sábado, 5 de janeiro de 2013

Black Country Communion - Afterglow (CD – 2012)



Um Belo Canto do Cisne


Novembro de 2009, Glenn Hughes (Deep Purple, Trapeze, Black Sabbath) e Joe Bonamassa (quem desconhece, veja esse link: Bonamassa na Cripta) tocam juntos em uma Jam no evento King Of The Blues, sob os olhares atentos do produtor de estimação e amigo do guitarrista, o Sul Africano Kevin Shirley (Journey, Iron Maiden, Dream Theater...). A Jam foi um sucesso e a química entre os músicos, surreal.

Hughes e Bonamassa
Ainda em 2009, Kevin consegue convencer os dois artistas, reconhecidos no meio musical como dois dos mais prolíficos da indústria, a montar um projeto. Dada a carta branca, Kevin convida o baterista inglês Jason Bonham (que além de filho do lendário John Bonham, tocou com  Led Zeppelin, UFO, Foreigner, Paul Rodgers, Bonham, dentre outros) com quem já havia trabalhado em álbuns do próprio Bonamassa e o tecladista americano Derek Sherinian (Dream Theater, Billy Idol,  Alice Cooper, Kiss, dentre muitos), com quem também trabalhara quando produziu Falling To Infinity, do Dream Theater. O nome, Black Country Communion foi escolhido em homenagem ao apelido dado à região industrial inglesa onde Glenn e Jason nasceram e foram criados.

BCC - Joe, Jason, Glenn e Derek
Já em 2010 a banda solta o primeiro petardo, homônimo e com lançamento independente, para grande sucesso de público e crítica. A fama da banda como um grande número ao vivo logo se espalhou e a despeito da agenda apertada de Bonamassa, que nesse momento já tinha emplacado uma série de discos no topo da Billboard, logo os cinco resolveram aproveitar a boa maré e se trancaram em estúdio para gerar o segundo rebento, o também muito bom BCC 2 (2011). Ininterruptamente, seguem em turnê, onde vários shows foram capturados para o lançamento do excelente registro Live Over Europe (em CD duplo, DVD e Blu-ray - ver vídeo abaixo).

Infelizmente, começaram então os problemas. Empolgado pelo sucesso do grupo e pelo sentimento de fazer parte de uma banda novamente, Glenn pressiona para que o restante do grupo volte ao estúdio para um terceiro disco. Bonamassa nesse momento terminava seu quinto disco de estúdio em 3 anos (o ótimo Driving Towards The Daylight) e já havia montado a respectiva turnê de promoção do mesmo (que passou pelo Brasil). Seguiu-se então um embate unilateral (Bonamassa a princípio em silêncio), com Glenn Hughes choramingando o fim do BCC e dando inúmeras declarações públicas que soavam claramente como chantagem emocional. Bonamassa se junta ao grupo para gravar a toque de caixa Afterglow, trabalho composto basicamente por Glenn sozinho. Ao final da produção do disco, seguiram-se intermináveis rodadas de ataques de Glenn Hughes a Bonamassa e seu empresário e buldogue, Roy Weisman.

Shut Up And Play! Sábia Classic Rock Magazine
Eventualmente sobraram farpas do bocudo Hughes até para Jason Bonham a quem chamou de emocionalmente instável.  O round mais dramático aconteceu justamente no primeiro e único show até então agendado para promoção de Afterglow, no seu lançamento oficial, a ocorrer no estádio do time de coração de Hughes, o Wolverhamptom. Horas antes do show, Glenn Hughes dá declarações reclamando dos valores dos ingressos do evento, culpando publicamente o empresário de Bonamassa. Em represália, Joe Bonamassa finalmente se manifesta, ainda que elegantemente e cancela o show, alegando falta de qualquer clima de civilidade na banda para que o mesmo fosse realizado. Bonamassa declara que desde o início todos na banda sabiam de sua agenda e que Glenn Hughes estava usando a imprensa para jogar o público contra ele, para pressioná-lo a abandonar sua turnê solo em prol do BCC.

Kevin "Caveman" Shirley, o mentor do BCC


Glenn então muda o tom e uma breve demonstração de conciliação entre os dois foi exposta através do incansável twitter do baixista. Resumindo, ninguém parece saber com exatidão se o BCC verá novamente a luz dos holofotes, mas ao menos o terceiro trabalho finalmente saiu e a ele me prenderei no restante do texto.


