segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Fates Warning – Theories Of Flight – Deluxe Edition (2 Cds – 2016)

Fates Warning - Theories of Flight
Voando Alto
Por Trevas

Prólogo: Um Pioneiro Cult

Pioneiros do infame Progressive Heavy Metal, os estadunidenses do Fates Warning nunca conseguiram o sucesso comercial de seus colegas mais famosos (Queensrÿche e Dream Theater). Tendo iniciado sua trajetória com uma sonoridade derivada da NWOBHM e da vertente americana do Power Metal, logo evoluíram (evolução=mudança, ok?) para uma seara bem mais complexa, gerando um dos mais incensados rebentos dos primórdios do Prog Metal, Awaken the Guardian. A saída do vocalista John Arch veio em conjunto com uma mudança de estilo, cada vez mais progressivo e sofisticado. Embora a crítica trate todos os trabalhos da banda com carinho, os temas introspectivos e soturnos, associados à uma ética de trabalho algo errática e com pouco tino comercial talvez sejam os culpados pela banda ter ficado eternamente relegada à árida “Terra das Bandas Cult”.

Awaken the Guardian, uma espécie de Meca do início do prog metal
Particularmente, não sou um grande entusiasta do Metal Progressivo, em especial após a popularidade do Dream Theater ter tornado o mesmo sinônimo de mero exibicionismo e elitismo musical. Mas o Fates Warning figura desde sempre entre minhas bandas favoritas. A explicação? A preocupação em valorizar sempre conteúdo ao invés da forma. A técnica apurada para o FW serve, salvo raras exceções, apenas para realçar canções inteligentemente construídas. Aliás, é o que fazia a diferença entre o Rock Progressivo de qualidade e as bandas derivativas que fizeram o estilo virar uma caricatura esquecida ao final da década de 1970 (renascendo sob nova forma e inspiração no Neo Prog oitentista).

Fates Warning circa Parallels (1992)
Mas a despeito de gostar de todos os trabalhos dos caras, desde o longínquo Inside Out (de 1994) que o Fates Warning vem lançando discos bacanas, mas que por um motivo ou outro falham em se tornar memoráveis o suficiente para rivalizar com os clássicos. Sinceramente eu já não esperava que isso fosse acontecer. Até que esbarrei com Theories Of Flight (aqui analisado em sua edição Deluxe, contendo um disco bônus encartado em belo digipack)...

Analisando As teorias de Vôo

O disco começa de uma maneira diferente, com From the Rooftops (ver vídeo) e seu início calmo ornados pela voz bonita de Alder e belos solos de Matheos. Lá pelos 2:00 a faixa se transforma numa pancadaria marcada pela bateria agressiva do monstro Jarzombek (Halford, Riot) e grandes melodias vocais. O guitarrista Frank Aresti, colaborador de longa data (na verdade, ex-membro), faz uma participação no ótimo solo final. Uma grande música que já mostra que o disco vem com uma pegada diferente.


Seven Stars confirma aquilo que o bom ouvinte já sabe, o Fates Warning em muito se diferencia de seus pares no árido terreno do Prog Metal por valorizar climas e melodias tanto ou mais do que a mera complexidade instrumental. O refrão aqui é daqueles que bem poderia fazer história numa rádio se de posse de uma banda de AOR.



A produção, nas mãos de Jim com mixagem do onipresente Jens Bogren, é um show à parte, talvez nenhum disco da banda tenha soado com tanto punch quanto esse. Ao que parece, a experiência recente de Jim Matheos com John Arch (vocalista da fase mais heavy metal da banda) reacendeu uma chama há muito esquecida. O “patrão” está pegando bastante pesado nos riffs e trazendo solos bem mais agressivos do que vinha fazendo. Ajuda também o enfoque de Jarzombek nas linhas de bateria, bem mais metálico e moderno do que o usual da banda. Duvida? Escute então a trauletada que é SOS, uma faixa vigorosa, mas que não dispensa um belo refrão na conta do para lá de inspirado Ray Alder. Um de meus vocalistas favoritos, o “chicano” faz nessa bolachinha uma de suas melhores performances da carreira.

Fates Warning 2016 (Joey Vera com seu eterno cabelo Cascão)
The Light And Shade Of Things é o primeiro dos dois épicos om mais de 10 minutos do disco. De início calmo e repleto de fraseados climáticos algo Gilmourianos, a música transmuta em um mamute enfurecido após os 3 minutos, num dos melhores momentos de toda a carreira dos estadunidenses. Ficarei extremamente surpreso se não vier a se tornar um clássico de presença obrigatória nos futuros shows.

