quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Nightwish – Circo Voador/RJ (10.12.12)

Cartaz do Show, ainda com Anette

Pernas (e gogó) para que te quero!

Prólogo – Not My Cup Of Tea

Vamos ser honestos: Nightwish nunca fez exatamente meu tipo de som.


Descobri a banda através de um amigo, que me emprestou entusiasmado o recém lançado Oceanborn, em 1998. Achei tudo muito chato, típico metal melódico, em voga na época, com um agravante: vocais líricos femininos. O que era o diferencial da banda, diga-se de passagem. Tenho uma aversão por vocais líricos. Risquei a banda do meu mapa.


Nightwish em seus primórdios

Curiosamente o acaso me levou de volta à banda. Em 2000, assinei uma revista especializada em metal e meu brinde foi um ingresso para a apresentação do Nightwish na Via Funchal, em São Paulo. À época boa parte da minha família residia na capital paulista e o ingresso serviu de uma bela desculpa para uma visita familiar (e outra à galeria do Rock, meu Valhalla).

Era a turnê de promoção de Wishmaster e o que presenciei foi desanimador: uma banda muito fraca ao vivo, tanto musicalmente quanto em termos de postura. Mas capitaneada por uma vocalista com um poderio sobre o público e sobre a própria voz dignos de nota: Tarja Turunen, depois fiquei sabendo, estava com uma bruta febre naquela noite, mas carregou a banda nas costas, hipnotizando a todos com seus trejeitos e poderosa voz. Não foi o suficiente para me transformar em um fã, mas certamente a caruda finlandesa ganhou meu respeito. A banda, essa definitivamente não impressionou ninguém.


Tarja (leia-se Tária) - a caruda entende do riscado

Bom, tudo evolui, e assim aconteceu com o Nightwish. Veio Once (2004), e com ele a apresentação em estúdio do veteraníssimo Marco Hietala, vocalista e baixista do lendário Tarot, grupo de heavy Tradicional oitentista considerado um dos baluartes do estilo na Finlândia. Marco compensou a falta de talento e carisma do restante da banda, ajudando Tarja a segurar o peso ao vivo. Once se tornou um sucesso comercial, muito por conta da superexposição da bacana Nemo e da pesadinha Wish I Had an Angel, que justamente mostrava o poderio da dupla vocal do Nightwish.


Marco Hietala - trazendo metal e barba maneira ao Nightwish

Eis que no auge da fama uma briga feia entre o patrão, careteiro e suposto aprendiz de ditador Tuomas Holopainen e Tarja Turunen terminou em uma catástrofe comercial, a cantora deixava o grupo. Substituindo a diva por Anette Olzon, possuidora um estilo de canto muito mais próximo ao popular, a banda lançou seu mais pesado e maduro disco, Dark Passion Play (2007). A receptividade foi um tanto dividida, a bolacha foi aclamada pela crítica, mas a banda parece não ter tido a mesma sorte perante os fãs, talvez pela falta de carisma de Anette. Veio então Imaginaerum (2011), outro bom disco, que novamente dividiu opiniões. Datas da turnê de Imaginaerum já estavam marcadas para a América do Sul, quando todos foram pegos de surpresa: Anette Olzon abandonara a banda. Para alegria de muitos, Floor Jansen, a grandona holandesa que tornara-se famosa com o After Forever, era anunciada como a substituta temporária de Anette.

Anette e o então querido patrão
Torcendo fortemente por um set baseado nos últimos dois discos e curioso com a adição de uma vocalista consideravelmente mais metalizada que as anteriores rumei para o Circo Voador em uma infernalmente quente noite de segunda feira para conferir o novo Nightwish.

Floor Jansen
Marco, Floor, samplers e o convidado

Com meia hora de atraso o som mecânico do Circo Voador cuspiu o que pareceu uma interminável introdução enquanto todos aguardavam ansiosos a entrada triunfal da banda em um palco bonito, repleto de painéis com imagens referentes à arte conceitual do novo disco. Normal, portanto, que a primeira música apresentada tenha sido a faixa de trabalho deste, a ótima Storytime, que ficou ainda melhor na voz de uma espetacular Floor Jansen, que então hipnotizara de imediato tanto marmanjos quanto marmanjas com sua presença de palco e suas coxas torneadas pessimamente escondidas em uma micro saia.

