terça-feira, 28 de abril de 2015

Monsters Of Rock 2015 - Arena Anhembi - São Paulo (25 e 26.04.15)



Monsters Of Rock 2015
Texto e fotos por Trevas

Realizado nos dias 25 e 26 de abril na Arena Anhembi, o festival desse ano focou seu cast majoritariamente em bandas veteranas, apostando num público um pouco mais velho (e potencialmente mais apto a consumir). Separei a resenha em duas partes, a primeira focada na estrutura em si, a outra nas performances das bandas.

PARTE I – O FESTIVAL

O festival Monsters Of Rock, marca famosa na Europa da década de 1980, sempre esteve diretamente correlacionado ao heavy Metal e Hard Rock. Aqui no Brasil, foi realizado algumas vezes na década de 1990, tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro. Assisti duas edições, a última em 1998. Essa edição foi apoteótica, contando com Korzus, Dorsal, Glenn Hughes, Saxon, Savatage, Dream Theater, Manowar, Megadeth e Slayer. Um cast para lá de caprichado. Ano passado o evento voltou a ser realizado, centrado numa mistura de duas eras diferentes do rock pesado, confrontando nomes como Limp Bizkit e Whitesnake. Pela segunda vez sediado na Arena Anhembi, como é comum em eventos desse porte, o Monsters 2015 viveu entre erros e acertos.

Ingressos
Primeiro ponto negativo dessa edição, foi um absoluto parto adquirir ingressos pela internet. Os preços, pouco convidativos de início, logo se tornaram abusivos conforme os lotes de ingressos se sucederam. Aliás, esse esquema de lotes com preços diferenciados me parece realmente ridículo.

Acesso
Principal ponto negativo para muitos, pois no sábado a média de espera na fila para adentrar a Arena foi de uma hora e meia. Inexplicavelmente, quando nos aproximávamos do único portão aberto (19), tudo transcorria velozmente e ficamos sem entender o motivo de tanta retenção. O problema poderia ter sido resolvido com uma melhor orientação ao longo da fila, ou melhor ainda, com outro portão de acesso disponibilizado. No domingo tudo transcorreu sem entraves e adentrei a Arena em menos de 2 minutos, ainda que o número do público tenha sido o mesmo do dia anterior. Nas catracas, outro problema, ao contrário do anunciado no site, os funcionários impediam a entrada de água em embalagens plásticas.

Próximo à fila, o jeitinho brasileiro: uma casa oferecendo o prazer de uma cagada por preço módico
Atividades
Um espaço chamado Galpão do Rock trouxe dezenas de stands vendendo acessórios e roupas ligadas à cultura rocker, dentre outras atividades. Ao longo da Arena também tivemos a disposição um stand de venda de vinil e diversos stands vendendo merchandise das principais bandas do festival e do próprio evento. Os preços variaram de R$60 (as camisetas mais vagabundas) a salgados R$250 (moletons). Apenas o Manowar montou um stand próprio para seu merchandise e todos os stands contavam com máquinas para pagamento em cartão. Um stand de promoção do filme Mad Max inovou ao fazer maquiagens e penteados inspirados no visual pós apocalíptico do filme naqueles que se dispusessem a enfrentar uma fila de pelo menos meia hora. Também haviam barracas de revistas especializadas e de um selo de cds.

O Galpão do Rock
Stand Mad Max
Alimentação e bebida
Dezenas de stands e bares foram espalhados ao longo da Arena, e os caixas também estavam presentes em número satisfatório. Durante os shows foi bem tranquilo se alimentar ou comprar bebidas, as filas ficavam bem pequenas. O esquema de pagamento nos caixas consistia na conversão de uma quantia em fichas do festival (Monster Money), cada ficha equivalendo a R$3. Seria um esquema bem bacana, não fosse a maioria dos bares situados na arena limitados a receber o pagamento em dinheiro vivo, assim como todos os ambulantes. Esse fato, somado ao abusivo e estratégico valor de R$ 9 cobrado por uma simples lata da pavorosa Budweiser, resultou em uma picaretagem homérica: a maioria dos ambulantes, geralmente mais para o final do dia, vendia as latinhas a R$10. Quando interpelados, colocavam a desculpa na falta de troco de R$1,00. Os alimentos, em sua maioria sanduíches, também custavam bem caro. Uma pequena porção de batatas fritas valia R$12, um pacote médio de pipoca saía a R$10. A maioria dos sanduíches não ficava por menos de R$18. Foi instalada uma área gourmet concentrando os stands de comida e algumas mesas, que serviam de salvação aos pés cansados ao fim do dia.