Longe de ser um Brilhareco

Big Train vem com alguma ferocidade classuda mostrar as novidades desse terceiro capítulo do BCC: o som está perfeito, longe da sonoridade abafada do BCC 2, ponto para Kevin Shirley. E a outra novidade:  camaradas, Glenn Hughes está cantando muito bem, talvez seja seu melhor desempenho em estúdio em muito tempo. 


Tudo soa mais direto e cru, talvez pelas circunstâncias que envolveram a gravação, pois consta que a banda inteira teve uma janela de pouco mais de duas semanas para gravar tudo. A pouca variação nos timbres de guitarra nos solos de Joe são um exemplo claro do tempo escasso para finalização do disco. Mas isso não é sinal de falta de qualidade, Bonamassa soa tão bem quanto sempre.

Algumas faixas, como This Is Your Time e Dandelion remetem aos momentos mais Funky do Deep Purple MKIII ou da própria carreira do vocalista, respectivamente, referendando o que Mr. Hughes já deixara claro em algumas entrevistas: Afterglow tem muito mais de sua cara que os lançamentos anteriores do BCC. Como admirador do trabalho solo de Glenn Hughes, sempre tive a impressão que havia mais dele do que dos outros no trabalho de composição da banda, mas aqui isso deixa de ser uma dedução para se tornar evidente. 

Quanto aos outros dois membros, Derek tem seus teclados muito mais participativos tanto em idéias quanto em volume na mixagem final, demonstrando seu bom gosto e um raro talento em um tecladista, o de jogar em prol do resultado final, nada de exibicionismo ególatra aqui. Jason Bonham é um rinoceronte, se existe algum beócio que não consegue reconhecer seu talento e que acredita que o cara tocou com gente como Paul Rodgers, Foreigner e UFO só pelo nome, espero que esse bisonho não perca tempo escutando esse disco e vá catar coquinho. O cara toca muito, e o mais importante, com uma pegada pra lá de rocker.

Se você, assim como este escriba, acha interessantíssimo quando uma banda consegue comportar dois grandes vocalistas de estilos distintos dividindo os trabalhos, algo que deu um molho especial nos dois primeiros discos do BCC, irá se decepcionar, pois não se escuta nada de Bonamassa cantando aqui. Para não dizer que a participação vocal do americano foi nula, Kevin Shirley conseguiu de última hora convencer Hughes e Bonamassa que o disco carecia de um dueto, e então Bonamassa regravou as linhas vocais de Hughes para Cry Freedom. Kevin escolheu uma frase de cada um para a versão final e temos o prá lá de burocrático e frio dueto do disco, talvez o grande ponto fraco de Afterglow.


Mas a pressa na gravação não significou o mesmo em relação ao trabalho de composição, Glenn Hughes teve meses para maturar as idéias de Afterglow, idéias essas parcialmente retrabalhadas pelos colegas de banda nos ensaios que antecederam as gravações. Temos aqui algumas grandes músicas, como Midnight Sun, a excelente e vigorosa Confessor (talvez a melhor faixa rocker do disco, ver link abaixo). Em todas elas, além de ter acertado a mão nos vocais como há muito não fazia, Glenn Hughes também gravou linhas de baixo para lá de inspiradas. Aliás, um dos grandes méritos do BCC foi fazer com que Hughes novamente se desafiasse como baixista, saindo um pouco de sua zona de conforto quando trabalha em material próprio sem colaboração de outros grandes músicos de personalidade.


A ótima faixa título tem aqueles toques de folk que também apareceram no trabalho anterior, com uma aura Zeppeliana extremamente bem vinda em seu arranjo, sendo essa um dos destaques do álbum.

A épica e dark The Circle (ver link abaixo) nos remete as excelentes Song Of Yesterday (do primeiro BCC) e Faithless (do BCC 2)e   é outro destaque absoluto do disco. Trata-se de uma canção que evidencia a versatilidade vocal de Glenn Hughes, algo raro de se encontrar em cantores de hard e heavy da atualidade. 


A boa Commom Man traz o momento improviso do disco, com um rápido e interessante duelo teclado x guitarra x baixo x bateria no meio da música e um arranjo típico de Jam das boas em seu final. Será certamente um momento de destaque nos shows se um dia vier a ser tocada ao vivo. A faixa seguinte, The Giver passa sem chamar muita atenção, e Afterglow tem em seu encerramento sua faixa mais moderna e pesada, a boa e dark Crawl, com ótimo duelo entre Derek e Joe.

