terça-feira, 29 de setembro de 2015

Iron Maiden – The Book Of Souls (2Cds – 2015)

Iron Maiden - The Book Of Souls (2015)
Up the Irons!!
Por Trevas

Trevas e a Donzela
Outubro de 1995. Um jovem Trevas, no último ano do segundo grau se encontra longe da sala de aula, em casa e enfermo com quase 40º de febre somado a muita dor no corpo e náuseas. A tarde está surpreendentemente fria e chuvosa. Meu sono é então interrompido pela ligação de um amigo: “cara, acabou de chegar o novo disco do Iron Maiden aqui numa loja da Tijuca”. Trevas respira fundo, e ciente da responsabilidade que acomete um homem com uma missão, coloca seus tênis e um moletom velho, rumando debaixo de chuva para o referido bairro, atrás de X Factor, o primeiro disco da polêmica fase com Blaze nos vocais.

X Factor tirou um Trevas zumbi de casa
Bom citei esse episódio para mostrar o quanto o Iron Maiden já significou para mim no passado. Não foi minha primeira monomania juvenil (essa foi o Queen), mas certamente foi a mais forte e que durou mais tempo. Logo depois viria Virtual XI para derrubar o tabu, e a ruindade daquela obra me fez ver o óbvio, o Iron tinha defeitos, era uma banda mortal, como todas. Acabara a era da inocência e nada mais foi como antes. De repente, músicas horríveis como Gangland, Back In The Village, The Assassin, Quest For Fire, saltaram aos meus olhos. Não, nunca antes eu admitiria que o Iron em sua fase áurea tivesse pecados tão graves. Ah, a realidade. Bom, o tempo passou, e nem mesmo o retorno de Bruce e Adrian à banda com o legalzinho Brave New World conseguiram reavivar minha adoração pela Donzela. Seguiram-se o razoável Dance Of Death, o bom (com boca murcha, como diria um amigo) A Matter Of Life And Death e então o péssimo Final Frontier e minha certeza de que o Iron jamais faria algo realmente marcante de novo só se fortalecia.

Brave New World, um enganoso retorno à boa forma
Bom, então quando foi anunciado que o Iron lançaria mais um disco, novamente produzido por Kevin Shirley e dessa vez em formato duplo e batendo 90 minutos de duração, não poderia ter ficado menos empolgado. Confesso que nem o confronto com a morte travado por Mr. Dickinson foi capaz de me sensibilizar em relação ao futuro lançamento. Sou um rato de resenhas, o que aliás me fez criar esse blog, e já andava suspeito de que algo mudara ao esbarrar com palavras de outros ex-maidenmaníacos e atuais detratores da banda elogiando sem piedade o novo disco. E quando finalmente a banda soltou a música de trabalho, Speed Of Light, as suspeitas aumentaram. Não, a faixa não é nada excepcional, mas soa muito melhor que suas primas recentes (Different World, a pavorosa Eldorado e congêneres). Sim, há algo a mais ali. Talvez dessa vez eu esteja enganado. E lá fui eu, pela primeira vez em muitos e muitos anos, conferir com alguma expectativa um novo trabalho da banda mais amada da história do metal.


Disco 1
O início psicodélico de If Eternity Should Fail causará pavor àqueles que ainda tem na memória a péssima Satellite 15 do disco anterior. Graças à Odin a música logo se desenvolve para algo pesado e sombrio que muito mais se aproxima ao material solo de Bruce do que aos discos recentes da donzela (não por acaso é uma composição assinada exclusivamente por ele e até o trecho narrado ao final parece saído de Chemical Wedding). Um excelente início que de cara pôs em dúvida minha crença de que eu estaria com mais um cd para cumprir tabela em mãos.

Eddie de peito aberto para os fãs...

Speed Of Light, primeira música de trabalho, fruto da parceria entre Bruce e Adrian, é simples e direta. Bobinha até. Mas muito melhor que suas concorrentes dos discos anteriores, com bons solos, um refrão bacana e até mesmo um curioso cowbell!! Só que nela já podemos ver dois probleminhas na bolacha: 1. Bruce está penando nos tons mais altos, está soando feio e forçado em alguns momentos. 2. Kevin Shirley não acerta o som do Iron, em alguns momentos dá a impressão que estamos com uma demo boa em mãos.


The Great Unknown já tem aquela estrutura típica das faixas atuais do Iron, e incomoda um pouco em alguns momentos devido à insistência de Bruce em trabalhar em tons visivelmente desconfortáveis para sua voz. Mas ainda assim está acima da média atual da banda e novamente trabalha com um clima sombrio, que parece ditar a norma aqui, e tem belas obras de guitarra.

Única faixa exclusiva de Steve Harris na bolachinha, The Red And The Black é também sua melhor obra desde Sign Of The Cross. Um épico de 13 minutos com trechos de belas guitarras e um coro que clama por uma multidão empolgada em um estádio. When The River Runs Deep abre com algo de Moonchild e logo se mostra um rockão mais direto, bastante bom, por sinal, com ótimo refrão e variações interessantes de andamento.

