sexta-feira, 29 de maio de 2015

Faith No More – Sol Invictus (Cd – 2015)

Faith No More - Sol Invictus (Cd - 2015)
O retorno do Estranho Familiar
Por Trevas

O Jovem Trevas e o FêNêMê

1992, o jovem Trevas ainda engatinhava em relação a conhecimentos musicais, sua dieta se equilibrava entre o consumo de bandas de rock radiofônicas (ah sim, fitas cromo de 90 minutos e o dedo sempre rápido no gatilho do “rec”) e aventuras gourmet com as belezuras que me eram apresentadas por amigos e/ou parentes. Dentro da primeira categoria, uma de minhas favoritas naqueles tempos era justamente o Faith No More (FNM ou FêNêMê, para os íntimos). Epic havia catapultado a banda estadunidense ao Valhalla da MTV, e as músicas do Real Thing, terceiro trabalho dos caras, eram uma constante na programação das rádios jovens (chamar de rádios rock é um baita exagero, não?). O infame Rap/Funk Metal era tentativamente a modinha da hora, e o descolado Mike Patton, vejam só, era então um projeto de sex symbol para as meninas. Era um mundo estranho. E nesse mundo estranho, na minha vitrola (sim, vi-tro-la) Live At The Brixton Academy rodava sem parar.

Quase furei esse disco de tanto escutar
Estava sentado na minha carteira na escola quando um caboclo chega com uma notícia bombástica: ele havia visto um disco novo do FNM numa loja lá no centro da cidade do Rio. Tinha a porra duma garça na capa!!! Sim, pessoal, nesse mundo estranho não havia internet para nos antecipar faixas meses antes do lançamento do álbum e sim, existiam lojas de discos aos montes, tal qual existiram dinossauros milhares de anos atrás...

Naquela época eu estava fazendo bicos revendendo livros (Círculo do Livro, lembram?), o que dava uma certa aditivada na minha mesada. Juntei os cascalhos e rumei para uma lojinha de discos lá no bairro onde morava. Voltei para casa felizão com Angel Dust debaixo do braço. Rapidamente desembalei o disco e coloquei na vitrola. Land Of Sunshine tomou de assalto os alto-falantes e pensei: QUE PORRA É ESSA?!?!?!?!??!?!?!

Angel Dust - um clássico amalucado
Angel Dust era um disco estranho, em especial para moleques que como eu não tinham lá muitas referências musicais. A imprensa se dividiu, muitos acharam o disco genial, outros tantos, uma bosta retumbante. Todos concordavam em um ponto: o FNM havia cometido o famigerado suicídio comercial. A banda parecia irritada com seu sucesso e fazia de tudo para miná-lo: as letras passaram a ser provocativas demais para o mainstream (Be Aggressive e sua ode a felação gay, por exemplo), Patton resolveu adotar um visual porteiro feioso em resposta aos gritinhos das fãs, e o experimentalismo foi a arma usada contra a MTV. Daí em diante se sucederam King For a Day Fool For A Lifetime e Album Of The Year, mais dois esforços gratuitos de desconstrução de tudo o que o grande público esperava do FNM

Angel Dust se tornou um de meus discos favoritos, mas minha relação com a banda sofreu um duro golpe em 1995. Finalmente tive a oportunidade de ver os caras, numa edição do Monsters Of Rock que contou também com Paradise Lost (divulgando Draconian Times) e Ozzy. O show foi simplesmente horrível, um dos piores que já vi. Tão ruim que mesmo com todo o apelo de Epic e afins junto ao público headbanger, a banda foi enxotada do palco aos gritos de Ozzy, Ozzy. Tentaram ainda ganhar o público tocando o início da versão de War Pigs imortalizada em Live At The Brixton Academy, mas foi em vão. O FNM foi enxotado dos palcos e da minha coleção de discos ao mesmo tempo.

Do Culto ao Retorno Silencioso

Apesar de todos os esforços, e talvez justamente por conta deles, o FNM acabou perdendo seu espaço no mainstream e galgando terreno naquele estranho limbo no qual colocamos as bandas Cult. Do Prog Metal ao Nu Metal, muitas bandas surgidas ao final dos anos 1990 evocariam os amalucados estadunidenses como sua principal influência. Uma nova geração de fãs do FNM surgiu sem nunca ter visto a banda na ativa. Eis que em 2009 os caras retornam aos palcos sem muito alarde. A turnê foi se esticando conforme a demanda surpreendentemente aumentava, só terminando lá pelos idos de 2012. Apesar do sucesso do retorno, nada era falado nas entrevistas que desse a entender que os cabruncos gravariam novamente. Num dos raros casos de surpresa nos tempos atuais, ao final e 2014 foi anunciado que o novo disco, Sol Invictus, já estava no forno. Agora o desafio do FNM é totalmente diferente: se nos anos 1990 eles desafiavam o mainstream, sempre lutando contra o que o grande público deles esperava, o que fazer quando justamente se espera de você o inesperado????

