sexta-feira, 21 de maio de 2021

Nervosa – Perpetual Chaos (CD-2021)


Renascimento no Caos

Por Trevas

Um meme que se tornou popular entre os headbangers diz que a guitarrista Prika Amaral já havia empregado mais gente que o atual Ministro da Economia, já que da dissolução da formação anterior da Nervosa, um Power trio, surgiram duas bandas de quatro integrantes. Brincadeiras à parte, quando a baixista/vocalista Fernanda Lira anunciou sua saída da Nervosa (seguida pela baterista Luana Dametto), no início de 2020, muitos apostaram se tratar do fim de uma das mais fortes marcas da história recente do metal nacional. E eu fui um deles. Prika bateu o pé, esse não seria o fim da banda, e uma formação ainda mais forte estava a caminho. Não levei fé. E como é bom estar errado: Meses depois uma sequencia de simpaticíssimos vídeos no YouTube mostravam o Making Of do que viria a ser Perpetual Chaos, uma sessão de imersão em um sítio na Espanha, com muita diversão e amor pela música. No novo time, um combo multinacional: na voz, a espanhola Diva Satânica (aka Rocio Vázquéz); no baixo, a italiana Mia Wallace; e na bateria, a grega Eleni Nota. Um time que nunca havia se visto antes. Tinha tudo para dar errado. Felizmente, não foi o caso. Com a produção novamente nas mãos do argentino Martin Furia, fez-se o caos.

A nova e poderosa formação da banda

Logo de cara, Venomous nos mostra que estilisticamente a Nervosa optou por seguir o caminho trilhado em Downfall Of Mankind, um Thrash/Death que não reinventa a roda, e nem vagamente tem essa intenção. Mas, ao mesmo tempo, tudo soa mais forte aqui: Diva alterna entre a voz mais esganiçada (semelhante à pegada de Fernanda) e guturais de fazer muito marmanjo mijar nas cuequinhas de Super-Homem. Os riffs estão visceralmente cortantes e a bateria de Eleni? Um rolo compressor. Mia aparece menos na mixagem, mas joga claramente para o time. Claro que, grandes performances individuais podem até ser desejáveis, mas de nada adiantariam caso não ornamentassem grandes músicas.


E grandes músicas nós temos em profusão por aqui: a sequência inicial é particularmente arrasadora. Guided By Evil certamente comandará os repertórios dos shows quando essa bosta mole de pandemia passar, assim como a faixa título. Temos algumas participações especiais no disco, e a primeira delas é num dos solos da forte Until The Very End, nas mãos de Guilherme Miranda (Entombed AD, Revolta).



A segunda me fez lembrar em poucos segundos do por que não consigo gostar do Destruction: o simpático Schmier empresta a (des)graça de sua voz esganiçada a Genocidal Command. A música é boa, deve funcionar melhor ao vivo (sem o alemão). Dizer que o disco perde a força na sua metade é bobagem, já que o ritmo continua frenético, mas novos destaques absolutos aparecem mais para o final, com Blood Eagle, Rebel Soul (trazendo o vocal do Flotsam & Jetsam) e Under Ruins, todas avassaladoras. Exija, bem punk e com letra em português, aparece como bônus da versão nacional, e ainda que destoe de parte do material, também é interessante. Enfim, Perpetual Chaos é um disco arrasa-quarteirões que tem tudo não só para manter as conquistas anteriores da Nervosa, mas também para fazer a banda alçar voos ainda maiores mundo afora! Sensacional! (NOTA: 9,13)

Visite o The Metal Club

Gravadora: Shinigami Records (nacional)

Prós: uma trauletada atrás da outra

Contras: nada a destacar

Classifique como: Thrash/Death Metal

Para Fãs de: Destruction, Sodom, Arch Enemy



sexta-feira, 7 de maio de 2021

Heavy Duty: Minha Vida No Judas Priest – K.K. Downing & Mark Eglinton (Livro-2018)


 

K.K. Solta o Verbo

Por Trevas

Originalmente publicado em 2018, esse é o trabalho autobiográfico de K.K. Downing, legendário guitarrista do Judas Priest, escrito em parceria com o escocês Mark Eglinton (responsável pelo livro sobre a Metal Blade e pelas biografias de Nergal e Rex Brown).

 

Apesar da carência de material literário sobre o Judas Priest (uma de minhas bandas favoritas) à época, relutei em adquirir o livro: resultado de uma agressiva campanha de marketing na qual quase diariamente o guitarrista soltava alguma declaração depreciativa em relação a seus ex-companheiros de banda. Cheirava a azedume e dor de cotovelo gratuitos. Livros escritos assim raramente valem a pena. Coube então ao meu amigo Moisés Cipriano fazer a resenha do livro para a Cripta, em sua edição original.

 

Mas após viajar com o ótimo Confess, do Halford, achei que era hora de encarar a versão de K.K. sobre a história de uma das maiores bandas de Metal em todos os tempos. O timing foi perfeito, pois a Estética Torta lançou o livro em uma belíssima edição nacional, em capa dura e com tradução certeira. E que ainda vem com cartão (bookplate) autografado pela própria lenda.