Bares e lanchonetes em profusão
O (desvalorizado) dinheiro metálico
A área gourmet e suas mesinhas salvadoras
Som e palco
O som da grande maioria dos shows foi no mínimo muito bom, embora talvez um pouco baixo para aqueles que optaram por assistir mais de longe para se afastar da muvuca. As exceções se deram nos shows do Manowar e Malmsteen, no domingo. Provavelmente muito mais por culpa das bandas e suas trupes, ao que pareceu. Visualmente o palco estava muito bonito, com um grande telão ao fundo que engrandeceu até mesmo as apresentações iniciais de cada dia. A torre no meio da Arena atrapalhou um pouco a visibilidade e o palco baixo, somado aos não tão grandes três telões (dois laterais e um na torre) acabou por limitar a experiência para aqueles que assim como eu, são desprovidos de altura. De negativo, apenas destacaria a insistência do som mecânico em músicas do Pantera no sábado. Até os fanáticos pela banda devem ter saído enjoados de escutar as mesmas músicas.

Vista do palco no show do Kiss
PARTE II – OS SHOWS

Primeiro dia – 25.04.15

Cast do primeiro dia de festival
(perdi o primeiro show do festival, com o De La Tierra, por pura incompetência minha, mesmo)

Primal Fear
Do lado de fora numa fila infinita, meus ouvidos foram inaugurados nesse Monsters ao som do Primal Fear. Som perfeito, repertório aparentemente equilibrado e Ralph Scheepers gritando a todos os pulmões. Acho o careca fortão extremamente competente, mas muito chato. Prefiro mil vezes o patrão e baixista Matt Sinner cantando, mas quem é fã dos caras aparentemente teve todos os motivos para ficar feliz. Ah, cabe ressaltar que essa foi a estreia do Brasuca Aquiles Priester tocando com eles em território tupiniquim, e o cara tocou bem como sempre.

Coal Chamber
Um dos ícones do Nu Metal, rótulo que soa anacrônico diga-se, o Coal Chamber foi a primeira banda que pude conferir já dentro da arena. Começando com a matadora Loco, Dez Fafara e sua trupe pareciam algo deslocados no cast desse ano, mas fizeram um show honesto, e por isso mesmo receberam uma acolhida respeitosa e em alguns momentos até mesmo positiva. Algumas músicas do vindouro álbum de retorno adornaram o set, fazendo do show algo mais que uma viagem nostálgica aos anos de ouro do infame Nu Metal. Um show correto (NOTA 5).

Nadja e Dez falharam em conquistar o público
Rival Sons
Já enchi a bola do som dos caras na Cripta em outras ocasiões, mas confesso que não sabia muito o que esperar do show dos americanos, ainda mais se considerarmos que eles são desconhecidos do grande público. O som retrô dos caras parece ter conquistado em definitivo boa parte dos metalheads presentes, ainda que tenham insistido em duas ocasiões em jams um pouco longas demais para um festival. Facilita em muito o fato das músicas trazerem muito de Led, The Who, Doors e afins. Ah, e o afetadíssimo Jay Buchanan pode concorrer facilmente ao posto de vocalista revelação do evento, tamanha a qualidade de sua performance vocal. Um showzaço que deve ter angariado muitos novos fãs à banda (NOTA 8,5).

Rival Sons, a grande surpresa do festival (para aqueles que não leem a Cripta, claro)
Black Veil Brides
A inclusão do Black Veil Brides em meio a um cast tão tradicional certamente foi uma aposta arriscada. Amparados por um visual que fica em um meio termo entre o Motley e o gothic rock (lembrando uma versão juvenil do 69 Eyes), o BVB faz um som que em muito lembra uma versão de segunda divisão do Avenged Sevenfold. Tudo extremamente técnico e até mesmo com alguns momentos bem pesados, mas creio que o visual carregado e a aparência de Justin-Bieber-do-mal do vocalista Andy Biersack (disparado o ponto fraco da banda, diga-se) tenham jogado por terra as chances da banda em conquistar o Monsters. Mas aqui cabe uma ressalva, você tem todo o direito do mundo de não gostar dos caras, mas hostilizar e tacar garrafas no palco? Atitude desnecessária e infantil, que só mostra nossa incapacidade como público de curtir festivais. Os festivais de verão na Europa misturam desde Black metal a AOR sem que esse tipo de imbecilidade aconteça. Não quer assistir, o evento tem várias opções de diversão, vá curti-las e volte na hora do show que você tanto quer curtir. Também não concordo com a atitude do vocalista, de choramingar e fazer com que a banda encurte seu set. os babacas eram uma minoria e abandonar o palco foi um desrespeito ao não tão pequeno contingente (em sua maioria meninas) que foram ao evento só para ver o BVB. Ou seja, bola fora dos dois lados (NOTA 6).