White Flag é tão direta e pesada que talvez engane um incauto ouvinte. Já é uma faixa excelente por si só, mas ainda tem o requinte de crueldade de trazer um duelo de solos entre o monstro Mike Abdow (que faz as guitarras solo nos shows atuais da banda) e o membro honorário Frank Aresti. The Stars Our Eyes Have Seen parece misturar as melodias bonitas e radiofônicas de Parallels e Inside Out com um arranjo para lá de agressivo, em outro petardo impressionante.


Como nem tudo é perfeito, o disco ameaça dar uma escorregada, ainda que de leve, justamente quando o Fates Warning tenta soar como uma banda de Prog Metal qualquer. Isso acontece no segundo épico do disco, The Ghosts of Home, que dilui boas ideias (inclusive do baixo do sempre bacana Joey Vera) naqueles típicos “piruliruli-pirulirulu-pim-pom-pum” que fazem os onanistas musicais adularem o Dream Theater e suas cópias. Mas ainda assim a faixa acaba se salvando com sua linha melódica bastante diferente e até mesmo alegre para os padrões usualmente melancólicos da banda.
O disco encerra seus 52 minutos na faixa título, uma daquelas peças instrumentais misteriosas e climáticas que se tornaram marca registrada de Jim Matheos.

Saldo Final

Theories of Flight é o melhor disco do Fates Warning no mínimo desde Inside Out. Pesado e inspirado, o disco deveria ser usado como exemplo de como o Prog Metal ainda pode sim soar relevante e nada caricato (viu Dream Theater???). É também um fortíssimo candidato a melhor disco de 2016. Obrigatório!  

NOTA: 9,85

Pontos positivos: grandes músicas, ótimas performances e produção perfeita
Pontos negativos: Nada a destacar
Para fãs de: Prog Metal sem profusão de convenções
Classifique como: Prog Metal

Disco Bônus:

O segundo disco traz seis faixas em formato acústico. Os arranjos são simples, mas cuidadosos e o formato só vem a corroborar a qualidade das melodias vocais das músicas da banda. São três faixas próprias e três covers. As belas Firefly, Seven Stars e uma surpreendente versão para Another Perfect Day fazem as vezes do bestiário Fateswarniano aqui representado.  As três covers que completam o disco bônus tem origens tão díspares que só vem a mostrar o grau de ecletismo dos caras da banda. A primeira é Pray Your Gods, gravada em 1991 por Toad the Wet Sprocket. Quase tão soturna quanto a bela original, mostra-se uma escolha tão surpreendente quanto acertada. Adela é a improbabilíssima curta versão para uma música de Joaquim Rodrigo, o virtuose espanhol responsável pelo Concerto de Aranjuez. Rain, do Uriah Heep definitivamente é a única das escolhas que deve soar coerente aos ouvidos da maioria dos fãs. Enfim, em uma época em que os materiais bônus geralmente chafurdam num monte de entulho redundante (versões demo das músicas do disco ou versões ao vivo mal gravadas), há de se considerar que o Fates Warning fez uma aposta bem bacana aqui. Uma pena que as seis faixas contabilizem pouco mais de vinte minutos.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Curtas: Gary Moore, Lacuna Coil, Deftones, Sunstorm

Gary Moore, Lacuna Coil, Deftones, Sunstorm

Curtas: Gary Moore, Lacuna Coil, Deftones, Sunstorm

Gary Moore - Live At Bush Hall 2007 (Cd-2016)
Gary Moore – Live at Bush Hall 2007 (Cd-2016)

O Baú do Tio Moore

Lançado originalmente lá fora em 2014 numa edição que logo saiu de catálogo, esse é o relançamento brasuca de mais um ao vivo do cara de Morcego. Gravado às vésperas do lançamento de Close as You Get, disco de 2007, temos aqui o registro de um show bem diferente. Primeiramente, o show fez parte de uma promoção de uma rádio britânica, e os 400 felizardos presentes no evento compõe o hall de vencedores dessa promoção. E outro fator que fez desse show único é que seu set está calcado majoritariamente no repertório do disco novo. Que bacana que Close As You Get é muito bom, como vemos nas ótimas If The Devil Made Whiskey, Eyesight to the Blind, I Had a Dream, Trouble at Home e na versão para Thirty Days de Chuck Berry. Claro que estamos falando de um Gary em sua fase Blueseira, mas os fãs de seu lado mais hard tem uma ótima versão de Don’t Believe a Word, clássico do Thin Lizzy, para se divertir um pouco. De resto, um disco muito bem gravado, com ótima performance vocal e guitarrística do irlandês. O único senão fica por conta da participação do público, bastante tímida, obviamente por conta do número de espectadores e pelo clima intimista do show. Um grande lançamento que nos deixa esperançosos de que o baú do tio Moore ainda esteja repleto de belezuras ao vivo.

