terça-feira, 4 de outubro de 2016

The Sisters Of Mercy - Summer Tour 2016 (18/09/2016 - Vivo Rio - Rio de Janeiro/RJ)


Boa noite, Criptonianos!
Esse 2016 está nos alimentando com uma miríade (a palavra de hoje é: miríade!) de shows e festivais, para todos os gostos...mas não para todos os bolsos. Infelizmente o alto preço dos ingressos fazem de nosso planejamento uma verdadeira Escolha de Sofia. Cada escolha, uma renúncia (Meo Deos, posso até escrever livro de auto ajuda depois dessa). 


E esse foi o caso com o show do Sisters. Tive que deixar passar...


Mas para isso servem os amigos, ora bolas. Sim, teremos convidado na Cripta, e o de hoje é um cara que além de extremamente boa praça e inteligente, é uma verdadeira enciclopédia musical. E melhor, conhece muito de bandas que normalmente passam desapercebidas pelos radares dos Roqueiros mais tradicionais. 



Ah sim, e o cabrunco escreve muito. Pois então, divirtam-se com uma daquelas resenhas que fazem quem esteve no show reviver cada momento...e que fará doer os cotovelos daqueles que não estiveram lá no Vivo Rio...ui

Com Vocês, o grande Claudio Borges!


Abraço
Trevas

p.s.: Fica aqui meu muito obrigado à Alessandra Tolc pelas fotos!!!



Convidado da Cripta - Claudio Borges:



Um jornalista fanático por música, colecionador de vinil, crítico de araque que odeia solos em shows.








The Sisters Of Mercy - Summer Tour 2016 (18/09/2016 - Vivo Rio - rio de Janeiro/RJ)
texto por Claudio Borges
Fotos pela sempre fantástica Alessandra Tolc

Andrew Eldritch sorri. Um esgar de satisfação pelo ótimo show da sua banda em solo carioca. A terceira passagem do Sisters of Mercy pelo Rio de Janeiro (quinta no país) animou e saciou quem se dispôs a encarar um domingo chuvoso.

Clima londrino do lado de fora, dentro não foi diferente. Imersos em densa fumaça, Eldritch (cantor e fundador), Ben Christo (guitarra e backing vocals), Chris Catalyst (guitarra e vocais) e Ravey Davey (a “enfermeira” do Doktor Avalanche – nome dado à bateria eletrônica) assumem seus lugares e disparam “More”. Climática e pesada ela dá o tom do que seria a apresentação.


O Sorriso do Lagarto (foto por Alessandra Tolc)

Se o grupo formado em 1980, na cinzenta Leeds (Inglaterra), deu o pontapé inicial no subgênero Gothic Rock, a versão atual alia, à perfeição, peso com climas sombrios. Sua influência não se limita aos artistas mais góticos e se estende por grupos tão distintos quanto Kreator, Paradise Lost, Type O Negative, In Extremo e Cradle of Filth. 

A primeira leva de músicas foi extraída do último álbum do grupo, Vision Thing (1990). Desde então, o Sisters se concentra em tocar novas composições nos shows. “Crash and Burn” é uma dessas apenas registradas em bootlegs (gravações de shows lançadas sem a autorização dos artistas). Ela encaixa com maestria junto às mais antigas, como “Body Electric” e “Alice”, devido à dinâmica imposta no palco.

Mr. Catalyst e suas costeletas (Foto por Alessandra Tolc)
Sem falas entre as músicas, o público não consegue respirar diante da sucessão de petardos. “No Time To Cry” e “Marian”, dois clássicos do antológico álbum First and Last and Always (1985), trazem de volta o clima discoteca de vampiros. Espremida entre duas “novas” (“Arms” e “Summer”, que não fariam feio em Vision Thing), “Dominion/Mother Russia” provoca uma explosão de vozes erguidas em uníssono. Eldritch emite sua ainda poderosa voz em sussurros góticos entremeados por gritos idiossincráticos.  Mesmo sem a aparência de outrora, seu carisma e magnetismo o colocam no centro das atenções com seus gestuais robóticos e um quê de nosferatu moderno.

A ótima iluminação cria ambientes de verde, amarelo, azul e vermelho para que feixes de luz recortem silhuetas. O teatro fantástico criado para emoldurar o enredo musical. Mesmo que seja com a pouco conhecida “Jihad”, retirada do projeto Sisterhood (produzido e composto por Eldritch para evitar que Wayne Hussey e Craig Adams usassem esse nome, o que os obrigou a mudar para The Mission). Em versão menos eletrônica e sem voz, brilha a destreza técnica de Ben Christo - também guitarrista da banda de hard rock Night By Night – e a simpatia contagiante de Chris Catalyst.  Guitarristas ovacionados, o cantor emerge das profundezas do palco para soltar a soturna “Valentine”. Após uma hora de show, “Flood II” encerra momentaneamente a apresentação. 

Ben foi pego para Christo (ok, o trocadilho é horrível, mas a foto da Alessandra Tolc compensa)

A cada novo show, fãs de ocasião e desavisados em geral se concentram em questões nada relevantes. A fumaça, marca constante desde a década de 1980, é tratada como se fosse algo estranho. Um disparate sem noção. Alguns dizem que a voz não é mais a mesma e que os guitarristas cantam para suprir essa deficiência, como na balada “Something Fast”, onde Chris (cantor e guitarrista  da banda power-pop Eureka Machines) divide os vocais. Apenas desconhecem que em estúdio há sobreposição de vozes. Outros preferem insistir que a banda faz playback. Mais uma bobagem que demonstra apenas ignorância ao fato de usarem bateria eletrônica e baixo sintetizado.  A ausência de um baixista pode deixar algumas músicas com menos impacto, porém a força do show torna isso um mero detalhe. Exatamente o que ocorre em “Lucretia, My Reflection”. Dominada por seu riff poderoso, “Vision Thing” anuncia o apocalipse sonoro em versos como “twenty five whores in a room next door” e “It's a small world and it smells bad”.

Eldritch, versão nosferatu crooner (foto por Alessandra Tolc)

O hino “First and last and Always” coloca um fim na segunda pausa planejada e a plateia se manifesta em estado de graça. Mesmo que o som não seja o melhor, “Temple of Love” e a sua indefectível batida, colore de verde as camisas pretas basicamente adornadas com o símbolo da estrela. À beira do palco, o cantor rege o coral da bombástica “This Corrosion” e encerra sua liturgia multi-colorida. Não há mais o que revindicar.

Que o Rio não fique mais dez anos sem essa máquina de groove industrial. 

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