Perdão, criançada, Tio Trevas não aprovou nem um pouco as vaias!
Motörhead
O mal-estar causado pelos problemas no show do BVB foi amplificado ao máximo quando um dos produtores do evento adentrou o palco para dar a temida notícia: Lemmy estaria com grandes problemas estomacais e teria sido impedido de tocar. As poucas vaias foram logo suplantadas por um ensurdecedor silêncio e por uma espontânea perplexidade. Um dos grandes bastiões do rock pesado mostrando a crua realidade, até as lendas uma hora enfrentam de frente sua mortalidade. O anúncio da corajosa Mimi-Jam entre ¾ do Sepultura junto a Mickey Dee e Phil Campbell pouco ajudou a diminuir a sensação de perda iminente: muito ali estavam no festival somente para ver o Lemmy, alguns por ser a primeira vez, a maioria por imaginar que aquela poderia ser a última chance de ver o tio Crocotó detonando. A Jam durou apenas três músicas e se representou um momento único na história do rock, poucos ali pareceram perceber. Andreas, com Paulo e Derrick fizeram um esforço bonito ao ajudar Mickey e Phil, mas tudo soou amargo demais aos ouvidos da ainda incrédula plateia.

O telão anunciando uma promessa não cumprida. Melhoras, tio Crocotó!!!
Judas Priest
Coube aos Metal Gods a tarefa árdua de restaurar o ânimo do público, e com um set ligeiramente aumentado em relação ao previsto, tomaram as rédeas da Arena Anhembi com propriedade. Um Rob Halford que até dois anos atrás estava em uma situação bastante delicada de saúde que quase o impediu de andar em definitivo, agora andava pelo palco cantando absurdamente bem, mesmo do alto de seus 63 anos. O repertório, que trouxe boas novas faixas (Dragonaut, a muito bem recebida Halls Of Valhalla e Redeemer Of Souls) com clássicos absolutos (Victim Of Changes) e algumas surpresas (Love Bites, Jawbreaker e Devil’s Child) agradou a todos, fazendo deste um dos melhores shows que já presenciei da banda, e certamente um dos destaques do festival. The Priest is Back!! (NOTA 9).

Rob fazendo graça com a bengala, uiuiui
Ozzy Osbourne
Com meu combalido joelho em frangalhos, presenciei metade do show do Madman, o suficiente para perceber três coisas: 1. Gus G, Blasko e Clufetos formam um time e tanto, certamente uma das melhores formações da banda do Ozzy, e o tempo dará razão a isso; 2. O repertório quase idêntico ao da última passagem do comedor de morcegos por aqui, privilegiando material do Sabbath em detrimento aos sons da carreira solo, absolutamente difícil de entender, tendo em vista a passagem do BS por aqui recentemente; 3. Das quatro vezes que vi Ozzy em ação, essa foi disparado a pior em relação a performance vocal. Fairies Wear Boots e War Pigs foram absolutamente assassinadas. Bom, de qualquer maneira, trata-se sempre de um show divertido e impactante, em especial para os marinheiros de primeira viagem (NOTA 7).

Ozzy trazendo seu manicômio a São Paulo
Segundo dia – 26.04.15

Cast do segundo dia do evento
Dr. Phoebes
Desconhecia o trabalho dos caras e presenciei apenas o final, com presença de uma dançarina fazendo um número de pole dance no palco. Pareceu um rock pesado e competente, e obviamente foi bem recebido pelo público presente. Ponto para os caras, mas não tenho como avaliar.

Dr. Phoebes e sua arma secreta
Steel Panther
Difícil expressar em palavras o grau de diversão que esses caras proporcionaram sem parecer um pouco bobo. O show do Steel Panther poderia ser resumido em um esquete de comédia, todos na banda tem seu papel e o desempenham com louvor e a profusão de piadas de baixo calão com enorme foco nas referências sexuais poderia causar alguns narizes torcidos. Mas tudo isso ainda é adornado com músicas excelentes tocadas por músicos bem acima da média, então se você não é fã da gaiatice, pode ainda assim curtir o som. Bom, e no ramo das gaiatices, nada mais próprio (ou seria impróprio?) que piadas sobre a sexualidade e idade avançada de alguns dos caras (todos eles figurinhas carimbadas da cena Californiana), sobre o tamanho diminuto dos membros dos membros e até mesmo uma impagável sacaneada dos insuportáveis solos de baixo do bobalhão Joey De Maio. Some isso tudo com uma profusão de belos peitos sendo mostrados e temos aí um dos grandes shows do evento todo (NOTA 9).

p.s.: Só não consegui até agora entender a garota chorando horrores no refrão de Community Property (cheque a letra e entenda...).

