segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Kobra and the Lotus – Prevail I (Cd-2017)

Kobra and the Lotus - Prevail I (Cd-2017)

Trocando De Pele
Por Trevas

Após um hiato que envolveu 8 meses de estaleiro para a vocalista Kobra Paige (culpa da temida doença do carrapato) e muita confusão nos bastidores (com trocas de integrantes e algum disse me disse), os canadenses do Kobra and the Lotus anunciaram uma campanha de financiamento coletivo para o que seria um trabalho duplo com o nome provisório Zombies. Mas o que seria um ambicioso trabalho duplo pereceu diante de um fato bem-vindo, a assinatura de contrato com a Napalm Records. Após a intervenção da nova gravadora, a empreitada se transformou num par de discos a serem lançados em momentos distintos durante o ano de 2017. Segundo a vocalista, uma estratégia acertada, pois diminuiria a chance da quantidade de canções se diluir diante do short spam da geração atual. A banda logo anunciou também a intenção de trabalhar com algum produtor de fora da América do Norte, em busca de uma sonoridade mais contemporânea e variada. O anúncio pegou desprevenida a crescente base de fãs da trupe, que já conta com muito cartaz em sua terra natal. Escolha feita, a primeira parte de Prevail ganhou o mercado em maio desse ano. Fui escutar a bolachinha ainda sem saber se tudo não passara de estratégia de marketing ou se KATL realmente havia resolvido mudar de pele.

Kobra Paige trocando de pele, para nosso deleite...

Gotham, a bela e orquestrada faixa que abre o disco já dita de cara o tom de Prevail, um Heavy Metal com estrutura próxima ao tradicional, mas rearranjado com uma roupagem moderna auxiliada pela exímia produção e a poderosa e bela voz de Kobra guiando uma melodia absolutamente deliciosa no refrão.


A primeira faixa de trabalho, Trigger Pulse, é bastante pesada e muito mais calcada na estética moderna do Heavy Metal que a faixa de abertura. Bem poderia ser confundida com algo feito pelo Delain ou congêneres, mas ainda assim soa excelente graças à qualidade das melodias. Um gigantesco passo em relação ao material mais Old School de High Priestess, mas parece uma evolução natural se compararmos ao trabalho homônimo que a banda lançou em 2012.



A bateria tribal prepara o terreno para a trauletada que é o Riff de You Don’t Know (ver vídeo), mas de repente somos jogados a uma melodia bem menos metálica que o esperado, culminando num refrão radiofônico que funciona, ainda que de maneira não tão impactante. Há de se notar que o enfoque diferenciado também se traduz na voz de Kobra Paige. Dona de um timbre excelente, a bela exagerava demais nos maneirismos de canto lírico nos discos anteriores, e aqui o enfoque é bem mais equilibrado, com Kobra se saindo muito bem tanto nas melodias mais pop quanto nas mais agressivas.


Specimen X (The Mortal Chamber) já é efetivamente bem mais violenta e, afora a produção de Jacob Hansen (Volbeat, Destruction, Pretty Maids, Amaranthe), que parece ter tentado fazer sua experiência com ao Amaranthe contagiar o material, soa bastante mais próxima ao que a banda fizera no passado. Uma música muito boa, por sinal. A power balada Light Me Up (ver vídeo) tem aquele toque folk na melodia do grudento refrão e nas boas guitarras (e violão) de Jasio Kulakowski.


Bem, nem sempre a infusão de elementos modernos funcionou nesse disco. A alegre Manifest Destiny soa como coca cola quente com purgante e é a grande bola fora da bolachinha, e nem o baixo pulsante de Brad Kennedy e a bateria algo grooveada de Lord Marcus Lee puderam fazer nada para mudar o panorama. Victim segue com uma cascata de melodias e riffs que se não se destacam de muita coisa feita na atualidade, ao menos funcionam e trazem o padrão de qualidade do disco de volta para o aceitável. E se o nome da banda, as fotos de divulgação e as entrevistas colocam a beldade canadense no centro do palco, a virulenta instrumental Check the Phyrg chega aos nossos ouvidos para mostrar que os rapazes têm direito a seu espaço.