NOTA: 8,50

Pontos positivos: ótimas rendições para as músicas de Close as you get e alguns clássicos
Pontos negativos: plateia bem no fundo na mixagem.
Para fãs de: Joe Bonamassa, Rory Gallagher
Classifique como: Blues Rock


O saudoso cara de morcego, debulhando sua guitarra
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Lacuna Coil - Delirium (Cd-2016)
Lacuna Coil – Delirium (Cd-2016)

Bendita Loucura

O oitavo disco de estúdio dos italianos foi elaborado em situação extremamente incomum. O baixista Marco Coti Zelati ficou boa parte da turnê de divulgação de Broken Crown Halo no estaleiro, utilizando esse período de férias forçadas para exercitar seus talentos como compositor. Em paralelo, os italianos sofreram com uma espécie de demissão coletiva, com os membros de longa data Cristiano "Criz" Mozzati, Cristiano "Pizza” e Marco "Maus" Biazzi abandonando o barco no período de um ano. Tempos sombrios, temática sombria. Os vocalistas Cristina Scabbia e Andrea Ferro resolveram aproveitar o surto criativo de Zelati, e escolheram como tema central do novo trabalho explorar os recônditos mais sombrios da mente humana. Loucura, depressão e os horrores dos tratamentos psiquiátricos e suas instituições num passado não muito distante figuram nas letras de Delirium.


A temática trevosa acabou por gerar o disco mais pesado e sombrio da banda. Andrea Ferro tem aqui sua melhor e mais brutal performance até hoje (lembrando em algumas partes o Burton C Bell) e faixas como The House of Shame e as viciantes My Demons, Ghost in the Mist, Broken Things e Take Me Home bebem em iguais proporções das fontes do Metalcore, Groove Metal e Gothic Metal. Cris Scabbia também mudou em parte sua maneira de cantar, como fica evidente nos agudos estratosféricos da excelente faixa título. As guitarras são um caso à parte. Enquanto Zeloti gravou praticamente todas as bases, os solos ficaram ao encargo de músicos convidados, que trouxeram solos mais trabalhados do que o habitual. Entre os convidados, a surpresa fica por conta de Myles Kennedy, no belo solo da boa balada Downfall. Enfim, Delirium não é um retorno às origens, como foi vendido em declarações para a imprensa. O disco é ainda mais sombrio e pesado que os trabalhos mais antigos da banda, mas bastante moderno e bem mais sofisticado. Eis que da escuridão absoluta e da loucura surge o provável melhor trabalho do Lacuna Coil. Muito bom!

NOTA: 8,71

Pontos positivos: disco mais sombrio da banda, com a melhor performance vocal de Andrea Ferro até hoje
Pontos negativos: sua produção algo saturada pode causar cansaço.
Para fãs de: Paradise Lost, Delain, Within Temptation
Classifique como: Gothic Metal, Metal Moderno

Cris quer saber se você já tomou seu remedinho hoje
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Deftones - Gore (Cd-2016)
Deftones – Gore (Cd-2016)

Beleza Americana

Supostamente Gore é o disco que marcou a dissidência entre o guitarrista Stephen Carpenter e o vocalista Chino Moreno, por conta do direcionamento musical menos pesado forçado pelo último. A polêmica foi amplamente ventilada nos meios de comunicação especializados e parecia antecipar uma mudança drástica na sonoridade dos estadunidenses, talvez o único exemplar do moribundo Nu Metal a ainda contar com grande aceitação por parte da crítica. Mas ao colocar a bolachinha para rodar, fiquei com a impressão de que tudo não passou de um grande embuste, estratégia de marketing para chamar a atenção num mercado cada vez mais saturado de lançamentos. Não, Gore não é ruim, não mesmo. Mas sua sonoridade também não representa nada de tão novo na discografia Deftoniana. Diria que parece um cruzamento entre o comercial e direto (e ótimo) Diamond Eyes e o diversificado (e muito bom) Koi No Yokan. As melodias estranhas e ainda assim grudentas de Chino estão lá, fazendo de músicas algo incomuns como Prayers/Triangles, Hearts/Wires e (L)Mirl potenciais hits. Aliás, sou só eu ou alguém mais consegue ver o paralelo entre as linhas melódicas de Chino e as da Islandesa Bjork?


Engana-se quem acreditou que a produção do experiente Matt Hyde (Monster Magnet, Machine Head, Slayer, Slipknot...) deixaria a banda soar leve demais (vide porradas como Doomed User). As guitarras de Stephen Carpenter estão ali, destilando riffs à sua maneira peculiar, mas dessa vez experimentando um pouco mais, como nas dobras Ironmaideanas de Pittura Infamante e da belíssima Phantom Bride, essa última com participação do monstro Jerry Cantrell. Talvez o grande diferencial e maior charme de Gore seja o senso algo cinemático do material, que faz com que seus 51 fantasmagóricos minutos venham a fluir agradavelmente de forma contínua, ainda que as faixas tenham vida própria para o ouvinte casual. Um disco bonito e estranho que conta com ótima arte gráfica em seu lançamento nacional e que figura como forte candidato a entrar nas listas de discos do ano ao redor do globo.   