Satchel e Starr detonando no monsters
Yngwie Malmsteen
O sueco grandalhão sempre teve o talento proporcional a seu ego, e ele tem um ego Godzillico. Então, mesmo sabendo que os bons tempos ficaram bem para trás, estava bastante curioso em conferir o show de um dos maiores guitarristas em todos os tempos. Problemas técnicos intermináveis atrasaram um bocado o início do show, e quando o mesmo teve início, que decepção, Malmsteen conseguiu cagar os solos da fantástica Rising Force. E a banda do cara parece um apanhado de xepa da feira, disparado a pior formação que ele já teve. Um tecladista (bom) que pessimamente se desdobra nos vocais e uma cozinha meia boca. Mas o que impressiona mesmo é o desleixo do outrora mestre do rock neoclássico com seus timbres e solos, comendo muitas notas e fazendo muita pose e pouco som. Um fiasco completo (NOTA 2).

Malmsteen 2015, apenas um borrão do que já foi um dia...
Unisonic
Qualquer coisa com Kiske nos vocais me faz querer estar em uma caverna isolada no Afeganistão, milhas de distância de qualquer emissão sonora. Mas respeito Kai Hansen, que acho um bom guitarrista e um puta showman. Bom, o Unisonic não me fez mudar de ideia sobre o Kiske. Um metal europeu para lá de melódico e pasteurizado, como era de se esperar. Mas claro, tudo muito bem tocado. Kiske envelheceu, mas sua voz não sentiu tanto, atingindo uma maturidade que em muito lembra o que aconteceu com o Geoff Tate (Queensrÿche). Acredito que os fãs de metal melódico, afeitos a esses shows bonitinhos e de certa forma distantes do conceito do Heavy metal não tenham nada a reclamar. Eu aproveitei e assisti o show à distância, comendo um bacon burguer, que tem muito mais potássio, atitude e energia em 200 gramas de carne do que em uma hora de show dos caras (NOTA 6).

Accept
Precisou outro combo alemão para mostrar aos garotos leite com pera como se faz. O Accept aproveitou cada um dos minutos de sua apresentação para destilar em alto e bom tom todos os bons clichês do heavy metal clássico. Guitarras esporrentas, bateria cavalar, baixo competente e um vocal que parece ter feito gargarejo com cerol entoando petardos que usam sim de melodia, mas na medida certa, sem Abdicar do peso. A reta final, com Teutonic Terror (recente e já clássica) e Balls To The Wall levantou até defunto. E Mark Tornillo definitivamente faz com que a ausência do anão UDO mal seja sentida. Em suma, o Accept veios em muito alarde e simplesmente destroçou, fazendo aquele que muito consideraram ser o melhor show do festival. Matador! (NOTA 10).

Accept fazendo mais um gol para a Alemanha!

Manowar
O show no Monsters Of Rock de 1998 corou triunfalmente o Manowar no coração dos headbangers nacionais. Eu estava lá, e gaiatices à parte, foi destruidor! Que diferença... o Manowar até começou muito bem, mas chafurdou seu bom repertório num som horroroso. Em quase todo o show o que se ouviu foi o sempre ótimo Eric Adams cantando em cima das linhas de bateria, entrecortado por solos de guitarra e o pior som de baixo que já ouvi. Poderia se culpar o som do evento, mas curiosamente Accept veio antes, som perfeito, Judas veio depois, som perfeito... E o babacão do Joey de Maio com suas bravatas soa como o Steel Panther, só que com uma pequena grande diferença: ele se leva à sério. Absolutamente triste. E o cara ainda tirou onda por falar português, talvez se esquecendo que os gaiatos da Califórnia já tinham falado algumas piadas em bom português horas antes. O sentimento de vergonha alheia tomou conta de muitos, e olha que o público estava bem receptivo. Na plateia, uma profusão de gorilas musculosos sem camisa, se abraçando e chorando, bêbados e provando que o excesso de testosterona se aproxima demais da veadagem absoluta. Assistindo essa apresentação e tentando lembrar o último disco razoável dos caras, me peguei pensando que é hora de programar a aposentadoria: talvez seja melhor dividir o preço do psiquiatra com o Malmsteen. Pífio! (NOTA 4)

p.s.: Ah, sim, teve a participação de Robertinho do Recife, mas ao que parece poucos entenderam quem era.