KATL 2017 

Hell On Earth é mais uma das faixas que fazem a ponte entre o que a banda produziu em seus discos anteriores e o novo direcionamento. Um exemplo de Power Metal bem feito bem pesado. A faixa título, última do pacote, é uma imponente e contagiante peça de Metal Moderno com refrão absolutamente grudento. Algumas edições contam ainda com a excelente e algo folk The Chain, uma adição curta e bacana a um repertório já muito bem provido.


Veredito da Cripta

Kobra Paige e seus colegas deixaram bastante claro que a intenção em Prevail era dar o passo adiante. Um passo que poderia alçar a banda a um novo patamar ou jogar a carreira no ostracismo. A se levar em conta a receptividade para lá de impressionante tanto no mercado doméstico como em parte da Europa, a aposta deu muito certo. Alguns fãs podem torcer o nariz para a sonoridade moderna e para a quase total ausência de elementos líricos na voz de Paige. Justo. Mas eu já diria que, pela primeira vez, a banda efetivamente mostrou todo seu potencial, num disco muito bem construído, pesado e agradável. A troca de pele definitivamente valeu a pena. Que venha a segunda parte.



NOTA: 8,51


Gravadora: Napalm Records (importado).
Pontos positivos: Kobra Paige cantando como nunca, sonoridade moderna e pesada
Pontos negativos: em alguns (poucos) momentos a banda passa perto de perder sua identidade na ânsia de modernizar o som
Para fãs de: Delain, Kamelot
Classifique como: Heavy Metal, Modern Metal



2 comentários:

  1. Eu não conhecia a banda até aqui; se ela se livrou dos liricismos, ótimo, devia ser muito pior do q achei das músicas q escutei aqui. Não é q seja ruim, veja bem, é tudo muito bem feito, bem planejado e executado, produção esmerada, etc, mas não me cativou, nem emocionou, nem nada. Achei tudo muito comum e previsível e extremamente derivativo - parece com trocentas bandas, só não parece consigo mesma... Tô procurando a identidade e a originalidade deles até agora...
    Em toda essa nova onda de heavy metal mais chegado ao tradicional, principalmente ao q foi feito nos anos 80, ainda não encontrei uma q realmente se mostrasse a q veio, q tenha aquele fator q a faça se destacar, q tenha, sei lá, um vocalista fudido e carismático ou um guitarrista absurdo e inovador; no fim das contas, por melhores q sejam, não deixam de ser recicladores, mais de mais do mesmo, e essa Kobra and the Lotus ainda tem o lado negativo de lembrar muito do q foi feito por bandas de symphonic power metal do final dos anos 90 pra cá.
    Mas vc ainda está com crédito, fique tranks, mizifio... hahahahahaha
    Abração,
    ML

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    1. Fala, ML
      Concordo em parte com suas colocações. Acho que falta muito o fator "idiossincrasia" na música atual, mas também acredito que isso se deva bastante a mania de perfeição que os músicos atuais tem. Hoje um vocalista "horroroso" como um Ian Anderson ou um Ozzy (eu adoro os dois, mas tecnicamente não se tem muito de bom a falar, fato) seriam polidos ou autotunados ao extremo para parecerem perfeitos. O mesmo se faz com os instrumentos e tal, cobrando o preço da "cara própria", acaba soando tudo meio igual. Mas isso não é um fenômeno novo, a era dos superprodutores nasceu em meados da década de 1980, gerando aquela multidão de bandas e discos de Hard Rock/AOR praticamente impossíveis de serem distinguidos uns dos outros. pesava naquela época uma cena de bandas ruins tecnicamente que eram incapazes de sequer chegar perto ao vivo da pantomima que os Bob Ezrin da vida inventavam nos 789 canais de estúdio.
      Abração
      T

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