NOTA: 8,74

Pontos positivos: melodias vocais belas e intrincadas, boa cadência dando senso de continuidade na audição do disco
Pontos negativos: experimental demais a alguns ouvidos
Para fãs de: Bjork, Tesseract, Korn
Classifique como: Nu Metal, Metal Alternativo, Metal Moderno


Chino e sua trupe, aprontando muita confusão na sessão da tarde
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Sunstorm - Edge of Tomorrow (Cd-2016)
Sunstorm – Edge of Tomorrow (Cd-2016)  

Tempestade de Farofa

Edge of Tomorrow é o quarto rebento do projeto AOR capitaneado pelo veterano vocalista Estadunidense Joe Lynn Turner (Rainbow, Deep Purple, Malmsteen). Dessa vez o “Seu Peruca” resolveu reformular por completo a banda que o acompanha. Ao invés da base do Pink Cream 69, Joe cooptou um bando de pistoleiros de aluguel do selo AOR Frontiers, tendo à frente o tecladista e compositor Alessandro Del Vecchio, ser onipresente nos lançamentos atuais da gravadora italiana. A sonoridade, supostamente mais pesada que nos discos anteriores, na verdade está bastante próxima ao estilo de composição de Del Vecchio, que assina quase todas as faixas (com exceção de uma contribuição de Jim Peterik, do Survivor na oitentista The Sound of Goodbye): ou seja, uma sonoridade que geralmente lembra um Journey um pouco mais melancólico e rocker.


As faixas, aliás, são todas legais, ainda que raramente memoráveis. Os melhores momentos ficam com Heart of the Storm e a faixa título. Joe pode ser persona non grata para os fãs de Deep Purple e Rainbow, mas continua reinando absoluto quando se trata desse estilo mais comercial de Hard Rock. A banda toda é muito boa, mas quem brilha na parte instrumental é o guitarrista Simone Mularoni, que destila riffs e solos muito bem arquitetados e até mesmo mais vigorosos do que se esperaria. A produção, sob a batuta de Del Vecchio, é aquela tipicamente polida e algo plástica, tão característica dos trabalhos da Frontiers, fato que já começa a incomodar. Enfim, um bom disco, divertido e cliché até a medula e que irá agradar em cheio aos fãs de um AOR old school.

NOTA: 7,93

Pontos positivos: boas interpretações de Joe e ótimos solos de Mularoni
Pontos negativos: produção pasteurizada e canções bacanas, mas bem manjadas
Para fãs de: produções típicas da gravadora Frontiers
Classifique como: AOR, Melodic Hard Rock


Tio Joe, boquiaberto com o novo lançamento das Perucas Lady

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Inglorious – Inglorious (Cd-2016)

Inglorious (Cd-2016)
Hard Glorificado

Nathan James é um daqueles músicos que fãs xiitas de Heavy Metal adoram odiar. Com passagens por reality shows de gosto extremamente duvidoso, como Superstar e The Voice, o vocalista britânico também emprestou seus dotes a bandas tão díspares quanto Trans-Siberian Orchestra e Uli Jon Roth. Embora seu disco solo traga a xaropagem que se espera de um cantor de reality show, Nathan também resolveu dividir seu tempo com uma banda que reflete seu amor pelo Hard e Classic Rock: o Inglorious.

Cara de xarope, voz porreta - Nathan James
E desde a primeira música o combo britânico deixa bem claro sua marca, um Hard Rock que busca em proporções iguais influência na nata do Hard dos anos 1970/1980. Until I Die (ver vídeo) é grooveada e lembra um bocado algo do Badlands. Breakaway tem muito de Whitesnake, em especial nas harmonias vocais.


High Flying Gypsy (ver vídeo) é cadenciada e um pouco calcada em algo que Axel Rudi Pell ou Dio fariam. A voz de Nathan, que faz lembrar um bocado o saudoso Ray Gillen, carrega a banda mesmo em momentos menos inspirados como esse.


Holy Water (ver vídeo) traz uma montanha de classic rock e até mesmo pitadas de soul à mistura, numa power ballad bastante interessante. O slide no início de Warning poderia indicar mais um Blues Rock, mas o que temos é um Hard visceral. Aqui temos também a demonstração de que os dotes de Nathan nem sempre jogam para o time, vide os gritinhos desnecessários, que infelizmente aparecem em outros momentos da bolachinha.


Bleed For Me é uma bela Power Ballad com um pé fincado nos anos 1980 e outro na década anterior e que conta com uma puta interpretação vocal e bom solo de Andreas Eriksson. Girl Got A Gun (ver vídeo) foi a primeira faixa de trabalho do disco e traz um pouco mais de modernidade em sua estrutura Hard.