Saldo Final

Mais um grande disco do BCC, ainda que, tal como os dois anteriores, não seja perfeito. Se este é o fim da linha para o supergrupo, podemos ficar com dois tipos de sentimentos distintos: o primeiro de felicidade -  a banda passou por esse planeta deixando um legado de qualidade; o segundo de tristeza – fica a impressão de que o Black Country Communion encerra suas atividades sem nunca ter atingido seu ápice. Com uma mistura desses dois sentimentos, fico na forte torcida para que Glenn e Joe se entendam, para que possamos ver essas feras ao vivo por aqui e para que eles finalmente produzam juntos sua obra definitiva.

NOTA: 8,5


Ficha Técnica

Banda (Nacionalidade): Black Country Communion (ING/EUA)

Título (ano de lançamento): Afterglow (2012)

Mídia: CD

Gravadora: J & R Adventures (Importado)

Faixas: 11
Duração: 58’

Rotule como: Hard Rock, Classic Rock, Heavy Rock
Indicado para: fãs de um hard classudo e algo vintage, mas sem soar datado  
Passe longe se: seu lance for única e exclusivamente metal extremo

4 comentários:

  1. Essa banda aí foi uma descoberta e tanto pra mim!
    Sempre curti pacas o glenn hughes, tanto cantando quanto tocando. E a fase dele no DP é foda demais, na minha opinião!

    Quando soube q ele se juntou com uma galera fodona pra fazer um som classico, eu fiquei louco pra ouvir! hehe!
    E não deu outra, achei mt true e não parei de ouvir os dois primeiros cds.

    Só q esse terceiro eu não achei tão bom qt os outros... talvez seja por essa simplicidade no processo de gravação, com tudo mais cru... ou talvez por causa dessa questão de ter sido quase tudo em cima do glenn, com pouca influencia do bonamassa.

    Mas msm com essa caída de nível no último cd, os caras continuam sendo top de linha não só de bandas atuais, mas de todas as bandas q já ouvi!
    10 a 0 no Chickenfoot! hehe

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    1. Fala, Pablo!
      Na minha opinião a fase do Deep Purple com Hughes, Coverdale e Blackmore, ainda que tenha durado pouco, é minha favorita. Burn detona!
      Esse terceiro cd demorou um pouco mais para me cativar, mas agora o escuto como aos outros dois, a única coisa que sinto falta é de um pouco mais do Bonamassa.
      Sobre o Chickenfoot, curti bastante também, mas é outro tipo de hard rock, mais oitentista. Como banda, prefiro o BCC, mas acho que o Foot tem muita coisa boa.
      Abração
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  2. Sempre me espanto com esses supergrupos... É só picão, todos fudidos com agendas apertadíssimas, mas ainda assim fazem coisas espetaculares, para logo depois caírem no pau porque "fulano não faz isso... beltrano disse aquilo..." Aff... Tomara que queime a língua, mas acho que o próximo a erodir será o Chickenfoot... Ainda bem que não tem esses problemas com o Latino + +...

    E Jason Bonham é um monstro!!! Ainda bem que o pai dele não foi jogador de futebol, porque aí ele provavelmente seria um porquêra...

    Beijundas e abrecetas!

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    1. Fala, Mestre Krill!
      Sim, é verdade, os caras sempre dão um jeito de foder com a mariola quando tudo está musicalmente indo às mil maravilhas...Supergrupos vem com superesponsabilidade e superegos...
      O Chickenfoot já está tendo problemas, mas por conta da agenda do Chad Smith. Mas eles resolveram na boa, arranjaram um batera substituto para as datas onde Chad não pode tocar (o mercenário profissional Kenny Aronoff, que já foi Peter Criss e Bill Ward, se é que me entende...) e ficou todo mundo numa boa.
      Espero que as duas bandas continuam, pois são dois supergrupos que honram o apelido.
      Ah, e realmente, se John tivesse sido um camisa 10 clássico, Jason seria terceiro goleiro do madureira, whahahahha. Filhos de jogadores famosos NUNCA dão bons jogadores, mesmo!
      Abracetas
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