quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Clutch – Earth Rocker (CD - 2013)

Clutch - Earth Rocker

Clutch – Earth Rocker (CD - 2013)
Por Trevas

Prólogo - As Sete Faces do Dr. Clutch

Grunge? Hard Rock? Post-Hardcore? Stoner? Metal Alternativo? Blues Rock? Heavy Rock?

Parece que desde a criação da banda, nos começando-a-ficar-distantes anos 1990, todo e qualquer ser vivo que esbarrou com a música do Clutch perdeu um pouco que seja de seu valioso tempo discutindo que rótulo melhor representa o som dos malucos de Maryland.

Quer dizer, quase todo e qualquer ser vivo, a própria banda sempre defecou solenemente para rótulos...

Inicialmente uma banda barulhenta e pouco afeita a sutilezas, como fica claro a uma mínima audição de seu primeiro hit, A Shogun Named Marcus, faixa de abertura de seu não muito promissor primeiro disco (e que chegou a ouvidos mais amplos via inserção em um episódio de Beavis And Butthead), o Clutch evoluiu um bocado, aos poucos aflorando o interesse de seus membros por Doom Metal, Stoner, Blues Rock, rock dos anos 1950 e R&B...

Tudo misturado de uma maneira única, moldando a personalidade idiossincrática e prá lá de cultuada da banda. E por "a banda", desde 1992, leia-se: Tim Sult (guitarras), Neil Fallon (voz e guitarras), Dan Maines (baixo) e Jean-Paul Gaster (bateria), unidade apenas quebrada pela inserção de um tecladista entre 2004-2007.

Clutch - 2013
E se Beavis & Butthead deram o pontapé inicial no status de banda Cult que o Clutch angariaria, foi outro ícone do besteirol o responsável por catapultar de vez a música dos caras. A banda já tinha uma carreira razoavelmente estabilizada na cena underground estadunidense quando Bam Margera, o boçal por trás do Jack Ass e Viva La Bam, adotou a fantástica The Mob Goes Wild, do igualmente fantástico disco Blast Tyrant. Bam divulgou a música, tendo dirigindo inclusive um videoclipe com seus colegas de TV para o rockão (ver resultado abaixo). Para a Classic Rock Magazine, The Mob Goes Wild seria o primeiro dos hinos do rock no recém inaugurado século 21.



Dali para frente o Clutch gravaria outros grandes discos, como Robot Hive/Exodus (mantendo a fúria meio Stoner de Blast Tyrant) e From Beale Street to Oblivion e Strange Cousins From The West (nesses últimos tendo mergulhado mais fundo no Blues Rock envenenado).



Mas foi durante uma turnê com os ídolos Thin Lizzy e Motorhead, nos idos de 2010 que uma luz acendeu na mente dos membros do Clutch: O Cenário Rocker atual carecia de discos como os dessas duas bandas, obras diretas e curtas de puro escapismo e diversão. E foi com a meta de reproduzir os resultados (e não o som) de bandas como as duas citadas que a banda então adentrou o estúdio para compor seu décimo trabalho.


Earth Rocker - 11 odes ao mais puro Rock And Roll

Com a faixa de capitão do time distribuída ao mesmo produtor do agora clássico Blast Tyrant, um tal Machine, e contendo uma bela arte gráfica que muito lembrou o conceito de Audio Visions do Kansas, Earth Rocker cospe grosso desde seu primeiro minuto.

A faixa título é a demonstração cabal da habilidade de Neil Fallon com letras, ao melhor estilo Lemmy Kilmister. A história sobre a mesma fora contada em entrevista à Metal Hammer:

Neil disse que ao passar dos anos uma das coisas que mais teve que escutar foi:

“Qual Sua Profissão?”