You’re Mine é mais um Hard moderno um pouquinho genérico, mas eficiente, a despeito dos exageros de Nathan. Já a faixa título, essa é o destaque absoluto do disco, uma ode ao Rainbow fase Dio, com sua aura épica, lembrando em muito também o Heaven & Earth (o que dá quase no mesmo, convenhamos).

Nathan e os bastardos inglórios
Wake é a típica balada considerada obrigatória para bandas de Hard na década de 1980. Chata como a maioria delas, diga-se. De longe o ponto baixo do disco. Após uma introdução ao piano, Unaware (ver vídeo) conquista com sua mescla do hard clássico com o moderno e um refrão matador.


Saldo Final

O primeiro trabalho do Inglorious é um disco de Hard bem agradável, mas que por vezes compromete sua identidade em meio à uma miríade de referências e reverências às bandas clássicas do estilo. A mixagem, que deixa os vocais de Nathan na estratosfera, acaba dando a impressão de que o grupo não passaria de um canal para exibição dos dotes da estrela da companhia. Bom, espero estar enganado e que o Inglorious perdure, já que a estreia foi para lá de promissora.


NOTA: 7,96


Pontos positivos: boas canções fazem a audição do trabalho como um todo ser bem agradável
Pontos negativos: uma miríade de referências que acaba prejudicando a identidade da banda; vocais muito à frente na mixagem.
Para fãs de: Axel Rudi Pell, Heaven & Earth e Rainbow

domingo, 14 de agosto de 2016

Gojira – Magma (Cd-2016)

Gojira - Magma (Cd-2016)

Criatividade em Erupção
Por Trevas


2014, os franceses do Gojira haviam conseguido uma inesperada, ainda que merecida, dose de reconhecimento ao redor do globo, numa rara união entre ótima receptividade por parte de público e crítica. L’Enfante Sauvage (disco de 2012, ver resenha da Cripta), conseguira essa magia. Sonhando em alcançar voos ainda maiores, o quarteto resolve montar seu quartel general em Nova York, mais especificamente no Distrito de Queens. Um sonho de longa data, começa a ser erguido o Silver Cord Studios, pelas mãos dos próprios irmãos Duplantier (a saber, o vocalista/guitarrista Joe e o baterista Mario). Em abril de 2015 o sonho parecia se concretizar, estúdio pronto, partem para uma nova jornada – a gravação do sucessor de seu melhor trabalho até o momento. Mal sabiam que seus sonhos estariam perto de se tornar um enorme pesadelo.


Gojira detonando ao vivo em 2012

Após apenas duas semanas se habituando ao novo estúdio, os irmãos são chamados repentinamente de volta à sua Ondres natal. O motivo? Patricia Rosa, estadunidense e mãe dos dois músicos, fora diagnosticada com um tipo agressivo de câncer. A luta não durou muito, e logo Patrícia deixou esse mundo. Segundo Mario, nesse momento “nos vimos perdidos entre lembranças do passado e um medo palpável do futuro”. Foi com esse peso em suas almas que o quarteto iniciou a tortuosa jornada que culminou em Magma.

Temática



“Eu me lembro quando escolhemos chamar o álbum de Magma. Foi quando nossa mãe estava no hospital, e nos confrontávamos com um turbilhão de sensações. Foi a fase mais difícil para todos, nossos sentimentos pareciam queimar por dentro. E Magma é a expressão certa para definir isso, essa coisa em ebulição dentro da gente. Uma coisa intocável, mas que eventualmente irá entrar em erupção. Fazia sentido naquele momento”. Com essas palavras, Mario definiu para a Metal Hammer a escolha do nome simples e direto para o novo trabalho. Mas se engana quem acredita que apenas dor e escuridão dariam o tom ao disco. Segundo Joe, “nós fizemos o cd num clima de dor e tristeza, num clima de luto. Mas havia também um senso de celebração, pois parecia que ela ainda estava ali com a gente, e de qualquer forma, faz sentido, o amor que ela sempre nos passou sobreviverá enquanto vivermos, e assim adiante”.


Francês na capa da Metal Hammer britânica? Estranho...

O Processo

A construção do novo estúdio fez com que a banda decidisse cuidar de toda a produção, ao contrário do que fizera em L’Enfant Sauvage. O direcionamento seria diferente dessa vez. Se antes a banda centrava em fazer 12 músicas e gravá-las na maneira que haviam sido concebidas, dessa vez tratou de compor e compor e compor. Se alguma música não agradasse a todos, era rapidamente dispensada. E segundo eles, muitas foram dispensadas no tortuoso processo. O direcionamento do disco?  Segundo Joe “menos distorção, mais contraste”.


