domingo, 17 de fevereiro de 2019

Imago Mortis – LSD (CD-2018)



Os Brutos Também Amam
Por Trevas

Prólogo: Idiossincrasias e heavy metal
Olá, prezados Criptomaníacos.

Quem me conhece sabe o quanto amo o infame Rock and Roll em boa parte de suas quase infinitas formas.

Você, que frequenta regularmente esse Blog bem sabe disso, tenho tanto prazer de ouvir um Vader ou um Amon Amarth quanto um Fates Warning, um Deftones ou um Steel Panther.

Gosto especialmente de ouvir um pouco de tudo dentro do som pesado.

Tudo, é claro, a depender do momento que atravesso ou do meu estado de espírito.

Mas, embora meu coração tenha uma espécie de bússola que sempre me guie (de tempos em tempos) de volta aos sons mais simples do Rock puro ou do Metal Tradicional, sempre me traz enorme delírio auditivo desbravar discos de bandas inclassificáveis, daquelas que transitam por tantos corredores sonoros e bebem de tantas fontes que tornam seus trabalhos por vezes herméticos ao grande público, a despeito da qualidade de sua obra.
Essas bandas nem sempre me agradam em tudo o que fazem, afinal, por vezes bebem de fontes amargas ao meu paladar. Mas o desafio que proporcionam são um irresistível convite a que eu pare minha vida por algumas horas e brinque de explorador.

Na cena brasuca até mesmo nossos maiores expoentes do heavy metal tem como característica experimentar (Angra e Sepultura se fizeram grandes lá fora justamente por isso). Mas se existe uma banda cuja extensa paleta de cores usada em seus discos é de tamanha idiossincrasia que sempre me atrai como uma mariposa para a luz, essa banda se chama Imago Mortis.

Dona de uma obra curta, mas consistente, e progenitora de Vida, um dos maiores discos de nossa história metálica, Imago Mortis retorna à ativa após longuíssimos 12 anos. LSD é um trabalho conceitual em torno da montanha russa de emoções que envolve a construção e desconstrução de um grande amor, calcado nos exageros de nossa cultura de romantizar demasiadamente relacionamentos.

E é claro, a expectativa para a nova viagem musical não poderia ser menos do que absurda.

O sexteto, como desenhado no encarte
E a abertura, com os 13 minutos de The LSD Theorem já me mostrou que a viagem definitivamente não seria em vão. Elementos de World Music, normalmente alienígenas á bandas de Heavy Metal, aqui integram harmoniosamente a paisagem. Uma paisagem árida e empedernida, como deve ser, já que a matriz rochosa primordial do Imago é o Doom Metal. A música se constrói aos poucos, apresentando o forte tema musical principal e diversas facetas, como que se tentasse sintetizar tudo o que o sexteto preparou para o novo disco ao longo de sua existência. Uma grande música, em extensão e qualidade. A qualidade sonora é excelente, a produção, privilegia a dinâmica, luz e sombras o tempo todo. Mas as onipresentes camas de teclados (pelo talentoso Charles Soulz), destacadas demais na mixagem, me incomodaram tremendamente nas primeiras audições. Não, LSD não é tão calcado nas guitarras quanto se esperaria, mas isso está longe de querer dizer que não é um disco pesado. Binary Viscerae, do próprio tecladista, onde o sempre versátil Alex Voorhes mostra sua faceta Black metal nos versos alternando com seu já famoso estilo operístico no ótimo refrão, que o diga.


E Hieros Gamos segue, um monstro avassalador que facilmente conquistará os fãs dos trabalhos anteriores de imediato, compilando World Music, Doom e extremo com gemidos femininos daquela forma única que só o Imago é capaz. Aqui as guitarras de Daemon Ross e Rafael Rassan pulam à frente dos teclados num novo clássico da banda. E o rinoceronte branco André Delacroix (Metalmorphose, Azul Limão), um baterista para lá de subestimado na cena, comprova mais uma vez sua capacidade inconteste de destruir kits em qualquer estilo.


Alex torna com maestria seu poderoso trinado em um quase sussurro em Incantation, guiando a beleza sorumbática de uma Power Ballad que é o tipo de som que o Leif Edling deve colocar para rolar no dia dos namorados para sua noiva cadáver. Mas nem tudo funciona assim tão bem, a balada seguinte, The Promise, esbarra um pouco demais no Disney Metal.

Não e isso não é nem de longe uma crítica a doce voz de fada de Julia Crystal, que divide os vocais com Voorhes.

Aqui o protagonista encontra o grande amor e o tom adocicado da canção apenas mimetiza aquela fase grudenta que todos já experimentamos alguma vez na vida. Ok, um caso em que o conceito se sobrepõe à música. Muito melhor se sai o dueto de Two-Headed Chimaera. O relacionamento começa a azedar, e nada melhor do que a voz cáustica de Mariana Figueiredo (que me faz pensar numa improvável filha entre Tina Turner e Leather Leone) travando uma intensa DR com Mr. Alex. Simplesmente duas das melhores vozes de nossa cena na mesma música. Aliás, essa faixa tem ótimas performances de todos os músicos.



O baixo de Paulo Ricardo Silva prepara o terreno para o Doom mais puro de A Farewell Kiss, onde a voz mutante de Alex parece encarnar uma versão tupiniquim do monstruoso McCoy, mestre do raramente lembrado Fields Of The Nephilim. Outra faixa que faz o link com o Imago do passado. Black Widow, primeira do pacote a ver a luz do dia, e de longe a mais direta e “simples”, não deixa pedra sobre pedra.


Mas se a dobradinha anterior joga os fãs em terreno razoavelmente conhecido, o mesmo não pode ser dito sobre Alone. Aqui parece que enterraram Gary Moore no cemitério maldito do Stephen King, e ele retornou macabramente e compôs uma versão zumbi-demoníaca do que seria uma de suas emocionantes baladas blues-rock, com belas guitarras chorando. E se a interpretação de Alex Voorhes aqui não te der arrepios e não for suficiente para te convencer de que ele é um dos maiores vocalistas da nossa história, sinto muito, mas é você quem está morto. Melhor procurar o infame cemitério indígena. 



Não sou um grande fã de discos conceituais, e o motivo disso é que raramente eles não sucumbem à pantomima de sacrificar a parte musical em favor do andamento da história. E LSD não escapa a esse mal. Exile é um curto e melancólico interlúdio tocado inteiramente no piano. E Epitáfio de Um Amor, a despeito de fazer imenso sentido dentro da história contada, traz um poema declamado sobre uma trilha musical que a princípio reflete alguns temas do disco e depois parece transmutar para algo saído da trilha de uma nada bem-vinda continuação cinematográfica de Nosso Lar. Mas Love Sex And Death (theme) aparece apoteótica, aos 47 do segundo tempo para nos lembrar de que está se encerrando um dos grandes discos nacionais de 2018.


Veredito da Cripta

LSD definitivamente não é o disco mais pesado do Imago Mortis, mas certamente é o mais complexo e variado. Um trabalho denso e repleto de detalhes, daqueles que cresce perante repetidas audições e que demanda bastante do ouvinte. Mas quem decidir embarcar nessa viagem, dificilmente se arrependerá. Mais um capítulo excelente na carreira de uma das bandas mais idiossincráticas do Metal Brasileiro.

     
NOTA: 8,65

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Gravadora: Die Hard Records (nacional)
Prós: diversificado e intenso
Contras: teclados em destaque e poema declamado   
Classifique como: Doom Metal, Metal Progressivo
Para Fãs de: My Dying Bride, Primordial, Candlemass


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