quinta-feira, 16 de agosto de 2012

UFO - Seven Deadly (2012)




O NOVO VOO DO OBJETO VOADOR JURÁSSICO

Prólogo–As muitas aparições do UFO


Na ativa (ainda que com alguns pequenos hiatos temporais) desde 1969, quando ainda atendia pelo nome Hocus Pocus, o UFO é tido para muitos como sendo uma daquelas bandas da segunda divisão do hard/heavy britânico.


Uma tremenda injustiça. Após um início algo confuso, com dois discos que tendiam para um space-rock parente daquele feito pelos conterrâneos malucos do Hawkwind, a banda teve a seu favor justamente uma série de imprevistos que poderiam ser até chamados de “onda de azar”, não tivessem culminado em algo tão improvavelmente fortuito quanto ganhar na megasena.


O episódio começou assim: início de 1972, a banda tinha um guitarrista novo, Larry Wallis, em substituição a Mick Bolton. Os dois primeiros discos da banda só haviam vendido algo em dois lugares, na Alemanha e no Japão. A banda precisava sair do Reino Unido e pegar a estrada. Wallis dá no pé. Recrutam então o bom Bernie Marsden (mais tarde, ele brilharia no Whitesnake). Só que a banda era uma das mais barra-pesadas na época, e o novinho Bernie não estava agüentando o tranco de goró e outras muitas cositas mais...Bernie começou a ter comportamento evasivo, sumia até a hora dos shows, fazia o show e sumia de novo. Numa importante turnê pela Alemanha, o cara simplesmente desapareceu. As versões que são encontradas para essa parte da história são as mais diversas possíveis, mas o fato é que eles tinham poucas horas para fazer um show na Alemanha e não tinham guitarrista.


UFO, em 1972,

Mas Phil Mogg, vocalista e líder da banda, lembrou-se de um detalhe: o próprio Bernie vinha elogiando diariamente o guitarrista da então desconhecida banda de abertura dos shows – uma tal de Scorpions. O guitarrista, um alto e magrelo moleque de 16 anos, chamado Michael Schenker, era claramente um prodígio, qualquer um que batesse os olhos no garoto sabia que não havia nada além de sucesso em seu caminho. Michael era também irmão caçula do líder da banda, Rudolph Schenker. Com a benção do irmão mais velho, Phil ensina em um par de horas todo o repertório básico do UFO – o garoto sobe ao palco e simplesmente arrasa. A partir dali, um novo mundo se abriria ao UFO.


Sob a batuta de um dos maiores (e mais excêntricos) guitarristas de todos os tempos, o UFO lançaria uma penca de álbuns obrigatórios em seqüência, culminando no que considero o melhor disco ao vivo em todos os tempos, a pérola Strangers In The Night, de 1978. Abaixo, uma amostra do poder de fogo da banda ao vivo:




O que se seguiu talvez tenha diminuído a importância da banda na história do rock: O doido de pedra do Michael Schenker, que para fugir da acapachante timidez se afunda cada vez mais na birita, briga com Mogg pela enésima vez e abandona a banda. Os caras então seguiram em frente, lançando bons discos e fazendo shows concorridos, mas não sobreviveram à falta que o guitar hero fazia – tanto musicalmente quanto visualmente – Schenker era uma espécie de sex-simbol na época.

Michael Piroca-das-ideias Schenker
Pouco a pouco a banda foi sucumbindo aos excessos (Phil Mogg e o baixista Pete Way são tido como dois dos caras mais podreiras da cena rocker britânica) e foi sumindo do mapa.


Se alternaram alguns períodos de inatividade com outros de retorno, ambos sempre ignorados pela grande mídia. Até que Micahel Schenker retornou, para o clássico Walk On Water (1994), excursionando e gravando ainda mais 2 discos antes de fazer mais algumas maluquices e fugir em definitivo da banda. Só que dessa vez o sucesso desse retorno insuflou Phil Mogg e os outros de uma confiança e brios vorazes – era hora de se livrar do fantasma de Schenker!


Propaganda Japa sobre o miraculoso (e breve) retorno da formação clássica

Para tanto, recrutaram um improvável grande fã da banda, o virtuose americano Vinnie Moore, outrora rotulado como mais um dos Malmsteen-wannabes que os anos 1980 produziram.

Vinnie Malmsteen? Ou seria Yngwie Moore?
Para surpresa de todos, a parceria funcionou logo de cara – gravaram um disco muito bom, You Are Here (2004), e um ao vivo que, se não chega perto de rivalizar com o Strangers In The Night, ao menos mostra que a banda, ao contrário da maioria de seus contemporâneos, ainda manda muito bem ao vivo (ver link).