Ao responder ser um músico profissional, sempre se deparou com olhares que por vezes mesclavam reprovação contida, outras vezes pura pena. Cansado desse tipo de reação, ao ser perguntado sobre sua profissão passou a responder: “I’m A Full Time Jammer”

O nome do disco seria esse a princípio, mas Neil corretamente achou o termo meio pedante para alguém que queria trazer de volta a essência do rock mais simples. Transformou a expressão em Earth Rocker. E nessa faixa faz então uma mistura de ode ao estilo de vida rocker e também uma piada com os músicos que se esquecem do quão abençoada a vida na estrada é. Uma pedrada perfeita com uma letra irônica e divertida.

Neil Fallon: Barba maneira, voz idem.

A pancadaria rock and roll prossegue com Crucial Velocity, cujo refrão faz referência à Rocket 88, faixa que ficara famosa com Ike Turner nos anos 1950 e que para muitos é considerada o primeiro rock da história. Mr. Freedom é outro bom exemplo do som do Sr. Capiroto, um rockão rápido com um riff tão simples quanto brilhante, cortesia do sempre inspirado  Tim Sult.


Quem até aqui teve a impressão de que o novo Clutch trouxe uma pegada bem mais acelerada ao som da banda vai passar então a ter certeza quando DC Sound Attack!, com seu groove incendiário marcado por uma cozinha poderosa e um inesperado riff de gaita, espancar os alto falantes. Unto The Breach só parece uma faixa mundana por estar espremida entre tantos postulantes a clássicos, pois também tem muita qualidade.

Gone Cold é um ótimo blues semi-acústico muito influenciado pela experiência da banda nas releituras acústicas do EP Baskett Of Eggs. Um ótimo portfólio para a voz de Neil Fallon, uma evolução que poucos apostariam ao escutar seu primeiro registro com o Clutch.


The Face mantém a quebra de ritmo, mas reascende o peso, com sua pegada algo Doom pontuada por um excelente refrão e ótima linha de baixo. O ritmo acelera de novo com as boas Book, Saddle, And Go e Cyborg Bette. Oh, Isabella é uma das melhores faixas já escritas pelo Clutch, com passagens de guitarras alucinantes e uma atmosfera épica que torna a faixa de encerramento ( a legal The Wolfman Kindly Requests...) até pálida em comparação.



Saldo Final

Earth Rocker atingiu o 15º posto nas paradas da Billboard e o primeiro lugar no ITunes na categoria Rock (e quarto lugar no total). Nada mal para um disco de “Vintage Rock”, feito por uma banda sem muito apoio da grande mídia e com figuras nada afeitas ao esteriótipo de rockstar. Um feito e tanto, não?

Pois é. A explicação para isso é simples assim: Earth Rocker é um discaço!

Não perca tempo, se você nunca ouviu falar da banda e ficou curioso, Earth Rocker é um ótimo ponto para adentrar o mundo do Clutch.

O Vício é quase garantido!  

NOTA: 9

Ficha Técnica
Banda (Nacionalidade): Clutch (EUA)
Título (ano de lançamento): Earth Rocker (2013)

Mídia: CD
Gravadora: Weathermaker Music (Importado)
Faixas: 11
Duração: 44’

Rotule como: Heavy Rock, Stoner Rock, Qulaquercoisa-Rock, caceta!

Indicado para: fãs de rock sem concessões 

Passe longe se: seu ideal de paraíso envolver John Mayer, Beyonce, Justin Timberlake e ursinhos carinhosos 

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Curtas: Volbeat, Audrey Horne, The Winery Dogs & Judas Priest



Curtas: Volbeat, Audrey Horne, The Winery Dogs & Judas Priest
Por Trevas

Volbeat - Outlaw Gentlemen & Shady Ladies


Volbeat - Outlaw Gentlemen & Shady Ladies (CD - 2013)

Evocando o Rei Elvis com a benção do Rei Diamante

Banda dinamarquesa de ascensão meteórica na cena européia, o Volbeat faz uma mistura de Punk Rock, Rockabilly, Heavy Metal e country, tendo conquistado uma horda de admiradores dentre os colegas músicos. Apadrinhados por James Hetfield (que se refere à banda como sendo uma espécie de “Elvis Metal”) e agora contando com Rob Caggiano (ex-Anthrax) na guitarra solo, sempre sob a batuta de Michael Poulsen (guitarra e voz), os dinamarqueses prepararam com cuidado seu quinto rebento, o sucessor do multiplatinado Beyond Hell/Above Heaven.

