trevas

Quando fiz a resenha para The Rise Of Chaos, disco de 2017, já havia chamado a atenção para a dificuldade do Accept em manter o altíssimo padrão de seu retorno, com o já clássico Blood Of The Nations. À época, Wolf Hoffmann acabara de perder a dupla Stephan Schwarzmann e Herman Frank. Mas a situação iria piorar: agora a baixa atendeu pelo nome de ninguém menos que Peter Baltes, o icônico baixista/vocalista, até então eterno parceiro de Wolf. Para seu lugar, Martin Motnik foi recrutado. Já que mudança pouca é bobagem, o patrão também resolveu adicionar um terceiro guitarrista à banda: Philip Shouse (Gene Simmons Band, Ace Frehley, Lucifer). Esse último já havia tocado com a banda uma penca de vezes, ou em substituição a Uwe Lulis ou na turnê Symphonic Terror. Para o novo trabalho, ao menos uma coisa se manteve, a parceria com o mago Andy Sneap. Mas confesso que com tudo o que escrevi, fui escutar Too Mean To Die com expectativas bem baixas.

Tio Wolf e seus calouros

Logo nos primeiros instantes da introdução de Zombie Apocalypse, fica claro que ao menos a parceria com Andy Sneap continua garantia de uma sonoridade caprichada. Sei que é impossível mensurar o resultado da adição de um terceiro guitarrista ao som pelo material de estúdio, já que temos sempre uma parede de guitarras, mas ao passar pela virulenta faixa título e pela Metalheartesca Overnight Sensation, salta aos ouvidos a fúria guitarrística desse CD, os riffs e solos estão cortantes como pouco se ouviu na carreira do Accept. A bateria de Christopher Williams também faz um baita estrago, só o baixo de Motnik que ficou enterrado na mixagem. Ah, e Tornillo, esse foi um achado! Cada vez mais esbarramos com fãs da banda que já o consideram o vocalista definitivo da carreira dos caras, o que não é pouca bobagem.


Mas a despeito da qualidade da equipe e do som, as composições pareciam boas, mas longe de postulantes a novos clássicos. Até que a épica No Ones Master eleva o nível. E The Undertaker pode ter causado alguma apreensão entre os puristas, mas é excelente e acerta ao apostar numa direção diferente. Dá até para relevar que roubaram na cara dura a ponte de Fish On, do Lindemann (projeto politicamente incorreto do vocalista dodói do Rammstein com o doido-de-pedra Peter Tägtgren).


Os riffs continuam fortes ao longo do disco, mas os refrães e melodias, nem sempre. Sucks To Be You, Not My Problem e The Best Is yet To Come (com Tornillo cantando bonitinho) sendo bons exemplos de boas músicas que poderiam ser ainda melhores com um capricho melódico maior. Symphony Of Pain, How Do We Sleep e a instrumental Samson And Delilah (que surrupia o tema de Victorious, do Heaven & Earth) elevam o nível para contrabalancear a segunda metade do CD, que pode ser considerado o trabalho mais forte dos alemães desde Stalingrad. (NOTA: 8,62)

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Gravadora: Shinigami Records (nacional)

Prós: ótima produção, guitarras em chamas

Contras: algumas melodias não estão à altura do instrumental

Classifique como: Heavy Metal

Para Fãs de: Judas Priest

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Michael Schenker Group – Immortal (CD-2021)


 

Bodas de Ouro Com Medalha de Bronze
Por Trevas


O lendário gênio teutônico da guitarra completa impressionantes 50 anos de carreira, e Immortal é o disco comemorativo desta marca. Primeiramente, é reconfortante ver o músico largando os inexplicáveis epítetos que vinha utilizando (Temple Of Rock, Michael Schenker Fest) para reviver o icônico Michael Schenker Group (ou MSG). Em segundo lugar, cabe ressaltar que Immortal conta com um time extenso de convidados (Brian Tichy, Derek Sherinian, Barry Sparks, Simon Phillips...), muitos deles parceiros do passado na longa jornada musical do guitarrista. Com produção de Schenker com Michael Voss, vamos ao disco.

Como comemorar meus 50 anos de carreira? Que tal Alvin e os Esquilos cantando?

Drilled To Kill começa com o pé no acelerador, mas nem de longe empolga: o competente Ralf Scheepers soa irritante como sempre e as linhas melódicas são chupadas de Exciter e Betrayal, de Judas e Halford, respectivamente. Um pouco melhor se sai Don’t Die On Me Now, com o peruquinha Joe Lynn Turner no comando. Mas bom mesmo é esbarrar com um músico no topo de seu jogo, é o caso do onipresente Ronnie Romero, que nos brinda com sua ótima voz na primeira faixa realmente boa do pacote, Knight Of The Dead.


Uma pena que logo depois somos arremessados à voz (ou falta de) de Michael Voss, que parece saída de algum personagem de Alvin e os Esquilos, na péssima After The Rain. Scheepers retorna a seu trinado irritante em Devil’s Daughter e novamente quem vem a nosso socorro é Mr. Romero, na apoteótica Sail The Darkness, possivelmente a única em todo o disco merecedora de uma chance no repertório dos shows.


