quarta-feira, 28 de março de 2018

Saxon – Thunderbolt (Cd-2018)

Saxon - Thunderbolt



Raios! Raios Múltiplos!!!!
Por Trevas

Terceiro rebento da parceria entre os titãs da NWOBHM e o produtor Andy Sneap (Amon Amarth, Nevermore, Accept, Judas Priest), e contando novamente com a capa do ilustrador Paul Raymond Gregory (parceiro desde os tempos de Crusader), Thunderbolt chega com a difícil missão de manter o impressionante alto padrão de qualidade dos discos recentes do Saxon.


Poster do único show no Brasil em 2018


Olympus Rising introduz Thunderbolt, inspirada na mitologia Grega e primeira música de trabalho (ver vídeo), que mantém a tradição da banda em caprichar a mão em suas faixas títulos. 



The Secret Of Flight (ver vídeo) é excelente e já segue o padrão mais moderno de composição que vem se fazendo comum desde o início da parceria com Sneap. Curiosamente, a modernidade é bem menos visível na produção do que em Sacrifice e Battering Ram. Talvez por pressão da banda, dessa vez Andy trabalhou timbres e uma mixagem mais abafados e em muito semelhantes ao som que banda adotou nos anos 1990. Nada que atrapalhe, mas é o disco sonoramente menos impactante da tríade.



Em compensação, as composições estão inspiradíssimas nessa primeira metade de disco. Nosferatu (The Vampire’s Waltz) é épica e sombria, e pode muito bem fazer parte de qualquer coletânea que a banda lance no futuro (ver vídeo). Na bela edição em digipack lançada no brasil, ela ainda aparece em uma mixagem menos pomposa, que funciona igualmente bem, obrigado.



Velocidade estonteante é o que encontramos em They Played Rock And Roll, que mostra que o Saxon encontrou inspiração em outras mitologias mais modernas, como a do Rock. Tematicamente quase uma continuação e And The Bands Played On, o petardo é uma sincera e muito bem-vinda homenagem a Lemmy Kilmister e sua trupe de vândalos musicais, e contém até mesmo trechos de fala do mestre.



Bom, a partir daí o disco fica bem menos espetaculoso. Predator (com uma subaproveitada participação de Johan Hegg, o ogro gigante do Amon Amarth), Sniper, Sons Of Odin e Speed Merchants (a mais fraca do disco, com letra reprisando a homenagem à fórmula 1 feita em Warriors Of The World) são bacanas, mas exploram fórmulas tão comuns na discografia saxônica que acabam dando a impressão de que o nível caiu um pouco.


Mas ainda assim há espaço para faixas de grande destaque, como A Wizard’s Tale (apesar da letra para lá de idiota) e a faixa de encerramento Roadie’s Song, uma bela homenagem àqueles que fazem o show por detrás do show acontecer.

Saxon 2018, chutando mas bundas que você

Veredito da Cripta

A primeira metade dos curtos quarenta minutos de Thunderbolt é tão arrasadora que chega a empalidecer (injustamente) o restante do disco. Mais um ótimo trabalho de uma das bandas mais prolíficas e equilibradas de sua geração.


NOTA: 9,00

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Gravadora: Shinigami Records (nacional).
Pontos positivos: a primeira metade do disco arrebenta 
Pontos negativos: produção um pouco aquém dos últimos trabalhos
Para fãs de: Iron Maiden, Judas Priest
Classifique como: Heavy Metal


sábado, 24 de março de 2018

Judas Priest – Firepower (Cd-2018)