Judas Priest
Assistir dois shows seguidos de qualquer banda pode ser um pouco desanimador, certo? Sim, mas a fase do Judas está tão boa que fiz questão de ver tudo de novo. Uma ou duas músicas foram trocadas em relação ao show da noite anterior (saiu Love Bites, infelizmente) e Halford estava um tiquinho menos inspirado. Ainda assim um grande show que terminou com uma performance apoteótica de Painkiller seguida de Living After Midnight, a música mais Kiss que o Judas já fez. Muito bom. (NOTA 8)

Kiss
Com quase uma hora de atraso, o Kiss assombra o palco com o costumeiro festival pirotécnico. As pessoas esquecem que fosse somente pela pirotecnia, o Kiss não teria tamanho longevidade e/ou adoração na cena. O grande trunfo dos caras são as músicas: Detroit Rock City, Creatures Of the Night, Psycho Circus, Deuce, God Of Thunder...até mesmo Parasite deu as caras!!! Um show perfeito, certo? Infelizmente não. Paul Stanley está com um físico privilegiado em sua idade, mas ao contrário de Halford, seus 63 anos transparecem por inteiro em sua voz. O cara mal consegue falar, quanto mais entoar os hinos imortais da banda. A voz de Gene também já viveu dias melhores e fica impossível nãos sentir uma pontada de desapontamento em relação ao que se ouviu ontem, a despeito da superprodução e do repertório muito bem escolhido. Ainda assim, um show para lá de empolgante (NOTA 7)

Gene, lá do topo do mundo!
Saldo Final
O triste imprevisto em relação ao Motörhead não pode ser levado em consideração, assim como a má forma de algumas atrações. Ao que pude constatar com quem compareceu na edição do ano passado, o Monsters Of Rock melhorou em termos de estrutura e o som beirou a perfeição na maioria dos shows. A diversidade de stands e afins tornou a experiência de passar o dia no meio de nossos iguais, curtindo um monte de coisas que fazem referência ao universo que tanto amamos, ao som de grandes bandas, uma oportunidade única. E o melhor, em território brasileiro! Particularmente, reencontrei em mim uma paixão pelos shows que vinha aos poucos esmorecendo. O melhor ponto foi a sensação de igualdade, as bandas que tocaram no início da tarde dispondo de ótimo som e do telão fantástico. Afora os já relacionados entraves na organização, o grande ponto negativo foi a notada ausência de nomes brasucas no cast. Sem nenhuma patriotada, temos nomes que podiam muito bem entrar no lugar da galera xepa da feira, como atualmente são o Manowar e Malmsteen. Que venha a edição 2016!!

sábado, 18 de abril de 2015

Europe – War Of Kings (Cd – 2015)

Europe - War Of Kings (Cd - 2015)
Digno dos Reis
Por Trevas

Uma Nova Banda
A não ser que você tenha sido mantido em sono criogênico ou tenha sido abduzido por alienígenas e mantido em uma galáxia distante pelos últimos 20 anos, deve estar bem a par de que os suecos do Europe renasceram das cinzas (ou seria da purpurina) com uma sonoridade bem encorpada e melancólica. Caso tenha perdido esse ressurgimento glorioso, fiz um bom apanhado histórico na resenha do penúltimo disco dos caras, cheque aqui!

Europe, com ou sem farofa?
Reafirmando a cada entrevista sua paixão por UFO, Scorpions, Thin Lizzy, Deep Purple, Gary Moore e outros expoentes do rock pesado do velho continente, Joey Tempest ficou bastante impressionado com a ascensão dos retro-rockers californianos do Rival Sons (ver resenha para o novo disco aqui). Não à toa, escolheu o produtor dos caras, Dave Cobb, para capitanear o novo trabalho do Europe. Escolha endossada com alegria por John Norum, cada vez mais afeito à uma linguagem mais bluesy em seus trabalhos.

Punch e Feeling

A recepção ao novo disco foi formidável, com a Metal Hammer (dentre vários outros meios especializados) catapultando-o ao topo da discografia dos suecos. Citações à Deep Purple e Led Zeppelin tem sido uma constante nas resenhas mundo afora. Na contramão, a brasileira Roadie Crew elogiou comedidamente o disco, fazendo uma ressalva, o mesmo faria muito mais a alegria de fãs de classic rock do que aqueles que acompanharam o Europe em seu auge purpurinado. Uma crítica bastante honesta, ainda que só venha a corroborar a qualidade do trabalho dos caras.

Europe em 2015
De fato, a sonoridade de War Of Kings, ainda que longe de datada, está muito mais próxima à dos gigantes setentistas do que da patota dos anos 1980. Mas isso não quer dizer em absoluto que o disco seja um mero exercício de saudosismo barato, há de tudo um pouco aqui. War Of Kings (a música, ver vídeo) e Rainbow Bridge fazem menção à mitologia nórdica, coroadas por uma atmosfera épica fantástica na tradição do Metal Europeu mais clássico.



