segunda-feira, 9 de outubro de 2017

The Night Flight Orchestra – Amber Galactic (Cd-2017)

The Night Flight Orchestra - Amber Galactic
Rumo às Estrelas
Por Trevas

Quem acompanha a Cripta já esbarrou com esse projeto bem louco capitaneado pela dupla do Soilwork, Björn Strid (voz) e David Andersson (guitarra), mais especificamente na resenha do excelente disco anterior, Skyline Whispers (ver a resenha da Cripta ehistória da banda aqui). Pois bem, na passagem do Soilwork pelo Rio de janeiro, ganhei uma promoção que me levou a um Meet & Greet com a banda. Ao lado de meus discos favoritos do Soilwork, fiz questão que a dupla citada assinasse mina cópia do Skyline Whispers, e a reação foi hilária: os dois se entreolharam de maneira surpresa com um ar de “de onde ele tirou isso”? Mas sorridentemente assinaram o encarte. O fato é que o filhote bastardo vem ganhando uma reputação surpreendentemente positiva na Europa. E isso fez com que o projeto ganhasse até mesmo um contrato com a Nuclear Blast. Rapidamente os suecos escolheram gravar um terceiro disco, composto na estrada e gravado em diversos estúdios no decorrer da última turnê do Soilwork (e até mesmo no próprio Tour Bus).

Será assim que Björn arruma inspiração para sair do Death rumo ao AOR?

A temática por detrás da banda continua a mesma, apostar em letras que façam referência a situações e sentimentos daqueles que vivem na madrugada, segundo Björn: “naquela estranha dimensão onde cada mulher é uma comandante intergaláctica de coração partido em vestidos de festa e as drogas não podem te fazer mal”. Ah, ok. A arte gráfica, ainda que consideravelmente mais caprichada que nos tentos anteriores, ainda segue a estética kitsch, o que faz todo o sentido em se tratando do conteúdo musical. Ou fazia, vamos checar o que acontece nesse novo disco...

Caught Somewhere in ...1978?

“Eu não estou partindo, apenas indo para outro lugar, para longe dos gritos e sussurros e das minhas próprias fraquezas”. Sim, em bom português uma suposta aeromoça intergaláctica nos introduz à Midnight Flyer (ver vídeo), que já mostra que nada mudou em relação ao estilo dos discos anteriores. Temos aqui aquela mistura de Disco/Prog/AOR que se fez razoavelmente comum em algum lugar lá pelos idos de 1978...a música é excelente e os arranjos não ficam atrás.


Difícil dizer se Star Of Rio se baseia no filme alemão homônimo ou em alguma moça conhecida por estas paragens em alguma turnê. O que importa é que temos mais uma excelente música com excelente refrão e riff carregado de reverb, aliás, tudo carregado de reverb, até a alma. A música tem um clima de algum material que a MK4 do Purple (com Hughes, Coverdale e Bolin) poderia ter gravado, se não tivesse sido abortada tão cedo. Gemini, primeira faixa de trabalho (ver vídeo), é o paraíso de qualquer fã de AOR que se preze – talvez a melhor música do disco.



Sobre a banda, temos um time de respeito e muita experiência, só que em estilos bem diferentes. Björn tem voz e interpretação perfeitos para o estilo (quem conhece o Soilwork talvez já tivesse percebido isso), o baixo pulsante e com linhas bem elaboradas de Sharlee D’Angelo (Mercyful Fate, Arch Enemy) salta aos ouvidos. David Andersson faz um ótimo trabalho de pesquisa de timbres e efeitos de guitarra, tudo soa precisamente envelopado naquele período de tempo entre o final dos anos 1970/ início dos 1980. De quebra, temos o tecladista Richard Larsson saindo dos temas xaropes e belicosos do Sabaton para explorar os sintetizadores em profusão, sempre muito bem encaixados. A bateria de Jonas Källsbäck é bem marcante, com aquela pegada da era disco e ao mesmo tempo que aposta num som bem orgânico. Completa o time o percussionista/guitarrista Sebastian Forslund.

The Night Flight Orchestra, chegando para uma festa Ploc em Saturno...


