sexta-feira, 14 de março de 2014

Iced Earth – Plagues Of Babylon (CD - 2014)

Iced Earth - Plagues Of Babylon (2014)

Consolidando a Retomada
Por Trevas

Prólogo – E Faça-se Um cd Triplo
Junho de 1999. Pouca grana sobrava a um ávido colecionador de CDs. A internet discada tornava cada download de cada música um milagre somente permitido após a meia noite e o advento do divino pulso único. Hard Times, baby.

Talvez seja justamente por essas dificuldades que me lembro bem de cada uma das pérolas que descobri nesse período. Nossa arma de caça, esta era o Soulseek. Uma bela noite, um de meus irmãos, por recomendação não me lembro de quem, colocou para baixar uma música de uma banda de Power metal. “Porra, mais Power Metal?”, disse eu. Não é uma banda de Power Metal qualquer, foi a resposta. Ao acordar as seis da matina, desligar a internet e verificar o resultado da caça noturna em meu Winamp, fiquei boquiaberto. Saí para a faculdade com aquela merda na cabeça, e assim ela ficou até que eu voltasse e escutasse a música mais umas 789 vezes. A música era My Own Savior. A banda, Iced Earth.

Soulseek - Minha ave de rapina musical nos anos 1990
Peguei minhas então parcas economias e rumei no dia seguinte para umas das lojas de CDs de rock de minha cidade. Dentre os álbuns disponíveis naquele dia, um tinha o Spawn na capa. Na época, isso não podia ser um melhor sinal! Outro tinha o que parecia uma porra duma versão pirata e egípcia do Eddie. Na época também achei isso animal. Mas meus olhos não desgrudaram mesmo de um Box de cor azul, contendo três CDs ao vivo encartados em belos digipacks – que diacho, uma banda ousar fazer um triplo ao vivo. Meu rico dinheirinho se foi. A pérola era o Alive In Athens, a inspirada megalomania que quase alçou o Iced Earth ao estrelato à época. Eu disse “quase”? Pois é...quase...

Alive In Athens - Um dos Melhores CDs Ao Vivo de seu tempo

Era uma Vez Um Postulante ao Trono…

A banda americana Iced Earth, capitaneada pelo determinado (e para lá de complicado) guitarrista Jon Schaffer lançara seu debut homônimo oito anos antes do ao vivo supracitado, para uma recepção na melhor das hipóteses indiferente da cena metálica. Não que Iced Earth, o disco, não possuísse boas músicas. Mas a execução, a produção e, em especial os vocais, beiravam o amadorismo. Grande foi o salto de qualidade entre este primeiro tento e Night Of The Stormrider, que chamou a atenção de público e crítica com sua mistura de Power metal, metal tradicional e Thrash Metal. Burnt Offerings elevou as expectativas em relação ao futuro da banda, e apresentou ao mundo Matt Barlow, para muitos a voz definitiva dos caras.

Iced Earth nos idos de Dark Saga - Barlow à frente
Dark Saga, disco baseado no então cultuado anti-herói dos quadrinhos, Spawn, trouxe algum refinamento e mais influências de metal tradicional ao som da banda. Mas o pulo do gato em estúdio foi mesmo o lançamento de Something Wicked This Way Comes. Um disco equilibrado, onde podemos encontrar temas viscerais rescendendo a thrash metal misturados a belas baladas e pequenos épicos, SWTWC foi alçado ao top 20 germânico, rendendo ao Iced Earth a posição de headliner do maior festival de heavy metal do mundo, o Wacken Open Air.





O próximo passo foi capitalizar em cima da bem sucedida turnê, com o arrojado lançamento de um álbum triplo ao vivo, o já citado Alive In Athens. A banda passou rapidamente do terceiro escalão da cena metálica para um pretendente forte ao panteão habitado por veteranos já decadentes como Iron Maiden e Metallica. Mas se você leu o início desse texto, deve lembrar que eu disse que o Iced Earth “quase” chegou ao estrelato...pois então veio a queda. Jon Schaffer parece ter vestido a carapuça de gênio musical e muito também por influência de seu grande amigo Hansi Kursch (Blind Guardian), carregou o próximo lançamento da banda de exageros do Power metal europeu. O resultado, um irregular Horror Show, que vendeu bem, mas causou uma recepção bem menos empolgada que seus antecessores. Os atentados às torres gêmeas foram o golpe fatal à boa fase: Matt Barlow entra em crise existencial e abandona a banda. Em desespero e vendo o sucesso escorrer por dentre os dedos, Schaffer contrata o promissor Tim “Ripper” Owens, então demissionário do Judas Priest. Uma tremenda jogada de marketing!

