sábado, 27 de outubro de 2012

Herman Rarebell - Scorpions – Minha História Em Uma das Maiores Bandas de Todos os Tempos (Livro - 2012)




Venha Sentar no Botequim do Alemão

Herman Ze German


Para quem não conhece, Herman Rarebell foi o baterista da era de maior sucesso comercial do Scorpions, tendo tocado com os caras de 1977 a 1995. Não somente Herman marcou época como um dos bateristas mais vigorosos do hard rock nos anos 1980, como também ajudou a escrever vários dos clássicos da banda, além de ter contribuído com muitas das letras por possuir um conhecimento de inglês “menos ruim” que seus colegas de Hannover.


Herman Maltratando as Peles nos anos 1980

Pois bem, ao final do ano passado, Herman resolveu compartilhar suas memórias sobre esses anos junto ao Scorpions com o mundo, com a ajuda de Michael Krikorian, que além de jornalista é diretor da fundação Rock And Roll Remembers, criada para ajudar figuras públicas outrora proeminentes na cena rocker e que hoje passam por dificuldades.



O livro, originalmente lançado em inglês, sob o título “And Speaking About Scorpions...”, foi recentemente publicado pela Panda Books no Brasil, contando com uma boa tradução de Gus Monsanto (que é um tremendo vocalista de metal) e notas na badana de capa e na contracapa escritas respectivamente por Bruno Sutter (o humorista e músico conhecido pelo personagem Detonator) e por Felipe Machado (jornalista e guitarrista do Viper). O prefácio fica por conta de Dieter Dierks, o proverbial “sexto Scorpion”, produtor que trabalhou com a banda em seu período mais prolífico.

Mas quem espera pela típica biografia de astro do rock vai encontrar algo um pouco diferente nesse livro. A narrativa é pouco linear e em muito se assemelha a uma conversa de bar, bem informal, sem se preocupar muito com a exatidão e detalhes das histórias contadas. Além do mais, fica evidente desde o início o egocentrismo de Herman, e pouco ou nada é exposto sobre pensamentos, comportamentos e/ou histórias envolvendo outro membro da banda.

Por outro lado, o que também fica bastante evidente é o senso de humor aguçado do baterista bonachão, tudo aqui é contado, ao menos na maior parte do livro, com uma leveza e descontração contagiantes. Em poucas páginas você quase acredita que pode pedir a nova rodada de cerveja alemã para curtir a conversa com seu mais novo amigo.

Herman nos dias de hoje
E logo ficamos sabendo que Herman nasceu Erbel, mas que devido a uma incompreensível inaptidão dos ingleses em pronunciar seu sobrenome corretamente, o Erbel virou Rarebell. E foi na Inglaterra também onde Herman passou a ser chamado Herman Ze German.

E que tal saber que Herman só foi fazer teste para a banda quando ambos estavam na Inglaterra, por conta de um esbarrão casual em um pub britânico com o maluco teutônico Michael Schenker, irmão caçula de Rudolph Schenker.

Outras curiosidades aparecem ao longo do livro, como o surpreendente teor jovial da conversa da banda com Mikhail Gorbachev (que conhecia bastante bem o material da banda) às vésperas de um dos pontos mais importantes da história recente.


Scorpions e Gorbachev

Mas grande parte do livro se passa em devaneios de Herman Ze German sobre a indústria musical, suas idiossincrasias e armadilhas, seja no terreno das finanças, seja no pantanoso terreno das relações conjugais (e como as mesmas são afetadas por esse meio). Herman destila seu humor politicamente incorreto sobre esses pontos, além de dar diversas dicas aos jovens músicos do que fazer e do que não fazer, sempre exemplificando com seus próprios erros e acertos durante a carreira. E não faltam também piadas sobre o bebum Pete Way (baixista do UFO e reconhecidamente um dos maiores junkies da indústria) e sobre a proficiência oral das groupies americanas. Aliás, quem gosta de histórias sobre drogas e devassidão, não deve ficar assanhado. Há até um capitulo inteiro sobre o assunto, mas nada próximo do que pode ser encontrado em outras biografias do gênero, afinal, o autor preferiu não expor nomes na maioria dos casos.

Só que em sua reta final o baterista estraga toda a leveza do papo de botequim, como aquele bêbado que passou um pouco demais da conta, começando a ficar inconveniente. E então, com um amargor muito mal escondido em relação a sua saída da banda, passa a atacar com acusações de ganância e traição Klaus e Rudolph, a quem dizia parágrafos antes amar como irmãos, pontuando os ataques com requintes de egocentrismo, já que afirma que a banda após sua saída não emplacou mais nenhum hit, o que talvez diga algo sobre a sua real importância na história dos Scorpions.

Reunião dos velhos escorpiões em 2006, Herman de vermelho

Saldo Final

Apesar da queda em seus últimos dois capítulos, a leitura em geral é bastante dinâmica e divertida, ainda que seja carente em detalhes históricos.

Meu gosto pelas biografias musicais se deve principalmente ao pano de fundo histórico que as mesmas costumam trazer com maestria e onde aprendemos como os cenários político, econômico e social  modulam o surgimento e morte de estilos e subestilos musicais. E não encontrei nada disso por aqui, as referências históricas são mínimas e mesmo a citação a outras bandas e músicos contemporâneos ocorre de forma esporádica e superficial (ah, há um gratuito espancamento do Girlschool e um tapa de luva de pelica no Bon Jovi).

Ou seja, um livro legal, com um enfoque bem diferente do tradicionalmente encontrado em obras do gênero, mas que fica muito longe de ser uma obra definitiva se seu objetivo for de fato conhecer a história da maior banda de rock teutônica em todos os tempos.


NOTA: 6,5

Ficha Técnica

Título: Scorpions – Minha História Em Uma das Maiores Bandas de Todos os Tempos.

Título original: And Speaking Of Scorpions...

Autor: Herman Rarebell, com Michael Krikorian

Ano: 2012

Tradução: Gus Monsanto

Páginas: 280

Lançamento nacional Panda Books, selo da Editora Original Ltda

3 comentários:

  1. Engraçado, egocentrismos são mais comuns em vocalistas. Depois de passar décadas escondido, deve ter pensado: pelo menos no meu livro mando eu.

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    1. Whahahahahahahahaha
      O cara tem uns acessos de " se eu não compus, não é bom" que parecem coisa de vocalista, mesmo. Chega ao ponto de babar muito ovo do "Savage Amusement", o pior disco da fase clássica do Scorpions, só porque ele participou mais desse disco e esculacha o "face the Heat" por ter ficado alijado das composições...
      Mas no geral ele parece um cara divertido...
      Abraço
      T

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  2. Vamos lá...
    Quando fiz originalmente a resenha, esqueci-me de considerar o custo/benefício do livro. Ele é meio carinho para o conteúdo nada volumoso...tirei mais meio ponto.
    Abraços
    T

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