Hole in My Pocket, Children Of The Mind e Days Of Rock ‘n’ Roll são exemplos perfeitos do rock mais puro e direto e Praise You traz uma versão de Joey Tempest repleta de um feeling que muitos não reconheceriam nele em eras passadas. California 405 e The Second Day em contrapartida já parecem aquele Europe carregado de influências modernas e pitadas de Soundgarden que apareceu com maior destaque em Secret Society. A qualidade das composições é tão destacada que até mesmo a balada obrigatória, a bela Angels (With Broken Hearts), parece dever mais ao irlandês Gary Moore do que a baboseiras melecosas como Carrie. Marcando a mudança de sonoridade do novo trabalho, Mic Michaeli escolheu timbres bastante focados na fase mais clássica do rock, sendo esse seu trabalho mais destacado na nova fase do Europe (tanto em qualidade quanto no destaque na mixagem final).


A sonoridade que Dave Cobb trouxe ao disco é perfeita, com muito punch, destacando a dinâmica das canções e apostando numa performance mais encorpada de Tempest, na telepaticamente perfeita cozinha de Levèn e Haugland e especialmente na vigorosa pegada bluesy do mestre John Norum, que brilha em todas as faixas, mas dá um show especial na orgia guitarrística que marca o final da derradeira Light It Up.

Saldo Final

Afirmar que War Of Kings é possivelmente o melhor disco da carreira do Europe pode parecer uma afronta aos fãs incondicionais dos farofeiros anos 1980. Mas é difícil, muito difícil terminar a audição desse excelente trabalho sem ter exatamente essa impressão. A sonoridade madura e melancólica, repleta de blues e hard rock em sua melhor vertente, aliada a fortes composições e de atuações bem acima da média dos músicos envolvidos faz desse War Of kings um dos destaques prematuros desse promissor ano de 2015.

NOTA: 9

Prós:
Tempest em sua melhor forma, grandes músicas e um sempre excelente John Norum.
Contras:
Talvez desagrade aquele teu amigo fã de polainas, roupas de lycra e laquê.

Classifique como: Hard Rock, Blues Rock, Retro Rock

Para Fãs de: Deep Purple, Led Zeppelin, Thin Lizzy

Ficha Técnica
Banda: Europe
Origem: SUE
Disco (ano): War Of Kings (2015)
Mídia: CD
Lançamento: UDR (importado)

Faixas (duração): CD  - 11 (49’)
Produção: Dave Cobb
Arte de Capa: Paul Tippett, Adrian Andrews e Paul Higgins

Formação:
Joey tempest - voz;
John Levèn – Baixo;
John Norum – Guitarra;
Mic Michaeli – Teclado;
Ian Haugland – Bateria.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Sweet & Lynch – Only To Rise (Cd – 2015)

Sweet & Lynch - Only To Rise (Cd-2015)
Improvável Aliança
Por Trevas

Lá vamos nós de novo. A improvável junção dos talentos de Michael Sweet (eterno vocalista do combo de Metal Cristão Stryper) e George Lynch (o monstro das seis cordas da era de ouro do Dokken e líder do Lynch Mob, além de inúmeros projetos) foi arquitetada pelo italiano Serafino Perugino (ver RevolutionSaints), o chefão da Frontiers Records. Se tal projeto, inicialmente financiado via campanha pelo site Pledge Music, já pareceria suficientemente interessante para os fãs de hard oitentista, que tal adicionar a equação os nomes de Brian Tichy (bateria: Whitesnake, Foreigner) e James Lomenzo (baixo: White Lion, Megadeth, Black Label Society)? Dá para ter grandes expectativas com o resultado final, não?

Sweet & Lynch
Only To Rock

A primeira música a ver a luz do dia, September (ver vídeo), assustou um pouco os fãs de Sweet com sua levada marcial, temática densa (11 de setembro) e riff que parece fazer referência à Wasted Years do Iron Maiden. Um musicaço, mas que pouco representa o restante do material (em termos estilísticos, ao menos).


O disco começa mesmo é com The Wish, que apesar da cara moderna, representa exatamente o somatório da bagagem dos dois veteranos. Ótimo trabalho de guitarras e Michael cantando em seu tradicional tom estratosférico no grudento refrão. Se você conseguir sobreviver à breguice atroz de versos como “Girl I Wanna Love you Just Like Hollywood – Like a New York Times Best Selling fairytale”, então não tem como não se divertir aqui.



Dying Rose (ver vídeo) parece fabricada lá pelos idos de 1987. Grudenta, algo maliciosa e efetiva, muito bem trabalhada e com um quê de Badlands. A ótima Love Stays é tão Def Leppard que Joe Elliott deveria perder uns minutinhos de seu dia para tentar reaprender como se faz uma power balada. A beleza e simplicidade do solo de Lynch aqui demonstra que ficaram para trás os tempos de egolatria e exibicionismo.