Ripper só troca um patrão ruim por um pior...daí ele foi pro Malmsteen
O resultado foi Glorious Burden, um disco que além de bastante fraco, pecou por sua temática: o patriotismo expresso em suas letras em nenhum momento cativou o público da banda, bem mais forte na Europa e America do Sul do que na terra natal dos estadunidenses.
Ainda tomado de acessos de megalomania, Jon resolveu colocar a medonhamente tacanha mini estória de horror iniciada nas três últimas faixas de SWTWC em primeiro plano, soltando dois discos conceituais. O primeiro, Framing Armageddon, ainda com Owens, em seus momentos mais inspirados é consideravelmente melhor que Glorious Burden, mas ainda longe de empolgar. A voz de Owens não se encaixa em grande parte do material, e os exageros de corais nos refrãos, assim como os arranjos grandiosos falham em cativar e põe tudo a perder.
Vendo a popularidade da banda caindo a cada lançamento, Schaffer apela, demitindo Owens e recontratando Matt Barlow. O movimento chama a atenção dos fãs antigos, mas a segunda parte da obra conceitual, The Crucible Of Man, é ainda pior que a primeira. A turnê segue com datas minguadas, parte do acordo com Barlow para que o mesmo não se afaste por muito tempo de seu emprego normal. Não funcionou. Matt então abandona o grupo pela segunda vez.

Barlow (à esquerda): a voz é a mesma, já os cabelos...
Quando tudo parecia perdido, eis que Schaffer encontra a salvação sob a forma do canadense Stu Block, vocalista do pouco conhecido Into Eternity. Com timbre semelhante ao de Matt Barlow, mas com uma pegada consideravelmente mais agressiva, Stu fez com que a banda revivesse a sonoridade de seus primórdios, mais simples e contundente. Dystopia, primeiro disco com o novo vocalista mostra-se o melhor lançamento da banda desde SWTWC, pegando tanto os fãs quanto os críticos de surpresa. A turnê subseqüente recoloca a banda nos trilhos, com uma quantidade muito maior de datas que as últimas quatro turnês somadas. Entre um show e outro Jon Schaffer começa a compor e produzir o novo disco. Dessa vez não há mais espaço para erros. E então é anunciado o lançamento de Plagues Of Babylon (POB no resto da resenha).




Novidades No Front

Gravado em quatro estúdios diferentes POB marca o rompimento da parceria da banda com o produtor Jim Morris, tendo Jon Schaffer assumido a produção, com o auxílio de quatro engenheiros de som diferentes. A outra novidade ficou por conta da participação efetiva de Stu nas composições, algo surpreendente quando lembramos da fama de tirano do dono do Iced Earth. A instabilidade no line up da banda por si só não é novidade nenhuma, mas cabe ressaltar como curiosidade que as baterias do disco ficaram ao encargo do brasileiro Raphael Saini. Para não dizer que Jon está curado dos acessos de megalomania, as seis primeiras músicas fazem parte de uma desinteressante saga sobre zumbis situada no universo igualmente desinteressante apresentado em SWTWC. Mas se você não se esforçar, nem perceberá se tratar de um cd parcialmente conceitual. Dito isso vamos ao que interessa:

Praguejando com Louvor

Iniciar o disco com uma música mid tempo não é novidade para o Iced Earth, e a faixa título (ver vídeo) o faz com louvor do alto de seus quase oito minutos inspirados e sombrios que beiram o Doom Metal. A produção acerta em deixar tudo mais seco e minimalista, longe dos exageros de outrora.