Mãos ao alto!
Dark Chest of Wonders seguiu quase de imediato, como que para saudar as viúvas de Tarja. O público foi ganho de vez com o hit Wish I Had an Angel, na qual a dupla Marco e Floor mostraram poderio vocal e entrosamento. Scaretale veio evidenciar o que qualquer um com um pouco mais de senso crítico já havia percebido: boa parte do som da banda fica na dependência de bases pré-gravadas. Emppu Vuorinen e até mesmo o suposto gênio Tuomas Holopainen executam partes absolutamente banais em seus instrumentos, enquanto Floor, Marco e o baterista Jukka Nevalainen se digladiam tocando de verdade perante uma avalanche de samplers que simulam orquestras e outros trocentos instrumentos.

O britânico Troy Donockley veio então se juntar aos músicos de verdade da banda na execução de I Want My Tears Back. Depois de outra faixa do novo trabalho, a banda apresenta seu hit maior, Nemo. A platéia está esfuziante, e mesmo com o calor intenso os 2.000 headbangers presentes fizeram bonito e não deixaram de cantar e pular um só instante, o que impressionou claramente a todos na banda. Troy retorna ao palco para dar um show particular na instrumental The Last Of The Wilds, e foi inevitável sentir uma certa vergonha alheia por conta da inaptidão do pequenino e simpático Emppu. Talvez seja ele o guitarrista menos talentoso que já vi em uma banda de renome, o cara beira o tosco, o que ficou mais evidente no embate com o músico convidado.

E Tuomas, bem...ok, o cara é algo como um sex-symbol para as meninas e compõe bem. Mas ao vivo fica resignado a tocar meia dúzia das notas em seu teclado (mesmo boa parte dos teclados são pré-gravados) e a fazer caras e bocas e bebericar uma garrafa de vinho. Sua figura à lá Jack Sparrow definitivamente não faria muita falta caso optassem por incluir suas poucas partes no batalhão se samplers.
Floor e seus súditos
Wishmaster e Ever Dream agitaram o público, mostrando que Floor se sai bem tanto no material da fase Tarja quanto no material da fase Anette. Logo depois começou uma levada de bateria que eu reconheceria até debaixo da terra: Over The Hills And Far Away, do saudoso Gary Moore foi apresentada com o bônus da presença de Troy, o que diminiu a raiva em ver o bisonho Emppu e sua imperícia perante a obra de um dos maiores guitarristas em todos os tempos. Uma boa versão com Marco dando uma bela ajuda a Floor no refrão.
Emppu fracasso, Marco Hietala e Floor Jansen
A banda teve um certo problema com a escolha de repertório ao final do show, já que Ghost Love Score e Song Of Myself derrubaram consideravelmente a empolgação do público. Last Ride Of The Day corrigiu o problema, até que a mesma se encerrou e então o púbico percebeu pelos intensos agradecimentos da banda que esta havia sido a última música da noite.

Nightwish e seu convidado
Saldo Final

O Nightwish evoluiu em estúdio, mas ao vivo ainda depende da força de Marco Hietala e de alguma vocalista com carisma suficiente para obscurecer as limitações do restante da trupe – no caso, a ótima Floor.  Que bom que os dois, em conjunto com o convidado Troy tenham talento de sobra. Mas apesar disso, há de se ressaltar que Tuomas compôs nesses anos (em especial de Once para cá) algumas músicas realmente marcantes e a qualidade delas comandou a noite.

Sobre a troca de vocalistas, a escolha de Floor Jansen foi para lá de brilhante, a holandesa tem luz própria, uma bela e potente voz e se encaixa perfeitamente em qualquer fase do material da banda. Torcemos para que seja efetivada.

No geral, um show intenso e bem produzido, e duvido que muitos tenham saído do Circo Voador decepcionados com o que viram.

SETLIST:

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