segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Cellar Darling – The Spell (CD-2019)



Um Belo e Melancólico Feitiço
Por Trevas

Quando Anna Murphy, Ivo Henzi e Merlin Sutter decidiram deixar o combo suíço de Folk Metal Eluveitie de uma só vez, em 2016, o mundo do Heavy Metal foi pego de surpresa. Afinal, os três eram peças importantes e criativamente ativas de uma das bandas emergentes na cena europeia. Surpresa ainda maior foi quando anunciaram a junção de forças num projeto novo, chamado Cellar Darling. O primeiro trabalho, This Is The Sound, saiu no ano seguinte e, a despeito de contar com momentos bem interessantes, soou um pouco disperso. Era o som de um novo grupo buscando uma identidade própria, misturando Folk, Metal Moderno, aura gótica e sons progressivos. O grande mérito do disco? Definitivamente não soava como a banda de origem dos músicos, ainda que faltasse foco, havia muita criatividade ali. Quando The Spell, que narra uma saga conceitual contando a história de uma menina que se apaixona pela morte, foi anunciado, ficou a pergunta: será que enfim o Cellar Darling encontraria sua cara?

A bela e as feras, Cellar Darling 2019
Pain abre nossa jornada, com Riffs modernos e pesados e o indefectível Hurdy-gurdy de Anna preparando terreno para uma canção que é bonita e até mesmo para cima, exceto pelo final, que já nos prepara para a avalanche de melancolia que virá.


E ela vem com tudo na longa, cheia de nuances e pesada Death. Uma peça belíssima que nos remete aos melhores momentos do The Gathering. Fato amplificado pela similaridade por vezes assustadora do timbre de Anna com o da musa holandesa Anneke e pela inserção de momentos que beiram o Doom. Anna aqui usa seus dotes com a flauta para tornar a canção ainda mais enigmática e imponente. Cabe ressaltar que os elementos Folk aparecem ao longo do disco apenas para engrandecer as canções, nunca sendo exatamente o foco das atenções. Não estamos diante de uma banda de Folk Metal, ao menos não do jeito que se entende o estilo de forma mais ampla.


Ao divulgar o disco, o press release falou que The Spell se trata de um conto de fadas moderno e sombrio, e Love parece exatamente entregar isso, uma quase valsa delicada e progressiva que poderia bem ter saído da trilha sonora de um filme hipotético do Tim Burton. E a arte gráfica que ilustra o disco e encarte, é igualmente bela e sombria.


A faixa título chega, com toneladas de melancolia e uma bem-vinda aura celta. A performance vocal de Anna aqui tem nuances de Björk, o que causa um contraste bacana com o peso das guitarras e da bateria por vezes tribal.


O aspecto conceitual não prejudica o andamento da bolachinha, talvez excetuando pela longa duração (quase 70 minutos de música). E temos entre os temas mais longos faixas mais curtas, mas não com menos dinâmicas, como Burn, Hang e Sleep, que transmitem seus recados e podem muito bem funcionar separadamente para um ouvinte ocasional. Em termos de performances, Ivo (guitarras e baixo) e Merlin (bateria), jogam para o time, agraciados por uma produção certeira. Mas o centro das atenções é mesmo Anna Murphy. Não só pela bela e versátil voz, mas especialmente pelo domínio de diversos instrumentos exóticos que engrandecem até mesmo as músicas mais simples.


Mas é nos longos números, como Drown e Insomnia (a mais pesada do disco) que a magia desse novo trabalho se desenvolve com força total. The Spell pode se mostrar uma jornada demasiadamente longa e melancólica ao ouvinte de um Metal mais convencional, mas é uma jornada na qual vale a pena embarcar para aqueles afeitos a músicas que permeiam várias vertentes do estilo. Cellar Darling encontrou enfim sua cara, e ela é bela e triste. (NOTA: 9,38)

Visite o The Metal Club
Gravadora: Shinigami Records (nacional)
Prós: ótimas composições e clima belo e melancólico
Contras: pode ser longo e melancólico demais para alguns
Classifique como: Dark Prog Metal?
Para Fãs de: The Gathering, Katatonia, Anathema


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