A bela edição nacional, com o bookplate autografado. Parabéns para a Estética Torta

Sobre o livro em si, me surpreendi: o tom de Downing no geral é bem leve, ainda que franco, mesclando lembranças de sua juventude e vida pessoal com detalhes sobre a carreira do Judas Priest.

No comparativo com Confess, Heavy Duty é sim um livro mais centrado no Judas Priest do que a obra de Halford. Dito isso, nem de longe parece um livro definitivo sobre a história da banda (Mick Wall, cadê você, meu filho?!?!). A narrativa é bacana, mas K.K. decididamente não é um contador de histórias tão divertido quanto o Metal God.

E se o azedume não contaminou o discurso de K.K. durante boa parte das 325 páginas de Heavy Duty, o mesmo não pode ser dito de seu encerramento, com um capítulo confuso (assim como o do Halford em Confess, sobre sua saída em 1991), contraditório e repleto de mágoas, quase sempre direcionadas a Glenn Tipton.

Ou seja, temos em mãos uma biografia honesta, mas sem nada de especial para quem já está acostumado a livros do gênero. Um bom livro, mas que dificilmente cativará alguém que já não seja muito fã do Judas Priest.(NOTA: 7,00)

Formato: Livro

Título Original: Heavy Duty: Days & Nights In Judas Priest

Ano 1ª Edição: 2018

Editora: Estética Torta

Páginas: 325





segunda-feira, 12 de abril de 2021

Accept – Too Mean To Die (CD-2021)


Difícil de Matar

Por Trevas

Quando fiz a resenha para The Rise Of Chaos, disco de 2017, já havia chamado a atenção para a dificuldade do Accept em manter o altíssimo padrão de seu retorno, com o já clássico Blood Of The Nations. À época, Wolf Hoffmann acabara de perder a dupla Stephan Schwarzmann e Herman Frank. Mas a situação iria piorar: agora a baixa atendeu pelo nome de ninguém menos que Peter Baltes, o icônico baixista/vocalista, até então eterno parceiro de Wolf. Para seu lugar, Martin Motnik foi recrutado. Já que mudança pouca é bobagem, o patrão também resolveu adicionar um terceiro guitarrista à banda: Philip Shouse (Gene Simmons Band, Ace Frehley, Lucifer). Esse último já havia tocado com a banda uma penca de vezes, ou em substituição a Uwe Lulis ou na turnê Symphonic Terror. Para o novo trabalho, ao menos uma coisa se manteve, a parceria com o mago Andy Sneap. Mas confesso que com tudo o que escrevi, fui escutar Too Mean To Die com expectativas bem baixas.

Tio Wolf e seus calouros

Logo nos primeiros instantes da introdução de Zombie Apocalypse, fica claro que ao menos a parceria com Andy Sneap continua garantia de uma sonoridade caprichada. Sei que é impossível mensurar o resultado da adição de um terceiro guitarrista ao som pelo material de estúdio, já que temos sempre uma parede de guitarras, mas ao passar pela virulenta faixa título e pela Metalheartesca Overnight Sensation, salta aos ouvidos a fúria guitarrística desse CD, os riffs e solos estão cortantes como pouco se ouviu na carreira do Accept. A bateria de Christopher Williams também faz um baita estrago, só o baixo de Motnik que ficou enterrado na mixagem. Ah, e Tornillo, esse foi um achado! Cada vez mais esbarramos com fãs da banda que já o consideram o vocalista definitivo da carreira dos caras, o que não é pouca bobagem.


Mas a despeito da qualidade da equipe e do som, as composições pareciam boas, mas longe de postulantes a novos clássicos. Até que a épica No Ones Master eleva o nível. E The Undertaker pode ter causado alguma apreensão entre os puristas, mas é excelente e acerta ao apostar numa direção diferente. Dá até para relevar que roubaram na cara dura a ponte de Fish On, do Lindemann (projeto politicamente incorreto do vocalista dodói do Rammstein com o doido-de-pedra Peter Tägtgren).


Os riffs continuam fortes ao longo do disco, mas os refrães e melodias, nem sempre. Sucks To Be You, Not My Problem e The Best Is yet To Come (com Tornillo cantando bonitinho) sendo bons exemplos de boas músicas que poderiam ser ainda melhores com um capricho melódico maior. Symphony Of Pain, How Do We Sleep e a instrumental Samson And Delilah (que surrupia o tema de Victorious, do Heaven & Earth) elevam o nível para contrabalancear a segunda metade do CD, que pode ser considerado o trabalho mais forte dos alemães desde Stalingrad. (NOTA: 8,62)

Visite o The Metal Club

Gravadora: Shinigami Records (nacional)

Prós: ótima produção, guitarras em chamas

Contras: algumas melodias não estão à altura do instrumental

Classifique como: Heavy Metal

Para Fãs de: Judas Priest