Time Will Tell lembra tanto os trabalhos de Magnus Karlsson que fui olhar no encarte. Alarme falso, todas as músicas aqui foram compostas pela dupla principal. Quanto ao processo de composição, Lynch levava riffs e ideias básicas, Sweet trabalhava melodias e estruturas em cima dessas ideias e então Tichy e Lomenzo complementavam os arranjos. A produção ficou ao encargo de Michael Sweet mesmo, e crédito tem que ser dado, a sonoridade aqui ficou excelente.

Michael Sweet indo para a missa
Rescue Me desce um pouquinho a qualidade do material, que ganha doses cavalares de açúcar com Me Without You, baladinha que poderia matar um elefante diabético. Com o perdão do trocadilho, Recover chega para recuperar a bolachinha, num Hard envenenado com Sweet atingindo notas tão altas no refrão que chega a impressionar. Quem acha que Lynch anda pegando leve vai curtir seus solos nessa faixa. Há algo levemente Zeppeliano na bacaninha Divine, mas é a já citada September que faz a alegria do ouvinte.

A guitarra de tigrinho de Lynch até que casa com as cores do Stryper
Strenght In Numbers vence pelo refrão inspirado, enquanto Hero-Zero passa desapercebida. A edição normal do disco fecha com a Dokkeniana faixa título, que de tão anos 1980, chega a destoar do restante do material. Algumas edições contam ainda com uma versão quase acústica para Me Without You, mas seu médico certamente não recomendaria.

Saldo Final

Um bom disco de Melodic Rock, que em seus momentos mais inspirados mostra que a dupla pode e deve repetir a dose. E ao que tudo indica os coroas irão pegar a estrada juntos, fazendo um punhado de shows em território norte americano. Mais uma vez a Frontiers dá uma tremenda bola dentro, para a felicidade dos fãs de Hard e AOR.

NOTA: 7,5

Prós:
Algumas grandes músicas e músicos inspirados.
Contras:
Duas ou três faixas bem abaixo do restante.

Classifique como: Hard Rock, Melodic Rock

Para Fãs de: Dokken, Lynch Mob, Stryper

Ficha Técnica
Banda: Sweet & Lynch
Origem: EUA
Disco (ano): Only To Rise (2015)
Mídia: CD
Lançamento: Frontiers Records

Faixas (duração): CD  - 12 (48’).

Produção: Michael Sweet
Arte de Capa: Stan W Decker

Formação:
Michael Sweet – Guitarra e voz;
George Lynch – Guitarra;
James Lomenzo – baixo;
Brian Tichy – bateria.

domingo, 5 de abril de 2015

Revolution Saints – Revolution Saints: Deluxe Edition (Cd + DVD – 2015)

Revolution Saints (2015)
Pistoleiros de Aluguel à Serviço do Melodic Rock!
Por Trevas

Supergrupo de Proveta

Serafino Perugino criou a Frontiers Records em 1996 e de lá para cá o selo se tornou uma espécie de Valhalla para os fãs de Hard, AOR e Melodic Rock. Em anos recentes o chefão italiano descobriu uma mina de ouro escondida sob a forma de Projetos e Supergrupos montados com a combinação de artistas veteranos cujas carreiras já beiraram o estrelato e que hoje, na nova ordem mundial da indústria fonográfica, se tornaram mais acessíveis.
Serafino fazendo o sinal de vitória ao lado de Steve Lukather
Serafino é fã inveterado de Journey e desde que viu o exímio baterista Deen Castronovo cantando uma música no show da banda (a ótima Mother, father), desenvolveu uma espécie de fetiche: ainda trabalharia os dotes vocais de Deen em um projeto de seu selo. Assim nasceu o Revolution Saints, da ideia de trazer Deen Castronovo como vocalista e baterista de um combo de Melodic Rock. Serafino contatou Deen e sugeriu os nomes de Jack Blades (baixo e voz, Night Ranger e Damn Yankees) e Doug Aldrich (guitarra, Dio, Whitesnake, Bad Moon Rising e Burning Rain), nomes esses prontamente aceitos pelo californiano.
Deen Castronovo em seu habitat natural
Para selar ainda mais o caráter Supergrupo de Proveta, Serafino contratou o tecladista e produtor Alessandro Del Vecchio (Hardline, Edge Of Forever, Level 10) para escrever as músicas e produzir a bolachinha. Não, nenhuma das músicas foi composta pelo super power trio, e alguns outros compositores contratados do selo complementaram o repertório do disco, a saber: Erik Martensson (W.E.T. e Eclipse) e Magnus Karlsson (Bob Catley, Starbreaker e os três primeiros do projeto Jorn/Lande).

A cara de felicidade de Del Vecchio ao saber do line up que gravaria suas músicas
Bom, já estão todos avisados que o Saints se trata de um Supergrupo de aluguel, certo? Mas vamos ao que interessa, um projeto com tantos bons nomes envolvidos tem como dar errado? Vamos lá descobrir...