Judas Priest - Firepower

O Incendiário Crepúsculo Dos Deuses
Por Trevas

Entra disco, sai disco e somos confrontados com as afirmativas por vezes fanfarronescas de artistas consagrados: meu próximo trabalho é o melhor que já lancei. Promessas que vem e vão, e raramente se concretizam. Não, não estou acusando o Judas de ter se utilizado desse expediente. Até por que não usou, no máximo li Richie e Rob dizendo que sentiam algo especial no trabalho vindouro. Mas confesso que eu é quem me sentia apreensivo. A banda, confrontada com as críticas pesadas à produção tacanha do (bom) Redeemer Of Souls, mostrou que não estava para brincadeiras: tirou Tom Allom da aposentadoria. Sim, o cara que assinou a produção de tudo o que o Judas lançara entre Unleashed in the East e Ram It Down. Já parece impressionante? Não parou por aí, chamaram também o melhor produtor de Heavy Metal dos últimos 20 anos, o britânico Andy Sneap, mago por detrás dos clássicos do Nevermore e da ressurreição do Accept. Satisfeito? Não? Nem eles. Além os dois renomados produtores de eras diferentes, ainda mantiveram Mike Exeter, com quem haviam trabalhado no disco anterior. Com essa trinca, partiram para o estúdio, e deram carta branca para que os produtores fizessem o que tivessem que fazer para extrair o melhor do bando de senhores e do já não mais calouro, Richie Faulkner. Uma estratégia que dependia e muito da maturidade e falta de ego de todos os envolvidos, mas que podia, enfim, até dar certo.

Judas em Firepower
Não bastasse a escolha incomum por um triunvirato de produtores, outro fato tornou o lançamento de Firepower uma incógnita. Glenn Tipton , do alto de seus 70 anos a figura mais icônica da banda, anunciou que não mais acompanhará o Judas Priest em turnê, devido às limitações físicas impostas pela terrível doença de Parkinson. Andy Sneap assumiria as guitarras nos shows e uma questão ficou no ar. Estaríamos, pouco depois da aposentadoria do Black Sabbath, diante do ocaso de outros dos monstros sagrados do Heavy Metal? E se o crepúsculo efetivamente se aproxima, seria Firepower um fim digno para uma das bandas mais influentes do estilo? Com essa pequena grande nuvem na mente, coloquei minha recém-chegada bolachinha para rodar. E no meu som ela estacionou por toda a semana...e cá relato o que achei...



Poder De Fogo Intacto

Firepower (ver vídeo), a música, começa vibrante e pesada. Logo de cara somos confrontados com a perfeição sonora proporcionada pelo trio de produtores. E somos também confrontados com um fenômeno: como a voz do senhor Rob Halford, 66 anos de estrada, está soando excelentemente bem! De nada serviriam esses detalhes se a música fosse uma bomba. Não é. Ainda que recicle o refrão meio panaca da rendição cafona para Rapid Fire com o Ripper (contida no Ep Bullet Train), a música cresce a cada audição e deve funcionar muito bem ao vivo, obrigado.



Lightning Strike, primeira faixa de trabalho, e totalmente old school, se sai ainda melhor. Riffs, refrão, solos, simplesmente perfeita em todos os sentidos. A empolgação nesse ponto era tamanha que a paulada midtempo Evil Never Dies, com sua letra fazendo uma releitura dos pactos com o cramulhão dos músicos de Blues, até pareceu uma bola fora. Simples, na mão de uma banda de segunda categoria como o Primal Fear, realmente poderia soar um daqueles pastiches mequetrefes que os fãs do revivalismo dos anos 1980 adoram endeusar. Mas nas mãos dos criadores de 99% dos clichês do gênero, a música acaba por se safar com louvor.


Falei em anos 1980? Então, a produção aqui é cascuda e moderna, ainda que bastante orgânica. Os músicos gravaram quase a integridade das bases ao vivo, com a banda tocando toda junto, uma ideia de Andy Sneap comprada pelos outros dois produtores. O que não impediu uma ou outra referência às produções do passado da banda, como na viradinha de bateria artificial da simplesmente absurda Never The Heroes, uma power ballad nas veias de Heart Of A Lion.


Necromancer é o tipo de música que se esperaria encontrar no sucessor de Painkiller, caso Rob não tivesse jogado a banda num hiato com sua saída. Engrandecida por um bem colocado coro dramático, nessa altura do disco já se percebe a opção em apostar no poder de interpretação de Halford, limitando os agudos lancinantes aos backing vocals. E nota-se também que a bateria de Scott Travis não tomava seu devido lugar de destaque na sonoridade de um disco dos caras desde sua longínqua estreia.