Magma, faixa a faixa



The Shooting Star parece colocada como faixa de abertura justamente para mostrar explicitamente para os fãs o novo direcionamento. Lenta e climática, a faixa traz um Mario extremamente controlado na bateria e as guitarras de Joe e Christian Andreu quase monolíticas. O baixo de Jean-Michael Labadie apenas marca o tempo e quase não se percebe no mix. A voz de Joe, em camadas e bem progressiva, declama suas letras obviamente em honra da falecida mãe: “When you get to the other side, please send a sign...everlasting love is ever growing...everlasting love is ever dying, it’s in the past you have to let it go”. Uma abertura diferente, mas excelente.






Silvera já é bem mais próximo do que se esperaria ouvir do Gojira, com seus riffs estranhos e bateria quebrada, quase uma continuação da sonoridade do disco anterior. A voz distorcida e gritada de Joe verbaliza mais uma vez a ânsia em salvar o mundo natural. “try to open your eyes to this genocide...when you change yourself you change the world”. Aqui se percebe o quanto a produção da banda está classuda. Em um primeiro momento, tudo parece seco e direto, mas quem ouvir com calma encontrará camadas e camadas de detalhes nos arranjos, como os cantos de monges escondidos em meio a porradaria nessa faixa em específico. Forte candidata a novo clássico.


The Cell traz a loucura rítmica típica dos franceses contrastando com arranjos menos frenéticos nas guitarras, logo descambando para um Groove Metal com ótimo refrão. Aliás, em termos de linhas melódicas nas músicas mais diretas, sempre me chama a atenção o quanto o Gojira deve ao Sepultura, com as frases curtas expelidas com grande preocupação no impacto rítmico e agressividade. Não por acaso, Joe serviu como baixista na primeira encarnação do Cavalera Conspiracy, convidado por Max.

Joe como um elemental da água na Metal Hammer
Stranded surgiu numa brincadeira de Joe com um equipamento novo da Digitech, quando tentava criar algo na linha do Pantera só por diversão. Acabou no disco, como um dos destaques, e não fosse a estranheza típica da banda, poderia muito bem ser um exemplar de Metal radiofônico, tamanho o poderio de seu refrão. A letra fala sobre a falta de conexão entre os seres humanos, seja pela ausência de empatia, seja por falhas na comunicação. Matadora!


E por falar em estranheza, a faixa título está carregada dela. Precedida pela curta intro Yellow Stone, que evoca Black Sabbath ou alguma banda de Sludge, Magma começa climática e descamba para um riff que parece uma orgia entre C3PO, R2D2 e outras robozinhas lascivas em algum puteiro intergaláctico. As vozes, em camadas, evocam letras esquizotéricas em homenagem novamente à passagem da mãe. O riff que se segue ao refrão é Mastodon puro. Aliás, nesse ponto me parece justo que se faça um paralelo entre o novo disco e The Hunter, dos estadunidenses. Confesso que essa foi a faixa que mais demorou a fazer sentido para mim, mas após repetidas audições a ficha acabou por cair. Diferente.

Ratatouille Depardieu, Messieur - Gojira 2016
Pray é mais uma música que mostra a clara intenção de Joe em “cantar mais e gritar menos”, ainda que os gritos estejam lá para marcar o bom refrão numa faixa algo sombria e dinâmica, com um interlúdio instrumental visceral típico dos franceses. O baixo de Jean-Michel aparece bem na cara em Only Pain, uma faixa muito bem construída ao ponto de soar como um épico em seus pouco mais de quatro minutos. Low Lands foi a primeira das músicas do novo álbum a ser apresentada ao público, aparentemente para deixar todo mundo de cabelo em pé e temendo pelo direcionamento do resto do trabalho. Absolutamente climática e etérea em boa parte de seus seis minutos, com o delicado arranjo preparando para o apoteótico final, novamente podendo ser feito um paralelo com o lado mais progressivo do Mastodon. Excelente! Liberation é um epílogo calmo, baseado em percussão e um violão algo folk, que parece saído de Wheels Within Wheels do irlandês Rory Gallagher.


Saldo Final

Novamente o Gojira nos presenteia com uma obra difícil de rotular. Vendido erroneamente como o disco mais acessível dos franceses até o momento, muito provavelmente devido ao tom menos histérico, Magma não é em absoluto um trabalho fácil de digerir. Como acontece com os últimos três álbuns da banda, as músicas até tem vida própria, mas fazem muito mais sentido numa audição completa do disco. Cada nota e clima contribuindo para a cadência da bolachinha. Algo que novamente os coloca par a par com o Mastodon. Enfim, são duas bandas sempre imbuídas em entregar o inesperado e favorecendo o formato em extinção do disco como unidade de expressão artística. Esteja certo de que o que a banda promete a cada trabalho é uma viagem única. E isso eles cumprem, com maestria, ainda que nem sempre essa viagem agrade à todos. Mais um estranho e belo disco.


