quarta-feira, 20 de maio de 2020

My Dying Bride – The Ghost Of Orion (CD-2020)





Cansados de Lágrimas?

Parece brincadeira, dado a carga supersticiosa que envolve esse número, mas o 13º trabalho de estúdio do My Dying Bride teve uma gestação de fazer inveja ao filme “O Bebê de Rosemary”. Primeiro, o vocalista Aaron Stainthorpe se viu diante do horror de ver sua filhota de 5 anos de idade enfrentar um terrível câncer, levando a pequena guerreira a enfrentar uma série de cirurgias e inclementes sessões de quimioterapia. Uma batalha felizmente vencida, mas que deixou sérias marcas no frontman. Nesse meio tempo, duas baixas no restante do esquadrão: Calvin Robertshaw (guitarras) e Dan Mullins (bateria) deixam a banda sob fogo cruzado e nada amistoso. Além disso, a longa parceria com a Peaceville Records chegava a seu improvável fim. Sobrou ao incansável Andrew Craighan (único outro membro original na banda) a segurar as pontas e compor o disco todo sozinho, garantindo um novo e rentável contrato com os titãs teutônicos Nuclear Blast. Material composto, ainda havia um último grande desafio a ser contornado: convencer o combalido Aaron de que ainda havia forças para seguir em frente na carreira musical. O grandalhão chegou até mesmo a incentivar que a banda fosse em frente com outro cantor. Com muita paciência, Andrew conseguiu extrair fogo do vocalista, que acreditava fortemente ter chegado ao fim de sua jornada no MDB. Ufa, dito tudo isso, não seria difícil esperar que o disco viesse a soar como uma tremenda bagunça.


Não sorriam na foto meninos!

Ornado com a belíssima arte de Eliran Kantor (Kreator, Testament) e contando com a produção de Mark Mynett (ChaosBlood, Godsized), Ghost Of Orion começa pesado feito a trosoba do Godzilla, com a indefectível Your Broken Shore. Um clássico instantâneo que compila em pouco mais de 7 minutos várias das facetas dos britânicos. E a performance impressionante de Aaron mostra que o esforço de Andrew em apostar no colega valeu a pena!


To Outlive The Gods segue, soando etérea e densa, quase um Doom progressivo, com o violino de Shaun MacGowan em destaque. Lena Abé forma uma cozinha precisa com o novo baterista, ninguém menos que Jeff Singer, conhecido da cena Doom por ter tocado com o Paradise Lost. Tired Of Tears desnuda o ódio de Aaron pelo câncer que quase ceifou a vida de sua filha: “Lay No Hand On My Daughter”, canta, a dor impressa em cada palavra. The Solace é um belíssimo e calmo número, cantado inteiramente por Lindy-Fay Hella, quase na linha do que tem feito Amalie Bruun, na Myrkur. Algo como uma marcha fúnebre élfica.


The Long Black Land é o primeiro dos épicos gigantes do disco, com quase 10 minutos de duração. Tiro certeiro para qualquer fã que se preze dos caras. A faixa título é um estranho interlúdio narrado que nos separa de The Old Earth, o segundo e derradeiro monstro, 10 minutos de pura desgraceira. A banda se despede com um curto epílogo instrumental, sob a forma da bela Your Woven Shore. Um digno e fúnebre encerramento, para um disco surpreendente. Eis que da dor e do caos os veteranos britânicos tiraram combustível para produzir um dos seus discos mais emocionantes e inspirados. (NOTA: 9,02)

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Gravadora: Shinigami Records (nacional)

Prós: denso e pesado, belo e sombrio

Contras: pode ser demais para mentes frágeis numa quarentena

Classifique como: Doom Metal

Para Fãs de: Ahab, Solitude Aeturnus




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