On March The Saints

Back On My Trail (ver vídeo) remonta àquele lado mais rocker do Journey e logo de cara quem não conhece os dotes vocais de Castronovo ficará assombrado pela semelhança de sua ótima voz com a do mestre Steve Perry.


Turn Back Time (ver vídeo) é uma faixa com clima bem para cima e que traz também a primeira parceria vocal entre Deen e o também muito bom Blades. Os solos de Aldrich casam muito bem com a proposta AOR, um enfoque diferente para seu estilo que geralmente é calcado numa vertente mais Bluesy do Hard Rock.  A produção é absurda, mas quem esperava pelo clima power trio, esqueça, tudo aqui é repleto de camadas e com o teclado de Del Vecchio ao fundo.


You’re Not Alone traz a primeira participação especial, com o talentoso filipino Arnel Pineda (Journey) engrandecendo a bela balada ao dividir o microfone com Deen. Locked Out Of Paradise tem uma cara menos Journey e mais dramática, e não por acaso, aqui Doug traz um pouco mais de seu estilo tradicional, sempre com aquela qualidade monstruosa que já estamos acostumados a ouvir. Por falar em monstruoso, Neal Schon detona no solo de Way To the Sun (ver vídeo), ótima faixa que traz os vocais de Blades e Del Vecchio junto a Deen.


Dream On é a primeira composição de Erik Martensson (Eclipse, W.E.T) aqui na bolacha, uma para lá de batida música prafrentex e alegrinha, facilmente uma das menos legais do pacote. Don’t Walk Away começa somente com voz e piano, com a banda entrando no refrão. Bonitinha e totalmente anos 1980.

Doug, Deen e Jack: Perfect strangers
Here Forever (ver vídeo) é mais uma power balada, mas dessa vez com uma carga de dramaticidade engrandecida em muito pela performance de Deen na voz. O rock volta à tona com Strangers To This Life, mais uma composição de Martensson, dessa vez um musicão com uma cara de Survivor. A boa Better World é cortesia de Magnus Karlsson, e também tem aquela cara de trilha de filme do Rocky, para deleite dos saudosistas da era de ouro do AOR.


To Mend A Broken Heart é disparada a melhor contribuição de Martensson para esse disco e um dos destaques absolutos do mesmo. In The Name Of The Father encerra a bolachinha de maneira algo tristonha, mas bonita, com Deen por vezes remetendo a Rod Stewart, o que é um baita elogio.

Saldo Final

Vamos lá, desconsidere o cheiro de picaretagem caça-níquel, a banda de proveta de Serafino Perugino traz aqui uma baita aula de rock radiofônico com a melhor produção e alguns dos melhores músicos que o dinheiro pode contratar. A lamentar, apenas o fato de que dificilmente veremos esse grupo em ação em cima de um palco. Ao menos temos aqui para a posteridade um material digno do paraíso do AOR.

NOTA: 8,5

Bônus da Deluxe Edition

A Edição Deluxe do disco traz um DVD e três faixas adicionais. As faixas são duas versões alternativas para You’re Not Alone, uma somente com a voz de Arnel e outra com Deen cantando sozinho, e uma versão de Way To The Sun com os solos de Doug. Já o DVD traz um documentário de 20 minutos e os dois videoclipes oficiais. O documentário conta a história do projeto através de entrevista com os três atores principais, que fazem ainda a análise de algumas faixas do disco. Definitivamente, nada que deva ser assistido mais de uma vez na vida, pois visivelmente não há muito a dizer e os músicos gastam o tempo tecendo elogios uns aos outros, valendo apenas pela simpatia aparente de Blades e Castronovo. Já os clipes, são corretos apenas. Ou seja, o material bônus serve somente aos colecionadores inveterados. Se não é o seu caso, dispense sem medo.

Prós:
Grandes performances, boas músicas e produção cristalina.
Contras:
Lembra demais o Journey e não traz nada de novo na cena AOR.

Classifique como: Hard Rock, AOR, Melodic Rock

Para Fãs de: Journey, Foreigner, Survivor

Ficha Técnica
Banda: Revolution Saints
Origem: EUA
Disco (ano): Revolution Saints: Deluxe Edition (2015)
Mídia: CD+DVD
Lançamento: Frontiers Records

Faixas (duração): CD  - 12 (56’) – 15 (68’) na Deluxe Edition.
DVD: 30’
Produção: Alessandro Del Vecchio
Arte de Capa: Larry Freemantle

Formação:
Deen Castronovo – Bateria e voz;
Jack Blades – Baixo e voz;
Doug Aldrich – Guitarra;
Alessandro Del Vecchio – Teclado e voz;

Participações:
Neal Schon – Guitarra
Arnel Pineda - Voz