terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Amorphis - Under The Red Cloud (Cd-2015)

Amorphis - Under The Red Cloud (2015)
Ouro Abaixo das Nuvens Vermelhas
Por Trevas

Vanguarda Nórdica
Bom, lembro-me de ter tido o primeiro contato com o som do Amorphis lá nos idos da década de 1990, mais especificamente através do Fúria Metal do Gastão Moreira, na MTV. Não lembro ao certo o clipe, talvez fosse Divinity (ver vídeo). Rédibênzi cabeça fechada que era, achei tudo muito esquisito, passei de lado. Mas aquela banda ficou de alguma forma em algum recôndito obscuro da geléia de abacaxi que tenho dentro do crânio.


Hoje em dia talvez seja difícil explicar para algum garoto que conheça a variada fauna metálica dos novos tempos o grau de estranheza que causava uma banda misturar Death Metal, Folk e Progressivo. Mas sim, à época os Finlandeses soavam bastante estranhos...e inovadores. Bolachas como Elegy e Tuonela certamente marcaram uma geração. Com o passar dos discos a banda acabou por perder a mão em experimentalismos encerrando sua fase “clássica” com o mediano e sem foco Far From The Sun e com a saída do vocalista Pasi Koskinen.


Mas o que poderia representar o fim da banda na verdade marcou o início de um ciclo ainda mais prolífico. Adicionando o versátil Tomi Joutsen aos microfones, dono de urros Godzillicos e uma voz limpa bem acima da média, o Amorphis deu reboot com o ótimo Eclipse, logo em seguida atingindo o topo das paradas Finlandesas com Silent Waters


Skyforger veio então para coroar a boa fase, uma obra que até mesmo os mais saudosos fãs tem que admitir ser de grandeza ainda maior que qualquer trabalho dos primórdios. E quando The Beginning Of Times mostrou-se meloso e cansativo, foi justamente no som dos primórdios que os caras buscaram inspiração, com o virulento, mas ainda assim não tão inspirado Circle.


Confesso que comecei a encarar o Amorphis uma banda que criara uma fórmula bem própria, mas que tinha explorado esse som até a exaustão criativa. Apesar de gostar bastante dos caras, não esperava mais nada além de discos bacanas, mas sem tanto impacto, como os últimos dois. Foi com esse espírito algo cínico que coloquei a Nuvem vermelha para rodar...só para comprovar minha tolice....


E o que Temos Debaixo da Nuvem vermelha?

A ótima faixa título é bastante melodiosa, um aparente contraponto à rudeza de Circle. A produção de Jens Bogren como sempre está caprichadíssima e dá para perceber de cara o enfoque em timbres mais progressivos por partes das guitarras de Esa Holopainen e Tomi Koivusaari e uma maior presença dos teclados de Santeri Kallio.

Não fique assustado, Under está longe da “leveza” de The Beginning Of Times, e assim que The Four Wise Ones entra temos uma porrada na orelha que lembra até mesmo Amon Amarth, só que com nuances folk carregadas e bastante dinâmica, com Joutsen migrando com maestria entre os urros e os vocais limpos.

Amorphis 2015
Bad Blood e The Skull ainda que boas, parecem aquelas faixas mais diretas e simples da fase recente, e até poderiam indicar que o material do restantes do disco seguiria esse caminho. Mas logo depois temos a primeira faixa de trabalho, a excelente Death Of A King, que bem poderia servir de resumo das intenções do disco como um todo: uma fusão para lá de equilibrada entre Folk Metal, Death e Progressivo/Space Rock.



Confesso que quando foi divulgada a segunda faixa de trabalho, Sacrifice (ver vídeo), fiquei com os dois pés atrás: é o típico Amorphis mais acessível e representa exatamente a fórmula que deu sinais de desgaste em The Beginning Of Times. Mas ainda que as linhas de voz não passem de medíocres, a banda está tão inspirada que o instrumental muito bem cuidado salva o dia. O mesmo vale para Dark Path, que soma a isso um tempero Death.


Daí para diante, é uma belezura atrás da outra. Enemy At the Gates tem de tudo, clima oriental, estrutura instrumental que lembra o Space Metal de Am Universum e Far From The Sun, aliados ao toque Death Metal inteligente que os vocais de Tomi Joutsen proporcionam. Tree Of Ages é a perfeita fusão entre o Folk e extremo e White Night é épica, dinâmica e bela com o peso flutuando entre a delicadeza da voz da vocalista convidada Aleah Stanbridge. A edição limitada ainda conta com a razoável Come The Spring (no mesmo naipe de Sacrifice), e a boa Winter’s Sleep (mais uma fusão Folk/Death).


Saldo Final

Numa cena tão variada quanto a de hoje, o Amorphis já não soa mais tão estranho e inovador. Não há nenhum caminho em Under The Red Cloud que os finlandeses já não tenham trilhado em discos passados. E hoje em dia temos diversas bandas que trilharam caminhos semelhantes. Graças ao Amorphis, diga-se. Mas a passagem de vanguardista para um grupo com estilo consolidado não é demérito algum, e aqui somos presenteados com um dos trabalhos mais concisos e inspirados de uma discografia que mesmo em seus pontos baixos flutua bem acima da média. Excelente!

NOTA: 92

Classifique como: Melodic Death Metal, Folk Metal, Prog Metal
Para fãs de: Soilwork, Amon Amarth
Fuja se não for um headbanger afeito a misturas