quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Raven – Metal City (CD-2020)


 

Cidade do Corvo Veloz

Por Trevas

Não vou ser hipócrita: até bem pouco tempo, defecava solenemente para esses veteranos da NWOBHM. Quando estava na fase de descobertas das bandas seminais do estilo, obviamente esbarrei com o Raven, mas minha incorrigível aversão à falsetes e gritinhos estratosféricos me fez colocar aquelas faixas de cena de crime cercando a discografia da banda. Ou seja, entrei na sempre idiotesca seara (infelizmente muito comum nos fãs de Metal) do “pouco ouvi e já não gostei”. Como hoje sou bem menos idiota, mudei minha opinião. Mas isso veio pelo acaso do destino: o Azul Limão foi orgulhosamente escalado para fazer um show com figuras do naipe Mutilator, Leather Leone e Raven, em Belo Horizonte. Após a sensação de dever cumprido, modéstia à parte o show foi um sucesso (ganhei elogios da Leather, como podia não me sentir assim?), fui curtir o som dos Headliners, sentado na beira do palco. Os irmãos Gallagher, outrora os criadores do pateticamente intitulado “Athletic Rock”, hoje parecem Live Actions do Groo, o Errante. Mas cara, os grandalhões gorduchos voam pelo palco (que tremia a cada pisada) e entregaram uma apresentação destruidora, hoje amparados pela bateria cavalar de Mike Heller (Fear Factory). Sim, os falsetes estavam ali, mas os riffs e solos cavalares e refrães irresistíveis também. Pronto, agora eu estava fisgado! Mais uma discografia inteira a ser explorada, para desespero do meu combalido bolso.

Heller, cercado pelos irmãos Groo...ehr, Gallagher

Metal City, 14º trabalho de estúdio dos cabruncos de Birmingham (o que será que tem na água de lá? Perguntarei aos Peaky Blinders!) é, portanto, o primeiro que adquiro à época do lançamento, aqui pelas mãos da Shinigami. E acho que dei sorte, The Power já abre o disco com o pé na porta. Uma rifferama Speed Metal de fazer tremer o chão. A produção, por parte da banda (gravação por Michael Wagener e mixagem por Zeuss) é vigorosa e cristalina, trazendo o som clássico dos caras para um padrão de qualidade condizente com os tempos atuais. E a banda está pegando fogo, com os duelos baixo/guitarra aparecendo logo de cara e Top Of The Mountain entregando um daqueles refrães que grudam até no cérebro mais carcomido logo de primeira. E Heller, esse trabalha com absurda pegada, adicionando até blast beats incidentais aqui e acolá, como em Human Race, Metal Tradicional devidamente modernizado sem perder sua identidade.



O pé sai do acelerador na grudenta faixa título, uma pequena peça autobiográfica com um riff que remete aos anos 1970. Battlescarred aparentemente dá continuidade à saga da carreira dos caras, e é ótima. Ótimo também é o trabalho gráfico, em forma de revista em quadrinhos, criativo e divertido, e que faz mais sentido ainda quando chegamos à Cybertron. Uma homenagem aos robozinhos oitentistas feitos por senhores sexagenários? Bom, os caras não se levam à sério, e isso é bacana quando se trata de um Heavy Metal mais direto. Nada da síndrome de Manowar, felizmente.


Bom, e os caras acertaram em cheio ao concentrar esforços em um disco curto (38 minutos), que mal dá tempo para respirar: o ritmo frenético de coisas como Motörheadin’ (nem preciso dizer para quem é a homenagem, certo?), Not So Easy e Break faz o pescoço sofrer. E ao final, foi reservado espaço para a épica When Worlds Collide, encerrando com maestria um trampo irresistível e viciante, uma espécie de versão musical de uma overdose de Red Bull, nada indicada (ou talvez exatamente por isso indicada) para rolar no som do carro em uma estrada vazia. Muito bom! (NOTA: 9,18)

Visite o The Metal Club

Gravadora: Shinigami Records (nacional)

Prós: velocidade máxima

Contras: pode te acarretar multas por excesso de velocidade

Classifique como: Heavy Metal, Speed Metal

Para Fãs de: Motörhead, Judas Priest


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