NOTA: 9,08

Indicado para aqueles afeitos à climas e sons estranhos;
Passe longe se estiver num momento em que busca apenas algo simples e cliché
Para fãs de: Tool, Mastodon, Sepultura, Ihsahn
Classifique como: Prog Metal, Modern metal

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Curtas: Zakk Wylde + Striker + Denner/Shermann + Heart

Curtas: Zakk Wylde + Striker + Denner/Shermann + Heart

Curtas: Zakk Wylde + Striker + Denner/Shermann + Heart


Zakk Wylde - Book of Shadows II
Zakk Wylde – Book of Shadows II (cd-2016)

Gigante gentil

Já com o nome marcado na história do rock como um dos maiores guitarristas em todos os tempos, o prolífico Zakk Wylde anda com dificuldade em manter em seus trabalhos com o Black Label Society um padrão de qualidade condizente com seu imenso talento.
O trabalho semi-acústico Unblackned parece ter dado uma renovada na criatividade do barbudão, que produziu um dos melhores discos de sua banda em tempos (Catacombs of the Black Vatican, ver resenha da Cripta). Talvez a saída fosse alternar o estilo dos trabalhos solo, e é isso que Zakk faz aqui, revivendo sua faceta mais soturna em um disco semi acústico. De início, achei bastante perigosa a referência ao primeiro Book of Shadows. Aquele foi um trabalho único, sombrio e muito bonito, para muitos o melhor momento do gigante amigo fora da tutela do tio Ozzy. Aí escutei a primeira música de trabalho, Sleeping Dogs, e fiquei esperançoso: bonita para dedéu, trazendo um Zakk cantando como nos tempos do Pride & Glory e do primeiro Book. Enfim, havia esperanças.


Infelizmente Sleeping Dogs é uma exceção dentro das 14 faixas aqui apresentadas. O clima repete o do primeiro trabalho: músicas melancólicas em formato acústico, com exceção da inserção eventual de hammond e dos solos de guitarra. Zakk toca tudo nas músicas afora baixo e bateria. E canta, muito melhor do que vem fazendo no BLS, diga-se. A produção está perfeita, também sob a batuta de nosso herói. O grande problema é que as composições não ajudam tanto. Não há nada exatamente ruim aqui, mas as músicas seguem uma mesma fórmula e acabam cansando ao longo de mais de uma hora de audição. Por sorte temos algumas que valem por todo o trabalho, como as boas Tears of December e Darkest Hour, e as excelentes Lost Prayer e King. Essa última tocada ao piano com belíssima interpretação vocal de Mr. Wylde. A edição nacional, culpa da Hellion Records, traz ainda uma segunda versão de Sleeping Dogs, com Corey Taylor (Slipknot e Stone Sour) fazendo os backing vocals. Um disco bacaninha, mas que não sobrevive a uma comparação com o primeiro Book of Shadows.


NOTA: 7,11

Recomendado para: um dia chuvoso de ressaca.
Passe longe se: tiver tendências suicidas.
Para fãs de: Southern Rock, Acoustic Rock


Zakk tocando Legião
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Striker - Stand in the Fire
Striker – Stand in the Fire (Cd-2016)

Canadenses em Chamas

Após o sucesso do ótimo City of Gold (ver resenha daCripta), os canadenses do Striker voltam com tudo com esse Stand In The Fire. Com uma nova formação, dessa vez como quarteto, a banda contou com guitarristas convidados na maioria dos solos, além da ajuda do conterrâneo Randy Black na bateria de uma das faixas. Mas as mudanças em nada alteraram a capacidade dos caras. Phoenix Strikes é o cartão de visitas perfeito, mostrando a mescla de NWOTHM com Hard anos 1980 que a banda faz tão bem. Out For Blood traz aquela veia de Anthrax clássico à mistura, além de um improvável e bacana solo de saxofone (uma referência ao que o Riot fizera em The Privilege of Power?).


Stand in the Fire é um disco bastante vigoroso e up tempo, e talvez um ponto “falho” seja a pegada frenética e a produção algo estridente de ponta a ponta de seus 43 minutos de duração. E cabe ressaltar que a primeira metade do disco (mais precisamente até a ótima instrumental Escape From Shred City) o disco é excelente, caindo um pouquinho em sua reta final. De resto, ótimos riffs e solos, refrães grudentos e um vocalista (Dan Cleary) nos moldes dos grandes nomes do metal tradicional. Nada que represente uma grande novidade no mundo do metal, mas que fará felizes os fãs daquela mistura oitentista de Hard/Heavy, que é exatamente o público alvo desses sempre divertidos canadenses. Bem legal!