Os coroinhas do Padre Judas: Richie & Andy


Children Of The Sun é uma das faixas que demonstram que a banda não necessariamente deitou nos louros do passado. Possivelmente fruto da liberdade dada a Richie Faulkner, é repleta de groove e dinâmica, mostrando um Judas Priest diferente, ainda que prontamente reconhecível. Aliás, Richie deve levar sua parte dos créditos pelo sangue renovado da banda, quem duvida, cheque os caras ao vivo. O massacre continua com a belíssima instrumental de clima celta Guardians, que introduz a avassaladora Rising From Ruins. Tida como a favorita de Scott e Faulkner no novo disco, e repleta das dobras de guitarra de Richie e Glenn Tipton, ela poderia ser definida como uma nova Blood Red Skies, o que é um mega elogio.




Flame Thrower é outra faixa diferente, com andamento para lá de empolgante e algumas experiências (muito boas) na voz de Rob. O refrão parece algo que o careca teria pensado lá na época do Sin After Sin, e soa um pouco estranho nas primeiras audições. Uma música que demorou um pouco a me conquistar, mas que cresceu com o tempo. O groove retorna com a simples e para lá de viciante Spectre (ver vídeo), um dos destaques do disco, que já vem constando dos repertórios da nova turnê.



Já me daria por satisfeito com o que meus ouvidos testemunhavam até então. Mas o disco tem 15 músicas, e isso costuma ser um péssimo sinal. Pensei comigo, vai desandar em algum momento. Não desandou. Traitors Gate é um monumento à performance vocal do senhor Halford. Sua voz pode ter vivido eras de alcance maior, mas nunca antes fora tão bem gravada e com tantas variações quanto nesse disco. Fazia muito tempo que um vocalista não me impressionava tanto quanto nesse Firepower e a delícia Hard Rocker de pouco mais de dois minutos No Surrender seguida da paulada moderna cheia de groove Lone Wolf só comprovam meu ponto. O disco termina com a Power Ballad Sea Of Red, na veia da já clássica Angel, e poucas vezes na minha vida me senti compelido a rodar de novo um disco tão longo assim que o mesmo terminou.




Veredito da Cripta

O Heavy Metal em sua vertente mais tradicional parecia esquecido no tempo, as velhas bandas do estilo vivendo de raros lampejos (com exceções...ok, Accept e Saxon?), e as novas se limitando a copiar de forma pálida e diluída o que já fora feito melhor no passado. Aí vem um dos titãs do estilo e lança, aos mais de 40 anos de estrada, uma obra que não só se contenta em não fazer feio frente ao passado, como também é capaz de rivalizar com os melhores momentos de sua vitoriosa carreira. Firepower não é só o melhor disco do Judas Priest em décadas. É também o melhor disco de Metal Tradicional que escutei nos últimos cinco anos (talvez mais). Se esse realmente for o canto de cisne de uma das maiores bandas em todos os tempos, será uma saída triunfal de cena. Forte candidato a futuro clássico.  


NOTA: 10


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P.s.: A resposta do mercado foi unânime, o disco atingiu a maior posição na Billboard que a banda já teve (5ª posição) e nas paradas britânicas, também estacionou na 5ª posição, a posição mais alta que a banda conseguiu desde British Steel, de...1980!!!


Gravadora: Sony Music (nacional).
Pontos positivos: um dos melhores discos da carreira do Judas 
Pontos negativos: ele termina
Para fãs de: Iron Maiden, Saxon
Classifique como: Heavy Fucking Metal






quarta-feira, 21 de março de 2018

Beth Hart & Joe Bonamassa – Black Coffee (CD-2018)

Beth Hart & Joe Bonamassa - Black Coffee
Café Expresso do Bom
Por Trevas

Joe Bonamassa alardeou por aí anos atrás que seus dias de workaholic estavam contados. Uma das figuras mais prolíficas de sua geração, Smokin’ Joe chegou a ter média de 3 lançamentos por ano. Agora as coisas entraram nos eixos e o irrequieto bluesman se contenta em lançar apenas um ou dois trabalhos por ano com seus diversos projetos, ufa. Black Coffee é o terceiro lançamento do estadunidense com a cantora compatriota Beth Hart. O projeto já havia rendido um excelente trabalho de estreia, Don’t Explain, e outro decepcionante, Seesaw. A despeito dos diferentes resultados, o modelo se repetiu nos dois discos, e é aqui replicado: covers de clássicos e lados B do Soul e do Rythm & Blues. Novamente sob a batuta de Kevin Shirley e contando com uma banda de músicos de estúdio. Vamos ver se dessa vez o caldo não entorna.