Sol Invictus

Sol Invictus, a faixa, traz um piano e uma batida marcial com um Mike Patton emulando em seus versos o ébrio Tom Waits em toda sua glória. Tão logo ela encerra, somos assaltados por Superhero (ver vídeo), segunda música de trabalho e grande destaque do disco. Talvez o mais próximo que a banda já chegou de condensar todas as suas nuances em uma só faixa, parece impossível ela não se tornar um novo clássico. 


Sunny Side Up fica situada naquele lugar estranho entre a radiofonia e cacofonia, especialidade do FNM. O refrão chega a enjoar um pouquinho pela repetição, mas no final das contas o resultado é positivo. Separation Anxiety é virulenta e climática, marcada pelo baixo de Billy Gould (produtor da bolacha), com um interessante crescendo do meio para o final, mas nada de realmente especial. Cone Of Shame em seu início parece querer invocar a trilha sonora de algum western ruim e, tal como sua antecessora, cresce em seu final. Uma peça bastante experimental, mas bacana.  Rise Of the Fall lembra algo do Mr. Bungle em seus momentos menos inspirados, e tem um clima caribenho meio sacal, apesar de algumas linhas interessante de Patton.

FNM conjurando o caboclo papacu
A ótima Black Friday tem que ser uma homenagem à Nick Cave & The Bad Seeds! Certamente um dos destaques da bolachinha. A primeira música de trabalho, Motherfucker (ver vídeo), só pareceu realmente estranha àqueles que pouco conhecem os discos do FNM. Uma faixa curta e certeira guiada pelo teclado de Roddy Bottum, que sintetiza algumas características da banda muito bem (o interlúdio de guitarra é o mais próximo de Real Thing que eles se permitem chegar atualmente).


Matador pode parecer estranha em seu início, mas se desenvolve de forma familiar e deve agradar aos fãs de todas as fases da banda. Já From The Dead é bem fraquinha, um arremedo de folk alegrinho para lá de dispensável.

Saldo Final
A loucura e caos controlados do FNM estão presentes em cada um dos parcos 39 minutos de Sol Invictus e a banda parece ter sobrevivido ao peso da expectativa da melhor maneira possível: sendo honesta. Ao contrário de outrora, o novo material dificilmente causará espanto, mas temo que também não venha causar muito frisson. Sol Invictus é um bom disco, daqueles que fazem muito mais sentido como um todo do que por suas faixas em separado, mas está longe de ser um marco na história do rock e até mesmo na discografia não tão longa da banda.

NOTA: 7

Indicado para:
Fãs do FNM de Angel Dust em diante
Fuja se:
A banda para você se resume a The Real Thing.

Classifique como: Faith No More

Para Fãs de: Faith No More, Pain Of Salvation.
Ficha Técnica
Banda: Faith No More
Origem: EUA
Site Oficial: http://www.fnm.com/
Disco (ano): Sol Invictus (2015)
Mídia: CD
Lançamento: Voice Music (nacional)

Faixas (duração): CD  - 10 (39’).

Produção: Billy Gould
Arte de Capa: Martin Kvamme

Formação:
Mike Patton – vocals;
Billy Gould – baixo;
Joh Hudson – guitarra;
Roddy Bottum – teclados;
Mike Bordin – bateria.

4 comentários:

  1. Isso aí é a maior enganação, The Real Thing foi um erro de cálculo eles só fazem disco ruim para intelectualóide.
    Uma bosta isso aí, e essa cripta também vai pelo mesmo caminho, faz tempo que não vejo metal de verdade aqui
    VTNC
    Danilo

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    Respostas
    1. Eita Danilo, que bicha revoltada, uiuiui
      Cara, não é ruim não, mas entendo o que você quer dizer.
      Não desiste da Cripta não, daqui a pouco vem um metal troozão por aqui, e esse ano tem Slayer, porra!!!
      Abraço
      T

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  2. Ser anônimo é fácil quero ver botar a cara...Trevas mete bala vc escreve muito bem, cara...qdo crescer quero ser assim, rsrsrsrs

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