terça-feira, 12 de junho de 2012

Montrose – Montrose (1973)

Montrose (1973)

UMA DAS MELHORES ESTREIAS DO ROCK

Prólogo - março de 2012, falece Ronnie Montrose
O dia, 5 de março do presente ano. Ao abrir o site de notícias Blabbermouth, esbarro com a notícia do falecimento de Ronnie Montrose, guitarrista americano, aos 64 anos de idade.
Ronnie lutava há vários anos contra um câncer de próstata e, a princípio sua morte foi anunciada como tendo sido o fim desta longa batalha.
Algumas matérias publicadas naquela data mostraram a repercussão da morte de Mr. Montrose no mundo do rock. Peter Frampton, Slash, Nikky Sixx, Dee Snider e Sammy Hagar são alguns dos muitos rockstars a declarar sua tristeza pela passagem do guitarrista, e todos citam a importância de sua obra em suas carreiras.


Em contraste, poucas vezes vi ou ouvi falar deste guitarrista, mesmo na mídia especializada. Afinal, quem foi Ronnie Montrose, e qual a importância de sua obra?

Ronnie Montrose (anos 2000)


Ronnie Montrose – o guitarrista
Nascido em 1947, Ronald Douglas Montrose começou a tocar guitarra bem cedo e logo seu talento passou a chamar atenção no underground do Colorado. Suas principais influências eram Page, Clapton e Hendrix. Ronnie saiu de casa aos 16 anos para tentar a vida como músico e aos 23 anos gravou seu primeiro disco, na verdade apenas uma música num trabalho de Herbie Hancock. No mesmo ano foi efetivado como músico de apoio do irlandês Van Morrison, com quem gravou dois discos. Em 1972, chegou a gravar e excursionar pelo Edgar Winter Group. Suas boas performances chamaram a atenção dos executivos da Warner, que apostando em seu talento como compositor e vendo o espírito de liderança que ele exercia sobre os outros músicos da Edgar Winter Group, acreditaram estar de frente para um novo guitar hero. Foi proposto então um contrato para o lançamento de um disco, restando ao jovem guitarrista selecionar sua banda de apoio. Nascia ali a banda Montrose, pelo menos na idéia.

Ronnie Montrose (anos 1970)



Samuel Roy Hagar – nasce o Red Rocker
Filho de um pugilista de algum renome, o jovem Samuel Roy Hagar (também nascido em 1947) parecia trilhar o mesmo caminho do pai. Só que, em paralelo a sua carreira como pugilista, o californiano nutria outro tipo de sonho e se apresentava em boates e espeluncas cantando e tocando seu violão. O nome artístico, Sammy Hagar. Em uma de suas andanças pelo underground local, Sammy fica sabendo que Ronnie Montrose estava à caça de novos nomes para montar uma banda, que já teria inclusive contrato assinado com uma major. Cara de pau desde aqueles tempos, Sammy deu um jeito de encontrar Ronnie e oferecer seus préstimos. Ali o Montrose ganhava um vocalista e a América via nascer um de seus mais queridos rock stars.

Sammy Hagar

Montrose - a banda e o disco.
Com Ronnie Montrose e Sammy Hagar no comando das composições, Bill Church no baixo e o então iniciante Denny Carmassi (que tocaria com Whitesnake, Coverdale/Page, Ted Nugent, Cinderella, Heart, entre outros no futuro) na bateria, a banda partiu para o estúdio, sob supervisão de Ted Templeman. Ted Templeman havia começado sua carreira como produtor em 1970 e até então, seu trabalho mais famoso havia sido a co-produção de Tupelo Honey, álbum de Van Morrison no qual Ronnie Montrose tocou. Mais tarde, Ted Templeman seria responsável pela produção de alguns clássicos do rock, mas voltarei a esse ponto depois.

Montrose - a banda



Montrose, o disco abre com a vigorosa Rock The Nation, mostrando a tônica do grupo – rock direto, bem tocado e ao mesmo tempo acessível. Os vocais de Sammy Hagar já mostravam um estilo bem próprio, embora fosse possível verificar ecos de uma idolatria a Robert Plant aqui e acolá. Denny Carmassi mostrava seu talento, com uma pegada bastante firme, enquanto o baixo de Bill Church não chegava a buscar maiores voos.
A segunda faixa da bolacha, Bad Motor Scooter, é certamente um dos destaques do disco e uma das faixas mais famosas da banda (veja vídeo abaixo), impossível não se empolgar com o refrão marcado pelo efeito de guitarra emulando o som de uma moto. Diga-se de passagem, embora Ronnie Montrose fosse um guitarrista muito bom, raramente seus solos tendiam para o lado do exibicionismo gratuito, e isso pode ser atestado nas poucas e certeiras notas dos solos de todas as músicas desse disco. Bad Motor Scooter é uma das músicas que o supergrupo Chickenfoot, que tem Sammy Hagar nos vocais, toca do Montrose ao final de suas apresentações.