Joe e Beth

Give Everything You Got (ver vídeo) mostra que a fórmula de arranjos de Seesaw se repete, ao menos em alguns números, com saxofone, trompete e trombone e backing vocals bem altos no mix. A música, de Edgar Winter, é ok, e Joe detona no solo. Ainda assim, um início que não me empolgou.



Damn Your Eyes, música que fez sucesso na voz de Etta James, já aposta na fórmula que funcionara tão bem no disco de estreia, uma canção mais dramática e soturna, o que casa muitíssimo com a interpretação da moça e com o feeling do nerdão.

Hora do café preto do título (ver vídeo), cortesia de grãos selecionados por Ike & Tina Turner. Uma boa faixa, com uma slide guitar bacana e bons arranjos, que empalidece severamente diante do brilhantismo que a dupla impõe à balada Lullaby Of the Leaves, de Connee Boswell. O climão de cabaré esfumaçado dá as caras em Why Don’t Do Right, de Lil Green, absolutamente deliciosa.


Repleta de elementos gospel e gravada originalmente por LaVern Baker, Saved é bacana e conta com uma bateria bem interessante por parte do pistoleiro de aluguel Anton Fig (fiel escudeiro de David Letterman na banda residente de seu programa, além de ter gravado com 789 artistas). Sitting On Top Of The World é outra balada climática que, embora funcione menos que as anteriores, dá bom espaço para Joe contracenar com o hammond de Reese Wynans (que tocou no Captain Beyond!). Joy (famosa na voz de Lucinda Williams, ver vídeo) é divertida e cheia de groove, trazendo um solo diferente de Bonamassa.



Segundo número originalmente gravado por LaVern Baker presente no disco, Soul On Fire é uma canção bonita e que funciona bem no respeitoso arranjo escolhido. A edição padrão termina com Addicted, de Klaus Waldeck, com um clima que destoa um pouco do resto do material, mas que ainda assim funciona na voz encardida e algo sexy de Beth Hart.

Beth & Joe

Veredito da Cripta


Black Coffee parece intencionalmente apostar na fusão de elementos dos dois trabalhos anteriores da dupla, tanto na escolha das músicas quantos nos arranjos. A aposta funcionou, e esse terceiro disco, se não é memorável como Don’t Explain, ao menos é extremamente agradável aos ouvidos.  


NOTA: 8,25

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Gravadora: Mascot Music Productions (importado).
Pontos positivos: boa escolha de músicas e a bela voz de Beth Hart 
Pontos negativos: os arranjos de big band em algumas músicas
Para fãs de: Gary Moore, Etta James, Joss Stone
Classifique como: Soul, Blues




sábado, 17 de março de 2018

Corrosion Of Conformity – No Cross No Crown (Cd-2018)

Corrosion Of Conformity - No Cross No Crown

Corrosivamente Pesado
Por Trevas

É absolutamente normal, e até mesmo louvável, que bandas com longa estrada percorrida acabem por evoluir seu som ao longo do tempo. Só que alguns artistas exageram um bocado nas mudanças de direcionamento, ao ponto de confundir e até mesmo polarizar os próprios fãs. Samael, Paradise Lost, Anathema e Opeth são casos emblemáticos dessa esquizofrenia musical. E podemos incluir os estadunidenses do Corrosion Of Conformity (ou COC) nessa lista. Surgida em 1982, a banda se tornou referência na cena do Hardcore/Crossover, lançando discos seminais para o estilo. Mas foi a partir de 1991, quando a banda inseriu em seu som elementos de Sludge, Stoner e Southern Rock é que a banda decolou comercialmente. Com o guitarrista Pepper Keenan assumindo os vocais, gravaram o best seller Deliverance e o que se viu foi uma banda tão diferente da original que muitos dos fãs antigos abandonaram o barco. O sucesso comercial, ainda que jamais tenha sido o mesmo, continuou acima do esperado, até que, após o aclamadíssimo In The Arms Of God, Pepper decidiu se afastar da banda para se concentrar nas seis cordas do supergrupo sulista Down.