De lá para cá, a banda vem atravessando uma fase bastante criativa, lançando discos num intervalo de tempo bem inferior ao padrão das bandas com tempo de rodagem semelhante. Só que parte dos fãs não consegue esquecer a fase áurea e vem torcendo o nariz para o fato da banda vir cada vez mais incorporando traços de blues rock a suas composições. Pesa também o fato da banda não contar mais com um de seus membros clássicos, o doidão Pete Way, que vem há pelo menos 4 anos lidando com problemas seriíssimos no fígado e teve que deixar de lado a proximidade com as tentações mundanas.


Pouco mais de dois anos depois do lançamento do bom The Visitor, eis que a banda lança seu segundo disco depois da saída de Pete, intitulado Seven Deadly.



Rumo aos pecados capitais

Bem, a capa do disco é algo que causa controvérsia – alguns acham divertida e diferente, outros simplesmente acham detestável. A caveira mexicana de sombreiro no cenário lisérgico regado à mescalina repleto de cores fortes me lembrou muito alguma capa do OingoBoingo...esperei desde então que o conteúdo musical fosse mais inspirado que isso.


Se você é um daqueles que torceram o nariz para as incursões da banda no blues rock, logo de cara é melhor desistir de embarcar nessa viagem. Fight Night, com sua letra fazendo referência a paixão mexicana (olha o México aí de novo) pela luta livre galhofeira, é um blues rock divertido e nada original.Phil Mogg continua ótimo, com sua voz que rescende a whiskey e cigarro e suas observações sempre sarcásticas sobre situações cotidianas permeando as letras. Certamente um dos poucos vocalistas de sua geração que faz justiça ao próprio legado.


Phil Mogg dedica a próxima música ao criador do viagra...

Wonderland (ver link) é mais acelerada, trazendo riffs e solos (ótimos, por sinal) que remetem um pouco mais à fase Schenker da banda. Ah, os backing vocals aqui também lembram essa fase. Outra bola dentro!


Um peso mais moderno e repleto de groove pode ser encontrado em Mojo town. Me lembrou o estilo do Black Country Communion, ou seja, poderia bem ser algo composto pelo Glenn Hughes, o que não é nada mal! Confesso que os backing vocals femininos de cabaré não me agradam em nada e aqui comecei a me dar conta que possivelmente seriam uma constante no restante do disco. Os mesmos dão as caras na bluesy falsa balada Angel Station, que carece de um pouco mais de inspiração.

Year Of The Gun é bem legal e poderia estar no repertório de algum disco da banda no início dos anos 1980 ou até mesmo no excelente e mais recente Walk On Water, com seu ar despojado de saloon de western barato.


Mais uma que poderia fazer companhia às músicas de Walk On Water, em estilo, mas não em qualidade, Last Stone Rider é mais do mesmo, e ainda tem os backing chatinhos para piorar. Um interessante solo do monstro Vinnie Moore anima um pouco a coisa. Cabe ressaltar que o cara é de uma versatilidade gritante – ora soa como se quisesse fazer uma oferenda ritual ao fantasma de Michael Schenker, ora soa bluesy, ora totalmente fusion – mas sempre com classe e eventualmente com criatividade acima da média.


Objeto Voador Geriátrico

Mais uma com os dois pés fincados no Blues Rock, Steal Yourself apenas cumpre tabela. A faixa seguinte, Burn Your House Down (ver link), pode ser apontada como um dos destaques do disco, com uma letra bacaninha, clima algo soturno e boa performance do dono da banda. Para quem não sabe, Phil Mogg tradicionalmente só compõe as letra e melodias no exato momento de gravar a voz, quase como um repentista do rock. Eventualmente isso causa atritos com produtores, mas costuma trazer também resultados interessantes. Há de se destacar também os ótimos solos de Mr. Moore aqui, certamente seu ápice guitarrístico no disco.


A absolutamente Southern Rock The Fear mantém o nível alto da faixa anterior, apesar do terrível backing vocal espreitando, contando com uma gaita quase constante que traz um clima meio empoeirado à música. Outro solo inspirado de Vinnie Moore, com slide guitar, dessa vez lembrando algo que Rictchie Blackmore poderia ter assinado antes de abandonar o rock.


E se a faixa anterior encontrou seu tempero com uma gaita, aqui em Waving Goodbye quem faz as vezes é um hammond, num fechamento de disco digno com mais uma demonstração da qualidade dos solos melódicos do “novo” integrante, que se estendem do meio para o fim da música.


Saldo Final

Atravessando um de seus períodos mais prolíficos e criativos, o UFO parece não dar a mínima para o envelhecimento musical das bandas de sua geração. Definitivamente Seven Deadly não soa como um bando de velhinhos numa festa de asilo.

