sábado, 23 de janeiro de 2021

Sepultura – Quadra (CD-2020)


 

Nasce Um Novo Clássico

Por Trevas

Uma vez, li uma entrevista com o guitarrista Andreas Kisser que achei bastante valiosa para ilustrar meu pensamento sobre o Sepultura. Nela, o entrevistador (acho que foi na Roadie Crew) perguntava sobre como a expectativa dos fãs sobre o direcionamento de um novo lançamento afetava a banda. Andreas, com sua inteligência habitual, explicou brilhantemente que cada fã tinha uma imagem do que considerava ser o Sepultura ideal. E ele mesmo também tinha uma imagem bem nítida de seu Sepultura ideal. Sendo assim, invariavelmente o que a banda viesse a lançar chegaria perto do Sepultura que alguns idealizam, e distanciaria de maneira igual do Sepultura ideal de outros tantos. Logo, seria tolice compor pensando nisso, o Sepultura real sempre perderia para os vários Sepulturas imaginários. Machine Messiah representou com maestria o nascimento de mais um desses muitos Sepulturas, ganhando espaço nas listas de melhores do ano ao redor do globo em 2017. Surpreendente para um disco cuja gestão total durou poucos meses. Mas Kisser queria mais. Repetindo a parceria com Jens Bögren, dessa vez a banda tomou todo o tempo necessário para trabalhar em seu sucessor. Novamente conceitual, as ideias por detrás de Quadra são repletas de nuances, e deixarei aos curiosos pesquisar mais sobre o assunto. Em resumo, o conceito brinca com estereótipos e maneiras diferentes de ver a realidade, com uma mensagem simplificada de respeito às diferenças. Como sempre digo, a intenção quando da criação de um disco conceitual pode ser brilhante, mas de nada servirá se as músicas não estiverem à altura. Então, vamos ao que interessa: como soa Quadra?

Os quatro de Quadra

O disco também está dividido em quartos, cada qual com 3 músicas. A dobradinha que abre a bolacha é de destruir qualquer pescoço. Isolation e a pretendente a clássico Means To An End mesclam os elementos sinfônicos típicos das produções de Bögren com uma ferocidade absurda. Os detratores podem reclamar de qualquer coisa do Sepultura atual, mas definitivamente jamais poderão acusar a banda de amansar seu som. Last Time encerra o primeiro quarto do disco, com orquestrações que dão um certo tom épico em outra pancadaria que ficará muito bem ao vivo.


O segundo quarto abre com elementos tribais em Capital Enslavement, outro destaque, com sua forte letra. Ali é o primeiro momento menos frenético do disco, contando com um groove carregado, assim como em Raging Void, um dos refrães mais legais de todo o disco. Já nesse ponto dá para comemorar Quadra como a melhor performance vocal do gigante Derrick Green, cada vez mais versátil.


A épica Guardians of Earth inaugura o terceiro quarto, com sua mensagem poderosa e preservacionista traduzida perfeitamente em um clipe igualmente forte. The Pentagram é uma das duas instrumentais que vem salientar a força criativa dessa formação da banda e nos lembrar do monstruoso guitarrista que é Andreas Kisser. E se alguém souber de que planeta vem Eloy Casagrande, favor avisar. Além da performance colossal, o baterista também co-assina quase todas as faixas do disco com Kisser.  Autem encerra mais um quarto do disco de maneira tão experimental quanto empolgante.


A faixa título inaugura sua soturna e aventureira reta final, uma pequena peça instrumental no violão clássico, seguida pela excelente Agony Of Defeat, que traz Derrick usando vocais limpos, com maestria, e com ótimo arranjo. A surpresa aumenta ainda mais com Fear, Pain, Chaos, Suffering, com um dueto espetacular entre Green e Emmily Barreto, a ótima vocalista do Far From Alaska. Ao final das contas, Quadra não só se mostra uma sequência digna para Machine Messiah, como também forte postulante a novo clássico do metal nacional. Um disco único e forte. (NOTA:10)

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Gravadora: BMG (nacional)

Prós: pesado, experimental e ainda assim viciante

Contras: só os muito puristas terão algo a reclamar

Classifique como: Thrash Metal, Modern Metal

Para Fãs de: Gojira, Machine Head


2 comentários:

  1. Já perdi a conta de quantas vezes escutei esse disco (às vezes no "repeat"). Por causa dele fiz uma coisa que planejava desde o lançamento do Machine Messiah, mas ainda não tinha tido tempo: revisitar toda a discog do Sepultura, com ênfase nos discos com o Derrick e, véio, foi uma surpresa reparar em quanto a maioria deles envelheceu bem e, até passei a gostar mais do que antes de alguns.
    Lançar um disco tão perfeito quanto esse pode ter um lado ruim: as expectativas para o próximo. Bem, Machine Messiah me surpreendeu tanto quanto o Quadra e, com esse, conseguiram se superar; então, como sempre, vou esperar o já inesperado do Sepultura para o próximo, ou seja, mais um Sepultura ideal para quem tiver a cabeça para aceitar que, no mínimo, eles fizeram o que acharam ser o melhor a ser feito.
    Valeu, mizifio!!
    Aquele abraço!!
    ML

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  2. Aqui é o Lord Palla ... Não tive interesse em escutar o tal Machine Messiah. O que você mencionou na sua review não despertou nenhuma motivação para eu parar e dar uma chance para esse novo álbum do Zepultura. Eles se tornaram uma piada musical deles mesmos. Deveriam ter trocado o nome da banda lá pelos tempos de Chaos A.D. Essa banda tem excelentes músicos, com exceção do baixista que não toca nada. E sendo assim, poderiam ter tido muito mais atenção e simpatia dos fãs se tivessem terminado em Arise e aí sim, até com a mesma formação, terem lançados os álbuns a partir de Chaos A.D, que já é um álbum com um direcionamento musical duvidoso, com o pseudônimo de Zepultura, sei lá, ou qualquer outro nome. Esse negócio de tribal e outras influências estranhas deixaram a banda no limbo entre o New Metal (que é um estilo que não cola) e o Thrash Metal...

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