O COC dali para frente passou a ter uma agenda errática e inconstante, com Mike Dean novamente como frontman, lançando discos que por vezes honravam a primeira fase, por vezes seguiam outro rumo diferente de tudo. Em 2015 Pepper anunciou seu retorno à banda, e o COC saiu em uma turnê infindável, sem nenhum horizonte que vislumbrasse um novo disco. Até que ao final de 2017 os cabruncos anunciaram esse No Cross No Crown, o primeiro disco com Keenan cantando em 13 anos. Fui conferir o disco com imensa apreensão, pois acho In the Arms Of God um discaço. E qual não foi minha surpresa ao descobrir, no mesmo dia que iniciei essa resenha, que a banda vai se apresentar no Brasil? Timing fantástico, só falta o disco estar à altura de tão esperado retorno. Vamos checar, então.

Poster da Turnê Sul Americana
Novus Deus é uma introdução bem climática que prepara o árido terreno de nossos ouvidos para a lavoura de riffs chamada The Luddite (ver vídeo). E como é bom ouvir a voz encardida de Pepper Keenan (com ponte no gogó de Mike Dean) convocar o retorno dos Luditas para destruir a tecnologia escravizadora. Aliás, já o que se faz uma mensagem perfeita diante da sonoridade absolutamente retrô e analógica da produção esfumaçada de John Custer (culpado por tudo que a banda lançou entre Blind e o excelente In The Arms Of God).



O início arrasa-quarteirões se estende para a faixa seguinte. Cast The First Stone (ver vídeo) é um delírio furioso aos ouvidos dos fãs de Stoner. Um breve momento para recuperamos a respiração chega com o belo e sorumbático interlúdio Morriconeano No Cross.



O espancamento retorna com a Clutchiana e virulenta Wolf Named Crow (ver vídeo), e aí você se pega perguntando se o disco continuará nessa toada genial. Não. Ao menos, não completamente. A Lynyrdiana Little Man, uma pequena grande letra atacando seitas religiosas, é apenas ok.



Matre’s Diem, outro curto interlúdio instrumental é bonita e tem uma aura de positivismo que contrasta com a porradaria ácida de Forgive Me, que bem poderia ser um destaque do Black Sabbath circa Sabotage, o que é um puta elogio, convenhamos. O nível, altíssimo, também coaduna com a variedade de intenções musicais. De um Heavy Metal do final dos anos 1970, somos jogados para dentro de um Bluesão esfumaçado repleto de feeling, cirrose e guitarras inspiradas na tristonha Nothing Left To Say.

Os sulistas encardidos estão de volta - COC 2018

Outro curto interlúdio (não, nem pense que são gratuitos, todos funcionam bem, obrigado) precede Old Disaster, um dos raríssimos momentos de inspiração apenas mundana nesse trabalho. E.L.M. (Eternal Losing Mind, se você está se perguntando que porra é essa) joga tudo para o alto, direta, pesadona e grudenta. A faixa título continua a epopeia de Western psicodélico de No Cross, culminando no encerramento apoteótico com A Quest To Believe (A Call To The Void), um monstrengo que compila todas as características do disco em exatos seis minutos. A edição especial ainda conta com a boa Son And Daughter, ainda que em aparente versão demo.


Veredito da Cripta

Parece que o longo hiato só fez bem ao casamento Pepper Keenan/COC. No Cross No Crown é um disco que beira a perfeição e que deixará os fãs de Stoner/Southern com lágrimas nos olhos. Figura certa nas listas de melhores do ano, a audição desse novo disco não é somente recomendada, é uma obrigação. 