Até por que a coisa aqui definitivamente passa longe da inspiração demonstrada no último disco: Voss assombra os tímpanos dos incautos com sua voz de esquilinho na fraquinha The Queen Of Thorns And Roses, e Come On Over é tão mais ou menos que dessa vez nem Romero deu jeito. Sangria Morte, com Turner novamente no comando, nos traz um pouco de sangue (oops), mas a escolha de encerrar o disco com uma releitura para In Search Of The Peace Of Mind tem muito mais de importância histórica do que meritocracia musical: a riponga e progressiva primeira faixa do então adolescente Schenker está à anos-luz do que ele produziria em sua carreira. Um disco confuso para comemorar uma carreira também cheia de altos e baixos. Schenker pode muito mais do que isso. (NOTA: 6,30)

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Gravadora: Shinigami Records (nacional)

Prós: ótima produção

Contras: músicas pouco inspiradas e algumas escolhas vocais duvidosas

Classifique como: Hard Rock, Classic Rock

Para Fãs de: Rainbow, UFO


domingo, 4 de abril de 2021

Tuatha de Danann – In Nomine Éireann (CD-2020)


Canções Para Leprechauns

Por Trevas

Ideia de longa data de Bruno Maia, líder (e quase sinônimo) do Tuatha de Danann, o novo disco dos mineiros é uma ode à música irlandesa, cuja riqueza constantemente inspira as faixas autorais da própria banda. Então, à despeito de majoritariamente se tratar de um disco de releituras para músicas tradicionais, não há nada a temer aqui: In Nomine Éireann se encaixa perfeitamente na discografia dos Tuatha

Brindemos à vossa cirrose, caro ouvinte

A produção musical, ao encargo do próprio Bruno, espelha a beleza da arte gráfica, o que fica claro logo nos primeiros segundos de Nick Gwerk’s Jigs, uma das quatro peças instrumentais formadas por trechos de canções tradicionais com incursões da própria autoria do sexteto. E a viagem folk ganha ares quase punk na urgência de delícias como Molly Maguires e The Devil Drink Cider.


Há ainda espaço para as já quase obrigatórias vozes femininas, com ótimas participações de Manu Saggioro (em The Calling) e Daísa Munhoz (na ótima releitura para a bicentenária The Wind That Shakes The Barley). Como bônus (somente por não ser parte do conceito do resto do disco), temos a autoral King – uma merecida “desomenagem” a um genocida que carrega a faixa presidencial em um certo país tropical. Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência. Ou não. Enfim, In Nomine Éireann é um disco divertido e viciante, digno de fazer parte de uma das discografias mais equilibradas de nossa cena. (NOTA: 9,05)

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Gravadora: Heavy Metal Rock (nacional)

Prós: repertório caprichado e bela produção

Contras: absolutamente nada a reclamar

Classifique como: Folk Metal

Para Fãs de: In Extremo, Skyclad

Fates Warning – Long Day Good Night (CD-2020)


 

Uma Longa e Bela Jornada

Por Trevas

Para o 13º disco de estúdio dos titãs do Metal Progressivo, o dono da bola, Jim Matheos, trabalhou arduamente, desde meados de 2019, com seu parceiro musical de longa data, o vocalista Ray Alder. O resultado final, Long Day Good Night, nos brinda com 13 novas faixas. Supostamente o trabalho mais variado da longa carreira da banda, segundo a dupla. Quem me conhece, ou acompanha a Cripta, sabe que essa é uma das minhas bandas de cabeceira, então levei um tempo até assimilar com justiça o disco, que ganhou caprichadíssima versão nacional pela Urubuz Records (papel de alta qualidade no encarte, ponto para eles!). Vamos lá.

Matheos, Abdow, Alder, Vera & Jarzombek

Melancolia é uma constante no bestiário Fateswarniano, e aqui não é diferente: The Destination Onward abre o disco de maneira nada urgente, mas o faz com sucesso. E quando Shuttered Wolrd chega a nossos ouvidos, já está claro se tratar intencionalmente de um CD para lá de acessível. Para os padrões da banda, claro.


Não me lembro de tantos refrães de fácil assimilação no mesmo disco dos caras, e longe de mim insinuar que isso seja um indicativo de diluição do som do Fates Warning: os longos 72 minutos de Good Day Long Night parecem voar, justamente por conta disso. E não há o que temer, tudo o que amamos na banda está presente aqui, a épica Longest Shadow Of The Day não me deixa mentir.


Mas há também um senso maior de urgência, gerando resultados tão dispares quanto os riffs encardidos de Shuttered World e Liar e sutilezas como nas belas Under The Sun e When The Snow Falls. Confesso que demorei um bocado a entrar de cabeça nesse novo mundo de Matheos e Alder, mas uma vez que Long day Good Night clicou na minha mente, foi um caminho sem volta. Outro disco fenomenal, e de fato o mais variado da carreira da banda mais bacanuda de seu subgênero. (NOTA: 9,21)

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Gravadora: Urubuz Records (nacional)

Prós: belas melodias e refrães, num disco variado

Contras: achei o som ligeiramente abafado

Classifique como: Prog Metal

Para Fãs de: Queensrÿche