sábado, 9 de junho de 2012

Graveyard – Hisingen Blues (2011)

Hisingen Blues (2011)


SERIAM OS SUECOS VIAJANTES DO TEMPO?
Por Trevas

Prólogo - uma peregrinação qualquer pela galeria do rock carioca
Como de costume, toda vez que passo pelo Rio de Janeiro, obrigatoriamente visito as lojas de cds da galeria Vitrine da Tijuca, que proverbialmente chamamos de “galeria do rock carioca”. Geralmente o faço sem um alvo específico, somente para verificar os lançamentos e garimpar uma boa oferta. Estou em uma das lojas, garimpando a seção reservada ao rock dos anos 1960/1970. O vendedor, sempre muito simpático e sabedor de minha preferência pelo rock setentista, me pergunta, acenando para a capa de um disco exposto na parede da loja:
“já ouviu Graveyard?”
O disco está no meio de outros tantos de bandas rotuladas como “stoner”. Não tão simpaticamente, torço o nariz e digo que não conheço. O vendedor, relevando minha tacanha evolução espiritual, coloca o cd para rolar no som mecânico da loja. Finjo não me importar e continuo minha misantrópica ação quase ritualística de revirar os cds em busca de algum santo graal, ou de algo em bom preço, o que viesse primeiro.
Mas não pude ignorar o que se passou em seguida: uma virada de bateria e um riff nervoso de uma guitarra que parecia ter sido timbrada por uma versão lisérgica do espírito de Paul Kossoff. Uma voz ao mesmo tempo roufenha, despreocupada e cheia de feeling berrando como se Rusty Day tivesse levantado de sua tumba. Quase pude sentir calças boca-de-sino materializando-se sobre minha bermuda e um par de suíças se instalando em minha face. Os cds viram vinil e sei lá porque, tenho certeza que um pacote de haxixe apareceu em meu bolso. “Que diabos está acontecendo”, pensei – era apenas o Graveyard, a máquina do tempo sueca fazendo uma nova vítima!
Graveyard - até os caras parecem saídos do túnel do tempo
Background – o retrô rock sueco
Após a invasão do chamado “Gothenburg Sound”, ou como alguns gostam de dizer – a merda da moda do death metal melódico, que tomou a Suécia nos anos 1990 até meados dos anos 2000, o país escandinavo entrou num novo movimento. Dezenas de bandas praticando um som vintage, baseado no psicodelismo, timbres e liberdade musical do início dos anos 1970.
Talvez o pioneiro desse movimento seja o Spiritual Beggars (de Michael Ammot, do Carcass e atualmente Arch Enemy), mas podemos citar também os Hellacopters além da nova safra: Horisont, Truckfighters, Asteroid, Demon Cleaner e em alguns pontos, o próprio Grand Magus.
O Graveyard surgiu de uma derivação de parte da formação do folk/doom do Witchcraft, mais precisamente em 2006. Seu primeiro disco, homônimo, foi lançado em 2007, pela TeePee Records, logo chamando atenção da Nuclear Blast. Não foi só a Nuclear Blast que teve sua atenção voltada ao Graveyard. David Fricke, editor sênior da Rolling Stone, colocou os suecos em sua coluna “Fricke’s Pick”, destinada a revelar pérolas musicais escondidas por aí (ver link abaixo). Fricke também teve a experiência de transporte temporal com a banda, no caso dele, foi carregado direto para os banhos de lama do Glastonbury Festival de 1970 – só que sem a lama!


Capa do Primeiro Disco
Finalmente, Hisingen Blues
Hisingen Blues toma nossos ouvidos de assalto logo em seus primeiros instantes, com a urgência de “Aint Fit To Live Here”, uma de suas melhores faixas. A sonoridade é vintage até a medula. Mas nada soa forçado ou fake. O disco segue com um nível elevadíssimo de qualidade e a banda trabalha muito bem com a dinâmica barulho/calmaria, como uma versão lisérgica e entupida de esteroides do Free. Ecos de Led Zeppelin, Cactus e Black Sabbath podem ser encontrados aqui e ali, mas nada que possa ser considerado meramente cópia.
Embora todas as músicas sejam dignas de nota, a faixa título se destaca, em conjunto com “The Siren”, um blues rock fantasmagórico, a faixa de abertura citada anteriormente e a instrumental “The Longing”, que é provavelmente a melhor composição que Enio Morricone nunca escreveu, digna da trilha sonora de algum Western empoeirado. Algumas versões ainda incluem a faixa bônus “Cooking Brew”, que poderia muito bem estar no repertório oficial do álbum.

                                                               Clipe da Faixa Título

Saldo final
Talvez o grande trunfo do Graveyard seja que, ao contrário da maioria das bandas retrô-rock ou stoner, não soa como alguém emulando desesperadamente os anos 1970. A banda soa EXATAMENTE como se fosse alguma pérola obscura produzida no período e que por algum motivo ainda mais obscuro, tivesse permanecida escondida até que algum colecionador sortudo tivesse redescoberto a bolachinha.
Some a excelência musical da bolachinha com a bela arte de capa, um raro caso de ilustração criativa nos tempos atuais, e temos um lançamento imperdível.
Cabe ressaltar que a bolachinha foi recentemente lançada no mercado nacional, pela Hellion Records.

NOTA - 9

Curiosidade
O estranho nome do disco faz menção apenas ao fato de sua faixa título ter sido composta em uma noite fria num quarto de hotel da ilha sueca de Hisingen. 

Ficha Técnica
Banda: Graveyard

Título (ano de lançamento): Hisingen Blues (2011)

Mídia: CD

Faixas: 9 (10 em algumas versões)


Duração: 39’ (43' em algumas versões)

Rotule como: Classic rock, Heavy Rock, Hard Rock, Stoner

Indicado para: Fãs de Led Zeppelin, Black Sabbath, Cactus, Free e bandas setentistas em geral.
Passe longe se: seu negócio for coisas modernas e/ou modernosas (ou se tiver alergia a pó).


3 comentários:

  1. A minha sorte que conheço várias relíquias através do maridinho, adorei a resenha de hj, muito divertida!!! *__*

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  2. muito louca essa banda!

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