NOTA: 9,19

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Gravadora: Nuclear Blast (importado).
Pontos positivos: um delírio analógico de riffs poderosos 
Pontos negativos: dificilmente agradará os fãs do COC da era Hardcore
Para fãs de: Clutch, Orange Goblin
Classifique como: Stoner, Southern Metal



quarta-feira, 14 de março de 2018

Machine Head – Catharsis (Deluxe Edition – Cd+DVD)

Machine Head - Catharsis

Atirando Para Todo Lado
Por Trevas

Prólogo: Burning Red Parte 2?

Robb Flynn é um tremendo falastrão. Inteligente e articulado, o cara gosta de meter o bedelho em tudo o que é assunto, em especial se for um tema polêmico da moda. Confesso que gosto de muita coisa no ponto de vista dele, mas também tenho que admitir que o cabrunco por vezes dá no saco. E nas entrevistas pré-lançamento do novo disco, tome baboseiras do tipo “não curto mais metal, acho o rap mais relevante”, “não escuto mais música em casa, prefiro perder tempo com séries, são muito mais excitantes” e mais um monte de provocações aos fãs dizendo que a galera iria vomitar em cima do novo material, dando até mesmo a entender que o disco representaria um rompimento com o passado recente da banda da mesma forma que The Burning Red, o disco que um dia quase acabou com o Machine Head, fez lá atrás. Uma publicidade de gosto duvidoso e que me pareceu um pouco forçada.

Se o disco não vender bem, os rapazes farão bico como pintores

Mas ao menos para esse escriba que vos fala, o desespero em querer se dissociar do rumo que a banda vinha tomando fez todo o sentido. Das cinzas da sua fracassada incursão pelo New Metal, a banda se reinventou de maneira impressionante com Through The Ashes Of Empires. Parecia o disco definitivo para a banda. Mas não era. The Blackening levou o direcionamento musical ainda mais longe e aí já não havia mais um cínico sequer na casa. O Machine Head estava vivo e melhor do que nunca. Quando parecia inevitável uma queda de qualidade, a banda pegou o seu novo som, épico e complexo, e tornou tudo mais acessível e conciso, sem perder um pingo da essência, no perfeito Unto The Locust. Porra, a partir de um disco desses, o que fazer? Aí a banda resolveu repetir a fórmula em Bloodstone & Diamonds. E repetiu de maneira para lá de convincente. Mas deixou claro também que esse caminho musical estava criativamente esgotado. É hora de tentar algo novo. Mas será que o Machine Head conseguirá fazer isso sem alienar sua reconstruída base de fãs? Com isso em mente, entrei de cabeça na catarse de Robb e sua trupe.

Catarse Musicada

Volatile abre o disco de forma direta e agressiva. Fuck the World, grita Robb. Um contraponto ás longas faixas que abriram tudo o que a banda fez desde Through The Ashes, Volatile é Machine Head padrão, muito bem-feita, só não é brilhante. Um belo começo, de qualquer forma.


Catharsis, a música, já é bem mais indicativa da quebra de paradigmas que tanto fora anunciada. Sua introdução evoca Who We Are, dos disco anterior, mas a semelhança fica por aí. Uma bela faixa que mistura elementos bem agressivos com um refrão para lá de melodioso. Excelente.



Beyond The Pale é o típico hino de união dos desajustados sociais que veem no metal uma válvula de escape (e fonte de superação) para suas frustrações. “I found my heroes, the freaks and zeros”. Boa música.

California Bleeding é uma faixa que, segundo Robb, tem uma letra estúpida e grosseira que explicita a relação de amor e ódio que ele tem com a Califórnia. Independente da polêmica que a letra vem causando, é bem empolgante e deverá funcionar a contento ao vivo.

Até então, Catharsis não replicava a genialidade dos discos anteriores, mas também não trazia absolutamente nada de assustador. Até o jorro de bosta líquida Triple Beam assaltar nossos ouvidos com um Rap/Nu Metal tão escroto que seria capaz de causar uma ereção no Fred Durst.

Kaleidoscope tem um início que indica que a merda mole continuaria, mas a faixa até que se desenvolve bem e o belo refrão trata de salvá-la de vez, ainda que replique o conceito de salvação pela música explorado bem melhor na perfeita Darkness Within.