Volbeat 2013

Tendo encontrado seu som logo em seu debut, o Volbeat não muda muito a fórmula no novo disco, excelentemente produzido por Caggiano. Após a abertura tipicamente western, temos duas boas canções radiofônicas, Pearl Hart e Nameless One. A ótima Dead But Rising puxa a mistura um pouquinho mais para o lado metálico da coisa e o primeiro single, Cape Of Our Hero, pode não ser a melhor faixa do disco, mas exala “hit” por todos os poros. E se o estilo de Poulsen em muito se inspira no Rei Elvis, temos a participação de outro “Rei” em Room 24: King Diamond. O mestre do falsete, o produto tipo exportação mais conhecido do metal dinamarquês (ah, ta, tem o mala do Lars...), faz dessa música (que em muito lembra os melhores momentos do Mercyful Fate) um dos destaques absolutos do disco. Os demais destaques ficam para as pesadas The Hangman’s Body Count, Black Bart e Doc Hollyday, assim como para a participação de Sarah Blackwood em Lonesome Rider. Com sua temática calcada nos vilões míticos da história Norte Americana, Outlaw Gentlemen & Shady Ladies é um disco divertido e que deverá agradar até mesmo àqueles não familiarizados com estilos mais pesados dentro do rock.

NOTA: 8

Recomendado para: fãs de rockabilly, punk rock, metal e de rock em geral...
Passe longe se: não curtir muito misturas de estilos.


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Audrey Horne - Youngblood
Audrey Horne - Youngblood (CD - 2013)

Uma pérola da saturada cena Retro-rock

Inicialmente talhado como um projeto paralelo de membros da cena extrema da Noruega (contando com gente de bandas como Enslaved, Gorgoroth, Coldseed e Sahg) com o intuito de homenagear as bandas clássicas do rock pesado, o Audrey Horne, exatamente por se tratar de um projeto, passou por mudanças de formações constantes desde sua criação. Essas mudanças ocasionaram também um contínuo desenvolvimento da sonoridade da banda, que sorrateiramente migrou para a cada vez mais saturada cena retro-rocker/stoner que virou a modinha musical do momento, em especial na Escandinávia.

Audrey Horne, em Twin Peaks era mais bonita 
Mas basta a audição de poucos segundos de Redemption Blues (ver vídeo) para nos certificarmos estar diante de um produto que se destaca dentro da cena. Doses cavalares de Thin Lizzy, UFO, Kiss e Foghat permeiam cada uma das dez excelentes canções de Youngblood (treze na edição digipack). A trinca inicial, com a já citada Redemption Blues, Straight Into your Grave e a faixa título sozinhas já valeriam o disco, mas nenhuma das outras faixas fica muito atrás, não. As guitarras harmonizadas, o baixo pulsante e bem destacado, a bateria solta e, sobretudo os ótimos refrãos tornam Youngblood um dos melhores discos de 1978 lançados em 2013.

NOTA: 9

Recomendado para: fãs de Thin Lizzy, Foghat e “classic rock” em geral
Passe longe se: estiver muito saturado de Retro Rock e Stoner...