A pegada dark e pesada segue com a boa Democide, com boa performance do baterista Raphael Saini. The Culling soma a essa pegada um ótimo refrão, que deve garantir a essa faixa estada obrigatória no set list da turnê vindoura. Amigo de longa data de Jon Schaffer, com quem divide o projeto bissexto Demons & Wizards, Hansi Kürsch (Blind Guardian) divide os vocais com o eficiente Stu na boa Among The Living Dead (ver vídeo). Aliás, essa faixa nos faz sonhar com dias melhores e mais agressivos para o Blind Guardian...quem sabe?


Resistance não é lá muito especial, mas se salva pelo refrão bacaninha e pela interpretação de Stu, que se distancia da sombra de Barlow, fato que no disco anterior só era notado nas baladas. A última da ala conceitual do disco, The End? Tem um bocado de Iron Maiden em sua estrutura e é uma boa faixa. E já que citei o tópico “baladas”, If I Could SeeYou é a primeira do álbum. Formulaica como todas as baladas do Iced Earth desde Dark Saga, incrivelmente ela funciona, talvez pela dinâmica que representa no andamento do disco.

Iced Earth 2014: Stu ao centro
O épico Cthulu em seu início lembra assustadoramente o Fates Warning, assumindo depois a tradicional estrutura musical Icedearthiana, dessa vez sem muito sucesso. Tal qual a faixa anterior, dá uma certa sensação de déjà-vu. Ainda bem que a boa Peacemaker, a despeito da mensagem armamentista redneck, aparece com sua pegada sulista quase hard para angariar uma certa diversidade ao material, podendo ser considerada um dos destaques.

Parasite entra no clube do déjà-vu e não traz nada de novo ou empolgante. Spirit Of the Times é a segunda e última balada de POB. Fugindo à fórmula de I Died For You e com uma aura mais viajandona marcada por intervenções guitarrísticas de bom gosto, a faixa agrada e coroa a boa performance de Stu Block, que aos poucos vai ganhando os fãs e apresentando uma alternativa saudável a outrora muito lamentada ausência de Matt Barlow. Ao Invés de encerrar POB por aí, Jon resolveu incluir uma inesperada versão para um clássico do country. Originalmente composta por Jimmy Webb e regravada por dezenas de artistas, Highwayman traz a participação de Michael Poulsen (Volbeat) e Russell Allen (Symphony X, Adrenaline Mob) dividindo os vocais com Stu e o próprio Schaffer. O resultado é legal, mas não se encaixa em absoluto com a atmosfera dark e carregada do resto do disco.

Saldo Final
Plagues Of Babylon mostra o Iced Earth apostando na atmosfera agressiva e sombria que marcou sua fase áurea, caminho já pavimentado no ótimo disco anterior, Dystopia. Embora seja um bom disco, POB poderia ser ainda melhor caso Jon Schaffer tivesse encurtado o álbum em umas três faixas (votaria em Cthulu, Parasite e Peacemaker). De qualquer maneira, POB vem para consolidar a retomada do Iced Earth rumo a um lugar de destaque na história do metal. Que venha o próximo!


NOTA: 7,5




Prós:
A retomada em definitivo da boa e velha atmosfera dark somada à agressividade quase thrash dos bons tempos do Iced Earth. Stu Block marcando seu território.

Contras:
Um pouco longo demais para a pouca variedade no material.

Para Fãs de: Iron Maiden, Metallica e Judas Priest

Ficha Técnica
Banda: Iced Earth
Origem: EUA
Disco (ano): Plagues Of Babylon (2014)
Mídia: CD
Lançamento: Century Media (importado)

Faixas (duração): 12 (62’).
1. Plagues Of Babylon; 2. Democide; 3. The Culling; 4. Among The Living Dead; 5. Resistance; 6.The End?; 7. If I Could See You; 8. Cthulu; 9. Peacemaker; 10. Parasite; 11.Spirit Of the Times; 12. Highwayman

Produção: Jon Schaffer
Arte de Capa: Eliran kantor

Formação:
Stu Block – voz;
Jon Schaffer – Guitarras, voz;
Troy Steele – Guitarras;
Luke Appleton – baixo;
Raphael Saini – bacteria.