Bastards nasceu de forma curiosa. Uma canção folk que Robb improvisou para os filhos pequenos como uma maneira lúdica de explicar o momento esquisito que os EUA vivem politicamente. Uma espécie de mistura entre Bruce Springsteen e Dropkick Murphys, a faixa foi tocada por ele no YouTube e acabou viralizando. Robb então tentou a todo custo convencer o resto da banda que a mesma funcionaria no disco. E assim ela veio parar em Catharsis. Ok, ela absolutamente destoa de tudo aqui, mas acabou me conquistando com o tempo, e traz o mote “Stand Your ground, Dont Let The Bastards grind You Down”, que seria repetido em outras músicas mais adiante no disco.



Hope Begets Hope é outra boa faixa que vai direto ao ponto e que não assustará nenhum fã das antigas, mas que também dificilmente sobreviverá na memória para além da turnê vindoura. O mesmo pode ser dito sobre Screaming At The Sun, talvez um pouco mais elaborada instrumentalmente.

Novamente a fórmula é abruptamente quebrada na totalmente acústica e para lá de melódica Behind A Mask, que funciona, ainda que fique milhas aquém de uma Descend The Shades Of Night, por exemplo.

Heavy Lies The Crown é um épico curioso. Sua duração, beirando os nove minutos, faz com que logo evoquemos os três discos anteriores. Mas, estranhamente, ela evolui para algo muito mais próximo dos melhores momentos dos trabalhos atuais do Megadeth do que propriamente algo que os californianos assinariam. Em sua reta final ela até evoca um pouco a fórmula de Imperium/ Aesthetics Of Hate. Interessante sem ser memorável.
Bom, aí o caldo entorna de novo, com a idiotíssima Psychotic indo do nada a lugar algum, seguida da apenas razoável Grind You Down e da homenagem pouco inspirada ao Lemmy, Razorblade Smile, que desperdiça um ótimo riff com linhas melódicas bem muquiranas. O disco encerra de forma sombria com a balada Eulogy, que evoca novamente o tema de Bastards em sua letra.

Veredito Final

Cão que ladra não morde. A despeito das bravatas de Robb Flynn, Catharsis não é um disco que vá assustar os fãs que sobreviveram a The Burning Red e ao péssimo Supercharger. Longe de inovar, o disco só é longo demais e peca pela total falta de foco. Tivesse sido encurtado de seus exagerados 75 minutos para uns 45, cortando umas 5 músicas menos inspiradas, ninguém estaria reclamando. Talvez Catharsis seja um passo necessário, porém desajeitado, uma transição para um novo Machine Head. Talvez seja simplesmente uma tentativa errática e desesperada da banda se reinventar. Ou talvez represente somente uma declaração, ainda que involuntária, de que não há nada mais a ser feito sob o nome Machine Head. Mas essa resposta, só o próximo trabalho dos estadunidenses dirá.    


NOTA: 7,29

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DVD Bônus – Live At The Regency Ballroom

Se a qualidade do novo trabalho é motivo de controvérsias, o DVD bônus encartado na edição Deluxe analisada aqui é um deleite para qualquer fã da banda. Difícil reclamar de um disco bônus com 21 músicas de toda a carreira da banda em 135 minutos de destruição sonora executados com um poderio e coesão raros de se ver. Robb comanda com maestria um público alucinado e as várias câmeras pegam banda e fãs em inspirados takes e edição bacana. A única explicação para o não lançamento desse show como um produto em separado é a saturação de cores da iluminação, que faz com que a parte visual fique aquém do esperado para os dias de alta definição de hoje. Já o áudio, está mixado de maneira exuberante, talvez até melhor do que no último ao vivo oficial dos caras. Se você ainda compra mídia física, não tem nem discursão, opte pela edição Deluxe que o DVD vale cada centavo.


Gravadora: Nuclear Blast (importado).
Pontos positivos: tem uma penca de boas músicas
Pontos negativos: falta de foco e algumas porcarias enchendo linguiça
Para fãs de: Thrash Moderno
Classifique como: Modern Metal, Thrash metal