Bruce descansando após chutar a bunda de um câncer
O primeiro disco se encerra com a faixa título, um épico pesado e bem inspirado, com elementos sinfônicos bem encaixados e que certamente fará parte dos shows vindouros.

Disco 2:
A segunda bolachinha começa com o pé no acelerador em outra parceria entre Bruce e Adrian chamada Death Or Glory, baseada nos embates aéreos da primeira guerra. Uma faixa empolgante com belos trechos de guitarra e que vai na contramão do material mais recente da banda. Shadows Of the Valley é a contribuição de Gers no disco, em conjunto com Harris, uma música bastante legal, que quase falha no resultado final por conta da voz de Bruce, novamente rateando nos tons altos. Tears Of A Clown é a já tão falada música inspirada no suicídio de Robin Williams. Quase radiofônica, é outra que deve muito mais aos discos solos do Mr. Dickinson e possui um refrão bem grudento e sua aparente simplicidade engrandecida por um andamento algo quebrado.

Iron Maiden 2015
The Man Of Sorrows tem um teclado irritante (para que tanto teclado fazendo camas desnecessárias numa banda com 3 guitarras???) e algumas passagens desinteressantes atrapalhando seu bom refrão, fazendo dela a menos inspirada de todo o disco.

Empire Of the Clouds, a ópera rock de Bruce sobre o acidente com um dirigível na década de 1930 vem dividindo opiniões. E dá para entender o motivo, seus longos dezoito minutos de duração tem lá seus altos e baixos. Bruce ao piano cantando em sua primeira parte é de uma rara beleza e mostra que o britânico ainda tem muita lenha para queimar e serve ainda para os detratores que reclamam da banda nunca ousar ficarem com uma pulga atrás da orelha. Mas talvez algumas passagens instrumentais pudessem ser encurtadas, e a performance do vocalista no momento da catástrofe, repleto de drama e novamente em tons muito altos, quase põe tudo a perder. Por sorte esses trechos não comprometem o todo e a música se encerra de forma bela e apoteótica, findando com ela os pouco mais de 90 minutos do Livro Das almas.

Bruce espreitando o horizonte
Saldo Final
Não, The Book Of Souls não vai ressuscitar seu amor juvenil pela banda, os tempos são outros tanto para os fãs antigos quanto para os combalidos britânicos. Mas se esse não for o disco a recuperar ao menos um pouco o respeito do grande público pela maior banda de Heavy metal da história, não sei que disco o fará. Imperdível.

NOTA: 86

Prós:
O melhor e mais equilibrado disco do Iron em décadas.
Contras:
Produção algo capenga, músicas muito longas.

Classifique como: Heavy Metal

Para Fãs de: Iron Maiden, claro

Ficha Técnica
Banda: Iron Maiden
Origem: ING
Disco (ano): The Book Of Souls (2015)
Mídia: CD Duplo
Lançamento: EMI (nacional)

Faixas (duração): CD 1 - 5 (52’), Cd 2 – 4 (42’)
Produção: Kevin Shirley
Arte de Capa: Mark Wilkinson

Formação:
Bruce Dickinson – voz e piano;
Steve Harris – Baixo;
Adrian Smith – Guitarra;
Dave Murray – Guitarra;
Janick Gers – Guitarra;
Nicko MacBrain – Bateria.

7 comentários:

  1. Sei que ando sumido, até porque nada na música vem me empolgando. Mas não poderia deixar de comprar esse álbum do Maiden... Contudo, não rolou... escuto e escuto o álbum, mas nada se destaca na minha cabeça. Tem até boas passagens, mas fico tudo meio blah, enfadonho... longo demais... cansativo...

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    1. Hm, Diego...longo demais, cansativo e tudo meio Blah? Pô, tem certeza que vc não está falando de algo do Steven Wilson não? Gwhahhahahaha. Sério, não esperava nada e gostei mesmo. Estou escutando esse disco direto.
      Abração e bem vindo de volta
      T

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  2. Opa valeu mesmo meu camarada, precisava de uma opinião imparcial sobre esse disco, sabe se ele valia mesmo a pena. Pois você sabe que alguém vai fazer aniversário em novembro e com certeza, vai pedir o disco de sua banda favoritra,né?!! Obrigado abração

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    1. Grande Moshilão!
      Você pode até acabar não curtindo muito, algumas pessoas andam incomodadas com o tamanho (ui) das músicas. Mas mesmo que não curta muito, duvido que algo aqui soe ofensivo para alguém que curta ao menos um pouco o Iron.
      Abração
      T

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  3. Pra mim o Iron Maiden acabou depois de The Final Frontier, e The Book of Souls nada mais é do que a Donzela fazendo uma xero-cópia tosca de si mesmo... Foi assim que este álbum soou aos meus ouvidos, não tenho mais vontade de ouví-lo mais...
    R.I.P. Iron Maiden!

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    1. Fala, Igor
      Isso é que acho bacana na música. Para mim foi o renascimento de uma banda que havia "morrido" no Virtual XI e que vinha se arrastando num retorno não muito inspirado. Para você, representou o fim, hehhehe. Viva as diferenças!
      Abraço
      Trevas

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    2. Pois é, amigo! Viva as diferenças mesmo!

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