Participações especiais: Russell Allen, Michael Poulsen, Hansi Kürsch - voz

2 comentários:

  1. Mangolão, comentei ontem e o blogger "ignorou"... Vamos ver se me lembro do que disse...

    É interessante lembrar de em que condições se conheceu o Iced Earth. No meu caso, foi num colégio em miserói em que trabalhava, lá pelos idos de 2003 ou 2004. Um colega Professor de matemática (que havia acabado de virar crente), sabedor do meu gosto (não sabor, porra!) metálico, me pergunto se não queria comprar TODA a discografia do IE que ele possuía à época... Como não conhecia NADA, pedi para ouvir umas faixas... Violate, I Died For You e Watching Over Me fizeram o serviço... Carteira mais leve, sorriso no rosto e seis CD's a preço de três... Foi jogo!

    Daí comecei a me inteirar sobre eles. Passei a admirar o timbre vocal do Barlow, além da clara habilidade de Schaeffer em compor verdadeiras pérolas... Comprei o DVD semi-oficial-semi-pirata Alive in Athens... E continuei comprando os CD's... And them... Barlow's OUT, Ripper's IN!!! Eu tinha certeza de que não funcionaria... O estilo dos dois é muito distinto... Ouvir o Tim berrando feito um alucinado em "Dracula" mostrava que, de fato, eram incompatíveis... E "The Glorious Burden" - a maior E PIOR patriotada da história da música pesada - foi a pá de cal...

    Daí voltou o Barlow. Na boa, mais do mesmo... E um vocalista que estava claramente desconfortável na banda... E lá se vai o Barlow de novo (this time for good?)...

    Duas coisas que não se pode negar no Schaeffer: (1) é um visionário com mão de ferro, capaz de construir verdadeiros impérios ou arrasar civilizações inteiras. Pena que, via de regra, prefere cometer cagadas... E o infinito entra-e-sai (ui!) de integrantes prova isso! Ele deve ser um cara mega intratável... (2) tem um olho clínico extraordinário para achar - e recrutar - músicos que impressiona... Achar o semidesconhecido Stu Block foi uma tremenda bola dentro!

    Lembro que o Stu foi "apresentado" aos fãs numa regravação matadora de "Dante's Inferno" (só!)... Daí vem o "Dystopia", que já achei um senhor álbum... O vocal rasgadão dele, bem na pegada Thrash/Death do Into Eternity empolgou logo de cara, casando muito bem com o estilo do IE...

    Eu gostei - bastante - do "Plagues"... A temática "zumbi", embora forçada, é bastante óbvia, dado que o estilo é certamente viral na atualidade (alguém falou em Umbrella??? Hahahaha...). Até o Hammerfall abandonou o temário "somos-melhores-mais-malvados-e-mais-tr00000-que-o-manowar" pra gravar o Infected (um disco muito bom, por sinal)...

    Mas voltando: O Stu me agrada. Acho o "Plagues" um disco 8,5 (estava sentimental quando ouvi as baladas... Huahuahuahuahuahuahua). E acredito que o IE se reinventou. Não chegará ao nível das bandas citadas acima, mas é certamente muito melhor que muita coisa que tem pelaí...

    Intão é içu.

    Jundas e cetas!

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  2. Caceta, Krill!
    O Blégh ignorou mesmo.
    Concordo com tudo o que vc falou, achei o novo disco bom, mas esperava mais. O Dystopia é mais legal, na minha inútil opinião.
    O Ripper para mim se tornou aquele jogador firulento e que todos sabem possuir talento acima da média, mas que nunca se encaixa em lugar nenhum. Até hoje o único disco com ele que consegui gostar foi o Juguator. Demolition é pavoroso, fácil fácil o pior da carreira do Padrejudas. Beyond Fear é um cocô, os discos dele com Malmsteen são mais do mesmo, com o Iced Earth não funcionou e o Winter's Bane era apenas razoável. Para ser honesto com o simpático berrador, não escutei o disco solo dele.
    Mas uma coisa é certa, Stu é bem bom de gogó e finalmente os caras estão se reencontrando!
    Nossos ouvidos agradecem!
    Abracetas
    T

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