O disco segue com a mezzo-experimental, mezzo-direta Space Station #5, outro rockão empolgante de refrão marcante, regravado em uma versão intragável pelo Iron Maiden à época do Fear of The Dark. Com essa faixa, a banda parece querer pegar carona no estilo do Hawkwind, trazendo um viés mainstream para a doideira espacial dos britânicos.
A curta I Dont Want It é mais um bom exemplo de faixa direta e grudenta, guiada por mais um bom riff de guitarra. E se Space Station #5 sugeria bem de longe uma ponta de experimentalismo, Good Rockin’ Tonight deixava clara a intenção da banda – rock simples, sem nenhum pingo de pretensão intelectualoide, soando quase uma homenagem aos primórdios do rock nos anos 1950. Rock Candy é outro destaque absoluto do disco e é tocada quase todo show da carreira solo de Sammy. One Thing on My Mind é festeira em sua letra e riff, mantendo o ritmo, que cai um pouco na última faixa.
Make It Last pode ser mais lenta, mas é uma das melhores do disco, com uma letra um pouco mais introspectiva e bela interpretação por parte de Sammy.

Saldo Final
 Montrose se encerra com pouco mais de meia hora de duração, deixando o ouvinte com aquela sensação saudável de que poderia escutar mais duas horas de músicas como essas. Infelizmente, esse seria o único disco de toda a carreira da banda que deixaria essa sensação.

NOTA – CLÁSSICO DA CRIPTA!

EPÍLOGO – VAN HALEN E VAN HAGAR
O disco seguinte, Paper Money, ainda com Sammy nos vocais, embora tenha vendido bem, era consideravelmente menos interessante que o debut. E Ronnie Montrose nunca mais acertaria a mão, ficando em segundo plano na história do rock, o que explica o desconhecimento de seu nome por boa parte do público.
Em contrapartida, Sammy Hagar engatou uma sequência de discos solo multiplatinados no final dos anos 1970, se tornando também um dos artistas mais prolíficos em termos de shows pelos EUA.
Já o disco Montrose, esse se tornou aos poucos uma espécie de Cult entre os músicos de Heavy Metal estadunidenses e da então embrionária New Wave of British Heavy Metal. Em solo americano, vale ressaltar que uma então banda iniciante, que contava com um prodígio das guitarras, tocava versões de músicas do primeiro disco do Montrose em seus shows. O nome da banda? Van Halen. Não por acaso, Eddie Van Halen escolheu Ted Templeman para produzir a estreia de sua banda. E, mais tarde, quando Diamond Dave saiu (ou foi saído) da banda, Eddie Van Halen pode então convocar seu então ídolo (e já milionário), Sammy Hagar, para dar vida à segunda versão de sua banda, dando origem à era que a imprensa americana gosta de chamar de Van Hagar. O resto da história, todos conhecem.


CURIOSIDADES
- O Iron Maiden gravou nada menos que três versões de músicas do Montrose: além da já citada aberração com Space Station #5, I’ve Got The Fire (destaque solitário do segundo disco do Montrose, Paper Money) foi gravada duas vezes – uma com Paul Dianno na voz, outra com Bruce Dickinson.
- Ronnie Montrose ainda capitaneou a banda Gamma, nos anos 80 e reativou algumas vezes o Montrose, contando com a participação e diversos músicos da cena Hard/heavy.
- Pouco tempo depois do anúncio da morte de Ronnie Montrose pela grande imprensa, a família do guitarrista se pronunciou, dizendo que na verdade Ronnie havia cometido suicídio. Lutando a vida inteira contra a depressão e o alcoolismo, o guitarrista havia tirado sua vida com um tiro na cabeça em sua casa (ver matéria abaixo).

- A formação original do Montrose se reuniu para alguns shows em 2005 e Sammy Hagar estava projetando uma turnê para 2013 com a banda quando foi avisado da morte de Ronnie.

Ficha Técnica

Banda (Nacionalidade): Montrose (EUA)
Título (ano de lançamento): Montrose (1973)
Mídia: CD
Faixas: 8
Duração: 32’

Rotule como: Classic rock, Heavy Rock, Hard Rock

Indicado para: Fãs de Ted Nugent, Sammy Hagar, Kiss e bandas setentistas com approach mais direto e mainstream.

Passe longe se: seu negócio for vertentes mais progressivas e cerebrais do rock setentista.





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