domingo, 23 de julho de 2017

Arch Enemy – As The Stages Burn (Blu-Ray – 2017)


Arch Enemy - As The Stages Burn

This Is Tour Eternal!!!
Por Trevas

Prólogo - Yesterday Is Dead And Gone

O Arch Enemy foi formado em 1996, numa parceria entre o guitarrista Michael Amott e o vocalista Johan Liiva, ex-colegas do Carnage. A intenção de Amott era a de seguir a linha que fizera em Heartwork, do Carcass, um Death Metal com altas doses de melodia. Devido ao pedigree de alguns dos envolvidos, a banda obteve algum reconhecimento, em especial no mercado Japonês. Mas foi com a saída de Liiva que o AE começou sua escalada de mera curiosidade na cena extrema para uma das maiores bandas de Metal do planeta na história recente. Para o lugar de Liiva foi recrutada a até então vocalista amadora Angela Gossow. Angela não fora a pioneira no uso de vocais extremos, mas à época a cena mostrava-se ávida por mulheres conquistando espaço num ambiente notoriamente machista e Angela se tornou uma espécie de símbolo: uma mulher de beleza contida, sem rompantes de diva, a chamada “girl next door”, mas que se transformava numa poderosa máquina de chutar bundas em cima de um palco. Atingindo um sucesso comercial antes considerado improvável, o Arch Enemy galgou fãs ao redor do globo, graças também ao amadurecimento de seus discos, culminando no espetacular Anthems Of Rebellion.


Angela Gossow, total girl power


Mas nem tudo eram flores. Após Doomsday Machine, a fórmula musical da banda foi mostrando claros sinais de desgaste. E Angela vinha demonstrando insatisfação por conta da constante pressão por uma agenda mais intensa nas turnês. Esse fato culminou na saída da alemã do posto de vocalista, ainda que tenha assumido lugar no management da banda. Foi justamente ela que indiciou uma jovem canadense para seu lugar, a então vocalista do The Agonist, Alissa White-Gluz. Alissa, que possui um estilo vocal bem versátil e claramente influenciada pela colega alemã, também comunga das mesmas ideias políticas e ambientais de Angela (as duas são veganas, afeitas à ideologias de esquerda e ativistas pelos direitos dos animais) o que pode ter facilitado a aproximação e amizade.


Rita Repulsa...ehr,  digo, Alissa White-Gluz
Michael Amott temia pela queda de popularidade da banda diante da saída de uma frontwoman tão marcante. E o temor dos fãs residia no uso de vocais limpos pela nova vocalista no Arch Enemy. Ambos estavam enganados, War Eternal, o novo disco, é de longe o material mais criativo da banda desde Anthems, e Alissa se restringiu a utilizar seus poderosos vocais urrados. A receptividade foi tamanha que a demanda por shows mais do que duplicou. Com a vantagem que Alissa não tem problemas em fazer longas turnês, encarando com maestria uma agenda de shows hercúlea. As The Stages Burn é o registro audiovisual de um show realizado pela banda no Wacken de 2016. A versão aqui analisada é a registrada em Blu-Ray, mas temos também edições em Cd, DVD e um caprichado (e caríssimo) Box Set.


A bela (e incomprável) edição em Digibook


Imagem e Som

A banda preparou uma produção e palco especial para o show no Wacken, e para isso não poupou esforços e nem dinheiro. E o resultado é fantástico, lembrando as produções das bandas grandes dos anos 1980, em especial Iron Maiden. O palco foi convertido em um imenso castelo com bandeiras e painéis muito bem bolados. Ao fundo, um círculo iluminado com o logo da banda. A iluminação está excelente, casando de maneira perfeita com o conteúdo musical. Atrás do praticado da bateria temos outro microfone, em uma espécie de púlpito cerimonial, onde Alissa ainda faz uma performance especial em You Will Know My Name e duas outras músicas. Aliada à produção de palco, temos torres de chamas e fumaça que engrandecem ainda mais o visual.




