terça-feira, 21 de maio de 2019

Graveyard + Auramental + Psilocibina - Hocus Pocus Festival 2019 (19.05.19 - BCO Space Makers - Rio de janeiro/RJ)-



Cerveja, Psicodelia e Rock & Roll
Texto e fotos por Trevas

Véspera do meu dia de decrepitude, pego o rumo ao Rio de Janeiro, para comemorar em grande estilo ao som dos retro-rockers suecos do Graveyard. Confesso que jamais acreditei ter a oportunidade de assistir os caras em território Tupiniquim, então foi uma imensa surpresa quando a cervejaria Hocus Pocus anunciou a banda no cast da edição 2019 de seu Hocus Pocus Festival. A cervejaria, além de alguns dos melhores rótulos do país, sempre buscou inspiração na psicodelia e no rock esfumaçado, tendo até mesmo estampado o Thijs van Leer (do Focus) em sua famosa Magic Trap. E os festivais costumam contar com grandes nomes do estilo, seja daqui ou lá de fora (ano passado trouxeram os alemães do Kadavar). O evento, que presenciei pela primeira vez, também traz como atração obrigatória o lançamento de novos rótulos, uma companhia perfeita para o som de qualidade. Vamos avaliar aqui primeiramente a estrutura do festival, depois partindo para os quitutes sonoros.


A Estrutura

O espaço escolhido para a edição 2019 foi o BCO Space Makers. Um simpático pátio aberto situado a menos de uma quadra da Rodoviária Novo Rio, de frente para o Terminal Rodoviário Padre Henrique Otte. Ou seja, o acesso é para lá de tranquilo. Já do lado de dentro, confesso que fui tomado de um misto de sensações. Não havia almoçado, minhas lombrigas estavam saltitando ferozmente, e as opções de comida eram parcas. Três barracas apostando em sanduíches, fritas e tapioca. Tudo muito gostoso, verdade, mas com preços incompatíveis com as pequenas porções servidas.

Belos exemplares, precinhos nem tanto
Ah, e as cervejas? Acho que a Hocus Pocus é absolutamente incapaz de produzir uma cerveja boazinha. É tudo bom para caralho. Superlativo mesmo. Mas o que não isenta o festival de falhas também nesse quesito. Primeiramente, o preço: o chope do rótulo mais barato custava R$ 14 (por 300ml, não havia opção de 500ml), o que está bem justo para o alto padrão de qualidade. Mas os preços chegavam até R$ 24 por 100ml de um dos rótulos. Muita coisa para quem vai passar algumas (muitas) horas por lá e pretende explorar os vários (e inspirados) sabores. E, para piorar a situação, fomos prontamente informados de que não seria permitido conceder as famosas provinhas. Confesso que achei uma decisão no mínimo pouco simpática, além de incomum para eventos cervejísticos. Outro problema (menor) foi a concentração do pagamento e da retirada das biritas no mesmo local, o que ocasionou um certo engarrafamento e desencontro de gente que nunca sabia se a fila era para pagar ou para pegar sua cervejinha. Em contrapartida, os banheiros químicos estavam bem situados e foram suficientes para o tamanho do público. E até onde vi, se mantiveram em ótimas condições de uso até o fim.

Acho que as cervejinhas já tinham feito estrago
No palco, majestoso, já havia uma passagem de som em curso, e cara, nesse aspecto tudo estava perfeito. Som alto e cristalino, logo o primeiro show começou. E com as lombrigas satisfeitas, e após goles de belezuras do naipe de Prometheus Rising, Elephants’ Graveyard e O Louco, me entreguei de vez à falência hepática e financeira e a diversão enfim começou.

Psilocibina
O nome já indica uma viagem induzida por psicotrópicos. E que viagem. O Power Trio aposta em um som instrumental inspiradíssimo e que se vale de um virtuosismo que nunca soa gratuito, muito menos enfadonho. Um show caprichado calcado no disco de estreia, lançado ano passado. (NOTA: 8,00)

Psilocibina: ótimo show, só não tente falar o nome da banda bêbado
Auramental
O quarteto, que também aposta em uma proposta musical instrumental (e espacial), se utilizou do Festival para o lançamento de seu trabalho de estreia. E a resposta não poderia ter sido melhor. O público assistia atentamente ao som, menos calcado no virtuosismo que a banda anterior, mas ainda mais lisérgico e climático. Mais um grande show que ajudou a tornar a atmosfera do evento ainda mais bacana (NOTA: 8,00)

Auramental...tipo, literalmente
Graveyard
Debaixo de lufadas de gelo seco, o quarteto sueco começa seu show já com um de seus clássicos, Hisingen Blues, mostrando que não estão para brincadeira. A reação do público no refrão mostra de cara que o jogo estava ganho, mas Goliath, outro Hit, vem logo em seguida e aprendemos então que os caras não iriam afrouxar a marcação nem que o placar fosse uma sonora goleada.

Não, o show não foi em Petrópolis

Alternando clássicos de seus aclamados quatro trabalhos iniciais com músicas de seu disco de retorno (a banda chegou a anunciar o fim das atividades em 2016) num ritmo praticamente ininterrupto, que não deixava os fãs sequer respirar, o Graveyard fez a mágica de transportar todo o festival para algum ano entre 1968 e 1974. Joakim Nilsson reinou absoluto, seja com sua voz ríspida ou com sua guitarra destilando riffs mais vintages que sua bisavó, mal abrindo os olhos e mantendo a comunicação com o público ao mínimo. O restante da banda não fica atrás, todos tocando com garra e precisão impressionantes. Em alguns shows a falta de comunicação pode causar um distanciamento, mas definitivamente não foi o caso aqui, e quando a banda rapidamente se retirou após a primeira parte do set, a plateia gritou a plenos pulmões pelo retorno.

Joakim, não o da padaria

O retorno contou com Low, emendada com a porrada Zeppeliana clássica Ain’t Fit To Live Here (que abre o colossal Hisingen Blues) e preparando o terreno para uma apoteótica rendição da não menos apoteótica The Siren, talvez uma das melhores canções já criadas pela cena Retro-Rocker. Sorrisos e agradecimentos econômicos, mas honestos, são vislumbrados, o Graveyard se retira de campo. E a sonora goleada prevista realmente se fez. Excelente (NOTA: 10)

Os tarados do Set List

Fim Do Evento:
Tão logo os shows terminaram, a produção fez um telão descer na frente do palco. A ideia? Projetar o último capítulo de Game Of Thrones. Uma bela sacada da produção. Foi bacana ver aquela penca de gente ébria e pacata sentando no chão, todos juntos como grandes amigos (membros de todas as bandas inclusive), vibrando com o destino de seus personagens favoritos. Um toque final de humanidade e camaradagem para coroar um evento que se fez bastante divertido, a despeito dos defeitos. Que venha a edição 2020!


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