terça-feira, 27 de outubro de 2020

Blue Öyster Cult – The Symbol Remains (CD-2020)


 

The Old Gods Return

Por Trevas

Dezenove longos anos se passaram desde que Curse Of The Hidden Mirror sepultara as ambições do Blue Öyster Cult em recuperar o tempo perdido e resgatar o prestígio do que outrora fora uma instigante carreira fonográfica. Ninguém deu muita bola para o disco, que realmente não era lá essas coisas, e os membros remanescentes da banda resolveram vestir a carapuça do hipotético dinossauro que ilustrou uma de suas capas clássicas. Excursionando e regurgitando (de novo e de novo) o material antigo, como um fóssil vivo de eletricidade e decibéis. Irônico, não?

Blue Öldest Cult?

Após uma penca de entrevistas ao longo dos anos que mostrava o desinteresse em “gravar um disco que ninguém vai ouvir”, Buck Dharma deixou escapar, em 2017, que a formação atual era boa demais para não registrar algo e em estúdio. Boatos vieram e foram, tão enigmáticos quanto a imagem que a banda talhou ao longo dos anos...até que a Frontiers anunciou que havia assinado com o BÖC, e já soltando, em meados de 2020, That Was Me, como primeira faixa de trabalho. The Symbol Remains (nome tirado de uma letra antiga da banda) foi produzido pelos remanescentes da formação original: Eric Bloom e Buck Dharma, com auxílio da arma secreta da formação atual, o multi-instrumentista Richie Castellano, e conta com lançamento quase simultâneo no Brasil.

That Was Me, vigorosa e pesadona, abre o trampo com uma levada e letra que lembram See You In Black, de Heaven Forbid...talvez justamente por trazer uma parceria com John Shirley, presente nos dois últimos lançamentos de estúdio da banda. A voz gasta de Eric ainda é idiossincrática, a própria marca registrada do lado mais cru da banda. E, de quebra, Albert Bouchard aparece nos backing vocals, Cow Bell e percussão. Ótimo início.


Logo em seguida, e de maneira provavelmente proposital, Buck Dharma encabeça a bacanuda Box In My Head, mostrando aquela outra faceta do BÖC, aquele pop psicodélico com elementos de AOR, mas que foge completamente da pieguice por um toque de estranhamento que se reflete na letra. Como um verão do amor onde os psicotrópicos te levam a uma viagem bem esquisita.


Tainted Blood é o primeiro número a causar estranhamento. A letra, uma epopeia de amor eterno vampiresco, orna uma música que tem muito de um AOR mais padrãozão, dessa vez sem o diferencial das vozes estranhas, já que Castellano assume (como faria outra penca de vezes) os microfones. Apesar do estranhamento inicial, a nova proposta casa bem com os momentos mais clássicos, que retornam com Nightmare Epiphany (totalmente BÖC anos 1980), que assim como Secret Road e Fight, já haviam aparecido em formato demo em um lançamento de Dharma no início dos anos 2000.


Quando olhei o repertório, a primeira coisa que pensei foi “14 músicas? É coisa demais!”. Mas dentro de uma lógica que mais parece a de um Best Of, a bolachinha funciona muito bem, alternando momentos que lembram os primórdios da banda, como na épica The Alchemist (baseada em Lovecraft e escrita por Castellano, apesar da cara de BÖC clássico), com outros quase anos 1980, como The Return Of St Cecilia, Florida Man e as já citadas Fight e Secret Road


E até a faceta mais nova, como nas três faixas cantadas por Castellano (The Machine lembra demais algo do Ten) e coisas como Edge Of The World e Stand And Fight (um quase Manowar, com Eric Bloom metal bagarai) funcionam. Um discaço surpreendente, no qual só mudaria uma coisa: deixaria Bloom e Dharma assumirem as vozes das faixas de Castellano. Se você é fã dos caras, não deixe de conferir! (NOTA: 9,02)


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Gravadora: Hellion Records (nacional)

Prós: resgata todas as facetas da banda

Contras: Castellano tem a voz muito bonitinha

Classifique como: Classic Rock

Para Fãs de: Ghost



2 comentários:

  1. Que legal Trevas! Não fazia ideia que o BÖC ainda estavam em atividade. Vou conferir. Ótima resenha, novamente!

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