domingo, 3 de janeiro de 2016

Dobradinhas: Saxon - Battering Ram (Cd-2015)/ Satan - Atom By Atom (Cd-2015)



Revivendo a NWOBHM
Por Trevas

Uma Festa Ploc Metálica

Fósseis vivos da New Wave Of British Heavy Metal (NWOBHM), Satan e Saxon trilharam caminhos bem diferentes em suas carreiras até o ano de 2015. O Saxon, sempre presente, desafiou modismos, rachas internos, descrença por parte da mídia britânica, mas nunca perdeu seu posto. Mesmo que esse posto seja no panteão da segunda liga dos Deuses do Metal. Já o Satan nunca teve estabilidade, mesmo em seu glorioso início. Court In the Act catapultou o nome dos cabruncos de Newcastle na preferência dos headbangers oitentistas, mas desde então a banda teve uma vida errática, migrando de nome duas vezes até o encerramento das atividades (ver histórico nesse post da Cripta). Em 2004 o retorno da formação clássica aconteceu, e aos poucos a ideia de lançar novo material foi amadurecida, até que 2013 viu o nascimento de Life Sentence, uma peça nostálgica feita com tanto esmero e garra que ganhou as listas de melhores do ano ao redor do globo. E aqui na Cripta não foi diferente. Quis o destino que em 2013 o Saxon também lançasse um de seus melhores trabalhos, o excelente Sacrifice.

Produção

E não é que 2015 viu as duas bandas novamente nos brindando com trabalhos saídos do forno? As coincidências também dão as caras em detalhes da produção: ambas ao encargo de produtores que também são guitarristas. No caso do Saxon, o britânico Andy Sneap, guitarrista do Sabbat e do Hell, produtor de inúmeras pérolas do metal moderno. Já pelo lado do Satan, o italiano Dario Mollo (The Cage, Voodoo Hill) capitaneou as gravações. Nos dois casos é a segunda experiência dos produtores com as bandas em questão.
Mas o resultado é bem diferente. Enquanto Sneap, tal qual em Sacrifice e nos discos recentes do Accept, deu uma roupagem moderna para o som clássico do Saxon. Já Mollo praticamente repetiu a fórmula absolutamente vintage que foi responsável por parte do sucesso inesperado de Life Sentence.

Músicas

De nada adiantaria dispor de magos por detrás da mesa de produção sem músicas que valham o investimento. Para nossa sorte, nesse quesito as duas bandas estão muito bem, obrigado.

Saxon - Battering Ram
Battering Ram

O Saxon começa seu disco com uma faixa título pesada e competente, mas nada especial (ver vídeo), mas logo ganha o jogo com pedradas como Devil’s Footprint, Eye of the Storm e Destroyer.


Enfim, um disco para lá de bom de Heavy metal tradicional, traduzido para 2015 pela ótima produção de Andy Sneap. Biff continua com a voz poderosa, sem dar nenhum sinal de envelhecimento. Doug Scarratt e Paul Quinn formam uma dupla de guitarras que parece se comunicar por telepatia, e poucas bandas da história do metal clássico tiveram uma cozinha tão boa quanto a formada por Nibbs Carter e o subestimado Nigel Glockler. Mas mesmo com todos esses abençoados atributos, não dá para deixar de notar que algumas faixas parecem caminhar confortavelmente demais em território conhecido, problema que afeta em especial Top of the World e Hard and Fast. Um toque épico e progressivo trazem Kingdom of the Cross e Queen Of Hearts para um lugar de destaque, em especial essa última, talvez o grande destaque do disco.

Saxon

Satan - Atom By Atom
Atom By Atom

Já o Satan envereda por outras paragens. O grito algo desnecessário de Brian Ross nos primeiros segundos do disco mostram de cara dois pontos importantes do novo disco: 1. Brian sofre do mesmo mal que Biff, e parece se recusar a envelhecer; 2. O Satan se entrega de corpo e alma aos anos 1980. Cara, e nenhuma dessas duas coisas é ruim, em absoluto. Afora o berro inicial, Farewell Evolution é deliciosa, e Atom By Atom desfila riffs, solos e refrães memoráveis aos borbotões.

Satan
Quase uma continuação sonora de Life Sentence, Atom By Atom não tem nenhuma faixa dispensável, ao menos não para quem consegue mergulhar na viagem nostálgica dos velhinhos. Steve Ramsey e Russ Tippings desfilam sua magia nas seis cordas de uma maneira bem mais primitiva que os colegas do Saxon, e por vezes isso confere um charme a mais às músicas. A bateria de Sean Taylor é desenfreada, algo meio Philthy “Animal” Taylor, acompanhada por um baixo (cortesia de Graeme English) que sempre encontra um espaço para desfilar suas linhas em meio à aparente confusão. Todas as faixas garantem aquele arrepio na espinha do Headbanger mais empolgado, mas destacaria My Own God, Ruination, a faixa título e a épica Fall Of Persephone das demais. Em suma, para quem acreditava que Life Sentence havia sido um feliz acidente de percurso, Atom By Atom faz-se um ainda mais feliz tapa na cara.

Saldo Final

Duas grandes bandas da velha guarda na ponta dos cascos, uma atualizando seu som e a outra revivendo o tempo perdido de uma era de ouro. Diria que o Satan pode até ter se saído melhor do que o Saxon esse ano, mas na verdade se há um vencedor aqui são os fãs de Heavy Metal em sua forma mais pura.

NOTAS:

BATTERING RAM: 81
ATOM BY ATOM: 90

Classifique como: Heavy Metal Tradicional, NWOBHM
Para fãs de: Angel Witch, Diamond Head, Judas Priest, Iron Maiden
Passe longe se: cara, tá de sacanagem, né?

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