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The Winery Dogs
The Winery Dogs (CD - 2013)

Supergrupo nada recomendado para diabéticos

Nos últimos anos muito se ouviu falar sobre uma nova encarnação do Blue Murder, contando com John Sykes (Whitesnake, Blue Murder, Tygers Of Pan Tang, Thin Lizzy) na guitarra e voz, aliado aos novos membros Mike Portnoy (ex-Dream Theater e 789 projetos) e Billy Sheehan (Talas, Mr. Big, Dave Lee Roth) no lugar dos originais Carmine Appice e Tony Franklin. Bom, esse Winery Dogs é o supergrupo nascido do fracasso em reavivar o combo oitentista. Alegando falta de comprometimento de Sykes, Sheehan e Portnoy recrutaram o talentoso Richie Kotzen (Poison, Mr. Big) para o posto de vocalista/guitarrista do Power trio.

Sheehan, Portnoy & Kotzen - virtuoses açucarados
O disco resultante dessa união deve ser o detentor do recorde de convenções por minuto, como se precisássemos a todo o tempo ser lembrados da evidente proficiência do trio em seus respectivos instrumentos. Mas o mais curioso é que a bolachinha, apesar das demonstrações explícitas de virtuosismo, é guiada por canções e pela bela voz de Kotzen (que remete um pouco ao Chris Cornell, mas bem poderia nos deixar longe dos maneirismos à lá Prince), lembrando em muito o material solo do talentoso rapaz. Como acontece na maior parte do trabalho do guitarrista, temos aqui um Hard Pop polido e repleto de influências de Soul e Funk, tudo muito certinho e um tanto quanto açucarado demais. Elevate e a balada I’m No Angel puxam o resto do disco a reboque, numa audição que se torna mais cansativa a cada minuto. Se o Winery Dogs seguir o tradicional caminho de dissolução meteórica, o que acomete 99% dos supergrupos, a tomar por esse debut não teremos grandes motivos para chorar a perda.

NOTA: 6

Recomendado para: fãs de punhetagem explícita e da açucarada carreira solo de Kotzen.
Passe longe se: for diabético.


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Epitaph - Cartaz de Cinema
Judas Priest - Epitaph (Blu Ray - 2013)

Despedida de Gala em Alta Definição

Gravado no último show da Epitaph World Tour, esse é o primeiro registro em alta definição para um show de uma das mais influentes bandas de Heavy Metal da história. Aos desavisados, a Epitaph Wolrd Tour marcou a despedida do Judas Priest das turnês mundiais, tendo sido anunciado que a partir de agora a banda tocará eventualmente em festivais, sempre em território europeu. E para comemorar essa despedida, o Priest preparou uma produção de palco caprichada, coroando a escolha de um repertório que passa por cada um dos lançamentos da banda sob o comando de Rob Halford. Cada um dos quatorze discos que contaram com o Metal God nos vocais possuem ao menos um representante aqui.


Quem teve o prazer de assistir a banda nessa turnê aqui no Brasil já sabe o que esperar, 22 hinos do metal perfeitamente interpretados em mais de duas horas, com iluminação de primeira, efeitos visuais bacanas e alguma pirotecnia. Halford está em sua melhor forma vocal desde seu retorno à banda, e a despeito dos problemas de coluna que em muito limitam sua movimentação (e que atualmente deixaram o careca em uma cadeira de rodas por algum tempo), o sexagenário tem aqui uma performance de fazer inveja a 99% dos aspirantes a vocalistas com metade de sua idade ao redor do mundo. Com Dio em outro plano astral, Rob passa a ser o maior vocalista de Heavy Metal em atividade. O restante da banda faz seu trabalho com esmero, e a adição do britânico (e bem mais jovem) Richie Faulkner (da banda de Lauren Harris, filha do Sr. Iron Maiden) no lugar do demissionário KK Downing acabou por se tornar uma grata surpresa, trazendo um bocado de vitalidade e virtuosismo ao show do Priest.
De negativo, há de se destacar a ausência de extras e o uso desnecessário de um ou outro efeito de edição. De resto, um show excelente, com qualidade de imagem e som perfeitos. Cabe ressaltar que aqui no Brasil esse show só está disponível em DVD.

NOTA: 9,5

Recomendado para: qualquer fã de metal que se preze...
Passe longe se: seu negócio for John Mayer...