NOTA: 8,29

Recomendado para: fãs de NWOBHM e Hard/Heavy oitentista
Passe longe se: sonoridade estridente soe incômoda
Para fãs de: Enforcer, Iron Maiden, Anthrax

Blame Canada! This is all "abut" metal
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Denner/Shermann - Masters of Evil
Denner/Shermann – Masters of Evil (Cd-2016)

Das Profundezas....da lata de lixo!

Quando ouvi falar sobre um novo projeto envolvendo os grandes Hank Shermann e Michael Denner, mestres das seis cordas do Mercyful Fate, fiquei bastante feliz. Mais feliz ainda quando soube da presença do excelente Snowy Shaw na batera. Que time! Fui conferir então o EP Satan’s Tomb e quase vomitei quando entrou o vocal pela primeira vez. Conhecia aquele cara, era o vocalista do irritante Cage, um dos grupos de metal mais chatos que já ouvi.  Ao final das contas o EP até era razoável. Mas esse Masters of Evil é um teste de paciência, ou instrumento de tortura digno de Guantánamo. Angel’s Blood até soa interessante, talvez por apresentar Sean Peck um pouco mais contido. Mas é só começar a rolar a segunda faixa, a ridícula Son of Satan para me lembrar o porquê deu não esperar nada desse projeto. Sean soa como o usual, um sub clone do já imensamente chato Ripper Owens. Sua interpretação na péssima The Wolf Feeds At Night é a matéria da qual os pesadelos são feitos. Mas nem tudo está perdido, vejam só, Pentagram and the Cross é muito boa. Ah, mas a faixa título novamente joga o nível lá no chão, tal qual a subsequente Servants of Dagon. Puta que bosta!!! E não falo somente pelo vocalista totalmente over, os riffs e solos todos parecem requentados e nada inspirados, saídos de alguma banda amadora. A produção é mediana e mesmo o som da bateria de Shaw fica bem aquém do desejado.


O nível baixo da bolachinha faz com que até a medíocre Escape From Hell pareça melhor do que realmente o é. E para encerrar, The Baroness tenta soar épica e sinistra a todo custo, mas só consegue mesmo rachar o que sobrou da bolsa escrotal do incauto ouvinte. Um acinte! Facilmente um dos maiores micos da história recente do Heavy Metal. Dá até medo de torcer por um retorno do Mercyful Fate.

NOTA: 4,20

Recomendado para: seu pior inimigo.
Passe longe se: tiver bom senso e bom gosto.
Para fãs de: Cage e gritinhos irritantes tipo Ripper Owens

A verdadeira "Curse of the Pharaos"
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Heart - Beautiful Broken
Heart – Beautiful Broken (Cd-2016)

Papa Het e o Coração Recauchutado

1985, um Headbanger bem troozão entra numa loja de discos atrás de uma cópia do ainda recente Ride the Lightning, petardo dos novos heróis da cena, o então nada comercial Metallica. No som mecânico da loja, toca uma balada melequenta que fica entre o AOR superproduzido e a ainda crescente cena Glam Metal. Trata-se do ressurgimento do Heart com What About Love. O headbanger, irritado, pega seu disco, paga e sai correndo da loja praguejando. Assim que cruza a rua é atropelado, entrando em coma. 2016, o headbanger sai do coma e no primeiro estabelecimento em que entra, escuta a voz daquela menina do Heart em um Hard pop bem comercial...entra uma voz masculina na música, é Papa Het. O Headbanger retorna a hospital e pede pela eutanásia. Fim. Brincadeiras à parte, essa bobageira serve para mostrar o quão chocante é imaginar que a faixa título e carro chefe do novo disco das irmãs Wilson, seja justamente uma parceria com o vocalista da maior banda de Heavy Metal americana. E caramba, funcionou bem!


Beautiful Broken, o disco, consiste em um apanhado de faixas já lançadas pelo Heart, só que com novos arranjos e produção. A mesma parece tentar recuperar um pouco a sonoridade do Heart em sua fase de cruza entre o AOR e o Glam, escapando do enfoque mais seco dado aos últimos dois discos. A Zeppeliana Heaven, cuja versão original consta na edição Deluxe de Fanatic é outro destaque, assim como City’s Burning, que apareceu pela primeira vez em Passionworks e Down On Me. Confesso que o lado mais melecoso das meninas não me pega em absoluto, e coisas como Sweet Darling e Language of Love tem açúcar para matar um elefante de diabetes. De resto, Ann Wilson continua com a voz fantástica, a produção está muito bem-feita e quem é fã pode conferir sem medo. 

NOTA: 7,36

Recomendado para: fãs de AOR em geral
Passe longe se: você for o headbanger da historinha
Para fãs de: Heart fase anos 1980


As irmãs Wilson, sessentonas com tudo em cima