Tudo isso seria em vão se não existisse esmero em captar a energia do show. Mas estamos falando de um dos maiores diretores de shows/clipes disponíveis no mercado, o sueco Patric Ullaeus (responsável por ótimos Home Videos de gente como In Flames, Europe e Within Temptation). Ullaeus capricha em tomadas criativas e numa edição ágil sem se tornar irritante. As câmeras estão em número suficiente para providenciar todos os ângulos possíveis (são 13 no total) e a imagem é absolutamente cristalina em todas, fazendo valer a alta resolução esperada de um lançamento em Blu-Ray. Já o som, disponível em estéreo e 5.1, ficou sob a responsabilidade do mago britânico Andy Sneap. Não preciso nem dizer então que o som é igualmente cristalino e perfeito, certo? Amott fez questão de dizer nas entrevistas que não existiu retrabalho em estúdio, estando os pequenos deslizes todos ali para vermos. Bom, não encontrei nenhum deslize. Mas quem se importa?


   
Performances e Repertório

A dupla de guitarras da banda é um deleite em termos de contrastes. Michael Amott é o discípulo perfeito do Michael Schenker, seus leads e solos sempre melodiosos ao ponto de podermos cantar cada nota. Já Jeff Loomis é um dos melhores shredders de sua geração, chegando a dar saudade de seus tempos no Nevermore. A para lá de competente cozinha composta por Sharlee D’Angelo e Daniel Erlandson parece sempre funcionar à velocidade da luz. Mas, são todas figuras carimbadas e conhecidas do grande público. Aqui, obviamente, as atenções estão especialmente voltadas para a “novata” Alissa White-Gluz. A despeito da imensa simpatia e carisma que a figura de Angela Gossow sempre passou aos fãs, angariando respeito até entre os não tão afeitos assim ao som da banda, é impossível não chegar à conclusão que a banda ganhou ainda mais poder de fogo com a adição da canadense. Com seu visual que parece a releitura estadunidense da Rita Repulsa dos Power Rangers, Alissa tem um gogó poderosíssimo, funcionando perfeitamente tanto no material das fases anteriores como nas músicas de War Eternal. Some isso a uma presença de palco teatral e atlética, um puta domínio do público e temos a melhor frontwoman disponível para substituir a querida Angela.





Sobre o repertório, no show do Wacken temos uma mistura do novo trabalho com as músicas mais populares da fase Gossow. Dos discos com Liiva, somente Black Earth está representado, e Ryse of the Tyrant (da fase Angela) também foi ignorado. Ausências à parte, o repertório é extremamente energético e funciona imensamente bem, obrigado.


Extras

Os extras podem ser divididos em três partes. Um Behind The Scenes do show do Wacken, trechos de um show no Japão e videoclipes.

O Behind The Scenes do show do Wacken é bem curtinho (cerca de 7 minutos) e alterna entre cenas rápidas do Meet & Greet, da coletiva oficial de imprensa do festival e da preparação da estrutura do palco. Não há legendas, mas são poucas as falas e o inglês dos envolvidos é de fácil compreensão.

Já o show do Japão, nomeado Tokyo Sacrifice, traz oito faixas em um ambiente totalmente diverso da atração principal do pacote. Contando com a produção de palco normal da turnê, consideravelmente mais tacanha do que a do show do Wacken, e sem a infinidade de câmeras daquela noite, temos aqui um registro visual mais cru de um show do Arch Enemy. Mas bastante visceral e com qualidade sonora muito boa. Não é mostrado o show inteiro, mas acertadamente as faixas escolhidas são diversas daquelas do show principal. Muito bom.




A terceira parte dos extras consiste no apanhado de videoclipes oficiais da divulgação de War Eternal, um material que pode parecer desimportante em tempos de YouTube, mas sua inclusão torna o pacote bem completo.


Saldo Final

Mesmo se você é um dos poucos que torcem o nariz para a nova formação do Arch Enemy, é impossível não admirar o esmero que a banda teve em produzir esse show. E o registro audiovisual do mesmo também é irrepreensível, até o momento de longe o melhor material ao vivo que Amott e sua trupe colocaram no mercado. Excelente.


NOTA: 10


Gravadora: Century Media (importado). No mercado brasileiro foi lançada uma edição em DVD + Cd.
Pontos positivos: performance, imagem, som e extras excelentes
Pontos negativos: fez com que eu me arrependesse amargamente de ter perdido o show dessa turnê
Para fãs de: Soilwork, At The Gates
Classifique como: Melodic Death Metal



























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