Sad State of Affairs (ver vídeo) é outra música que poderia ter saído do final do Purple nos anos 1970/início do Whitesnake. Um pouco inferior ao material que brilhava absoluto até então. Jennie carrega nos teclados (meio Supertramp) e aposta num riff que lembra algo do Kansas e um refrão que quase esbarra na melecosidade. Para nossa sorte o instrumental vence o refrão chatinho e a música ainda assim vale a pena.


Domino (ver vídeo) é a própria encarnação daqueles rocks radiofônicos adaptados à era disco. Amaria odiar essa música, mas não consigo. Uma pérola da roqueirice brega, ornada com belos e simples solos de Andersson, e que bem poderia estar na trilha sonora de algum filme ruim e esquecível da sessão da tarde lá dos idos de 1981. Josephine enfim cruza a fronteira do aceitável, de longe a coisa mais fraca do disquinho, lembrando os momentos mais xaropescos de coisas como Survivor ou Toto.


Ah, já estava achando que o caldo ia entornar, mas aí veio a rocker Space Whisperer retomar um pouco do vigor dos trabalhos anteriores. Não, não é o espírito do Soilwork pintando por aqui, apenas um AOR com uma pegada mais pesada que o habitual, muito bem-vinda, por sinal. Björn encarna com maestria Robert Tepper em Something Mysterious (ver vídeo), uma power ballad com refrão irresistível e com arranjos mais comedidos em relação à atmosfera kitsch. Como nos discos anteriores, a edição normal fecha com uma faixa mais longa. Só que ao invés de apostar tanto numa veia mais progressiva, Saturn In Velvet encapsula tudo o que a banda fez neste e nos discos anteriores em sete minutos de AOR. A edição nacional (e o digipack Europeu) ainda conta com uma boa cover para Just Another Night, do Mick Jagger (com direito a solo de sax).



Saldo Final

Nos discos anteriores a banda apostara no som daquela fase da música em que os gigantes do início da década de 1970 estavam rastejando e a disco music vivia seu ápice. Quando bandas como BTO e Foghat apostavam em um rock com grande apelo radiofônico sem abrir mão de ser...rock...e o AOR ainda tinha vida e viço, em seu princípio de escalada rumo ao topo. Já neste disco a mistura pendeu, e muito, para a estética oitentista. Uma era onde a breguice imperou absoluta e as músicas tinham tanta alma quanto as carreiras de cocaína que os yuppies da indústria fonográfica cheiravam. Ainda assim, Amber Galactic tem ótimas músicas que suplantam e muito as derrapadas em alguns arranjos e duas ou três bombas. Um disco muito bom, mas que fica para trás se comparado aos dois anteriores.


NOTA: 8,37


p.s.: a saber, a banda já está gravando o quarto disco, com previsão para o início de 2018.

 
Gravadora: Shinigami Records (Nacional).
Pontos positivos: ótimas músicas e uma bela máquina do tempo
Pontos negativos: a banda exagerou na dose na breguice em umas músicas aqui e acolá
Para fãs de: Foreigner, Journey, Survivor
Classifique como: AOR, Retro Rock



4 comentários:

  1. "Ignorance is bliss"... Se eu soubesse de antemão q tinha alguém do Soilwork por trás da banda, talvez eu nem me interessasse. Tenho aqui os 3 discos deles (mp3) e curto bagarái; saber q estão gravando um próximo é uma ótima notícia!!!
    ML

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    1. Fala, Marcello
      Muita gente já me falou exatamente isso, hehehhee. Eu adoro Soilwork, então...
      Eu achei que esse deu uma piorada, mas ainda é bem divertido, espero que o próximo recapture o jeitão dos dois primeiros
      Abraço
      Trevas

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  2. Adorei todos os 3 discos do The Night Flight Orchestra, e estou caçando o primeiro, que saiu por uma gravadora italiana. Mostra que os músicos são ecléticos e não vivem só de metal extremo, apesar de ser fã de carteirinha do Soilwork.

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    1. Olá, camarada
      Achei esse novo o menos legal, mas ainda ssim é bom.
      O primeiro consegui na loja Headbanger, no Rio de Janeiro, um tempo atrás.
      abraço
      Trevas

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