Se você não se convenceu de que Vinnie Moore foi uma boa escolha de Phil Mogg para continuar sua saga, então não será esse disco que irá mudar sua cabeça, já que o que ouvimos aqui não é muito diferente do que a banda produziu desde que o guitarrista trouxe o UFO de volta ao mapa em You Are Here (2004). E quanto a ausência de Pete Way, ela certamente é mais sentida ao vivo do que em estúdio. Já o batera original, Andy Parker, dá conta do recado sem maiores problemas.


Seven Deadly é um disco legal, de uma banda que, embora esteja velha demais para se importar em mudar as regras do jogo, ainda tem vigor suficiente para cavalgar para longe da estrada da aposentadoria.


NOTA:8


Ficha Técnica

Banda (Nacionalidade): UFO (ING)
Título (ano de lançamento): Seven Deadly (2012)
Mídia: CD
Gravadora: SPV Steamhammer (Importado)
Faixas: 10
Duração: 47’

Faixas:
1. Fight Night; 2. Wonderland; 3. Mojo Town; 4. Angel Station; 5. Year Of The Gun; 6. The Last Stone Rider; 7. Steal Yourself; 8. Burn Your House Down; 9. The Fear; 10. Waving Goodbye;

Rotule como: Hard Rock, Heavy Rock, Classic Rock, Blues Rock

Indicado para: Fãs de um bom classic/blues rock.

Passe longe se: for uma viúva do Michael Schenker.

6 comentários:

  1. A assinatura do trevas: ser completo! E isso diz tudo! Grande abraço! ;)

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    1. Vou me candidatar a escrever discursos para o Fidel, que tal?hehe
      bjos
      Trevas

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  2. Quando escutei este disco dei nota 6,5 (achei pouco inspirado, fraco e um tanto repetitivo - meio como que "mais do mesmo"). Para The Visitor foi 7. Corri pra ouvir Phenomenon de novo... Daí as notas caíram mais ainda... Vale a pena o UFO ainda existir, pelo menos pelo que AINDA conseguem fazer em cima do palco (o show deles em SP foi matador - não pude ir devido ao Mestrado). Ótimo terem recrutado o Vinnie Moore. Mas a voz do Mogg não dá mais! Anos de excesso cobram seu preço... E o fígado do Pete Way, até onde sei, está muito próximo de ser rotulado pela SulAmérica como pt...

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    1. Ah, se escutar o Strangers In The Night para servir de referência, nem darei nota para a maioria das coisas, hehehehehe
      Também perdi o show, mas espero ter outra oportunidade de ver a velharada esse ano.
      Abraço
      trevas

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  3. Nunca fui um grande conhecedor do UFO. Numa visita à Headbanger, me foi vendido o DVD Showtime, com a recomendação de que eu iria gostar para c*****. Na mosca! A partir daí, um professor amigo e roqueiro com que trabalhava me indicou as pérolas. Caí de quatro e hoje o UFO é certamente uma das minhas bandas prediletas! Infelizmente não pude ir ao show de SP, mas sei que foi matador e que o Mogg ficou espantado com a receptividade. Quem sabe voltam?
    Mas então. Quando saiu o The Visitor, dei uma nota 7,5. Para este creio que um 7,0 vai bem. Mas há que se destacar: a voz do Mogg está cada vez menos poderosa (tudo bem, o cara é quase setentão, mas os anos de excessos cobram seu preço!). Até onde sei, a SulAmérica está perto de dar pt no fígado do Pete Way. Andy Parker é um bom baterista, correto, o clássico, mas eu preferiria que o Jason Bonham tivesse continuado. E o Vinnie Moore segura as pontas com elegância e muita eficiência. Eita banda pra ter guitarrista foda!
    Não é à toa que o UFO (E O THIN LIZZY, ANIMAL!!!) são as bandas prediletas de Mr. Steve Harris...

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    1. Fala Mr. Krill
      A princípio também não curti muito nenhum dos dois (The Visitor e Seven Deadly)...mas após a ouvida já cantarolava as músicas tranquilamente. Acho até que o UFO envelheceu um pouco recentemente, mas perto das bostas hecatômbicas que Deep purple lançou desde Purpendicular, por exemplo, acho que eles ainda mandam muito bem. Aliás, já que vc citou o Godfather do Iron Maiden, a doznela é outra que não lança nada que mereça sequer três linhas de resenha tem tempos...com imensa boa vontade,d esde o Brave New World (ou seria Brave New X Factor?).
      Pelo que eu saiba, Pete Way nunca teve fígado!hehe...é, parece que ele realmente está mal.
      Jason Bonham só saiu da banda porque pintou um Foreigner ($$$$$) no meio do caminho...ainda bem que surgiu também um Black Country Communion!Aliás, o BCC deve lançar seu terceirão ainda esse ano!
      Abracetas
      trevas

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